No Irã, o dinheiro virou pó e o povo corre desesperado para o ouro e o bitcoin.
A notícia que chega do Irã é um pesadelo econômico desenrolando-se em tempo real, mas para quem estuda a história monetária com atenção, é somente mais um capítulo previsível de um livro trágico que a humanidade já leu muitas vezes. O rial iraniano, a moeda fiduciária estatal que o governo jura ter valor e ser a base da soberania nacional, colapsou brutalmente para uma mínima histórica, atingindo a cotação surreal de 1,2 milhão de riais por um único dólar americano. Em resposta ao pânico generalizado e à destruição instantânea do poder de compra, os cidadãos iranianos estão fazendo o que qualquer ser humano racional faria diante do roubo inflacionário institucionalizado.
Eles estão correndo desesperadamente para trocar seu papel pintado estatal por algo real, tangível que o governo não possa imprimir. O Grand Bazaar de Teerã, centro histórico do comércio persa, virou palco de uma corrida frenética e caótica por ouro físico, moedas estrangeiras fortes e, cada vez mais, criptomoedas incensuráveis como bitcoin e stablecoins como tether. Relatos locais dramáticos mostram comerciantes de joias e doleiros vendendo quilos de ouro e milhões em dólares para pessoas comuns em questão de dias, um volume de negociação inédito até para veteranos daquele mercado acostumados com crises. O medo estampado no rosto das pessoas não é especulativo, é o medo visceral e primitivo de ver a poupança de uma vida inteira de trabalho evaporar em horas nas mãos de burocratas incompetentes e ideológicos.
Esse cenário catastrófico e distópico não é um acidente isolado ou uma exclusividade exótica do Oriente Médio sob sanções, mas o destino matemático e inevitável de qualquer moeda fiduciária gerida por governos irresponsáveis que acham que podem revogar as leis da economia. E não se engane por um segundo sequer, o Brasil não é imune a isso. Nós já vimos esse filme de terror antes, e ele não teve final feliz. Quem viveu o início dos anos 1990 lembra bem do trauma nacional do confisco da poupança pelo Plano Collor, uma medida desesperada e autoritária de um governo quebrado para tentar conter a hiperinflação, retirando liquidez da economia à força, na canetada. Na época, a desculpa oficial era salvar a economia e combater o dragão da inflação. O resultado prático foi a destruição completa da confiança no sistema bancário, suicídios, falências e o empobrecimento instantâneo de milhões de famílias que acordaram sem acesso ao seu próprio dinheiro.
(Sugestão de Pausa)
As corridas bancárias e o colapso sistêmico de moedas locais têm se tornado assustadoramente frequentes na última década, servindo de alerta global gritante para quem quiser ver. Veja o caso trágico do Líbano em 2019, que já foi conhecido como a Suíça do Oriente Médio. Um esquema de pirâmide estatal patrocinado pelo próprio banco central colapsou sob o peso da dívida e da corrupção. Os bancos fecharam as portas literalmente, soldados foram colocados nas entradas para impedir saques e, quando reabriram, o dinheiro dos depositantes estava congelado ou valia uma fração irrisória do valor original devido à conversão forçada dos depósitos em dólar.
A libra libanesa perdeu mais de 98% do seu valor em dois anos, e a classe média, que se achava segura e protegida, virou pobre da noite para o dia, precisando de ajuda humanitária para comer. Na Nigéria, a maior economia da África, o governo tentou em 2023 forçar a adoção de uma moeda digital estatal centralizada, a eNaira, limitando agressivamente os saques em dinheiro físico nos caixas eletrônicos. A medida gerou protestos violentos, queima de agências bancárias e empurrou a população jovem e conectada ainda mais para o bitcoin e para o mercado paralelo, mostrando que a coerção estatal tem limites quando a sobrevivência está em jogo.
O padrão é sempre o mesmo, não importa a geografia, a cultura ou o regime político: gasto público desenfreado e populista, impressão de dinheiro sem lastro para cobrir o rombo fiscal, inflação galopante, controle de capitais para impedir a fuga da vítima e, finalmente, o colapso total da moeda e da confiança. No Brasil, a memória curta é nosso maior inimigo existencial. Achamos que o Real é uma moeda forte, inabalável e séria porque vencemos a hiperinflação. Mas os fundamentos fiscais e monetários atuais são piores e mais frágeis do que em muitos momentos de crise aguda do passado. Temos uma dívida pública bruta batendo na porta de 80% do PIB, um déficit nominal recorde que drena a poupança nacional e um governo que não para de aumentar gastos obrigatórios, inchar a máquina pública e atacar a responsabilidade fiscal como se fosse um crime contra o povo.
(Sugestão de Pausa)
A corrida bancária moderna, no século XXI, não precisa ser aquelas filas físicas quilométricas e dramáticas na porta da agência que víamos nas fotos em preto e branco de 1929. Ela acontece digitalmente, silenciosamente, na velocidade da luz. Foi exatamente o que vimos nos Estados Unidos em 2023 com o colapso do Silicon Valley Bank, um boato fundamentado no Twitter, uma perda de confiança, saques massivos via aplicativo bancário e o banco, que parecia sólido, quebrou em menos de 24 horas, forçando o Fed a intervir para evitar contágio. Lembrando que essa foi a reação que motivou a criação do bitcoin.
