Napoleão é o grande responsável pela PRAGA do NACIONALISMO

As consequências das ações de Napoleão Bonaparte para a história da humanidade vão muito além do que fazem crer os filmes de Hollywood.

O filme Napoleão, dirigido por Ridley Scott, finalmente chegou aos cinemas dividindo opiniões - especialmente entre os críticos. Aqueles mais apegados a questões históricas dizem que a obra tomou muitas liberdades em relação a fatos que são mais do que documentados e conhecidos. Outros possuem algumas ressalvas quanto ao valor artístico da obra. Hoje, porém, não vamos fazer uma crítica cinematográfica do novo filme de Ridley Scott, mas sim falar a respeito do quanto o personagem que dá título ao longa foi importante para a criação do que hoje conhecemos como nacionalismo - e isso não é um elogio.

Que Napoleão é uma figura histórica importante, disso ninguém duvida. O baixinho é tido como um dos maiores estrategistas militares de todos os tempos. E podemos afirmar, sem medo de errar, que ele é a primeira de uma série de figuras nacionais da Idade Contemporânea que possuíram um carisma tão forte, que foram capazes de arrastar milhões de pessoas para a morte em diversos conflitos. As consequências de seus atos, contudo, ultrapassam facilmente os limites da virada do século 19, quando suas principais ações ganharam forma.

A ideia de nação nem sempre existiu na história humana. De fato, os povos surgiram há muito tempo, como um aglomerado de pequenas tribos próximas. Eles se identificavam por terem uma cultura, língua e aparência semelhantes. Durante a Antiguidade, começam a surgir os impérios. A palavra “império” descreve a dominação de um povo sobre outros povos, por meio da violência. Um imperador governa não apenas aquele povo com o qual ele se identifica, mas também vários outros - que, em muitos casos, são reduzidos a uma condição subumana.

O grande império que marcou o que viria a ser a história europeia foi, sem dúvidas, o Império Romano que, desde o seu auge, manteve unida boa parte do continente por quase 5 séculos. O colapso da parte ocidental do império, porém, criou um novo estado de coisas: seu território foi partilhado entre novos povos, que invadiram suas fronteiras no início do século 5. O que se reconhece hoje como identidade própria dos povos europeus, é algo como uma mistura desse caótico cenário inicial.

Durante a Idade Média, surge o que se convencionou chamar de “feudalismo” - um sistema muito caluniado nas escolas brasileiras, mas que era uma forma muito particular e interessante de organização. Os feudos eram pequenas unidades regionais que, dado seu isolamento, se tornaram muito distintos - inclusive em matéria de cultura, língua, religião, dentre outros fatores. O feudalismo é responsável, em grande parte, pela variedade de dialetos, traços culturais e variações religiosas que encontramos ainda hoje na Europa.

No início do século 9, Carlos Magno, o rei dos francos, conseguiu unificar grande parte das terras europeias, recebendo o título de “imperador romano”. Mais uma vez, a figura do império estava estabelecida: um único rei governava diversos povos diferentes. Note, porém, que a ideia de nação ainda não existia: Carlos Magno não era o rei da França, mas sim o “rei dos francos”. Com o tempo, porém, a percepção da unidade territorial foi amadurecendo.

Saltando no tempo: na virada do século 19, por conta da Revolução, a ideia do nacionalismo estava fervilhando na França. Contudo, a Europa ainda estava muito fragmentada em pequenos estados, com diferenças fundamentais entre si. Aí entra em cena Napoleão Bonaparte, com seu ímpeto de conquistador. Em poucos anos, as fronteiras do seu Império se estenderam até o território russo. No meio do caminho, havia terras anexadas pela França e outros reinos tornados vassalos de Napoleão.

Isso, por si só, já seria um grande problema, considerando apenas a ética libertária. Só que as piores consequências para a história humana vieram após a queda de Napoleão. Na virada de 1814 para 1815, o baixinho francês estava arruinado, e a Europa estava num caos completo. Portanto, os vencedores da guerra contra a França se viram no direito de arrumar essa confusão, durante o famigerado Congresso de Viena. Nesse evento, os líderes das grandes potências europeias abriram um mapa sobre a mesa, e rabiscaram as novas fronteiras dos países que compunham o continente. Impérios, reinos e feudos foram definidos em uma sala de reunião.

