16 Nov. 2023
Escritor: KoreaComK
Revisor: Historiador Libertario
Narrador: KoreaComK
Produtor: Gilliard Almeida

Adeus, Lenin! O filho na pele do governo socialista

Antes de começarmos a falar sobre o longa-metragem, é importante dizer que este vídeo contém alguns spoilers sobre parte da história. Apesar de ter sido lançado em 2004, acredito que muitos ainda não tiveram a oportunidade de assistir. Portanto, se preferir, veja o filme antes de ver nossa visão libertária. Dado os devidos avisos, vamos ao vídeo.

Imagine que sua mãe é, literalmente, uma socialista de carteirinha. Como o próprio personagem principal diz, ela é "casada com a pátria socialista”. Agora, pense que ela sofreu um ataque cardíaco vendo você em uma manifestação contra o partido, justamente no aniversário de 40 anos da República Democrática Alemã. Por conta disso, ela não pode passar grandes emoções para não forçar o coração e vir a falecer. Contudo, enquanto sua mãe estava na UTI, o muro de Berlim cai, e, agora, você precisa evitar que ela saiba da verdade. Como filho que ocasionou o seu problema de saúde, o que faria?

Pois bem, este é, basicamente, o contexto de todo o filme. Christiane, a mulher que sofreu o ataque no coração acorda depois de algum tempo na UTI, e, Alexander, o filho rebelde, precisa criar uma nova realidade para que sua progenitora ainda pense que está na Alemanha socialista. Se imaginarmos este filme nos dias de hoje, seria praticamente impossível deixarmos qualquer pessoa ignorante do que está acontecendo fora de casa. Mesmo naquela época, 1989, apesar de não haver internet, computadores e celulares disponíveis para a população, ainda havia a televisão, rádio e vizinhos para desmentir a sua narrativa. Contudo, Alexander, teve um grande professor: o partido socialista que comandava a parte oriental da Alemanha dividida.

Como diria o autor do livro 1984: “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado”. Alexander, então, conseguiu criar uma realidade paralela para sua mãe, usando de todos os artifícios que qualquer socialista no comando de uma nação usaria para mentir para sua população. Primeiro, limitou como ela conseguiria ter acesso às informações. Para tal, quebrou o rádio que sua mãe tinha, o tipo de mídia que era mais difícil de controlar, pois os programas eram todos ao vivo. Além disso, com a unificação alemã, as músicas ocidentais estavam inundando as rádios, algo proibido na época socialista.

Com sua mãe acamada, agora, ele tinha outro problema: a comida. Com a queda do muro, os produtos que antes existiam, não estavam sendo mais produzidos. As fábricas não conseguiam produzir a custos tão baixos como no lado capitalista, portanto, foram fechadas e seus produtos foram ficando escassos. As gôndolas do mercado foram sendo inundadas de alimentos enlatados e conservas com rótulos chamativos e cheios de cor, algo totalmente avesso ao que eles tinham anteriormente. Portanto, no começo do filme, ele tinha que escavar lixos a procura de embalagens anteriores à queda do muro, comprar os produtos capitalistas, e trocá-los para dar para sua mãe. Entretanto, para sua sorte, depois de um tempo, descobriu casas luxuosas cheias de produtos da época comunista que estavam fechadas a muito tempo, pois seus moradores simplesmente a abandonaram para viver do lado capitalista.

Resolvendo a crise dos alimentos, ele tinha outro problema: a televisão. Diferente do rádio, Alexander tinha a seu favor o fato de que boa parte dos programas não eram ao vivo. Portanto, conversando com seus vizinhos e amigos, encontrou vários programas que haviam sido gravados e consequentemente poderia passar para sua mãe assistir. Como nesta época estava trabalhando em uma empresa de instalação de antenas parabólicas, usou deste subterfúgio para puxar um cabo da televisão do quarto da sua mãe para o outro quarto. Assim, conectado a um aparelho de fita K7, conseguia definir o que ela iria ou não assistir.

