Entenda de uma vez, todos os pontos importantes sobre o DREX, para nunca mais ter dúvidas sobre o assunto.
Com o DREX chegando na vida dos brasileiros, é imperativo desmistificar e explicar algumas questões sobre essa tecnologia de forma mais neutra possível, sem detalhes técnicos, focando apenas nas partes importantes que deve compreender. Entretanto, é importante ter em mente o seguinte: o código do DREX é fechado, ou seja, ninguém pode verificar e ter certeza das promessas feitas por banqueiros e políticos. Aqui apresentaremos tudo o que foi possível encontrar e simplificar para poderem entender como esse Real Digital funciona. Portanto, vamos aos fatos.
Durante entrevistas e palestras sobre o assunto, o Banco Central usa bastante a expressão “democratizar” o acesso do dinheiro. De fato, essa é uma das poucas vezes na qual o governo tenta baratear e melhorar um serviço deles com avanço tecnológico, mas não se esqueça de que isso terá um custo e o produto será você, ou melhor, os seus dados. O DREX se apresenta como um PIX melhorado e alternativo, e aqui já podemos eliminar o primeiro mito:
O PIX e o dinheiro em papel não vão acabar, ao menos imediatamente. Será uma alternativa que promete facilitar empréstimos, seguros, investimentos, contratos inteligentes e menos burocracia. Ou seja, é apenas uma espécie de “PIX paralelo” e opcional para quem quiser ser ainda mais dependente de bancos e do governo, com algumas vantagens em velocidade, preço e burocracia. Uma das promessas é facilitar o acesso ao crédito. Com a blockchain, as transações se tornam parte do sistema, permitindo uma recuperação de crédito mais eficiente. Para quem não compreende os meandros disso: o PIX é como uma moeda digital que serve apenas como meio de troca, enquanto o aplicativo do banco possui alguns poucos serviços; já o DREX é uma plataforma com a moeda e diversos outros serviços já integrados. O PIX é uma calculadora, e o DREX é um celular com uma calculadora, mais eficiente e com muito mais funções prontas.
Além disso, a ideia é que a pessoa comum terá mais opções de crédito pré-aprovado e produtos financeiros variados. Outro ponto interessante é a automatização de pagamentos e investimentos na bolsa, que se tornarão mais baratos. A possibilidade de, por exemplo, fragmentar ações na bolsa em pedaços menores é uma inovação que pode abrir portas, mas a quem realmente isso beneficia?
Não foi comentado a parte do controle, ainda, mas, na questão de privacidade, não espere nada muito diferente do PIX. Assim como ele, a nova rede não oferece uma transparência, pois seu código é fechado e não acessível ao público, apenas aos desenvolvedores e pessoas por trás desse sistema. Isso significa que a confiança que depositamos neste sistema se baseia nos mesmos fundamentos da LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados. O sigilo bancário, a Constituição e, em última análise, na integridade e honestidade de políticos e banqueiros. Esteja ciente de que apesar das promessas de segurança e privacidade, a estrutura de tudo isso estará sob o controle do Banco Central, e em última instância, do governo. Se confia nos desenvolvedores, banqueiros e políticos, e que eles seguirão à risca a Constituição, a LGPD e as leis de sigilo bancário, boa sorte.
Se tratando de auto custódia, a conversa chega a ser engraçada. No Bitcoin, quem tem as chaves privadas tem 100% de controle sobre o dinheiro na carteira. Caso esqueça, nunca mais terá acesso. Ou seja, se não possui as chaves, aquele não é o seu dinheiro. Pensando nisso, o Banco Central trouxe a solução: você terá a auto custódia das chaves privadas da sua carteira DREX, mas, para conseguir isso, precisará contratar um serviço de uma instituição financeira, passar por um processo de KYC dando todos os dados necessários como foto e documentos. Assim, sua carteira será criada, com a sua chave privada sendo compartilhada junto ao seu banco. O dinheiro é seu, mas também é do banco. Pelo menos poderá escolher qual instituição poderá acessar seu saldo no banco. Mas lembre-se de estar bem arrumado quando precisar enviar sua foto e documentos, isso é para sua segurança.
Nesse momento, o telespectador deve estar se perguntando: certo, mas como sacarei o meu valioso dinheiro? Como já foi dito, o dinheiro em espécie não acabará de prontidão. No DREX, o saque em dinheiro será possível, embora o objetivo futuro do Banco Central seja o “saque digital”, por meio de um cartão inteligente ou em algum dispositivo móvel, como um celular, e até pagamentos offline. Mas, na prática, o Banco Central ainda não possui uma ideia consolidada, então, até o momento, aconselham o saque em dinheiro de papel.
