Enquanto o teatro das vaias e das agressões se desenrolava, o maior assalto institucionalizado à população brasileira foi aprovado com tranquilidade pelos congressistas.
No dia 20 de dezembro, foi realizada, no Congresso Nacional, a sessão solene de promulgação daquele desastre, conhecido como reforma tributária. Essa estrovenga, não obstante toda a propaganda política, servirá apenas para piorar o que já estava ruim - conforme havia sido previsto por todos nós, diga-se de passagem. Aliás, esse ponto é muito fácil de se entender: se o Lula gostou, se o Haddad gostou, e se até o João Amoêdo gostou, então é porque a reforma tributária é mesmo uma bosta completa.
A referida sessão repercutiu bastante nas redes sociais por ter sido um verdadeiro circo. O evento contou com a presença ilustre dos chefes dos três poderes - todos comemorando que, agora, eles vão poder botar ainda mais fundo na população. Compunham a mesa principal o presidente Lula, como chefe do Poder Executivo, o supremo ministro Barroso, como chefe do Poder Judiciário, e o Pachecão, como chefe do Poder Legislativo. Ou seja, estamos falando da nata da sociedade brasileira, daquilo que há de mais digno e honrado em matéria política, neste país.
Porém, a partir de certo ponto, o evento que deveria servir para simbolizar um grande marco da história republicana, segundo os políticos, descambou para uma bagunça completa. Durante seu discurso, Lula proferiu uma série de bobagens homéricas - coisa típica sua, diga-se de passagem. O Molusco de nove dedos afirmou que a aprovação da reforma tributária era “obra de Deus” - é “complexo de Messias” que se fala? Além disso, o ex-condenado afirmou que o Congresso Nacional é “a cara do povo brasileiro” - vai vendo.
Acontece que, em algum momento, parlamentares da oposição começaram a vaiar o presidente Lula. Em contrapartida, os apoiadores do Molusco começaram a aplaudi-lo, de forma efusiva. Na sequência, os dois times começaram a entoar cantos ensaiados: os opositores, com o mantra “o ladrão chegou”, intercalados com “Lula, guerreiro do povo brasileiro”, por parte dos governistas. Durante a execução do Hino Nacional, inclusive, parte da oposição permaneceu de costas para a mesa principal.
Arthur Lira, o presidente da Câmara, tomou o microfone, clamando a seus pares, para interromperem aquela zoada toda. O deputado afirmou que aquele era um “dia histórico” para a Câmara e para o Brasil, e que, portanto, as convicções pessoais deveriam ficar para depois. Esse discurso político e apaziguador, porém, não mostrou muitos resultados.
A baixaria foi tão grande que rolou até mesmo tapa entre deputados. O parlamentar petista Washington Quaquá deu uma na cara do deputado carioca Messias Donato, da oposição. O nobre deputado histérico ainda ofendeu o parlamentar Nikolas Ferreira, utilizando-se de termos considerados por muitos como homofóbicos. Desse caso, nós podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que se trata realmente de um marco para a história republicana brasileira, porque com ele instaura-se, oficialmente, a rinha de políticos. Quaquá afirmou, inclusive, que, com ele, “a porrada canta” - macho! Quem mais você gostaria de ver nesse ringue parlamentar?
De forma geral, a zona que foi a sessão de promulgação da reforma tributária demonstra, como poucas coisas, qual é a real cara da política brasileira - e não é a cara do povo. Porém, no fim das contas, essa foi, isso, sim, a celebração do grosso entrando de vez no povo brasileiro. Isso porque a reforma tributária é uma tragédia colossal para a nossa economia. E se os políticos se uniram para comemorar sua aprovação, é porque a coisa realmente vai nos custar muito caro.
Isso não se aplica apenas a esse caso específico. Toda reforma tributária realizada tem o claro objetivo de aumentar a arrecadação - ou seja, o roubo estatal. Isso já aconteceu no passado, aconteceu dessa vez e sempre acontecerá, nos mesmos moldes. Aliás, não foi por acaso que o debate sobre esse tema coincidiu com os esforços do PT para aumentar a arrecadação do estado, sob a desculpa do equilíbrio fiscal. Em outras palavras, uma coisa acabou levando a outra. Te falo, hein: timing perfeito dos projetos políticos!
