O Segundo turno da nossa demogracinha acabou, consolidando ainda mais a derrota da esquerda nas eleições municipais. Mas será que o ex-coach também virou para-choque de comunista?...
Celebrando mais uma vez a nossa incrível democracia, o já prefeito Ricardo Nunes, do MDB, conquistou a reeleição neste domingo, conseguindo mais quatro anos de mandato como prefeito da maior cidade do país, São Paulo. Com 100% das urnas apuradas, o resultado foi quase 60% dos votos para Nunes, enquanto Guilherme Boulos somou um pouco mais que 40% após sambar e tagarelar durante a campanha para conquistar todos os votos possíveis. Tudo isso, diga-se de passagem, com o seu dinheiro telespectador, advindo do furto do seu dinheiro feito pelo estado para direcioná-lo ao fundão eleitoral.
Por volta das 18h40, Nunes chegou ao clube em Santo Amaro onde sua equipe aguardava para a festa da vitória, comemorando sua reeleição abraçando, inclusive, Tarcísio, o atual governador do estado paulista. O mais alto executivo do estado mais rico do Brasil apoiou Nunes fortemente durante a campanha, assim como Bolsonaro. O ex-presidente manteve seu sólido apoio mesmo com a pressão de vários deputados bolsonaristas que saíram do alinhamento para apoiar o Pablo Marçal para a prefeitura. Bolsonaro respondeu para então buscarem o apoio de Marçal em 2026, deixando uma mensagem bem curta e direta, lembrando os deputados para antes de tudo garantirem seu próprio cargo e o apoio eleitoral dele nas próximas eleições.
O primeiro turno da eleição na terra da garoa foi bem mais caótica que o de costume, enquanto o segundo turno foi mais padrão, com candidatos já consolidados, sem nenhum tipo de outsider. É claro que não podemos deixar de falar de todos os icônicos momentos durante a campanha, como a acusação de que Boulos era “cheirador de açúcar”, a Tábata Amaral sendo chamada de “Para-choque de comunista” e a cadeirada que o Datena deu em Pablo Marçal, este último, virando o meme do ano abarrotando toda a internet.
Embora não tenha ido para o segundo turno, o ponto de maior discussão foi claramente o do Coach Pablo Marçal, concorrendo pelo PRTB. Apesar de ter ganhado muito mais atenção nesta eleição, fora da bolha da internet, não é a primeira vez que tenta concorrer a um cargo político. Em 2022 tentou se candidatar a deputado federal, chegando a ter um número de votos expressivo, mas houve problemas com sua candidatura, sendo ela invalidada. Se quiser checar a história completa do treinador de tubarões, temos um vídeo aqui no canal contando sua história, intitulado “PABLO MARÇAL quer ser o próximo PREFEITO de SÃO PAULO, mas QUEM é ele?”, o link está aqui na descrição.
É claro que devemos também mencionar o resultado geral das eleições municipais, as quais o PSD acumulou cidades menores, enquanto o PL e a direita saíram com um número alto de capitais e cidades maiores ao redor do país. O partido NOVO, inclusive, elegeu 18 prefeitos esse ano. Em comparação a eleição passada, é uma vitória e tanto, haja visto que conseguiram apenas 4 prefeituras. Por outro lado, a esquerda se saiu extremamente mal mesmo com o Lula na presidência, o qual a imagem do candidato a prefeito em conjunto com ele, mais afastava do que trazia votos dos eleitores.
O PT aceitou não ter candidato em São Paulo, apoiando a candidatura de Boulos em troca do apoio dele ao Lula na eleição presidencial de 2022. O acordo foi fechado quase na mesma hora, haja visto que isso aumentaria e muito o orçamento do PSOL para a campanha deste ano, pois o PT passou parte do seu orçamento para o partido do paradoxo socialismo e liberdade. Mesmo gastando 80 milhões de reais na campanha, Boulos conseguiu apenas 40,56% dos votos válidos. Para efeitos de comparação, em 2020, quando concorria para prefeito de São Paulo, fez 40,62% dos votos com um gasto de campanha de apenas 8 milhões de reais, ou seja, ele queimou dez vezes mais dinheiro, e conseguiu ter um desempenho pior do que a quatro anos atrás. Isso mostra que não importa o montante de dinheiro gasto com publicidade, Boulos não consegue alavancar sua popularidade, nem com angu, nem com minhoca.
