Ao dizer que “traficantes são vítimas dos usuários”, Lula revela a velha inversão moral da esquerda: culpar o cidadão comum e poupar o estado e as facções que realmente lucram com o crime.
Em viagem oficial à Ásia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva na Indonésia para discutir políticas de combate às drogas e comentar as declarações de Donald Trump sobre os cartéis latino-americanos. Nessa conversa, ao tentar rebater o tom duro do ex-presidente norte-americano, Lula disse que: “os traficantes são vítimas dos usuários”.
O comentário ocorreu durante uma coletiva de imprensa em Jacarta, no encerramento de uma reunião de cúpula entre países emergentes da Ásia e da América do Sul. Lula, ao ser questionado por jornalistas sobre a política antidrogas da Indonésia — um país conhecido por aplicar pena de morte a traficantes — aproveitou para criticar a postura “punitivista” dos Estados Unidos e se colocar como defensor de uma abordagem “humanista”. Foi nesse contexto que soltou a frase que rodou o mundo.
A onda de indignação e críticas foi imediata. Parlamentares da oposição, policiais e comentaristas políticos acusaram o presidente de inverter responsabilidades e de relativizar a gravidade das ações de facções criminosas que, há décadas, controlam territórios por todo o país e manipulam o próprio estado por dentro. Muitos também apontaram o absurdo moral deste pensamento: chamar de “vítima” quem vive do vício e da morte alheia seria o mesmo que culpar o assaltado pelo assalto. O pior de tudo, porém, é que o comentário não teria sido apenas um erro de comunicação, mas uma demonstração de como a esquerda brasileira enxerga o crime: a visão de que o criminoso é uma vítima da sociedade e de que a culpa nunca é individual, mas sempre coletiva.
No dia seguinte à sua declaração, Lula recuou, buscando consertar o estrago. Em suas redes sociais, escreveu que havia “se expressado mal” e que seu posicionamento era “muito claro contra os traficantes e o crime organizado”. A grande mídia se apressou a defender tudo como apenas um mal-entendido. A tentativa de correção, porém, não colou. O dano estava feito. A fala de Lula parecia mais que um simples tropeço: ela soava como uma confissão da ideologia que guia boa parte da esquerda.
Durante a entrevista, o presidente ainda aproveitou para criticar a proposta de Donald Trump de usar força militar contra cartéis na América do Sul. Lula afirmou que “não se pode invadir o território de outro país”, defendeu a “autodeterminação dos povos” e disse que “antes de punir é preciso julgar”. Em tese, defendia o respeito às leis internacionais. Na prática, porém, fazia um aceno à velha retórica de soberania usada por governos que preferem fechar os olhos diante de seus próprios problemas internos.
O contraste é gritante: enquanto Trump fala em atacar cartéis armados, Lula se preocupa em proteger “a soberania” de regimes que, há muito tempo, se misturam com o narcotráfico. O resultado é previsível — declarações inflamadas contra o “imperialismo” americano e, por outro lado, silêncio ou conivência com facções que dominam as ruas brasileiras.
A fala de Lula se encaixa em um padrão de discurso em que todos são vítimas de algo: da pobreza, do capitalismo, do imperialismo, dos “viciados”, uma lógica que mantém o estado grande e o povo infantilizado. Afinal, se ninguém é responsável por nada, sempre haverá a necessidade de um “superior” para decidir por todos. Esse discurso, tão popular em ambientes universitários e na narrativa que embasa políticas públicas falidas, dissolve a responsabilidade pessoal e transforma assassinos e traficantes em meros produtos de “circunstâncias sociais”, pois, se todo crime é culpa da “sociedade”, ninguém precisa ser punido de verdade — basta um programa social e uma boa dose de retórica.
Mas o problema fica ainda mais sério quando lembramos que, no Brasil, essa linha entre governo e crime organizado já está perigosamente borrada. O país vive um dos períodos mais críticos de infiltração do narcotráfico na política. Em destaque, nos últimos três anos, vieram à tona documentos e investigações que apontam ligações preocupantes entre o PCC e o governo petista atual.
Trechos de interceptações e relatórios de operações policiais, divulgados por veículos como Revista Oeste, Gazeta do Povo e Jovem Pan, mostram que líderes do PCC mencionaram conversas com figuras políticas sobre trégua e até “entendimentos” em períodos eleitorais, afirmando que há um “diálogo cabuloso” com o PT. Embora os detalhes ainda estejam sob investigação — e, durante o período eleitoral, muitos desses dados tenham sido abafados —, o simples fato de haver menção a esse tipo de diálogo é suficiente para causar repulsa. O que antes parecia ficção — cartéis negociando com o poder institucional — hoje é pauta real.
Então, quando o chefe de estado de uma nação, onde facções comandam municípios e estados inteiros, diz que os traficantes são “vítimas”, ele envia um sinal perigoso. O recado que é dado não é o de que o governo vai combater o crime, mas o de que vai compreendê-lo e, até mesmo, tolerá-lo. E esta é exatamente a postura do governo atual, reiterada diversas vezes em suas declarações e políticas públicas.
O discurso “humanitário” de Lula é, na verdade, um véu de cinismo. O presidente fala em “não matar, mas prender”, como se o sistema prisional brasileiro não fosse dominado pelas mesmas facções que ele diz combater. Fala em “ter provas”, mas ignora as provas de que o próprio estado alimenta o crime com corrupção, impostos e impunidade. Fala em “respeitar a constituição”, mas lidera o governo mais leniente com criminosos da história recente.