“Ah, mas a reforma tributária vai simplificar a arrecadação de impostos” - diz o isentão que apoiou essa medida esdrúxula. Esse tipo de afirmação, por óbvio, carece de veracidade, na prática. Em primeiro lugar, toda essa história de simplificação tributária é apenas um chamariz, um “engana trouxa”, para conseguir dessa galera isentona o apoio para as medidas estatais. Esse é o pretexto que motivou o início do debate sobre a reforma tributária, e é a sua justificativa mais apelativa. Essa desculpa, porém, serve apenas para mascarar o objetivo real dessa reforma, que é justamente roubar ainda mais a sociedade produtiva.
E em segundo lugar, a reforma tributária aprovada no Congresso Nacional não simplificou coisa nenhuma. A verdade é que, agora, nós vamos entrar num caos tributário sem precedentes - mesmo em se tratando do Brasil, que conta com um legítimo manicômio tributário. A transição entre o regime atual e o novo regime aprovado pelos parlamentares chega a durar 50 anos, em se tratando dos entes federados, sendo de pelo menos 6 anos para o contribuinte. As regras aprovadas também preveem uma tonelada de exceções, diversas alíquotas e regras muito específicas. Ficou tudo mais complicado - e, pior ainda, mais caro para o povo.
E se você quer entender por que essa reforma terminou sendo aprovada nesses moldes, basta você olhar para o orçamento que o próprio Congresso Nacional aprovou recentemente. Nessa peça orçamentária está previsto uma montanha de dinheiro para campanhas eleitorais, e uma montanha ainda maior para as chamadas “emendas parlamentares”. Por isso, todos os políticos envolvidos na votação desses projetos sabem que o governo precisa roubar ainda mais dinheiro do povo para bancar essa farra toda. Em se tratando da política brasileira, uma mão sempre lava a outra; e ambas as mãos terminam, no fim das contas, sendo enfiadas no bolso dos brasileiros.
A verdade é que todos os políticos se uniram a favor dessa iniciativa - tanto a base governista do presidente Lula, quanto muitos parlamentares da dita “oposição”. No fim das contas, a reforma tributária foi aprovada com uma vitória acachapante no Congresso Nacional - mais do que o dobro de votos favoráveis, em relação aos votos contrários. Tudo isso, é claro, com o evidente desejo de roubar a população brasileira ainda mais.
Esqueça essa história de briga entre políticos, de desavenças públicas e mesmo de eventuais agressões sendo cometidas no plenário. Tudo isso não passa de um mero teatro, cuja função é distrair o povo do que realmente importa. Enquanto todos perdem tempo falando das vaias que o Lula recebeu no Congresso Nacional, ou então do tapa desferido pelo deputado Quaquá contra um opositor, o real estrago contra a sociedade brasileira já foi cometido. Infelizmente, pouca gente parece se dar conta disso. Mais uma vez, parece que o teatro da política deu muito certo - para os políticos, é claro.
A classe política é bastante unida, ainda que apenas nos bastidores. Na frente das câmeras, os deputados parecem se digladiar; mas por trás das cortinas, acordos muito interessantes para todos eles são costurados a todo momento. A verdade é que todos os políticos possuem um mesmo objetivo, que é roubar a população; e, portanto, todos caminham juntos nesse sentido. No fim das contas, o estado brasileiro sai muito mais forte dessa reforma - e todos nós, os pagadores de impostos, saímos ainda mais pobres.
Nunca se esqueça de que, embora o Congresso Nacional possa até ter vaiado o presidente da República, ele permitiu a aprovação da reforma tributária, nos moldes que agradam a todos os políticos - inclusive o Lula. A vaia foi a distração; mas o resultado foi ótimo tanto para o Lula, quanto para seus opositores. Nunca houve oposição real e organizada durante esse processo. Naquela sessão solene de promulgação da tão famigerada reforma, não havia perdedores: todos os que ali comemoravam saíram ganhando. Aqueles que realmente vão pagar essa conta, porém, não participaram da sessão - eles sequer foram ouvidos durante todo o processo. Nós, os pagadores de impostos, ficaremos apenas com a fatura dessa farra política.
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/12/20/deputado-petista-da-tapa-em-bolsonarista-no-congresso-enquanto-base-e-oposicao-disputavam-gritos-de-ordem-sobre-lula.ghtml
https://www.infomoney.com.br/mercados/congresso-promulga-reforma-tributaria-entenda-as-principais-mudancas/
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/12/deputado-do-pt-da-tapa-em-bolsonarista-no-plenario-e-diz-comigo-a-porrada-canta-ouca-audio.shtml
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2023/12/20/sob-vaias-e-aplausos-lula-agradece-a-deus-por-aprovacao-reforma-tributaria.htm