Mesmo com muito mais dinheiro, apoio direto do presidente e de seu partido, apoio de artistas e influenciadores da estirpe de Felipe Neto, que jogou até Among Us com Boulos em 2020, não impediu o candidato de centro-direita indicado por Bolsonaro de ganhar pela simples rejeição popular ao invasor de propriedades. O desespero na reta final da campanha bateu tão forte que o PSOL foi atrás do apoio de todos os outros candidatos, incluindo o Datena, a Tábata Amaral e surpreendentemente até o próprio Pablo Marçal, o qual passou toda a corrida eleitoral acusando-o de ser cheirador de giz de lousa. O apoio ao Marçal foi tão inesperado, que a popularidade do coach quântico caiu, mostrando que ele não é diferente de nenhum outro candidato.
Há algumas semanas, O PSOLista disse que sua filha chorou, pois pensara que o pai realmente era usuário de drogas. Porém, isso deve ter sido só birra de criança porque o Boulos ignorou essas águas passadas, fazendo um pequeno showzinho com o Marçal dias antes do segundo turno. O Pablo tentou justificar para seus eleitores que precisavam votar no Boulos, fazendo malabarismos quânticos que até a medalhista de ouro brasileira de ginástica artística, Rebeca Andrade, ficaria abismada com tanto remelexo do coach.
E embora alguns marçaletes tenham ido na onda dele, obviamente não pegou bem para nenhum dos dois, com memes comparando-os a um casal de cowboys gays, no qual se odiavam, para depois descobrirem seu amor um pelo outro. É o filme Brokeback Mountain da vida real. Durante a sabatina entre Marçal e Boulos, o próprio Marçal teve um devaneio de sonhar acordado, contando sua visão para um futuro em que ele e Boulos substituiriam respectivamente o Bolsonaro e Lula nas próximas eleições, tornando-se rivais de longo prazo. Ou seja, já imaginavam a briga de tesouras que já temos atualmente. Esse sonho molhado ficou tão estranho que até o próprio Boulos fez uma cara de confuso e evitou responder sobre este devaneio. Se você, telespectador, é libertário, provavelmente deve ter se arrepiado de medo, ou nojo, com a possibilidade de um futuro no qual a presidência do Brasil fosse uma disputa entre Boulos e Marçal, enquanto os nossos hermanos no sul estão com Javier Milei na presidência.
Marçal deixou transparecer durante toda a campanha a sua mesma estratégia de marketing que usava enquanto era só um coach que fazia escárnio de algumas pessoas da platéia: se impor como o “homem alfa”; o homem decidido e forte cujo ninguém intimida ou atinge; passando uma imagem de confiança e junto disso incluindo no seu discurso aquilo que a direita quer em um candidato: alguém que defenda o setor privado, que critique os políticos comunistas e se posicione fortemente. Só que não adianta nada usar uma propaganda falsa, e apoiar o candidato do espectro político oposto. Talvez sua ideia seja que um mandato do Boulos poderia colocar uma pá de cal na esquerda em São Paulo; entretanto, isso significaria que seus próprios eleitores amargariam quatro anos nessa cidade. O eleitor médio obviamente não confiará mais em um cara que abandonou sua estratégia eleitoral, para abraçar o outro lado.
Um candidato que defende o setor privado e um estado menor na vida das pessoas, tal como o Javier Milei na Argentina e o Pablo Marçal durante os debates, têm muito potencial político. Isso atrai pessoas que querem propostas diferentes das velhas respostas simples de que o estado vai magicamente resolver tudo. Mas a diferença entre os dois, é que o Milei se manteve firme no seu posicionamento contra a casta pública, enquanto Marçal se afrouxou e perdeu sua imagem de “antissistema” que vinha construindo, logo após flertar com Boulos.
Até mesmo o candidato de Ribeirão Preto que o havia oferecido um cargo de secretário caso ganhasse, acabou perdendo, deixando Marçal com uma imagem manchada em todo o estado. Ele diz que ainda quer concorrer para presidente em 2026, mas sabemos que é muito improvável que ele consiga chegar até o segundo turno, isso se ele realmente conseguir concorrer.
Enfim, é um momento péssimo na história da política brasileira para qualquer pessoa, principalmente para os libertários, que querem alguém que seja realmente a favor das ideias em prol da liberdade, vida e propriedade. Cada vez mais os outsiders mostram-se não tão out, muito menos siders, quanto imaginamos. Enquanto isso, nos mantemos vivendo, ou sobrevivendo, neste país onde as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam com as de lá. E cada vez mais se mostra verdade aquela máxima que muitos agoristas dizem: o melhor voto que você pode fazer é com o seu dinheiro, e com os seus pés.
https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/10/23/em-propaganda-eleitoral-boulos-mostra-supostos-eleitores-de-marcal-trocando-bone-do-m-por-um-com-o-b.ghtml
https://www.youtube.com/watch?v=ftVnqkby4yg&t=11s