China começa a transformar o YUAN DIGITAL em uma REALIDADE

O yuan digital já é uma realidade. Mas no que isso vai impactar a geopolítica das transações econômicas?

Poucos dias atrás, o mundo acompanhou algo que pode ser considerado como um marco na história econômica chinesa recente. Trata-se da primeira aquisição internacional de petróleo utilizando o yuan digital, o CBDC chinês, como moeda. Essa transação foi feita entre a PetroChina International e um vendedor externo anônimo. O negócio, que envolveu a compra de 1 milhão de barris de petróleo, foi intermediado pela Bolsa de Petróleo e Gás Natural de Xangai (SHPGX).

Transações semelhantes já haviam sido realizadas anteriormente com outras commodities, como o gás natural liquefeito. Porém, a aquisição de petróleo por meio dessa moeda é algo ainda mais impactante. De forma geral, essa é mais uma etapa na já conhecida tendência de desdolarização que tem se espalhado por diversos países do mundo. Aliás, essa tendência se intensificou ainda mais no ano passado, quando os Estados Unidos e a Europa excluíram a Rússia do sistema Swift, que sustenta a maioria dos pagamentos globais, por conta da guerra da Ucrânia.

De lá para cá, muitos países começaram a buscar alternativas ao dólar norte-americano para realizar os seus negócios internacionais. E, nessa história, a China parece estar se dando muito bem. Imagina-se, inclusive, que o tal vendedor de petróleo anônimo para a PetroChina tenha sido a própria Rússia. Se o preço pago foi justo ou não, pouco importa. O fato é que parece que a China está mais uma vez canibalizando a cambaleante Rússia nessa história.

O processo de adoção do yuan digital começou em 2014. A China, sendo a segunda maior economia do mundo na atualidade, tem muito interesse em tirar o protagonismo do dólar, no que se refere às transações econômicas internacionais. Um modelo funcional de CBDC, portanto, é uma ótima alternativa para viabilizar esse tipo de cenário. Uma vez que o yuan digital seja efetivamente instalado, a China não terá problemas para comercializar com outros países que o aceitem como moeda - ainda que existam restrições e sanções contra essas nações.

Embora os especialistas da área monetária afirmem que estamos longe de passar por uma “grande transição” entre o dólar e outra moeda líder, a verdade é que muita gente se preocupa com o protagonismo chinês nessa história. Muitos acreditam que o yuan vai se fortalecer ainda mais nos próximos anos, principalmente no mercado de commodities. Uma vez que a China é uma grande consumidora desses produtos, o resultado prático disso pode ser que, em algum momento próximo, grande parte dessas transações sejam realizadas pelo sistema do yuan digital chinês.

O desenvolvimento da moeda digital chinesa não é muito diferente do DREX, o CBDC brasileiro. Nós, inclusive, já tratamos desse tema específico no nosso vídeo: “O REAL DIGITAL é uma realidade, e já tem até nome: DREX” - link na descrição. Aliás, o próprio Lula, presidente brasileiro, parece estar muito empolgado com essa história. Recentemente, o Molusco afirmou, na última reunião dos BRICS: “A criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimentos entre os membros do Brics aumenta as nossas opções de pagamento e reduz as nossas vulnerabilidades”. É desnecessário dizer que China e Rússia participam do citado bloco econômico.

Mas, afinal de contas, será que a China vai mesmo conseguir o seu protagonismo mundial por meio de uma adoção generalizada do yuan digital? Ainda é muito difícil afirmar algo nesse sentido. De fato, os Estados Unidos têm controlado o cenário econômico mundial por meio do dólar desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Diversas crises econômicas se sucederam sem que esse cenário fosse alterado. Porém, é claro que a coisa pode mudar em algum momento - como já aconteceu diversas vezes, em tempos passados.

Existe ainda o fato de que o Federal Reserve, o banco central americano, tem inflacionado o dólar com grande voracidade, principalmente nos últimos anos. Este fator, aliado à alta taxa de juros imposta pelo FED ao país nos últimos meses, e à crescente dívida norte-americana, pode levar ao enfraquecimento do dólar, de forma geral. É certo que não temos visto esse cenário acontecer, principalmente por causa do fenômeno do “dólar milk shake". Se você quiser entender mais sobre esse fenômeno, recomendamos o nosso vídeo: “A teoria do DÓLAR MILKSHAKE pode ser trágica para o REAL, mas positiva para o BITCOIN” - link na descrição. Mas ainda estamos longe de ver esse cenário sendo implementado na prática.