Porém, existiam coisas que não estavam sob seu domínio, que aconteciam, e ele não podia controlar. A instalação de um banner gigante da Coca-Cola, marca que representava o capitalismo, seria um grande problema, pois dava para ver da janela do quarto da sua mãe. Para resolver este problema, Alexander, com ajuda de seu amigo de trabalho, Denis, que sonhava ser produtor e diretor de filmes, conseguiu recriar um jornal socialista. E como todo jornalzinho subserviente às ordens do partido, ele dava notícias falsas a fim de corroborar com os acontecimentos. Por exemplo, neste caso do banner, o âncora do jornal, ou seja, Denis, dizia que a empresa socialista de refrigerantes tinha ganhado uma briga judicial contra a empresa capitalista. Isso porque de acordo com a narrativa deles, quem tinha criado o refrigerante icônico, tinha sido os socialistas, e os capitalistas tinham apenas copiado. Sua mãe, obviamente, aceitava a informação, afinal, o partido não iria deixar que algo irreal fosse ao ar.

Isso mostra exatamente o que os socialistas faziam com a população que estava sob seu domínio. Mentiras e reconstrução da história eram feitas aos montes. Fotos de Lênin e Stálin foram alteradas retirando os dissidentes, reescrevendo assim, a história. Notícias falsas inundavam os noticiários e jornais, tudo para manter a narrativa que o partido queria.

Por fim, havia outro ponto sensível: seus vizinhos. Para resolver o problema, ele fez uma reunião com eles informando o problema de saúde de Christiane. Como ninguém queria que sua mãe piorasse, aceitaram em não dizer o que realmente estava acontecendo, afinal, não traria nada de bom para ela. O mesmo acontecia nas reuniões dos partidos. Dizendo fazer o bem para a população, todos aqueles de alta patente, mantinham a narrativa que era definida como a verdadeira, indiferente se isso era ou não real.

Houve um momento de desespero, no qual tanto Alexander, quanto sua irmã, Ariane, ficaram preocupados. Como a reunificação estava acontecendo, existia uma data limite para que o dinheiro socialista utilizado pelos alemães fosse trocado pelo dinheiro que era aceito do lado dos capitalistas. Obviamente, o inverso nunca iria ocorrer, afinal, o dinheiro forte sempre sobressai em relação ao dinheiro fraco. Sua mãe, só se lembrou depois de alguns dias onde estava suas economias, que tanto Alexander e Ariane, acharam estar no banco, contudo, estava escondido em um armário que havia sido jogado fora. Apesar de encontrar o dinheiro, o tempo de troca havia expirado, perdendo todo o dinheiro poupado por sua mãe. Troca de notas e moedas é algo que acontece não apenas em sociedades socialistas, mas também em outras que não possuem capacidade de controlar a impressão do dinheiro. Os brasileiros com mais de 40 anos sabem muito bem disso. Quando a União Soviética se desmantelou, muitas famílias tiveram o mesmo fim que a família Kerner do filme, pois tinham dificuldades de retirar o dinheiro do banco ou esqueciam onde estava guardado, perdendo o prazo para trocá-lo.

Agora, a parte mais tensa do filme foi quando sua mãe, melhorando seu quadro de saúde, saiu do apartamento onde morava para andar nas ruas. Ela viu uma estátua de Lênin ser retirada por helicóptero, várias pessoas se mudando, e mobília jogada nas ruas. Alexander, mais uma vez, para acalmar sua mãe e manter a narrativa, criou o último capítulo de notícia. Denis, seu amigo, disse no noticiário que não havia mais muro, porém, o lado vencedor não era o capitalista, mas os socialistas. No noticiário fajuto, ele dizia que as pessoas estavam se mudando para o lado oriental da Alemanha, porque queriam viver no comunismo. Essa realmente foi o ápice de toda a narrativa, afinal, sabemos muito bem que o fluxo era o inverso e não este. Quando o muro caiu, houve uma inundação de pessoas para o lado capitalista porque as pessoas estavam vendendo seus apartamentos a preço de banana, já que queriam sair daquele local para um outro mais próspero.

Enfim, o filme vale muito a pena ser assistido, pois além dessa analogia, há vários momentos engraçados que não irei dissertar aqui neste vídeo. Deixarei o link para o filme no HBO e no Amazon Prime, caso estejam interessados em assistir. No mais, a história pode até não se repetir, mas com certeza, ela rima.

Referências:

https://www.adorocinema.com/filmes/filme-52715/ https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/de-1984-a-westworld-a-era-dos-dados-e-da-vigilancia-01052020 https://pt.wikipedia.org/wiki/Good_Bye,_Lenin! https://www.primevideo.com/dp/amzn1.dv.gti.d3b93ad9-a88c-492b-ae7e-e8be5975e159?autoplay=0&ref_=atv_cf_strg_wb https://www.hbomax.com/br/pt/feature/urn:hbo:feature:GYF5R1Abw9sPDwgEAAAEV

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