O Africano que se Declarou NAPOLEÃO! (O Ditador da África Central)

Como todo bom ditador, o ego gigante desse cara foi sua própria ruína.

A Maioria da população conhece a famosa história de Napoleão Bonaparte, o general francês que rapidamente ascendeu durante a Revolução Francesa, tirou a coroa das mãos do Papa e se coroou como o Imperador da França. Sendo lembrado até hoje como um gênio militar, não é de se impressionar a influência que ele teve ao longo da história, tanto em questões militares quanto ideológicas, consolidando a ideia do nacionalismo em toda a Europa.

Porém, o caso que vamos contar hoje chega a ser estranho de tão inusitado que é! Um homem que quis se afirmar como um Napoleão dos tempos modernos e tomou o poder em uma pequena republiqueta. Não, não estamos falando de Solano López nas Américas, mas sim de Jean Bédel Bokassa na República Centro-Africana.

Eu tenho quase certeza de que você deve estar se perguntando, "Quem é esse cara?". Calma, que iremos explicar sua história e a loucura que levou ele ao poder.

Jean Bédel Bokassa nasceu em 22 de fevereiro de 1921 em Bobangui durante o controle colonial da França após a Primeira Guerra Mundial. Seu pai foi morto pelo exército colonial francês após uma revolta da aldeia onde moravam, com sua mãe se suicidando uma semana depois disso e deixando para trás Jean e seus 11 irmãos totalmente sozinhos.

Você pode pensar que ele sentiria uma imensa revolta, mas ao invés disso, essa experiência só o fez ausente de uma figura paterna ou de alguma figura de admiração em sua vida. Esse espaço ironicamente foi preenchido pelo próprio estado francês, do qual Jean, mais tarde, se tornou um soldado e oficial do exército da França, tendo lutado no norte da África e na Indochina, recebendo condecorações e declarado: "acima de tudo, sou um oficial francês e amigo da França".

Podemos ver que sua obsessão doentia de amor ao estado surgiu justamente quando ele já não tinha mais nenhuma figura paterna e materna como referência em sua e se viu perdido, chegando a admirar até a entidade que matou seu pai e sua mãe, o estado francês.

Assim como Hitler, algumas décadas antes, tentou fazer com o Projeto Lebensborn, criando novas crianças arianas "puras" e fazendo do estado a figura paterna delas, para que sempre crescessem obedientes e devotas ao todo poderoso e seus líderes supremos.

Logo, com a República Centro-Africana tendo conquistado sua independência da França em 1960, a história da maioria dos países africanos se repetiu e o país se viu governado por um governo autocrata de David Dacko, o primeiro Presidente da República Centro-Africana.

Porém, em 1966, Jean Bédel Bokassa instaura um golpe militar no país e derruba David Dacko do cargo, nomeando-se então o novo presidente, ele rasga a primeira constituição e começa seu novo regime.

Anos depois, em 1972, ele se declara presidente vitalício e dois anos depois, ele se declara "Marechal da República Centro-Africana". Sendo um admirador ferrenho da França e tudo que envolvia sua história, ele se tornou obcecado pela figura majestosa que Napoleão tinha na história, decidindo, que seguiria o mesmo caminho de Napoleão em transformar a república revolucionária em um "majestoso" império.

Assim, durante uma visita presidencial em 1976, ele diz ao então presidente francês, Valéry Giscard, sua intenção de instaurar o império centro-africano com direito a uma grande cerimônia de coroação. Com tudo que as velhas aristocracias tinham financiado com o bom e velho dinheiro público.

De acordo com "sua majestade", a criação da nova monarquia no centro da África ajudaria a dar visibilidade ao novo país no cenário internacional e aumentaria sua influência no continente africano. Nada como uma velha desculpa adolescente de querer esbanjar o que não tem condições de pagar para ficar popular no grupo de amiguinhos, mas é claro, sabemos que isso é somente para o bem do povo!

E apesar da sua recusa inicial, o presidente francês concordou em financiar a coroação de Jean por uma série de motivos, incluindo a garantia do então domínio francês das indústrias minerais de suas antigas colônias, algo que acontece até hoje e que pode ser confirmado no recente golpe no Níger em 2023.

Além disso, Bokassa também manteve relações próximas com outro líder africano com um coração muito gentil, Muammar Ghadafi. Caso não conheça esse sujeito, recomendo que pesquise depois de terminar de assistir o vídeo.

