Jogo “Concord” ensinou à Playstation a lição mais dura sobre economia de mercado: O cliente dá a palavra final!

O jogo "Concord" foi um fracasso tão grande que obrigou a PlayStation a tomar medidas drásticas há pouco mais de uma semana do lançamento. Vamos entender por que ignorar as demandas dos clientes tem uma consequência implacável.

Pra quem é fã de vídeo games como eu, já deve ter ouvido falar de Concord, jogo exclusivo de Playstation, lançado no último dia 23 de agosto que estava dando o que falar na comunidade gamer. Há pouco mais de uma semana do seu lançamento, para a surpresa de ninguém, a Sony teve de vir a público pedir desculpas e informar à comunidade de que estava encerrando os servidores do game e que todos que compraram o game, teriam seus valores devolvidos.
Mas afinal, o que houve com o jogo? O que levou um jogo exclusivo da Playstation, reconhecida por produzir jogos de altíssima qualidade, a fracassar de forma brutal com Concord? A resposta pode ser mais simples do que parece: A gigante Playstation subestimou o poder da Economia de Mercado e a lei da oferta e demanda.
Antes de mais nada, é importante ressaltar que, assim como no cinema, a indústria de vídeo games é 100% artística. Desde o seu conceito inicial, que depende de boas mentes criativas, desenhistas e ilustradores, até os programadores, que construirão a jogabilidade do game e suas mecânicas. Sendo assim, da mesma forma que nem toda arte conecta com todas as pessoas, chegamos à conclusão que cada jogo terá um público diferente e que nem sempre agradará a todos.
Concord teve um desenvolvimento de 8 anos, considerado um tempo de produção muito elevado para os padrões da indústria de games nos dias atuais. E quanto maior o tempo de desenvolvimento, maior a expectativa do público, que espera nada além de excelência do produto final. No entanto, com o anúncio oficial de que Concord seria um jogo “live service”, ou seja, um modelo de negócio projetado para manter os jogadores engajados por longos períodos de tempo, foi o marketing negativo que serviu de empurrãozinho para o precipício.
É bem verdade que Concord também esteve envolvido em algumas polêmicas antes do seu lançamento, sendo rotulado como “woke” e “game LGBT” devido aos personagens do jogo terem pronomes em suas descrições. Contudo, por mais que isso tenha puxado para baixo o “hype” do público, os motivos que levaram Concord ao fundo do poço foram, objetivamente, outros.
Isto ocorreu por dois grandes motivos: primeiro, que esse modelo de negócio “live service” é hoje muito mal visto pela comunidade. As pessoas o veem como sendo um modelo para “ganhar dinheiro infinito”, já que o jogo em si é repetitivo e a desenvolvedora precisa despender esforços para manter o jogo atrativo por meio de constantes atualizações ou eventos dentro do game. Segundo, que o próprio gênero do jogo é de um nicho muito específico e já não é tão atrativo para a maioria do público gamer ao redor do globo. Hoje, a tendência de mercado e a demanda da comunidade tem sido muito claros no sentido de quererem mais jogos com experiências tradicionais Singleplayer ao invés de “multiplayers live service”. Um ótimo exemplo é “Black Myth: Wukong”, jogo chinês lançado na mesma semana que Concord, totalmente Singleplayer, e que foi um sucesso estrondoso ao redor do mundo, já tendo vendido aproximadamente 15 milhões de cópias em duas semanas.
Como diria o filósofo e economista Adam Smith, “O preço de mercado de uma mercadoria específica é regulado pela proporção entre a quantidade que é efetivamente colocada no mercado (oferta) e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar o preço natural da mercadoria.”
Concord, por outro lado, se trata de um game multiplayer, no estilo “Hero Shooter”, onde você escolhe um herói para jogar dentre vários disponíveis e cada um deles vai possuir habilidades e jogabilidades únicas, podendo jogar sozinho ou com seus amigos. Descrevendo desta forma, até parece ser um jogo legal, certo?
O problema é que, dentro da comunidade gamer, o gênero hero shooter já é considerado batido há muitos anos e, hoje em dia, pouco desperta o interesse dos fãs. Para piorar, a grande maioria dos jogos hero shooter no mercado são gratuitos, como Overwatch e Paladins, por exemplo. Concord, por outro lado, cobrava o valor de 40 dólares, algo em torno de 230 reais para se ter acesso ao jogo.
