A crise econômica do setor imobiliário chinês vai levar pelo menos 10 anos para ser superada. Isso, é claro, se o comunismo chinês não colapsar antes disso.
A novela da crise imobiliária chinesa continua - e com contornos cada vez piores. Essa situação vem se arrastando há alguns anos, e o governo comunista que controla o país com mão de ferro prefere sempre dobrar a aposta, do que aceitar a inevitabilidade do colapso que se desenha no horizonte. Afinal de contas, estamos falando de um setor econômico que, sozinho, responde por ⅓ da segunda maior economia do mundo. E que, como os dados nos demonstram, está cada vez mais fragilizado.
O primeiro grande sinal de alerta surgiu, em 2021, quando a gigante da construção chinesa, a Evergrande, deu calote em parte de sua dívida. Nós tratamos desse tema, na época, no vídeo: “Evergrande colapsa e ameaça a economia do mundo todo” - link na descrição. A crise dessa empresa se arrasta desde então, sendo que a incorporadora acumula uma dívida de inacreditáveis US$ 300 bilhões - equivalente a 2% do PIB da China.
Mas a coisa não parou por aí. Mais recentemente, foi a vez da Country Garden - a maior incorporadora do país - anunciar que não seria capaz de pagar suas dívidas. Também tratamos desse caso aqui no canal, no vídeo: “O caso COUNTRY GARDEN é mais um para o COLAPSO do MERCADO imobiliário CHINÊS” - link na descrição. Em ambos os casos, não há qualquer perspectiva de recuperação: estamos falando, basicamente, de duas empresas zumbis, que ainda conseguem, parcamente, se manter de pé.
Acontece que as mudanças no financiamento de imóveis, por parte do governo comunista chinês, praticamente sentenciaram as empresas da construção civil à falência. Essas incorporadoras fizeram dívidas bilionárias para expandir seus negócios e ofertar imóveis para o povo chinês. Contudo, a demanda por esses imóveis caiu drasticamente nos últimos anos. Com uma dívida enorme nas mãos, e sem geração de caixa suficiente, não há o que se fazer: o colapso é inevitável.
Mas qual seria a real dimensão dessa queda na demanda, e do excesso de imóveis vazios na China? O economista-chefe do GROW Investment Group, Hao Hong, nos dá uma boa dimensão da profundidade desse buraco econômico. De acordo com suas análises, o mercado imobiliário inchado da China vai passar, em breve, por uma correção - algo que pode levar muitos anos para se consolidar por completo.
Correções são algo comum, e até normal, em qualquer mercado. Quando agentes econômicos fazem investimentos equivocados, direcionando recursos para algo não demandado pelo mercado, em algum momento surge um movimento contrário, destruindo esses maus investimentos. Nesse processo, muita gente perde muito dinheiro, obviamente. Mas isso é necessário, para “purificar” o mercado dos investimentos ruins. Contudo, quando o estado intervém no mercado, as distorções tendem a ser maiores. Nesse caso, portanto, a correção é ainda mais custosa e traumática.
Hao Hong afirma que, de acordo com os dados oficiais do governo chinês, a venda de imóveis na China caiu 16,5%, entre 2022 e 2023. Segundo o especialista, e ainda de acordo com esses dados, o estoque de imóveis chineses vai demandar cerca de 2 anos para ser quitado. Só que Hao aponta para o fato de que esses números são maquiados, por levarem em conta apenas os imóveis já finalizados, e não os que estão em processo de construção. Acontece que a área total em processo de construção na China chega a absurdos 6 milhões de m2. Dessa forma, o tempo total para que tudo isso fosse vendido e o mercado fosse corrigido seria de uma década - ou mais. Isso, é claro, se a economia não colapsar antes disso.
Mas os problemas vão além do estoque de imóveis. A vacância de imóveis direcionados ao setor de logística tem se tornado cada vez maior - o que implica dizer que a economia, como um todo, está enfraquecendo. No terceiro trimestre de 2023, essa vacância estava em 9,8%. No quarto trimestre, ela saltou para 15%. Ou seja, não se trata de um esvaziamento dos galpões logísticos: estamos presenciando uma verdadeira debandada.
A grande tragédia, porém, é que uma crise que atinja o setor imobiliário chinês - seja com vacância de edifícios, seja com apartamentos encalhando - não vai se restringir a apenas esse setor. Em outras oportunidades, nós já havíamos ventilado a possibilidade de que esse fenômeno pudesse se espalhar para outros setores - o que chamamos de “crise sistêmica”. E parece que a coisa realmente aconteceu, com mais um setor econômico sendo afetado por essa crise. Trata-se do setor financeiro, voltado para o financiamento imobiliário.
