Os dias de glória da Rede Globo realmente ficaram no passado. A realidade do presente, para a emissora do PROJAC, é um cenário de contínua queda na audiência de seus conteúdos mais relevantes.
De fato, já foi a época em que a toda-poderosa Rede Globo detinha quase todo o poder da informação no Brasil - inclusive com a prerrogativa de manipulá-la, a seu bel prazer. Em tempos passados, a poderosa emissora se dava ao luxo de manter grandes artistas contratados por tempo indefinido, sem que eles estivessem de fato trabalhando. Nos últimos anos, porém, esse cenário tem se revertido; e a emissora do PROJAC está realmente fazendo a limpa em seu quadro de funcionários.
Sobrou pra todo mundo: nomes grandes do esporte na Globo, como Cleber Machado e Fernanda Gentil, e também grandes figuras como Regina Casé e Paolla Oliveira, já rodam da emissora. No passado, a Globo era capaz de fazer coisas como tirar o Serginho Groisman do SBT para acabar com o Programa Livre, enfiando o apresentador em um programa de madrugada em sua grade. Agora, contudo, as coisas mudaram. Os problemas de audiência têm levado a empresa a buscar alternativas para conter sua crise crescente.
O dia 06 de dezembro, uma quarta-feira, demonstra isso muito bem, porque essa data representou um dos maiores fiascos de audiência da emissora. Sim, os números já estavam ruins há algum tempo. Nós, inclusive, já falamos sobre o péssimo desempenho das novelas da Globo no vídeo: “FRACASSO de FUZUÊ: A Rede GLOBO ainda não APRENDEU a lição” - link na descrição. Porém, como bem sabemos, as coisas sempre podem ficar piores.
No fim da tarde, a Globo exibe o quadro Vale a Pena Ver de Novo, no qual são reprisadas novelas antigas que, geralmente, fizeram grande sucesso no passado. Isso é, na prática, um jeito bastante barato de fechar a grade da emissora. Atualmente, a Globo reprisa a novela Paraíso Tropical - que, convenhamos, nem é tão velha assim, e que passou longe de ser um sucesso de audiência quando foi originalmente exibida. Pois bem, o fato é que, na citada quarta-feira, Paraíso Tropical teve seu pior resultado, desde que começou a ser reprisada. Os números foram tão ruins, que terminaram por contaminar todo o restante da grade da emissora.
A novela marcou pífios 9,3 pontos de audiência média em sua exibição - o pior resultado para esse quadro desde a reprise de Ti Ti Ti, que chegou a marcar 7,6 pontos de média, em julho de 2021. Levando-se em conta a audiência na Grande São Paulo, que geralmente é a referência utilizada, Paraíso Tropical representou a preferência de apenas 22% das TVs ligadas em seu período de exibição.
Esse resultado ruim acabou comprometendo o desempenho da programação subsequente. Esse é um fenômeno conhecido na TV aberta: um programa costuma herdar a audiência do quadro imediatamente anterior - é como se fosse algo como uma inércia do telespectador. Portanto, a novela exibida após Paraíso Tropical, Elas por Elas, também teve seu pior resultado, desde sua estreia - meros 10,4 pontos de média.
O índice é tão ruim, que ele chega a ser inferior aos números do dia 3 de novembro - quando a Grande São Paulo sofreu um apagão que deixou grande parte da cidade no escuro, durante várias horas seguidas. Pois é: a audiência da Globo anda tão ruim, que mesmo um dia em que a maior parte da cidade ficou sem assistir TV, os números não foram tão pavorosos. É importante adiantar, inclusive, que a média auferida pela novela das 6 da Globo foi equivalente à audiência dos serviços de streaming somados - o que demonstra uma clara mudança na tendência do consumo. Mas nós já vamos falar mais sobre isso daqui a pouco.
Na sequência, o SPTV 2ª edição - ou SP2, o jornal local da TV Globo São Paulo - também amargou um desempenho patético. Foram 12,8 pontos de média - menos que os 13,4 pontos anotados no já citado dia do apagão em São Paulo. Já a citada Fuzuê, embora não tenha tido o pior resultado de sua história, teve ainda assim a pior média para uma quarta-feira: 15,1 pontos de audiência média.
