Jogar RPG é um ato de Liberdade

As melhores atividades são aquelas em que você é livre para fazer o que a sua imaginação permitir.

RPG é a abreviação de "Roleplaying Game", ou Jogo de Interpretação de Papéis em tradução livre. É um tipo de jogo em que os participantes assumem identidades fictícias e desenvolvem narrativas de forma colaborativa. O avanço da trama segue um conjunto de regras estabelecidas, que permitem aos jogadores improvisar dentro de certos parâmetros. As decisões tomadas pelos participantes costumam ter impacto direto no rumo que a história irá seguir.


Nas décadas de 80, 90 e 2000, a maioria dos inscritos desse canal deviam estar na sua infância ou adolescência e, nesse período, muitos jogos de videogame fizeram parte da nossa diversão. Os RPGs de videogame foram a porta de entrada para esse estilo de jogo para a maioria de nós. Hoje em dia, com o avanço da tecnologia, os RPGs ganharam um nível altíssimo de imersão nos consoles e computadores. Jogos que a maioria conhece como, "The Elder Scrolls", "The Witcher" e "Final Fantasy" levam os jogadores a mundos vastos e detalhados, onde cada escolha e ação moldam o destino do protagonista.


Mas tudo começou muito antes, lá nos anos 70, quando Gary Gygax e Dave Arneson resolveram trazer para a mesa de jogo a experiência imersiva dos mundos de fantasia. Eles pegaram elementos de jogos de guerra, como o "Chainmail", e deram uma pitada de criatividade e liberdade, lançando o famoso "Dungeons & Dragons", ou “D&D”, o avô de todos os RPGs.


Gary e Dave foram os visionários por trás desse fenômeno. Gary era um apaixonado por jogos de estratégia e história, enquanto Dave tinha um talento especial para criar narrativas e universos envolventes. Juntos, eles desenvolveram um sistema de jogo revolucionário, no qual os jogadores assumiam o papel de personagens fictícios em um mundo de fantasia, liderados por um mestre de jogo que narrava e arbitrava a aventura.


Resumidamente, era uma mistura de jogo de tabuleiro com teatro em que um dos jogadores tinha a função de ser o “diretor” desse teatro enquanto mediava as situações e introduzia desafios para os outros jogadores. Ele atuava como guia para essa história que era contada em conjunto. Enquanto isso, as regras pré-estabelecidas e os dados indicavam se cada escolha dos jogadores era bem-sucedida ou não.


Nos últimos anos, o RPG experimentou um renascimento surpreendente na cultura pop, encontrando seu caminho para o centro das atenções em filmes, séries de TV e até mesmo na mídia social. Um exemplo notável é a famosa série "Stranger Things", que ajudou a trazer o RPG de volta à moda e apresentá-lo a uma nova geração de fãs.


Na primeira temporada de "Stranger Things", os personagens principais são mostrados jogando "Dungeons & Dragons" em sua sala de estar, estabelecendo imediatamente uma conexão entre o mundo do RPG e a narrativa da série. Essa representação autêntica do RPG como uma atividade de grupo divertida e imaginativa ressoou com muitos espectadores, despertando um interesse renovado pelo hobby.


Além de "Stranger Things", outras séries também têm explorado o mundo do RPG de maneiras criativas. Por exemplo, "Community" apresenta episódios dedicados ao RPG, onde os personagens se envolvem em aventuras dentro do jogo enquanto lidam com seus próprios conflitos pessoais. Podemos citar também o filme recente “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” que é um show de referências a maior franquia de RPG e a seus fãs. Essas representações na cultura pop ajudaram a desmistificar o RPG e a mostrar sua diversão e versatilidade para um público mais amplo.


Além disso, plataformas de streaming e mídias sociais têm desempenhado um papel significativo na popularização do RPG, permitindo que jogadores compartilhem suas aventuras e experiências com uma comunidade global. Canais do YouTube, podcasts e transmissões ao vivo têm se dedicado a mostrar sessões de RPG, proporcionando entretenimento e inspiração para jogadores novos e experientes.


Se fosse para definir RPG em poucas palavras, a melhor escolha seria: “Imaginação” e “Liberdade”. No RPG, não existem limites para onde sua mente pode te levar. Você cria um personagem único, com sua própria história, habilidades e motivações. É como se você fosse o herói do seu próprio livro ou filme, só que com o controle total da história. Você enfrenta desafios, resolve enigmas, derrota monstros e interage com outros personagens, tudo isso em uma narrativa fluida e dinâmica, moldada pela criatividade dos jogadores e do mestre de jogo.


Primeiro, ao falar sobre a relação de jogar RPG e o Libertarianismo podemos citar a liberdade individual e a liberdade de escolha relacionada a essa atividade. Quando falamos de RPG, estamos falando de uma experiência que é como ter um mapa em branco e uma caneta na mão, pronto para traçar os próprios caminhos e descobrir os próprios destinos. É como se cada jogador fosse o autor da sua própria história, moldando-a conforme sua imaginação e vontade. Essa liberdade é o cerne da filosofia libertária, que defende a autonomia individual e a ausência de coerção como valores fundamentais. Essa liberdade presente nos RPGs, em que cada jogador tem o controle total sobre seu personagem e suas ações, tem total relação com os princípios libertários de individualismo propostos por Murray Rothbard. Assim como na filosofia libertária, no RPG, cada indivíduo é visto como o mestre de seu próprio destino, livre para seguir seus próprios caminhos e buscar seus próprios objetivos sem a interferência de autoridades externas.