Esse sistema visa eliminar o terceiro em uma negociação, como, por exemplo, na compra de um carro ou imóvel. Ao invés de deixar a confiança nas mãos de um advogado, será feito por meio de um sistema automatizado, que terá regras e só finalizará o pagamento depois que as partes cumprirem seus acordos. Para simplificar, imagine que algumas pessoas querem jogar um jogo de tabuleiro, mas, para que tudo funcione, precisam de algumas regras. Essas regras são os contratos inteligentes, só que mais aprimorados e automatizados, focados em negociação: tal coisa só será aceita depois que tal quantidade for enviada. No Brasil, esses contratos podem ser usados para organizar o dinheiro e as transações. Eles garantem que todos dentro daquele sistema sigam as regras e ninguém minta ou tente trapacear. Assim, se todos fizerem o que o contrato diz, tudo funciona bem.
Algum telespectador poderia perguntar: “Tá, e além do Banco Central, quem está por trás disso?” Durante a fase piloto do DREX, foram selecionados 16 grupos participantes de instituições financeiras, que testaram, conforme um calendário bem definido, as mais diversas funções do DREX. Nesse meio, há convênios de cooperação técnica com o setor privado de diversos países, ou seja, grandes empresas privadas internacionais estão envolvidas e colaborando com esse projeto do governo. Notou algo? Enquanto várias outras coisas, como obras, infraestrutura e investimentos, sequer começam direito, sendo interrompidas constantemente, sem prazos para acabar, o DREX possui até mesmo uma fase piloto, como uma série que será lançada. Perceba como esse Real Digital trouxe todo esse empenho para os burocratas. Mas como os antigos diriam: quando o milagre é muito, desconfie do santo.
O governo brasileiro, ao optar por não desenvolver sua própria moeda digital, como uma versão baseada em Ethereum, parece ter decidido que a melhor maneira de avançar é deixar que o setor privado faça o trabalho pesado. Afinal, quem melhor para criar soluções eficientes do que as empresas que estão sempre em busca de lucro? Essa abordagem pode trazer benefícios, como a agilidade e a criatividade que as empresas privadas costumam oferecer, mas tudo sob medida para os banqueiros e políticos. Se tudo funcionar como o esperado, o resultado será um controle maior sobre as transações e, potencialmente, uma vigilância financeira que muitos considerariam invasiva. Além disso, a centralização das CBDCs pode fazer com que muitos indivíduos, especialmente aqueles que buscam maior liberdade financeira, se sintam atraídos por alternativas descentralizadas, como o Bitcoin. E não somos nós quem conjecturamos isso, mas o próprio coordenador do projeto do DREX, Fábio Araújo. Ele disse: “Acho que é impossível que alguém consiga proibir o uso do Bitcoin. Se o governo, o Banco Central, ou quem quer que seja, oferecer um serviço que não atenda às necessidades da população, a população vai usar outra coisa”. Além disso, ele responde sua dúvida sobre privacidade: “O Banco Central NÃO vai ficar sabendo de todas as suas transações do dia a dia”. Mais uma vez, o DREX é código fechado e o acesso é restrito aos desenvolvedores; só eles sabem o que está nas linhas de programação.
Falando em programação, vamos falar da plataforma em si. O Real Digital usará uma plataforma blockchain, que será baseada no Hyperledger Besu, da rede e também da criptomoeda Ethereum. A Ethereum é uma plataforma bem mais complexa e pesada que o Bitcoin, cheia de camadas e serviços. Dentro desse ecossistema, o Hyperledger Besu se destaca como uma das opções para criar redes blockchains, e isso atraiu a atenção do Banco Central para desenvolver o DREX. Esse Hyperledger Besu é uma dessas plataformas e serviços de código aberto que permite a criação de redes de blockchain permissionadas. Ele é uma espécie de “Bitcoin faça você mesmo”, permitindo que desenvolvedores e instituições personalizem sua rede de acordo com suas necessidades.
Falando em necessidade, é importante destacar que seres humanos são animais que respondem a incentivos. Não nascemos maus ou bondosos, mas reativos ao ambiente e ao que pode nos dar recompensas, principalmente incentivos econômicos. Entre esses, o interesse em manter a sua riqueza acumulada. Um ponto importante a considerar é que o Bitcoin está em constante evolução, recebendo melhorias e atualizações de forma descentralizada, conhecidas como BIPs, Bitcoin Improvement Proposals. Essas propostas são estudadas e verificadas por uma comunidade de desenvolvedores anônimos e voluntários que têm o incentivo de garantir que a moeda continue a manter seu valor. Os usuários têm a liberdade de aceitar ou não essas melhorias, promovendo um ambiente de inovação colaborativa. Em contraste, no DREX, o grande incentivo é manter o controle sobre o sistema financeiro. Se algo significativo acontecer, há humanos por trás disso, e se quer descobrir se isso vai ou não lhe prejudicar, observe as atitudes e, principalmente, os incentivos. Quem realmente se beneficia com o DREX e quais são os incentivos para tanto empenho nisso?