De qualquer forma, a coroação foi anunciada para ocorrer em 4 de dezembro de 1977. Essa data foi escolhida pois marcava os 170 anos da coroação de Napoleão Bonaparte em 1804. A coroação do imperador africano custaria uma bagatela de 30 milhões de dólares, na época! O que em valores atuais seria mais de 150 milhões de dólares e equivalia na época a um quarto do PIB anual do país, tudo isso em uma simples coroação! modesto não?

Em preparação para o evento, foi criado um comitê para organizar a capital do País, pintando casas, limpando as ruas e até afastando os mendigos (perceba como governos só fazem o básico quando é para interesse próprio). Até o renomado escultor Oliver Brice foi contratado para desenvolver o trono e outros artigos de luxo do novo imperador.

Cavalos Brancos também foram importados da Bélgica somente para puxar a carruagem real, que foi construída no Sul da França em parceria com a mesma empresa de 200 anos atrás que havia bordado as roupas do próprio Napoleão. O Vestiário de coroação de Bokassa sozinho custou mais de 72 mil dólares e sua coroa imperial também foi feita nos moldes de Napoleão, que junto com seu cetro, espada e outros itens cravejados de jóias e banhados a ouro teria, custado quase 5 milhões de dólares.

E claro, para garantir que os convidados fossem transportados de maneira confortável, sessenta veículos da Mercedes Benz foram encomendados da Alemanha, com somente o custo de transporte sendo de 5 mil dólares para cada carro. Pra que ligar para a população em um país majoritariamente pobre? Afinal, os ricos e poderosos burocratas merecem um pouco de conforto no seu transporte pago com dinheiro de impostos, não é mesmo?

Ele queria que o mundo inteiro visse sua bela coroação, convidando até o Imperador Hirohito do Japão e o Xá Reza Pahlavi, ,mas ambos, obviamente, recusaram a oferta. Nem um único presidente compareceu ao evento e nem mesmo o presidente Francês que financiou tudo, teve coragem de ir na cerimônia. Seria até engraçado se não fosse trágico.

Bokassa, então, no auge de sua ignorância, afirmou que os outros líderes africanos estavam com inveja dele e por isso não queriam comparecer. O que, realmente nós concordamos. Afinal, qual parasita mór de uma nação não desejaria poder esbanjar 150 milhões de dólares em um evento dedicado a si mesmo e à sua própria glória?!

Finalmente, havia chegado o dia e o evento começou com 8 de seus 29 filhos liderando o desfile, que foram seguidos por Jean Bédel Bokassa II, o pequeno herdeiro do trono, que estava vestido com um uniforme branco de almirante e terminou com Catherine Denguiadé, a favorita entre as 9 esposas de Bokassa, sendo coroada como a Imperatriz. Bokassa então caminhou por um tapete vermelho de 80 metros, vestindo um traje veludo com 758 mil pérolas em pleno calor escaldante africano, com um laurel de ouro na testa.

Ele, então, repetiu o gesto de Napoleão, tomou a coroa e se auto-coroou Imperador do Império Centro-Africano ás 10:43 da manhã junto de um enorme cetro de diamantes.

Nesse ponto já seria repetitivo ressaltar os enormes gastos em luxos que ele teve e que seriam capazes até de causar inveja na atual primeira-dama do Brasil. Então, deixaremos você tirar suas próprias conclusões sobre esse absurdo.

Jean Bédel Bokassa queria respeito e glória, ser visto e propagado pelo mundo todo. E ele de fato conseguiu isso, foi reportado mundo afora como uma piada em uma cerimônia com gastos ridículos para imitar seu próprio colonizador.

É óbvio que esse reinado não duraria muito tempo e apenas dois anos depois ele foi derrubado do poder, com o ex-presidente David Dacko assumindo o poder novamente com apoio da própria França. Que ironia.

Isso tudo se torna mais uma história triste de uma pequena nação no continente africano. O qual sofre muito mais com a estabilidade de Nações do que na própria América Latina, que em seus anos iniciais de independência também sofreu com décadas de governos instáveis e republiquetas corruptas dirigidas por militares.

A África, até hoje, sofre com problemas culturais que foram ignorados por seus colonizadores na questão de definição de fronteiras, forçando povos inimigos a terem que conviver sob um mesmo "estado democrático de direito".

Além da cultura militarista que existe no continente africano, onde não se existem muitos ambientes propícios à criação de negócios e prevalece somente a lei do mais forte. Pois, embora todo estado seja ruim, é melhor um único estado comandando do que viver numa guerra entre diversas máfias estatais e é justamente esse processo que falta para a África conseguir se tornar estável e evoluir com o livre mercado. Pois, enquanto isso não ocorrer, o povo só continuará pagando por outra mega coroação de um ditador maluco qualquer.

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Centro-Africano