28 Dez. 2023
Escritor: Leafar do Leafarverso
Revisor: Lord Caligula
Narrador: Paulo Wesley
Produtor: Leandro Brito

Diógenes: O Filósofo que Desafiou Platão e Buscou a Liberdade



Diógenes de Sínope, também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo grego antigo, que viveu entre 412 a.C. e 323 a.C. A vida de Diógenes foi marcada por eventos e circunstâncias peculiares desde o início. Nasceu em Sínope, uma cidade do antigo Reino do Ponto, por volta de 412 a.C. De acordo com algumas fontes, seu pai, Hicesias, era um falsificador de moeda. Um homem milênios à frente do seu tempo, que ja tinha entendido que a moeda estatal não vale de nada se desconsiderarmos os governos ilegítimos que dão valor a ela.

Isso levou Diógenes a ter uma infância e juventude permeadas por dificuldades financeiras e escândalos. Porém, acabou por dar um norte a suas futuras escolhas de vida e a desenvolver o seu modo de pensar, que ia de encontro ao status quo e às autoridades ilegítimas do estado da época.

O envolvimento de seu pai, muito provavelmente, influenciou a visão de Diógenes sobre os conceitos sociais e a moralidade ensinados e impostos pelos gregos antigos. E, juntamente com isto, a hipocrisia em relação ao estado e aos padrões sociais da sociedade de sua época. A necessidade de lidar com as consequências das ações de seu pai contribuiu para sua postura antiestado, muito antes de qualquer pensador desenvolver teses anarquistas.


Quando Diógenes decidiu dedicar-se aos estudos filosóficos, mudou-se para Atenas, uma das principais cidades do mundo grego, conhecida por sua efervescência intelectual. Acredita-se que ele tenha sido inicialmente discípulo de Antístenes, um filósofo grego e discípulo de Sócrates, que fundou a escola cínica. Foi com Antístenes que Diógenes desenvolveu sua filosofia cínica e seu estilo de vida radicalmente simples.




É importante resumir um pouco do contexto da Grécia, antes e durante a vida de Diógenes. A democracia ateniense, estabelecida por volta do século V a.C., era uma forma inovadora de governo, onde os cidadãos tinham o direito de participar das decisões políticas. No entanto, essa democracia era limitada, excluindo mulheres, escravos e residentes estrangeiros.


O filósofo Sócrates, uma figura central desse período, questionava as normas e tradições estabelecidas por meio de seu método de questionamento, conhecido como a "maiêutica". Ele buscava promover a reflexão crítica e encorajar os atenienses a questionarem suas próprias crenças. Entretanto, sua abordagem desafiadora e suas associações com ideias consideradas subversivas levaram à sua condenação à morte por envenenamento, em 399 a.C.


O conceito de liberdade de expressão na Grécia Antiga era, de certa forma, paradoxal. Embora Atenas tenha experimentado uma forma inicial de democracia, havia limitações para quem tinha o direito de participar e expressar livremente suas opiniões. O caso de Sócrates reflete os desafios enfrentados por aqueles que questionavam as normas estabelecidas, especialmente quando suas ideias entravam em conflito com as tradições e autoridades da época.



Além disso, é um fato histórico que muitos filósofos gregos da Antiguidade eram, em geral, coniventes ou, pelo menos, complacentes com a prática da escravidão. A aceitação da escravidão era uma característica marcante da sociedade grega antiga, e essa prática estava profundamente enraizada nas estruturas sociais e econômicas da época.

 Platão, por exemplo, embora tenha tido algumas visões inovadoras em sua "República", também apresentou uma estrutura social hierárquica. Nesta estrutura, uma classe de guardiões filósofos governaria, e outra classe de trabalhadores e agricultores estaria abaixo deles. A escravidão, embora não explicitamente mencionada em suas obras, estava implícita nas suas ideias sociais
.