Você já deve ter visto um vídeo no qual se fala que, se na pandemia existisse o DREX, seria possível programar um Bolsa-Família ou outros benefícios e fazer com que as pessoas só pudessem comprar coisas até 5 km de sua casa. Acha isso assustador? Vamos comentar a maior CBDC do mundo: o e-CNY, ou yuan digital. Essa moeda é um exemplo claro de como uma CBDC pode ser utilizada não apenas como uma ferramenta de pagamento, mas como um mecanismo de controle social. Desde seu desenvolvimento em 2014, a China tem avançado rapidamente na implementação da moeda, testando-a em várias cidades e até mesmo utilizando-a em eventos globais, como as Olimpíadas de Inverno de 2022.
A narrativa oficial do governo chinês afirma que o yuan digital visa modernizar o sistema financeiro, aumentar a eficiência das transações e combater crimes cibernéticos. Segundo o relatório do Working Group on E-CNY Research and Development, de 2021, o yuan digital busca promover uma concorrência justa no mercado de pagamentos, nivelando o campo para inovação e acessibilidade. Entretanto, essa moeda digital permite um nível de rastreamento e controle sem precedentes. Embora alguns vejam isso como uma medida de segurança, é importante se perguntar até que ponto essa segurança se torna vigilância? Além disso, essa moeda tem um papel geopolítico, sendo uma opção ante ao dólar. Acreditamos que em algum momento o dólar irá desaparecer, assim como todas as moedas fiduciárias, pois todas possuem prazo de validade. O problema é substituir o papel colorido por uma moeda digital maligna.
Enquanto muitos países exploram suas próprias CBDCs, a China utiliza o yuan digital como um meio de controle social, permitindo acesso a informações detalhadas sobre os hábitos de consumo dos cidadãos, uma eficiência que traz 1984 a realidade, confirmando como essas moedas podem promover eficiência econômica e controle social. E para fechar com chave de ouro, a EXAME informou que o projeto DREX entrará numa nova fase em 2025, mas, o maior desafio continua na privacidade. Agora, a opinião final da escritora:
Apesar de todas as reclamações contra essa CBDC, realmente acredito que a maioria das pessoas acabará usando o DREX, e nem precisará de muito esforço do governo. Posso parecer pessimista, mas, sou extremamente otimista. Porém, a salvação é individual. Quando muitos perceberem que podem ter acesso a serviços financeiros mais baratos e acessíveis, a tentação será grande. A busca do povo brasileiro por vantagens ofusca a ratoeira. Quem já entendeu o propósito do bitcoin não se importa com quantas moedas ou CBDCs os governos criam, mas quem não entendeu, provavelmente, não resistirá às iscas do DREX. A complacência e memória curta são problemas sérios na política do Brasil.
https://github.com/pedrosgmagalhaes/drex-hyperledger-besu-deployer
https://besu.hyperledger.org
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/real_digital
https://m.youtube.com/watch?v=GCGbbA5o6mI&list=PLhqfgkxuHXh4BM4lpz2waKpuuQyrR_v4C&index=1&pp=iAQB
https://m.youtube.com/watch?v=253qlxanAK4&list=PLhqfgkxuHXh4BM4lpz2waKpuuQyrR_v4C&index=2&pp=iAQB
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https://m.youtube.com/watch?v=YNJOmyfewg4&list=PLhqfgkxuHXh4BM4lpz2waKpuuQyrR_v4C&index=8&pp=iAQB
https://m.youtube.com/watch?v=z9et-rdcYPg&list=PLhqfgkxuHXh4BM4lpz2waKpuuQyrR_v4C&index=9&pp=iAQB
https://m.youtube.com/watch?v=cDvzvyqVC4I&list=PLhqfgkxuHXh4BM4lpz2waKpuuQyrR_v4C&index=10&pp=iAQB
https://m.youtube.com/watch?v=DLRFu3XhjnQ&list=PLhqfgkxuHXh4BM4lpz2waKpuuQyrR_v4C&index=11&pp=iAQB
https://wiki.hyperledger.org/display/BESU/Documentation