A Zhongzhi Enterprise, empresa especializada na gestão de fundos de investimento para o setor de imóveis na China, já vinha mal das pernas há alguns meses. E, no último dia 5, a empresa finalmente decretou falência, por conta de um passivo total na ordem de US$ 31 bilhões que, obviamente, não poderá ser quitado. Contudo, esse caso é, apenas, a primeira carta a desabar, no frágil castelo financeiro chinês. Tem muito mais coisa vindo pela frente.
A estimativa atual é de que o setor bancário chinês, como um todo, sofra um impacto de US$ 4 trilhões por conta da queda nas vendas dos imóveis. Apenas para ter uma dimensão desse problema: esse valor equivale a 2x o PIB anual do Brasil. É por isso, inclusive, que a Bloomberg Economics, recentemente, afirmou que o PIB chinês pode encolher 4 pontos percentuais até 2026 - algo que tem o potencial de representar desemprego para 5 milhões de pessoas. Em outras palavras: os tempos de crescimento pujante da economia chinesa ficaram no passado.
O que fazer, nesse cenário? Continuar demolindo os prédios que não são ocupados por ninguém? Embora essa atitude demonstre, de forma clara, a loucura do planejamento central chinês, ela, na prática, não resolve o problema. E o pior de tudo é que a coisa tem um potencial enorme para escalar para uma crise global. Afinal de contas, empreendimentos imobiliários inúteis tocados por incorporadoras chinesas não se restringem, apenas, ao território governado por Xi Jinping. Nós, inclusive, falamos sobre isso no vídeo: “CIDADE FANTASMA construída pela CHINA na MALÁSIA demonstra a grave CRISE IMOBILIÁRIA” - link na descrição.
Ainda é cedo para medirmos os impactos que o desastre imobiliário chinês terá sobre a economia do país e, também, sobre a economia mundial. O fato é que nem mesmo nós, os brasileiros, estamos isentos de sofrer as consequências desse desastre. Veja, o Brasil exportou, para a China, US$ 18 bilhões em minério de ferro apenas em 2022 - o equivalente a quase ⅔ de tudo o que o Brasil vende dessa commodity. Não é difícil imaginar o quanto a queda do gigante chinês impactaria na economia tupiniquim, não é mesmo?
De qualquer forma, o que não deixa dúvidas é a real causa desse caótico cenário econômico que se desenrola na China, e que se arrasta há tanto tempo. Mais uma vez, a culpa é do comunismo. O estado chinês, dominado pelo partido comunista há várias décadas, insiste em cometer os mesmos erros, focando-se num absurdo controle central da economia do país.
É certo que, no passado, houve uma tendência de abertura econômica e de avanço nas liberdades de empreendimento. Aliás, foi justamente essa abertura que proporcionou ao país crescimento econômico, e que deu uma sobrevida ao partido comunista. Porém, com a chegada de Xi Jinping ao poder, e com a adoção de um modelo mais “linha-dura” de governo, essa tendência foi revertida. A China, na prática, está voltando aos terríveis tempos de Mao Tsé-Tung.
Esse planejamento central, por óbvio, cobra seu preço. E quanto mais distorcida se torna a economia, maior é a queda - porque aquela citada correção do mercado, que é inevitável, precisa ser mais intensa. É por isso que o colapso da União Soviética foi tão imediato - pelo menos para quem estava de fora. Quando a coisa desabou, não havia burocrata que fosse capaz de segurar a peteca. Num dia, a segunda maior potência mundial parecia firme e forte. No dia seguinte, ela simplesmente não existia mais.
A verdade é que o estado é incapaz de fazer qualquer coisa de forma eficiente - com destaque, obviamente, para o desenvolvimento da economia. Apenas o livre mercado é capaz de enriquecer um povo e tornar uma nação próspera e desenvolvida. Quanto mais o estado intervém no livre comércio, portanto, piores tendem a ser os resultados. A atual crise chinesa, com seus contornos dramáticos, precisa ser colocada integralmente na conta do partido comunista que governa o país. Se os erros pararem de ser cometidos, levará 10 anos para que a casa seja reorganizada - isso se o país não quebrar por completo, antes disso. Mas será que Xi Jinping vai permitir essa correção econômica, ou será que ele, mais uma vez, vai dobrar a aposta da intervenção estatal?
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/01/07/aumento-da-vacancia-no-setor-de-logistica-sinaliza-mais-fraqueza-economica-na-china.ghtml
https://www.youtube.com/watch?v=b7i3sgbG9iY&pp=ygUddmlzw6NvIGxpYmVydMOhcmlhIGV2ZXJncmFuZGU%3D
https://www.youtube.com/watch?v=f1pJpIjfllM
https://www.youtube.com/watch?v=Xup0WzqggnQ&pp=ygUhdmlzw6NvIGxpYmVydMOhcmlhIGNoaW5hIG1hbMOhc2lh