ANGRA 3 e a energia NUCLEAR só pode ser salva pela INICIATIVA PRIVADA no Brasil

Apesar do colapso do setor elétrico, com tarifas de energia nas alturas devido à ineficiência, impostos sufocantes e a ausência de concorrência real, o Brasil joga dinheiro fora com a construção de usinas nucleares.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) recentemente revelou um dado estarrecedor: o custo para concluir a terceira usina nuclear brasileira será quase o mesmo que abandonar o projeto. Mesmo após quase uma década de paralisação, ainda representa um fardo financeiro colossal, independentemente de sua conclusão ou desistência.

O abandono definitivo acarretaria enormes gastos com a rescisão de contratos e penalidades por multas previstas, que somam impressionantes 2,5 bilhões de reais. Além disso, o estado seria obrigado a devolver incentivos fiscais no valor de 1,1 bilhão de reais, concedidos para a importação e aquisição de equipamentos. E, como se não bastasse, teria que quitar antecipadamente 9,2 bilhões de reais em financiamentos contraídos junto à Caixa e ao próprio BNDES na primeira fase da obra. Um exemplo cristalino de como o planejamento estatal inevitavelmente se transforma em um poço sem fundo de ineficiência e desperdício.

O Brasil tem apenas duas usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, responsáveis pela produção de 3% da energia consumida no país. Para comparação, a usina hidrelétrica de Itaipu gera 15%. Angra 1 entrou em operação comercial em 1985 e, Angra 2, em 2001. A construção de uma terceira usina, Angra 3, foi iniciada em 1984. Ela foi interrompida pela primeira vez em 1986, quando o país atravessava uma crise econômica que afetou a área de infraestrutura e implicou na desaceleração dos investimentos no setor. Retomada em 2010, com a concretagem do reator, a obra foi novamente interrompida em 2015, quando o governo federal esbarrou na falta de dinheiro para terminar o projeto. Havia uma previsão de conclusão para 2022, mas como vimos, isso não se concretizou.

O presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, ressaltou que desistir de Angra 3 também teria altos custos, levantando a questão de quem arcaria com essa despesa. Segundo ele, com o investimento necessário para concluir a usina, seria possível entrar em operação em 2031. Expressando confiança de que o setor nuclear voltará a crescer em nossa nação guaranil. O empreendimento, segundo a Eletronuclear, deve representar a criação de ao menos 7 mil empregos diretos na região sul fluminense onde está instalada a empresa. O número é irrisório diante de tamanho gasto.


Especialistas do setor questionam seriamente a capacidade da usina de fornecer energia eficientemente aos consumidores. Além disso, o fato da federação querer controlar o material nuclear é um sinal de alerta. Estamos falando de um governo que mal consegue proporcionar saneamento básico à população e, ainda assim, insiste em querer lidar com a complexidade e os riscos da fissão nuclear. Os perigos de um acidente como vimos na União Soviética, Japão e Estados Unidos são imensos, e deixar esse tipo de gestão para o governo é, no mínimo, uma temeridade.

Essa notícia expõe claramente os problemas inerentes ao papel do estado em grandes projetos de infraestrutura. A gestão estatal, por definição, será sempre ineficiente, e os prejuízos inevitavelmente recaem sobre os pagadores de impostos. O impacto mais cruel é sobre os mais pobres, que acabam arcando com contas de energia elevadas. Quando o governo administra um setor, como nas usinas nucleares, os custos tendem a explodir, porque não há pressão por eficiência ou rigor na gestão de despesas e receitas. A ineficiência do governo só faz o serviço ficar mais caro e de pior qualidade.

O governo enfrenta o problema crônico dos incentivos desalinhados, algo que Milton Friedman explicou brilhantemente ao descrever as quatro maneiras de gastar dinheiro. A primeira, gastar seu próprio dinheiro consigo mesmo, gera a maior eficiência, pois buscamos o menor custo e a máxima qualidade. Na segunda, gastar seu dinheiro com os outros, visamos o menor custo, mas com mínima qualidade. A terceira, gastar o dinheiro dos outros consigo mesmo, leva ao maior custo e à máxima qualidade para benefício próprio. E, finalmente, a quarta, a mais desastrosa, gastar o dinheiro dos outros com os outros, no qual não há nenhuma preocupação com custo ou qualidade.