Se a confiança na solvência do governo brasileiro balançar de verdade, digamos, numa crise política grave, num impeachment, numa ruptura institucional ou num choque externo que seque o financiamento da dívida, o brasileiro vai tentar tirar seu dinheiro do sistema bancário nacional. E vai descobrir, da pior maneira possível, assim como os iranianos, libaneses e gregos descobriram, que o dinheiro simplesmente não está lá. Os bancos operam com o sistema de reserva fracionária, emprestando o dinheiro que você deposita e mantêm somente uma fração mínima em caixa. Se todos solicitarem o dinheiro de volta ao mesmo tempo, o sistema quebra matematicamente. Não é uma questão de se, é uma questão de quando a confiança quebra.
É aqui, nesse cenário de desespero e aprisionamento financeiro, que entra o papel vital, moral e prático do bitcoin como seguro contra o estado e ferramenta de liberdade. No Irã, apesar da repressão governamental brutal que bloqueou exchanges locais em 2024 e persegue mineradores, o uso de bitcoin e tether continua crescendo exponencialmente no mercado paralelo por meio de VPNs. Por quê? Porque são os únicos ativos que podemos realmente possuir, controlar e transportar sem permissão do aiatolá, do presidente ou do banco central.
O ouro é excelente como reserva de valor histórica, ninguém nega isso, mas é difícil de esconder e extremamente perigoso de transportar fisicamente em uma crise social ou guerra. Ele pode ser confiscado fisicamente com relativa facilidade. O bitcoin, como muito bem já dito nesse canal, viaja na sua cabeça. Você pode decorar 12 palavras e cruzar qualquer fronteira. A correlação entre o colapso de moedas fiduciárias estatais e a adoção de criptomoedas descentralizadas é direta, causal e brutal.
(Sugestão de Pausa)
A situação dramática do Irã nos ensina, ou deveria ensinar, que a diversificação em ativos incensuráveis, soberanos e fora do sistema bancário tradicional não é coisa de paranoico, prepper ou criminoso, mas dever de casa básico e responsável de qualquer cidadão adulto que queira proteger sua família da incompetência e da voracidade estatal. Quando o estado falha, e ele sempre falha em manter o valor da moeda que emite, pois a tentação de imprimir é irresistível para os políticos, quem tem somente dinheiro no banco, poupança, títulos públicos ou papel moeda, vira estatística de pobreza e dependência.
Quem tem bitcoin sob custódia própria, tem uma chance real de recomeçar a vida, de preservar seu legado e de manter sua dignidade. O bitcoin consegue preservar o seu patrmiônio na era digital, adicionando a capacidade inédita de teletransportar sua riqueza para qualquer lugar do planeta em 10 minutos, 24 horas por dia, 7 dias por semana, totalmente fora do alcance de sanções geopolíticas, confiscos domésticos ou controles de capital draconianos.
O Brasil está caminhando para o abismo fiscal sambando e com um sorriso no rosto, achando arrogantemente que aqui é diferente, que temos muitas reservas ou que Deus é brasileiro. A matemática é universal e implacável. Não existe mágica na economia. Quando a conta do populismo fiscal, da gastança desenfreada e da corrupção chegar, a corrida bancária não será televisionada no Jornal Nacional com filas físicas dobrando o quarteirão na porta da Caixa Econômica Federal. Ela será uma notificação fria e impessoal no seu celular dizendo "Pix indisponível temporariamente devido à instabilidade no sistema" ou "saques limitados a R$ 500,00 por motivos de segurança nacional".
Nesse dia fatídico, quem tiver bitcoin na carteira fria, com suas chaves privadas seguras, vai dormir tranquilo sabendo que seu patrimônio é inconfiscável. Quem tiver reais no banco, fundos de investimento atrelados ao governo ou previdência privada vai descobrir, da maneira mais dolorosa possível, o verdadeiro significado de risco Brasil e de risco de contraparte. O Irã hoje é o fantasma do Natal futuro mostrando as correntes pesadas que estamos forjando alegremente hoje com nossa complacência. A pergunta de um milhão de dólares (ou de satoshis) é: você vai esperar o real virar pó como o rial iraniano para começar a agir, ou vai construir sua arca agora, enquanto o sol ainda brilha e as portas de saída ainda estão abertas? A história não se repete, mas ela rima, e a rima que vem do Irã soa assustadoramente familiar para qualquer brasileiro atento.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=ryEYm_XaBvU
https://www.youtube.com/watch?v=Za3FgN7XDCI
https://www.tse-fr.eu/sites/default/files/TSE/documents/sem2025/bdf/2025-09-23_saidi.pdf
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cvgw1r84dlyo
https://www.trmlabs.com/resources/blog/2024-trends-crypto-adoption-and-illicit-activity-by-country
https://cryptoresearch.report/crypto-research/iran-gold-and-a-small-bitcoin-boom/
https://www.fdd.org/analysis/2020/08/04/crisis-in-lebanon/
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/escalada-da-crise-entre-stf-e-eua-levanta-fantasma-de-corrida-bancaria-no-brasil/