Foi a partir daí que os fãs começaram a questionar a Playstation: Por que eu deveria comprar seu jogo se existem vários outros tão bons quanto ele no mercado, e de forma totalmente gratuita? Qual o diferencial do seu jogo? Quem é o público alvo? Qual a garantia de que seu jogo vai perdurar para fazer valer meu tempo e dinheiro?
Nenhuma dessas perguntas foram respondidas. Na verdade, diria que foram completamente ignoradas pela Playstation, que mesmo após a massiva crítica ao game, sentou em cima de sua soberba e nada mudou na sua estratégia comercial para o jogo. Até mesmo alguns desenvolvedores do jogo se manifestaram nas redes sociais, desdenhando das críticas em tom afrontoso e ocultando comentários da comunidade, provocando a ira daqueles que, ao menos em tese, seriam seus clientes e o público alvo.
Então, Concord foi lançado oficialmente no dia 23 de agosto e foi um fracasso retumbante! O mercado, como sempre, havia dado seu veredito com o bolso: “seu jogo não vale meu dinheiro, nem meu tempo”. Estima-se que o jogo tenha vendido meras 25 mil unidades, que para efeitos de comparação, Overwatch, outro game do mesmo gênero que hoje está gratuito, vendeu aproximadamente 50 milhões de unidades desde o seu lançamento em 2016, época em que também era pago.
Entre a mídia especializada, Concord também foi um fracasso enorme, colecionando notas baixas e críticas, principalmente pela falta de conteúdo, temática e personagens genéricos, além de gameplay repetitiva. Outra grande reclamação é devido à demora em encontrar partidas. O game vendeu tão pouco, que o sistema do jogo encontrava muita dificuldade em montar partidas entre os jogadores, o que poderia acarretar filas de espera intermináveis até que se pudesse entrar em alguma partida e efetivamente jogar.
As baixíssimas vendas do Concord, cumuladas com as notas baixas da mídia especializada, foram mais do que suficiente para enterrar de vez o título. A tragédia chegou ao ponto de não haver sequer um número mínimo de players para manter o jogo funcionando para aqueles poucos que ainda estavam jogando o game.
Um jogo que só é possível jogar com outros jogadores, não consegue se sustentar se não houver jogadores e, eventualmente, morre.
O que se conclui sobre o caso, é que Concord foi apenas um produto do qual não havia demanda. Mesmo após todas as reclamações dos fãs, apontando os erros e defeitos tanto do jogo quanto do modelo comercial, a Playstation não foi capaz de compreender a visão mercadológica sobre o seu produto. A consequência inevitável disso foi um enorme prejuízo financeiro que a Sony tomou. Isso só reforça que numa economia mercado, quem dá a última palavra não são os empresários, acionistas ou os engravatados poderosos, mas sim os próprios clientes. Se sua empresa não atende à demanda do mercado, ela não tem razão de existir e eventualmente quebrará.
Que fique a lição à Playstation e todas as demais companhias: é impossível obter lucro sem atender à demanda dos seus clientes. O lucro é a consequência de um produto de qualidade e uma demanda de mercado suprida.
Concord então, parte dessa para melhor, mas não antes de nos deixar uma valiosa lição sobre a economia de mercado: A economia de mercado é implacável.
Como diria Ludwig von Mises em seu livro “As Seis Lições”: “...uma ordem dada por um chefe a um contínuo pode ser ouvida por aqueles que estejam na mesma sala. O que não se pode ouvir são as ordens dadas ao chefe por seus clientes.”

Referências:

https://blog.playstation.com/2024/09/03/an-important-update-on-concord/
https://www.terra.com.br/gameon/plataformas-e-consoles/concord-pode-ter-vendido-apenas-25-mil-copias,bd2751cc1a95b21407aecd23b0038e031byhhwa1.html
https://www.tecmundo.com.br/voxel/288815-concord-fracasso-monumental-ainda-tem-salvacao-veja-review.htm
https://www.eurogamer.pt/concord-vendeu-cerca-de-25-mil-unidades-diz-analista
https://www.adrenaline.com.br/games/desenvolvimento-de-concord-exigiu-quase-8-anos-de-trabalho/
https://viciados.net/concord-desenvolvedor-sony-provoca-fas-criticas/
https://www.metacritic.com/game/concord/