Na Antiguidade, a escravidão era uma instituição amplamente aceita, e a sociedade grega dependia fortemente do trabalho escravo para sustentar suas economias agrárias e urbanas. É importante observar que nem todos os filósofos concordavam plenamente com a escravidão, e, ao longo do tempo, houve vozes dissidentes. Por exemplo, em alguns diálogos platônicos, Sócrates expressa preocupações éticas sobre o tratamento dos escravos. Contudo, tais vozes críticas não foram predominantes na época e não alteraram significativamente a prática generalizada da escravidão na sociedade grega antiga.


Diógenes, dentro desse contexto, adotou uma abordagem de ensino não convencional, preferindo usar ações e exemplos práticos para transmitir seus princípios filosóficos, em vez de discursos teóricos. Sua decisão de viver de maneira despojada e desapegada, sem comprometer-se com as tradições sociais e as expectativas convencionais, refletiu diretamente em sua filosofia cínica.


Ao longo de sua vida, ele manteve uma atitude desafiadora em relação às autoridades e às normas sociais, muitas vezes expressando suas opiniões de maneira provocativa. Suas ações e palavras, recheadas de humor e metáforas, batiam de frente com os filósofos de seu período.



Um desses filósofos era o tão famoso e respeitado Platão. A rivalidade entre Diógenes e Platão é contada através de uma anedota famosa, que destaca as diferenças filosóficas e pessoais entre esses dois pensadores da Grécia Antiga. Anedotas são pequenas histórias contadas em forma de piada, e essa história mostra a divergência de opiniões entre a escola cínica, representada por Diógenes, e a academia platônica, liderada por Platão.


Segundo a anedota, Platão teria afirmado em uma aula: "O homem é um bípede sem penas!" ‒ ou "bípede sem penas e com unhas grandes", dependendo da versão da história. Em resposta a esse desafio, Diógenes conseguiu uma galinha, depenou-a, interrompeu a aula e a jogou no meio dos alunos para declarar que essa era a representação do homem de Platão. Provocação que poucos teriam coragem de fazer ao mais respeitado filosofo daquela época. 
Em uma de suas maiores refutações anarquistas, Diógenes estava lavando uma alface em um riacho, quando Platão, conhecido por suas discussões filosóficas mais abstratas, aproximou-se. Platão, surpreso ao ver Diógenes lidando com uma tarefa tão simples, teria comentado algo ao longo das linhas, como: "Se você tivesse aprendido a bajular Dionísio, não precisaria lavar alfaces."


Em resposta, Diógenes teria dito algo como: "Se você tivesse aprendido a lavar alfaces, não precisaria bajular um tirano como Dionísio." A resposta de Diógenes não apenas destaca seu menosprezo pela política e pela bajulação de figuras poderosas, como também aponta para a sua crença na simplicidade e na independência.



Dionísio I, também conhecido como Dionísio, o Velho, foi um tirano de Siracusa, uma cidade-estado grega na Sicília, durante o século IV a.C. Ele se tornou tirano de Siracusa por volta de 405 a.C. Dionísio conseguiu conquistar o poder com apoio popular, mas, ao longo de seu governo, tornou-se conhecido por suas práticas autoritárias e crueldades.

Essa história reforça a filosofia de Diógenes, que valorizava a autossuficiência e desprezava os conceitos sociais abstratos de uma sociedade doutrinada pelo viés estatista. Platão buscava o conhecimento e a interação com governantes malditos como Dionísio; Diógenes, no entanto, optava por uma vida mais direta, rejeitando todo político e desfrutando da simplicidade de uma vida antiestado e voltada para a liberdade individual.



Há uma anedota interessante sobre Diógenes, que envolve sua experiência como escravo e, eventualmente, como professor. De acordo com a tradição, Diógenes foi capturado como escravo e vendido a um homem rico chamado Xeniades. No entanto, em vez de assumir os papéis tradicionais associados aos escravos, Diógenes inverteu a dinâmica de poder ao negociar com Xeniades, demonstrando que tinha capacidades intelectuais superiores à da maioria dos homens de sua casa.