Quando o governo gasta, recai nas piores combinações, as maneiras 3 e 4, gerando uma catástrofe de ineficiência. O dinheiro expropriado da população é esbanjado para satisfazer os interesses de políticos, burocratas e seus aliados: seja com salários astronômicos, benefícios excessivos ou contratos vantajosos para empresas ligadas ao regime. O que importa é manter o sistema em movimento, e não melhorar os serviços prestados. Enquanto a Receita Federal prospera com prédios impecáveis e funcionários altamente remunerados, o caos reina no Detran e nos hospitais públicos, onde os cidadãos enfrentam a ineficiência brutal e um atendimento medíocre.

A solução para esse problema é simples: entregar as usinas nucleares à iniciativa privada. A gestão privada, com seus incentivos de eficiência e rentabilidade, seria muito mais adequada para lidar com as necessidades de segurança e inovação tecnológica que esse tipo de empreendimento demanda. De maneira simplificada, uma usina nuclear gera energia por meio de calor e vapor de água, processo que se inicia com a fissão nuclear. O núcleo do reator é o coração da usina, local onde o urânio enriquecido é utilizado como combustível, gerando calor de forma eficiente.
Embora o urânio não seja renovável, ele é abundante na natureza, e as usinas nucleares, além de produtivas, ocupam uma área relativamente pequena. É claro que a instalação e o funcionamento dessas geradoras de energia envolvem altos custos iniciais, mas, uma vez operacionais, são extremamente eficientes. Os protocolos de segurança são rígidos, e os acidentes, embora raros, podem ocorrer. O desastre mais notório foi o de Chernobyl, em 1986.

Apesar de um certo ceticismo crescente em relação à energia nuclear no mundo, amplificado por acidentes devido a erros humanos ou cataclismos, a verdade é que as usinas nucleares são extremamente seguras quando operadas corretamente. “O tema nuclear inspira um profundo medo na sociedade, amplificando muito a percepção dos reais riscos”, pondera Leonam dos Santos Guimarães. Desde seu surgimento, foi marcada por uma das piores estratégias de apresentação ao público. Como Guimarães observa, o mundo foi introduzido ao potencial destrutivo dessa tecnologia através dos horrores de Hiroshima e Nagasaki, quando os Estados Unidos usaram bombas atômicas contra as cidades japonesas em 1945. Em seguida, a Guerra Fria exacerbou ainda mais o temor nuclear, com a constante ameaça de aniquilação global pelas superpotências armadas exageradamente com bombas nucleares.

Ainda assim, a tecnologia nuclear evoluiu muito desde então, e alguns países, como França e Rússia, estão na vanguarda da reciclagem de combustível nuclear. Eles conseguem reaproveitar até 90% do combustível usado, reduzindo a necessidade de descarte a longo prazo. Esse material reciclado pode ser reutilizado nos reatores, mostrando o potencial de uma solução sustentável para a energia nuclear. No entanto, esse processo ainda não é amplamente disseminado, pois, como Guimarães ressalta, o combustível reciclado atualmente é mais caro que o novo.

Mesmo assim, Guimarães defende que a reciclagem tem um futuro promissor. Com o desenvolvimento contínuo de tecnologias, é possível que no médio prazo o combustível nuclear usado seja visto como um recurso positivo, em vez de um fardo para as gerações vindouras. Desde que estocado seguramente, esse material poderia servir como fonte de energia renovável, mudando a narrativa sobre o legado da energia nuclear.
No entanto, isso não é motivo para abandonar essa matriz energética. Pelo contrário, é um motivo para entregá-la a quem tem incentivos para mantê-la segura e eficiente: o setor privado. Afinal, quem pode confiar no governo, que não consegue nem prover saneamento básico, para lidar com a complexidade e os riscos inerentes à fissão nuclear?

Referências:

https://clickpetroleoegas.com.br/energia-nuclear-e-melhor-do-que-energia-solar-diz-especialista-entenda-o-motivo/
https://www.if.ufrgs.br/tex/fis01043/20041/Moacir/usina_arquivos/usinanuclear.html
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48683942
https://brasilescola.uol.com.br/quimica/usina-nuclear.htm
https://eixos.com.br/energia-eletrica/eletronuclear-retoma-obras-de-usina-nuclear-angra-3/
https://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/com-historico-de-corrupcao-angra-3-segue-sem-previsao-de-entrega-obra-comecou-em-1984.ghtml
https://mises.org.br/artigos/2483/os-gastos-do-governo-sao-o-grande-inimigo-do-crescimento-economico