GUERRA CIVIL mostra como será o CONFLITO nos EUA na próxima eleição

Eu acho que a guerra civil do mundo da Marvel é mais real e tem mais profundidade do que esse filme com o Warner Moura.

Depois das eleições de 2020 nos Estados Unidos entre Joe Biden e Donald Trump, muitas pessoas, e, principalmente, esquerdistas espalharam a ideia de que os Estados Unidos estariam em risco de entrar em uma guerra civil. Isso teria base no fato de que o mundo está, agora, cada vez mais polarizado. Com as pessoas nos extremos opostos, e como um eventual vencedor não conseguiria acalmar o outro lado, os perdedores iriam pegar em armas para derrubar o governo ou formar um novo país independente em alguma região.

A mídia adora causar alarde nas pessoas, pintando um cenário de fim dos tempos. Então, essa foi uma oportunidade perfeita para eles vocalizarem essa ideia no imaginário popular, gerando assim um novo filme produzido pela A24 e estrelado pelo próprio Wagner Moura. O título é o mais óbvio possível, Guerra Civil. O longa apresenta a história de um grupo de jornalistas que percorrem o país mostrando a situação de um estado de guerra civil nos Estados Unidos em 2025, mas carece de um debate mais aprofundado sobre a política de modo geral.

Wagner Moura é obviamente um nome brasileiro bem conhecido, que fez ótimos filmes como o consagrado Tropa de Elite. Mesmo o ator dizendo seu personagem não era o mocinho da história, o público adorou e solidarizou com ele. Pode parecer engraçado, mas mesmo os roteiristas forçando a barra do personagem Capitão Nascimento no Tropa de Elite 2, as pessoas continuaram gostando do ex-policial do BOPE, que apenas mostrava um lado de imperfeição natural do ser humano.

Mas depois de tudo isso, está na hora de falarmos sobre o filme, e o que faz dele algo tão curioso. Mas antes de iniciarmos, é importante darmos o aviso de spoiler. Portanto, se você quiser, assista ao filme primeiro, e depois venha ver a nossa visão libertária sobre ele. Dado os devidos avisos, vamos à história. Tudo começa com a jornalista Lee Smith tirando fotos de uma manifestação civil contra o governo. Os Estados Unidos já estão imersos na guerra civil, mas ela está mostrando a repressão da polícia às manifestações anti-guerra. Os policiais e os manifestantes, antagônicos na cena, escalam a violência até que uma granada é atirada no meio das pessoas, ferindo e matando dezenas delas. Com a repórter tendo uma ação rápida, ela acaba salvando Jessie, uma jovem jornalista amadora, que era sua fã.

Mais tarde, Lee se reúne com outros dois amigos de trabalho, Joel e Sammy, que querem ir para a capital Washington para entrevistar o presidente. Apesar de não gostarem daquele que está no mais alto cargo do executivo, acreditam que uma entrevista possa ajudar a acalmar os animos das pessoas. Jessie, então, agradece Lee pelo seu ato, sendo convidada posteriormente por um dos membros do grupo para acompanhá-los na jornada. A jovem fica feliz, mas a jornalista é contra essa ideia, pois Jessie é menor de idade, e, convenhamos, viajar pelo país no meio de um cenário de guerra, obviamente não era nada seguro.

Depois de uma leve discussão, eles partem para seu destino. Em sua jornada, encontram vários carros abandonados na estrada e param num posto de gasolina, no qual são ameaçados com armas pelos donos do estabelecimento. Contudo, eles os deixam partir em segurança posteriormente. Mas a garota acaba encontrando no fundo do posto dois cadáveres pendurados, mortos por eles.

A jovem, horrorizada com os cadáveres, avisa o grupo. Contudo, Lee apenas pede permissão para tirar fotos. Já no carro, a moça diz Jessie para que ela tome a posição de jornalista e fotógrafa. Entretanto, depois disso, ela explica que jornalistas não devem fazer perguntas demais, e muito menos intervir em algo que não é da sua conta, pois dado a atual situação da nação, isso causaria apenas problemas, e a deixaria em perigo.

Naquele contexto, a jornalista está falando a é verdade nua e crua, pois Jessie não tem capacidade para ajudar ou promover a justiça. Na vida real essa é a regra no jornalismo. Contudo, no nível individual achamos que a ajuda ao agredido contra quem iniciou a agressão é algo necessário e demonstra a recusa comum à violência. Imagine que ninguém ligasse se um bandido assaltasse a casa do seu vizinho? Se olharmos apenas os fatos, sem questões morais ou éticas, não é da sua conta. Não é sua casa mesmo! Mas, você sabe que isso só daria carta-branca para o bandido roubar mais casas até chegar na sua. Isso é exatamente o que acontece quando as pessoas, ao invés de ajudar os demais, pegam seus celulares e começam a gravar. Elas acham que gravando o que está acontecendo estão ajudando, entretanto, você, eu, inclusive elas mesmas, sabem que a única coisa que estão fazendo é se autopromovendo as custas de uma desgraça alheia. Ah, e não estão ajudando em nada, diga-se de passagem.

Mas, voltando. O grupo continua viajando pelos vasto cenário de guerra. Trocam tiros contra soldados da união em troca de favores da Western Alliance, que cogita invadir a capital Washington. Eles assim o fazem, porque, obviamente, seria um momento histórico de se registrar. Passam finalmente pela Virginia Ocidental e se surpreendem com o cenário de paz e normalidade da região, mesmo com uma guerra civil nacional. Um dos jornalistas pergunta a uma senhora, dona de uma loja, o motivo de tudo aquilo. Afinal, eles estão bem, mesmo com o caos instaurado em outros lugares.