É claro que, em se tratando de China, existe uma série de problemas que podem impedir a adoção do seu yuan digital por outros países. Afinal de contas, estamos falando de um país controlado por um partido comunista ditatorial, cujas regras não são exatamente muito claras - e que não é muito afeito a proteger as liberdades individuais. É bastante difícil confiar num governo desse tipo. Mas é também verdade que muitos países acabam se tornando reféns da China por motivos econômicos diversos.

Ainda que a questão geopolítica seja um pouco incerta, porém, podemos tratar desse caso específico também pelo ponto de vista libertário. E, nesse aspecto, a coisa toda é bastante simples: quanto mais alternativas monetárias existirem, melhor. Moedas concorrendo entre si são muito interessantes para os agentes econômicos, pois toda a concorrência necessariamente gera mais eficiência. Diversas moedas circulando na economia podem ser colocadas em evidência, a fim de que suas fraquezas e fortalezas sejam comparadas. A partir daí, o agente econômico pode optar por aquela que mais se adequar às suas necessidades.

Ainda assim, é importante lembrar que todas essas alternativas são moedas estatais. Ou seja, elas carregam consigo todos os típicos problemas desse tipo de papelzinho colorido. Essas moedas são centralizadas e facilmente inflacionáveis, além de serem totalmente sujeitas às vontades políticas. Em se tratando de moedas digitais estatais, a coisa se torna ainda mais perigosa, porque isso implica necessariamente um controle extremo do estado sobre o nosso dinheiro. Os citados CBDCs são uma grande tragédia, em se tratando de anonimato nas transações econômicas.

A verdade, porém, é que estamos sim caminhando para uma troca de protagonismo, no que se refere à unidade monetária utilizada nas transações econômicas. E não estamos aqui falando do yuan digital, ou do dólar, ou de qualquer outra alternativa estatal. Estamos falando de um sistema efetivamente descentralizado e que tem se tornado cada vez mais resiliente às forças estatais. Estamos falando, é claro, do Bitcoin.

Essa alternativa verdadeiramente descentralizada não pode ser inflacionada a depender dos sabores políticos. Além disso, o Bitcoin não está sob controle de um único país. Ele é uma força mundial que depende da adoção espontânea de seus utilizadores, que são também os seus mantenedores. Mesmo em situações de conflitos de larga escala, os cidadãos não são penalizados com a suspensão de seus serviços. O famoso ouro digital, diferente de outros ativos, tem se mostrado cada vez mais imune aos políticos, às moedas estatais, às agências reguladoras e até mesmo às guerras.

Pense que todos os problemas que existem hoje em matéria de transações internacionais são facilmente resolvidos por conta dessa nova moeda descentralizada. E é por isso que, inclusive, que vários países que possuem restrições em relação à liberdade econômica social veem seus cidadãos utilizando, com cada vez mais frequência, essa criptomoeda. O Bitcoin, para além de ser uma alternativa descentralizada, é também um mecanismo que promove a liberdade monetária dos indivíduos. E essa, sem dúvidas, é sua maior qualidade.

Estamos sim, caminhando para uma mudança de paradigma na questão monetária internacional. Mas a resposta para essa mudança não está nas moedas estatais, porque todas elas estão fadadas a desaparecer em algum momento por conta das desastrosas medidas econômicas tomadas pelos bancos centrais. O que vai causar a mudança real e definitiva na história econômica mundial é a adoção generalizada de uma moeda que seja efetivamente escassa e descentralizada. E que, principalmente, esteja longe da ação estatal. Quando esse dia finalmente chegar - e não vai demorar, - as moedas estatais e os seus CDBCs ficarão no passado. Eles serão apenas uma triste página na história da humanidade.

Referências:

https://www.youtube.com/watch?v=fb_DwUFuQXY

https://www.youtube.com/watch?v=9QC4WThxl80