A complacência política com o tráfico, entretanto, não é novidade na América Latina. Na Venezuela, por exemplo, há anos o regime de Nicolás Maduro é acusado de envolvimento direto com o narcotráfico. O chamado “Cartel dos Sóis” foi alvo de sanções e denúncias formais por parte do governo dos Estados Unidos. Durante o governo Trump, Washington chegou a oferecer recompensas milionárias por informações que levassem à prisão de Maduro e de outros altos funcionários venezuelanos, acusados de conspirar com grupos criminosos para enviar drogas aos EUA. Recentemente, o governo norte americano iniciou uma ação militar contra a Venezuela e, diante da pressão, o próprio Maduro, em tom quase caricatural, chegou a pedir “peace forever” em inglês — um apelo que demonstra o medo real de ser alvo de uma operação militar americana.
A retórica da “soberania nacional”, usada por Lula e seus aliados, serve, na prática, como escudo para governos que têm medo de ser expostos. Invoca-se o nacionalismo e patriotismo para impedir ações externas, mas nunca para proteger os próprios cidadãos contra facções que oprimem e destroem populações inteiras. E quando Trump fala em “autorização para agir contra cartéis”, a esquerda grita “imperialismo” — enquanto convive pacificamente com facções armadas que controlam territórios muito além das fronteiras da lei.
Essa contradição é o coração da hipocrisia latino-americana: presidentes que falam em autodeterminação dos povos, mas não conseguem determinar sequer quem manda nem mesmo dentro de suas prisões. A “soberania” que tanto prometem defender não é do povo — é do estado sobre o cidadão. E quando esse estado é cúmplice do crime, o resultado é o que vemos no Brasil e na Venezuela: um poder público capturado por organizações paralelas que lucram com a ilegalidade e controlam o medo como instrumento político.
Sob a ótica libertária, o erro começa no próprio conceito de guerra às drogas. O estado proíbe o comércio de substâncias, criando um mercado negro bilionário. Facções armadas tomam conta da oferta e, ao mesmo tempo, o governo usa o caos como justificativa para ampliar seu poder. É um ciclo perfeito: o tráfico só existe porque o estado o alimenta — e o estado só cresce porque o tráfico existe.
A fala do presidente não é nada além do reflexo de um sistema que precisa manter o inimigo vivo. Ao transformar o traficante em vítima, o governo protege a própria narrativa na qual o estado se apresenta como mediador entre o “pobre oprimido” e a “sociedade opressora”, quando na verdade é o principal beneficiário da guerra que finge combater. O traficante, dentro desta estratégia, é útil demais para ser definitivamente derrotado — ele é a desculpa para mais verbas, mais controle, mais polícia e mais voto.
A crítica libertária, ao contrário, parte de dois princípios simples: responsabilidade individual e livre mercado. O primeiro significa reconhecer que cada pessoa responde por suas ações — seja o usuário, o vendedor ou o governante. O segundo significa admitir que proibições estatais criam incentivos para o crime. Se as drogas fossem legalizadas, seu comércio deixaria de ser monopólio de facções armadas e passaria a ser uma atividade regulada por contratos, reputação e concorrência. O preço cairia, o lucro do crime desapareceria e a violência perderia seu combustível econômico.
Mas o estado não quer isso. Ele precisa do caos para justificar sua existência. Precisa do inimigo para se fingir de protetor. Precisa do traficante como espantalho e do cidadão como refém.
Logo, a verdade é que o estado e o narcotráfico não são opostos — são sócios. Um fornece a proibição como reserva de mercado, impedindo que o produto seja vendido em estabelecimentos comerciais legítimos; o outro fornece o produto, para o qual há demanda. Um cria o medo, o outro vende a “segurança”.
É a concretização de uma aliança onde o estado cria o problema, finge combatê-lo, usa-o como pretexto para arrecadar mais e, satisfeito com o resultado, continua a criá-lo. A guerra às drogas é o negócio perfeito — interminável, lucrativo e moralmente conveniente. Ambos vivem da coerção sobre pessoas pacíficas e ambos precisam de narrativas morais para justificar o que fazem. A diferença é que o traficante assume ser criminoso; o estado prefere disfarçar-se de salvador..
O libertarianismo oferece a única saída honesta: devolver ao indivíduo a responsabilidade pelas próprias escolhas e ao mercado a liberdade de regular a oferta e a demanda. Num sistema verdadeiramente livre, não haveria traficante armado, porque não haveria proibição; não haveria facção, porque não haveria monopólio da violência; e não haveria Lula, porque ninguém seria obrigado a financiar um governo para dizer estes disparates.
Concluindo, a frase de Lula não foi “mal colocada”. Foi bem reveladora. Ela mostra exatamente o que ele pensa — e o que a esquerda latino-americana inteira acredita: que o criminoso é vítima, o estado é herói e o cidadão é culpado. Enquanto essa mentira continuar sendo repetida, o tráfico continuará sendo o melhor negócio do continente — e o estado, seu maior sócio.
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/sp/pcc-conversas-entre-auditores-revelam-monitoramento-de-pontos-de-trafico/
https://www.metropoles.com/sao-paulo/dialogos-cabulosos-tarcisio-pcc-pt
https://www.infomoney.com.br/politica/apos-criticas-lula-recua-fala-chamou-traficantes-vitimas-usuarios/
https://www.aljazeera.com/news/2025/9/4/is-venezuela-the-big-cocaine-menace-trump-claims-it-to-be