ESPECIALISTA em FAKE NEWS MENTE em seu currículo

A frase: “casa de ferreiro, oespeto é de pau”, explica perfeitamente esse caso. Mas, se quiser algo mais breve, pode usar a palavra hipocrisia.

A jornalista Marianna Spring, de 27 anos, mentiu em seu currículo para conseguir uma vaga como correspondente na capital da Rússia, na cidade de Moscou. Seu cargo é descrito como “correspondente de desinformação”, ou em palavras mais bonitinhas, verificadora de fake news. Segundo a notícia, a jornalista só conseguiu este trabalho especializado da BBC mentindo no seu próprio currículo.
A britânica tem fama de destruir informações falsas compartilhadas nas redes sociais. Ela também é apresentadora de um podcast intitulado Marianna in Conspiraland, que em tradução livre para o português seria algo como Marianna na Terra da Conspiração. Nele, a jornalista expõe a indústria de fake news e como eles conseguem manipular a mente da população.
Mas, aparentemente, ela faz jus a frase “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Nas últimas semanas, ela passou a estar sob uma investigação de fake news, após algumas fontes dizerem que ela teria mentido ao declarar suas informações profissionais no seu currículo. Tudo isso para conseguir a vaga de especialista de fact checker na BBC. O trabalho daria a ela a possibilidade de ser jornalista tanto na rádio quanto na televisão.
Segundo o jornal The New European, em 2018, a jornalista era uma das candidatas a vaga de correspondente em Moscou do site de notícias Coda Story, com sede nos Estados Unidos. Em entrevista com a diretora-chefe Natalia Antelava, Marianna disse que havia trabalhado ao lado da correspondente da BBC, Sarah Rainsford, durante a cobertura da Copa do Mundo na Rússia. Contudo, essa história não passa de uma realidade criada apenas na mente da jornalista. Ao verificar a autenticidade dessa afirmação, descobriu-se que ela havia mentido. Natalia, ex-jornalista da BBC, aplicou uma advertência contra Marianna, após confirmar que proferira mentiras sobre seu passado profissional. A verdade era que a jornalista conhecia Sarah de eventos sociais, mas nunca trabalhou ao seu lado.
Após o ocorrido, a jornalista pediu desculpas via e-mail, dizendo que lamenta pelo seu “terrível erro de julgamento”, mas não antes de informar que era um exemplo de repórter, apesar da gafe. Na retratação, comentou que encontrara Sarah enquanto ela trabalhava e conversou com ela em diversos momentos, mas nunca chegou a trabalhar diretamente com a repórter. Apesar de mentir sobre o assunto, disse que tudo o mais em seu currículo é extremamente verdadeiro. Ela terminou sua carta dizendo que exerce com integridade e honestidade o seu trabalho, mas que foi uma péssima ideia mentir sobre isso. Por fim, salientou que o caso foi uma excelente lição para ela.
Existe uma frase do Warren Buffett que diz: “São necessários 20 anos para construir uma reputação e apenas cinco minutos para destruí-la”. Este é o caso da jornalista, que para impressionar e sair à frente dos seus concorrentes, mentiu sobre sua carreira. Contudo, a coisa fica ainda pior porque trabalha justamente analisando o que é dito nas redes sociais e verificando se é ou não verdade. Seria como contratar um personal trainer com IMC de três dígitos, um botânico com plantas mortas em sua casa, um aconselhador de casais divorciado, ou um músico que não sabe tocar instrumentos. Acho que vocês entenderam a ideia.
Ao procurar uma pessoa para trabalhar com checagem de fatos, uma das principais coisas que deve se prezar é pela sua reputação ilibada. Mas, o que seria esse trabalho de checagem de fatos? Em 1850, nos Estados Unidos, havia muitos jornais que eram sensacionalistas, que além de enviesar as notícias, mentiam descaradamente para a população. Foi neste período que esta indústria decidiu se profissionalizar, focando estritamente em fatos. Criou-se um código de ética e organizações profissionais. Após este acordo de cavalheiros, a precisão e imparcialidade começaram a ser mais importantes do que nunca. Tanto é que essas características são a base para dizer se um jornal entrega ou não um bom produto.
Nas primeiras décadas de 1900, criou-se a Bureau of Accuracy and Fair Play, que em tradução livre seria Agência de Precisão e Jogo Limpo, que recebia reclamações dos cidadãos, e verificava se estavam corretas ou não. Seu objetivo, então, era corrigir os descuidos e erradicar as falsificações e falsificadores. Assim, eles avaliavam se a notícia era verdadeira, e em caso negativo, ficava na cola dos jornais e jornalistas que mentiam.