Também podemos falar sobre o incentivo a cooperar com os outros sem necessidade de inibir sua independência. Nos RPGs, a parceria muitas vezes se torna a coluna estrutural das aventuras compartilhadas. É como se os jogadores estivessem se unindo em uma jornada épica, cada um trazendo suas próprias habilidades, personalidades e motivações para o grupo. É um verdadeiro exemplo de colaboração voluntária, onde a diversidade de perspectivas e habilidades enriquece a experiência coletiva sem cair em coletivismo.


Mesmo trabalhando em equipe, cada jogador mantém sua autonomia e individualidade intactas. Não há pressão para conformidade ou para seguir um único caminho predeterminado. Pelo contrário, é a liberdade de expressão e escolha que torna o grupo mais forte e resiliente. Pense nisso como um bando de heróis libertários, unidos por um propósito comum, mas celebrando e respeitando as diferenças uns dos outros. É a essência do trabalho em equipe sem coerção, onde cada membro contribui de acordo com suas habilidades e convicções, em um ambiente de cooperação genuína e autônoma.


Podemos citar, também, as questões relacionadas à economia e ao livre mercado. Nos mundos dos RPGs, não é apenas a aventura que está em jogo, mas também toda uma economia vibrante e complexa. É como se cada cidade e vila fossem centros de comércio pulsantes, onde os personagens estão sempre em busca do melhor negócio e da próxima grande oportunidade. Desde a compra e venda de artefatos mágicos até a contratação de serviços especializados, tudo é uma relação de oferta e demanda, uma lei sempre presente na economia.


Nesses mercados livres, os personagens se tornam verdadeiros empreendedores, aproveitando suas habilidades e recursos para garantir o sucesso nos negócios. E o mais incrível é que tudo isso acontece de forma voluntária, sem a necessidade de intervenção externa, nos mostrando que não é o governo que cria ordem no mercado. É como se cada transação fosse um exemplo prático de livre comércio, onde as trocas são baseadas na vontade e no consentimento mútuo.


É fascinante observar como cada personagem está sempre correndo atrás dos seus objetivos, traçando estratégias, fazendo alianças e enfrentando desafios para alcançar o sucesso. É a essência da livre iniciativa em ação, onde a criatividade e a determinação são as principais moedas de troca; é como se cada personagem fosse um empreendedor. E no final do dia, é essa liberdade de empreender e negociar que torna os mundos dos RPGs tão vibrantes e cativantes.


Claro, nos RPGs, assim como na vida real, não podemos apenas esperar por glória e riquezas sem enfrentar desafios e consequências. É como se cada escolha fosse uma bifurcação em um caminho sinuoso, onde o destino é moldado pelas nossas ações. Isso não significa apenas enfrentar dragões e demônios, mas também tomar decisões éticas difíceis, lidar com dilemas morais e arcar com as consequências das nossas escolhas. Em outras palavras, a liberdade implica responsabilidade.


Essa ênfase na responsabilidade individual e na tomada de decisões tem relação com a Ética de Propriedade Privada e, até mesmo mestres esquerdistas e ultra coletivistas, costumam colocar o conceito de Propriedade como o principal fator de sustentação de um universo imersivo e crível. Assim como na Ética Argumentativa proposta por Hans Herman Hoppe, onde a propriedade privada e a autonomia individual são valores centrais e invioláveis, no RPG cada jogador é o proprietário absoluto de suas ações e responsável pelas consequências que delas advêm.


Ao enfrentar dilemas morais e decidir entre ações altruístas ou egoístas, os jogadores são confrontados com questões fundamentais sobre a ética e a moralidade, reforçando a importância da responsabilidade individual na construção de uma sociedade justa e próspera.


Cada decisão que tomamos tem peso, e cada ação tem uma reação correspondente. Seja decidir salvar uma aldeia indefesa ou optar por seguir um caminho mais egoísta, nossas escolhas definem não apenas o curso do jogo, mas também o tipo de personagem que nos tornamos. É um lembrete vívido de que, assim como na vida real, somos responsáveis por nossas próprias ações e devemos enfrentar as consequências de nossas decisões, sejam elas boas ou más. É a responsabilidade individual em sua forma mais crua e tangível, nos lembrando que cada passo que damos no jogo e na vida tem um impacto duradouro.


Nos RPGs, a gente pode se jogar de cabeça na imaginação sem perder de vista os valores que a gente acredita: liberdade, cooperação voluntária e responsabilidade - tudo isso faz parte desse mundão de aventuras que a gente tanto curte explorar! Então, se você curte soltar a imaginação, desvendar mistérios, enfrentar monstros e salvar o mundo (ou destruí-lo, se essa for sua vibe), os RPGs são definitivamente o seu lugar. Então, pessoal, bora rolar uns dados e viver aventuras que só uma mente verdadeiramente livre é capaz de criar!


Referências:

https://dnd.wizards.com/pt-BR