Mas a coisa não se restringe às novelas. De forma geral, vários programas da Globo levaram uma surra dos serviços de streaming nos últimos dias. Na quinta-feira, dia 07, a Globo teve um resultado ainda pior, em diversos horários. O programa Encontro com Patrícia Poeta iniciou o dia com apenas 5,5 pontos, enquanto que as plataformas de streaming somaram 6,9 pontos. O Mais Você, o quadro seguinte da emissora, também perdeu para as plataformas digitais, mantendo os números do programa anterior. Durante o dia, a Sessão da Tarde e a citada Paraíso Tropical perderam a liderança para a Netflix e seus concorrentes. Mais para o fim do dia, o programa Conversa com Bial e o Jornal da Noite também amargaram números decepcionantes.
Mas, afinal de contas, o que está acontecendo com a toda-poderosa Rede Globo? Bem, podemos adiantar a explicação, dizendo que o fenômeno da queda de audiência não é exclusividade da emissora carioca: a TV aberta, como um todo, está definhando. Vários aspectos podem explicar esse fato já consolidado. Em primeiro lugar, podemos apontar para a mudança do público: a população que consome apenas o conteúdo da TV aberta é cada vez menor. A televisão ainda atinge a população mais idosa, e algumas camadas mais pobres da sociedade. Mas, de forma geral, esse público tem diminuído com consistência.
Em segundo lugar, podemos listar o aumento das opções concorrentes da TV aberta. Se, antes, a concorrência estava restrita aos poucos canais de abrangência nacional, hoje a internet escancarou a porta do entretenimento brasileiro. Temos opções para todos os gostos: serviços de streaming, redes sociais, torrent - enfim, é um mar de alternativas. Fica difícil, para o antigo modelo das emissoras de TV aberta, concorrer com isso. Aí, entra em cena um terceiro fator: o esgotamento da fórmula das emissoras clássicas. Isso é mais evidente, inclusive, em se tratando das novelas da Globo - que já foram um grande sucesso, mas que se tornaram previsíveis e maçantes há muito tempo.
Enfim, independente dos motivos, o fato é que a toda-poderosa Globo está perdendo o poder que já teve no passado. Pode-se dizer, inclusive, que a emissora está deixando de ser, até mesmo, uma relevância política - coisa que ela foi por longas décadas. E isso é muito bom: estamos falando de mais um desdobramento do fenômeno da descentralização da informação. Esse cenário elimina a concentração do poder midiático em uma única fonte, reduzindo, por conseguinte, o poder de manipulação desse ente. Quanto mais irrelevante se torna a audiência da Globo, menos diferença ela faz na vida do braisleiro.
A Globo, enquanto empresa, vai precisar se reinventar, para não desaparecer por completo. E ela, de fato, já está fazendo isso. Todo esse movimento de redução em seu quadro de funcionários e de extinção de programas é uma resposta à queda de sua audiência. E não há nada de errado quanto a isso! Qualquer empresa, nesse cenário, precisa enxugar o quadro de funcionários e reduzir o seu alcance, se for o caso. O importante é continuar sendo uma empresa lucrativa.
A Rede Globo tem tentado, de várias formas, se adequar à nova realidade, para poder continuar existindo enquanto empresa. A emissora, inclusive, tem investido na tentativa de migrar para o setor do streaming. Se isso vai dar certo no longo prazo, nós ainda não sabemos. A verdade, contudo, é que a Globo, no presente, está amargando resultados mais do que decepcionantes.
Porém, precisamos reafirmar o que já foi dito neste vídeo: a TV aberta, como um todo, está morrendo, porque ela difere muito do atual cenário de informação descentralizada e distribuída. Aquele modelo antiquado de entretenimento conta com uma programação fixa, com horários fixos, num formato mais do que antiquado. A internet, por sua vez, fornece ao espectador um mar de opções quase infinito. E cabe ao espectador montar sua própria grade, e estipular os seus próprios horários. Ele pode, inclusive, consumir vários conteúdos simultaneamente. Em resumo, estamos falando de dois mundos completamente distintos.
No fim das contas, a verdade é que entretenimento também é um produto de consumo. E, como qualquer outra coisa no mercado, só tem sucesso nesse nicho quem sabe atender corretamente às demandas do consumidor. E como nem mesmo o estado, o grande protetor das emissoras de TV aberta, é capaz de competir com a internet, só resta a essas emissoras antiquadas se adaptar à nova realidade. Isso vale tanto para Rede Globo, quanto para qualquer outra dessas empresas. Por isso, apenas o tempo nos dirá se a outrora toda-poderosa Globo conseguirá se reinventar como uma empresa mais enxuta e com alcance mais reduzido, ou se ela vai terminar desaparecendo por completo.
https://revistaoeste.com/imprensa/em-crise-historica-oito-programas-da-globo-perdem-lideranca-de-audiencia-em-um-dia/
https://www.youtube.com/watch?v=8K7VdDVK8ls