Nesta época, a informação era muito centralizada e cara. Quem ia atrás dos fatos e entregava a notícia para a população eram apenas os jornalistas, pois era difícil agregar as informações necessárias para produzi-la. Imagine como era naquela época saber de algo que acontecia do outro lado do país, sem a internet ou mesmo a televisão? Era necessário ter representantes espalhados em todos os lugares, para quando ocorresse algum acontecimento, alguém estivesse lá para levantar as informações, juntá-las e transformar em uma notícia. Era a única forma viável da informação ser disponibilizada para as pessoas em jornais ou mesmo na rádio. Como uma notícia fica velha muito rápido, a velocidade em passá-la era importantíssima e garantia a continuidade da empresa jornalística.
Porém, essa não é mais a realidade. Atualmente, com o advento da internet, temos em nossas mãos a biblioteca de Alexandria. Podemos saber o que quisermos, na hora que quisermos, na profundidade que quisermos. Todas as pessoas se tornaram capazes de trazer informação para outras. Houve uma descentralização da informação, de tal modo que se quiser fazer seu próprio jornal, você pode. Basta fazer um canal no YouTube, ou um perfil no Instagram, buscar as informações, estruturá-la, e pronto. As notícias estão distribuídas na internet, e muitas delas gratuitamente. E com a mesma facilidade que podemos criar conteúdo, podemos analisá-lo e saber se é ou não verdade.
As notas da comunidade do X, antigo Twitter, são um excelente exemplo de como os indivíduos conseguem saber se aquilo é ou não uma mentira. Quem não se lembra da checagem que a senhorita esbanja, a mulher do cachaceiro que está comandando o executivo no Brasil, quando ela disse que quem paga os impostos são as empresas e não os consumidores? Se não se lembra dessa pérola, o link para o vídeo no qual o Peter fala sobre isso no canal do Ancapsu está aqui na descrição.
Veja, uma agência de checagem de fatos até seria interessante, principalmente para avaliar se o que está sendo passado pelos veículos de mídia tradicional é verdadeiro. Para tal, ela deveria contratar jornalistas idôneos, imparciais, além de profissionais exemplares para irem atrás da verdade e confrontar os principais meios de comunicação sobre as mentiras que falam. Contudo, essas são exatamente características que a sociedade, não apenas a brasileira, mas de todo mundo, não vê no setor jornalístico. E se acha que estou dizendo alguma mentira, pergunto: você realmente acredita que as empresas voltadas para a checagem de fatos não possuem vieses e que fazem seu trabalho apenas para difamar um grupo específico, passando pano para outro grupo? Se a sua resposta é, “eu acredito que essas empresas são idôneas”, talvez esteja na mesma realidade que a jornalista Marianna. Ou parafraseando o Nove Dedos, “Nós não estamos vivendo no mesmo mundo”.
Enfim, a mentira da verificadora de notícias prova o quão inútil são esses fact checkers “oficiais”. Nenhum desses serviços são idôneos, e agora sabemos que nem mesmo quem trabalha neles é. Com a informação descentralizada e distribuída, a melhor solução seria disponibilizar algum meio para os indivíduos verificarem o que é dito pelos jornalistas, e que mostrem os erros e vieses que eles estão cometendo, conforme feito no X, por exemplo. Afinal, uma entidade centralizada não teria a capacidade, a eficiência e eficácia que todos os usuários de uma rede social possuem, além de terem poucos profissionais com as características necessárias para tal trabalho.
A sociedade está percebendo, gradualmente, como a grande mídia mente. E eles sabem que estão perdendo credibilidade, por isso estão indo atrás dos criadores de conteúdos que vão contra ao que dizem. A informação barata, descentralizada e distribuída está mostrando que não existe mais essa coisa de conglomerados jornalísticos que são grandes demais para falhar. Quem sabe, não estejamos vendo em primeira mão a transformação do setor no qual se parecerá mais com o que teremos em um Ancapistão? Milhares de produtores de conteúdo com diversos modos de pensar e de entregar a notícia, com milhares de pessoas verificando se estão ou não falando a verdade? O que você acha? Deixe sua opinião aqui nos comentários.

Referências:

https://revistaoeste.com/mundo/jornalista-da-bbc-especialista-em-desinformacao-e-acusada-de-mentir-em-curriculo/

https://time.com/4858683/fact-checking-history/

https://www.youtube.com/watch?v=hbb-WNlHkZo