Em vez de se submeter às tarefas usuais de um escravo, Diógenes começou a instruir Xeniades e seus filhos em filosofia. Ele adotou uma abordagem única e provocativa para ensiná-los, e, como de costume, os induzia a questionar o estado e desafiar as leis injustas do governo. 



Diógenes usava seu estilo de vida simples e suas ações anarquistas como ferramentas pedagógicas. Assim, transmitia lições valiosas sobre minimalismo, sobrevivencialismo, e a busca por uma vida virtuosa e libertária, milênios antes de todas essas correntes de pensamento surgirem.

Essa virada de eventos destaca não apenas a natureza peculiar de Diógenes, mas também sua habilidade em subverter as expectativas sociais, exatamente como um Agorista faria na atualidade. Ao invés de aceitar passivamente seu papel como escravo, Diógenes transformou a situação em uma oportunidade para difundir suas ideias filosóficas. Sua abordagem única e muitas vezes humorística cativou Xeniades, que permitiu que Diógenes assumisse um papel mais ativo na educação de sua família.



Por conta do excelente trabalho que Diógenes fez na casa de Xeniades, no fim de sua vida ele acabou chamando a atenção de Alexandre o Grande. Alexandre era considerado o homem mais poderoso do Mundo, na época. Mesmo tendo sido aluno do melhor aluno de Platão, Aristóteles, ele foi até Diógenes em busca do conhecimento diferenciado que o filosofo tinha.

 Essa história é uma das anedotas mais conhecidas sobre o filósofo cínico. A narrativa destaca o tanto que o filosofo desprezava qualquer bem ou poder que viesse do estado e toda e qualquer autoridade estatal, não importando o seu poder.


Conta-se que Alexandre, impressionado com a fama de Diógenes, decidiu visitá-lo. Encontrou Diógenes tomando sol, num pátio, e teria perguntado se poderia fazer algo por ele, ou, como a anedota conta, o diálogo que se seguiu foi:



– “Sou Alexandre o grande, diante de mim prostram-se os reinos; eu sou possuidor de muitas riquezas”.


Diógenes respondeu:


– “Eu sou Diógenes, e só isso me basta”.


Alexandre, disse:


– “Ouvi muito sobre sua sabedoria, e te ofereço metade de minhas riquezas se quiser acompanhar-me”.


Diógenes, para a surpresa de Alexandre e de todos os funcionários parasitas públicos que lá estavam, respondeu:


– “Você não pode me dar o Sol, e a única coisa que quero é isso. Então, saia da minha frente e pare de me fazer sombra”.


Os parasitas públicos ainda quiseram zombar de Diógenes, mas foram censurados por Alexandre, que lhes repreendeu:


– “Não zombem deste homem, pois se eu não fosse Alexandre Magno, eu queria ser Diógenes.



Diógenes encerrou a interação dizendo:



– “Se eu não fosse Diógenes, também iria querer ser Diógenes.”



A vida e os ensinamentos de Diógenes de Sínope são um fascinante testemunho de uma abordagem filosófica única e desafiadora, que transcendeu seu tempo e continua a ressoar nos anais da história. Diógenes, o Cínico, não apenas viveu de acordo com seus princípios, mas também desafiou as convenções sociais e as estruturas de poder de sua época. Suas atitudes tornaram-no um predecessor do anarquismo, do antiestatismo e da busca pela liberdade individual.

Diógenes, com sua vida peculiar e suas palavras provocativas, deixou um legado que transcendeu sua existência física. Sua busca pela liberdade individual, seu desafio às estruturas de poder e sua resistência ao conformismo social continuam a inspirar aqueles que valorizam a autonomia, a autenticidade e a liberdade, em um mundo muitas vezes dominado por estruturas de controle e conformidade. Em última análise, Diógenes de Sínope permanece como um símbolo duradouro da busca implacável pela liberdade e da coragem de desafiar o status quo em nome da verdadeira liberdade.

Referências:

https://www.thecollector.com/diogenes-sinope-cynicism/#

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