A Rússia anexou diversos territórios próximos de suas fronteiras. A Áustria ganhou os Bálcãs. A Polônia perdeu terras para a Rússia e para a Prússia. A ideia por trás dessa divisão era partilhar recursos, povos e territórios entre todos de maneira equilibrada, para evitar futuros imperialismos. E dane-se o princípio de autodeterminação dos povos! Em resumo: após o caos napoleônico, populações inteiras se viram governadas por reis que não eram considerados legítimos por seus súditos.

As consequências dessa brincadeira não demoraram a aparecer. Nas décadas seguintes, fortalecidas pela concentração do poder, as potências europeias passaram a brincar de donas do mundo, conquistando a África e partes da Ásia. Por outro lado, movimentos que tendiam a dar uma identidade nacional para territórios onde ela antes não existia começaram a surgir. Por volta de 1870, a Europa acompanhou a unificação da Itália e da Alemanha - coisas que não eram vistas há cerca de um milênio.

Os Bálcãs, espremidos entre o Império Austríaco e o Otomano, se transformaram em um barril de pólvora. Como consequência, novos movimentos nacionalistas surgiram - como o pangermanismo e o pan eslavismo. Esse excesso de nacionalismo faria estourar, 1 século depois da realização do Congresso de Viena, a Primeira Guerra Mundial - que nada mais é do que um resultado direto daquele encontro imperialista.

Após 5 anos de conflito e mais de 16 milhões de mortos, era de se esperar que as potências europeias se dessem por satisfeitas, e parassem de brincar de donas do mundo. Mas isso não aconteceu! Pelo contrário, elas repetiram a dose - dessa vez, no infame Tratado de Versalhes. Mais uma vez, diversos territórios foram partilhados, e linhas imaginárias foram mais uma vez movidas. A consequência disso? O comunismo na Rússia e a Segunda Guerra Mundial, muito mais sangrenta do que a primeira.

A análise histórica desses acontecimentos nos mostra claramente o grande problema das fronteiras. Para nós, libertários, as fronteiras nada mais são do que linhas imaginárias traçadas sobre um mapa, para definir aquilo que chamamos de “jurisdição”. Essa palavra bonitinha significa, basicamente, que dentro daquelas linhas imaginárias, determinada máfia estatal pode agir como bem entender, aplicando suas leis arbitrárias contra os habitantes daquele lugar. Em muitos casos, inclusive, a definição dessas linhas imaginárias representou migrações forçadas de centenas de milhares de pessoas, por questões étnicas e religiosas.

Veja como esse tipo de problema não se aplica, numa sociedade plenamente livre. Dentro da ética libertária, não existe nenhuma fronteira que não seja a delimitação da propriedade privada. Fronteiras estatais são uma aberração, porque elas desconsideram a soberania que cada indivíduo possui dentro das terras que lhe pertencem. Os muros de sua casa, a cerca do seu terreno, as paredes do seu apartamento: essas coisas são fronteiras reais, que representam o fim do direito alheio e o começo de seu próprio direito. Com isso em mente, fica fácil resolver os conflitos que, naturalmente, surgem entre os indivíduos.

A história das fronteiras, portanto, pode ser considerada a história da violação dos direitos individuais, por parte do estado. Conforme os governos avançaram na necessidade de estabelecer fronteiras entre os povos que não levam em conta suas particularidades, mais atrocidades foram cometidas contra pessoas inocentes. Aliás, o que os europeus fizeram com seu próprio continente, em 1814, eles fizeram com a África, em 1885, na Conferência de Berlim. O resultado prático da divisão arbitrária do continente africano em uma série de linhas imaginárias, nós o conhecemos bem.

Sem sombra de dúvidas, Napoleão Bonaparte foi sim um grande estrategista e gênio militar. Contudo, embora seja considerado um herói na França, e tenha influenciado até mesmo a história do Brasil e dos Estados Unidos, sua contribuição para a história mundial foi terrível, se analisada sob esse prisma. Após a Era Napoleônica, os ideais da liberdade, que nasceram no século anterior e prepararam o terreno para o desenvolvimento econômico e social da Revolução Industrial, foram feridos de morte.

A brincadeira imperialista de desenhar linhas em um mapa custaria a vida de milhões de pessoas nas décadas seguintes, e ainda causa estrago nos nossos dias. Também nesse ponto, apenas a ética libertária tem a verdadeira resposta para os conflitos que, inevitavelmente, vão surgir entre seres humanos. E, também nesse caso, a solução estatal representa apenas dor, sofrimento, violência e morte para pessoas pacíficas, que nada têm a ver com essa história.

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso_de_Viena