Ela responde que é porque aquela região é neutra na guerra e isenta na política, não interferindo em nenhum dos lados. Isso fez com que eles não sofressem com o conflito. Darei um tempinho aqui, agora, para que possa soltar as gargalhadas. Me pergunto se os roteiristas foram ignorantes ou mal-intencionados o suficiente para acreditarem nisso, pois além de sabermos que isso não acontece na realidade, contradiz a própria história americana.

Na Guerra Civil do século XIX, entre os Confederados e as forças da União, não houve ataques de início, pois a maioria dos estados fronteiriços entre os dois lados se declarou neutra, impediu a passagem de qualquer exército. Houve, inclusive, planos de criar um terceiro país neutro no cenário da guerra civil. Contudo, isso rapidamente se perdeu, e os antigos estados neutros foram invadidos, traíram uns aos outros ou escolheram um lado. Nem mesmo o condado de Jones do filme, Um Estado de Liberdade, foi realmente neutro. Eles foram, a favor da União em meio a um estado confederado. Como diria um amigo físico: o papel aceita tudo, a realidade é que é mais exigente. Ficar em cima do muro no meio de uma guerra não te tira da mira de uma arma, só te torna um alvo maior e desprotegido. Exceto se você for um país rodeado de montanhas, rico, que tenha capacidade de ajudar financeiramente o lado que não te atacar, e se chamar Suíça. De resto, você estará mais frito que pastel de feira.

Enfim, depois de quase serem mortos por uma tropa de agentes da União que estavam matando aleatoriamente pessoas não americanas que encontravam, acabaram chegando até a capital, posteriormente ao ataque da Western Alliance, que culmina na guerra para capturar a cidade. A casa branca é cercada, e neste momento, os soldados revelam que não possuem um plano para capturar o presidente, apenas querem matá-lo ali naquele local. Alguns carros blindados com políticos tentam fugir, mas são todos mortos. Então, os soldados invadem a Casa Branca, encontram o presidente, e o tiram de trás de sua mesa, onde estava escondido. Lee, morre salvando a jovem dos tiros e o último jornalista do grupo acha o presidente tão patético que deixa que os soldados o executem.

A menina, então, saca sua câmera e tira a foto dos soldados matando o presidente. Mesmo depois desse roteiro tão fraco, a crítica especializada obviamente deu uma nota relativamente alta para o filme: 83% de aprovação no Rotten Tomatoes! Porém, o público médio deste longa ficou morno. Não detestou, mas também, não morreu de amores pela trama. Na questão de produção e efeitos visuais, o filme, mesmo tendo orçamento de 50 milhões de dólares, parece muito ter sido feito por brasileiros com orçamento com menos de meio milhão de reais. O que é bem irônico já que temos um ator brasileiro no elenco.

Além da história não ter uma grande problemática ou algo que te prende, a construção de mundo é algo muito batido. Temos a aliança dos estados do sul dos EUA, que se denominam “Aliança da Flórida”, algo equivalente a um estado separatista do Sudeste Brasileiro se denominar de “Aliança Paulista”. Também temos a Califórnia e o Texas como aliados em uma única facção, sendo os dois extremos opostos na vida real, um dominado por democratas e o outro pelos republicanos. Essa falta de sentido dificulta a imersão no filme. Mesmo o cenário desse mundo sendo de uma guerra civil por motivos políticos, eles mal são explorados, e fica na discussão rasa de um estado separatista lutando contra um governo mal e corrupto, enquanto os que ficam em cima do muro supostamente se saem bem, contradizendo a própria história.

Mas o que podemos dizer sobre a nossa visão libertária sobre o filme, apesar da pequena profundidade do tema principal? De maneira geral, a guerra civil só aconteceu porque foi colocado as pessoas goela abaixo as imposições de um determinado grupo de burocratas, sendo a população, impedida de dizer não. Isso é simplesmente a definição do que chamamos de democracia, ou ditadura da maioria dos votos confirmados, ou seja, nem da maioria simples e nem da maioria representativa da população. Ninguém pode simplesmente fazer o que chamamos de livre associação, neste caso. Em um ancapistão, você é livre para aceitar as leis de um determinado tribunal. Caso não concorde com elas, pode simplesmente procurar outro, ou ficar em nenhum, a seu risco.

Imaginemos que mesmo em uma livre associação, por qualquer motivo, as pessoas começassem a ter uma maior polarização política. A solução seria bem simples: Elas poderiam cortar relações com as pessoas do outro espectro político, caso as diferenças sejam gritantes a ponto de perdas financeiras serem melhores do que a convivência. Contudo, nunca iríamos chegar a um ponto de uma guerra civil, pois se alguém ferisse a PNA isso iria causar um problema judicial e de segurança no local, que culminaria em altos custos, inviabilizando a ação. Portanto, percebemos mais uma vez, que guerras, sejam elas militares ou civis, são um problema criado pelo estado, sendo a única possibilidade de solução a sua total extinção, dando a oportunidade para a livre iniciativa florescer e manter a paz.

Referências:

https://www.youtube.com/watch?v=hw6qG6eqGho&list=WL&index=7