Conforme se aproximam as eleições presidenciais argentinas, mais bem cotado nas pesquisas fica o libertário Javier Milei. Mas o que explica esse fenômeno anarcocapitalista tão marcante?
O libertário Javier Milei realmente é uma grande surpresa, um verdadeiro fenômeno, cujos resultados políticos ultrapassam facilmente as fronteiras da Argentina, e se espalham pelo mundo. Candidato mais votado nas prévias para a presidência da República, Milei já aparece com 40% das intenções de votos em algumas pesquisas, com 10% de vantagem sobre o segundo colocado, o governista Sérgio Massa. De acordo com as regras argentinas, caso esse percentual se observe nas urnas, isso pode garantir uma eleição já no primeiro turno para o candidato libertário.
A verdade é que o resultado das prévias eleitorais, realizadas em agosto, foram um choque para todos - inclusive para nós, libertários. Talvez, até mesmo o próprio Javier Milei tenha se surpreendido com os números finais. Afinal de contas, as pesquisas eleitorais falharam miseravelmente - mais ou menos como sempre acontece aqui no Brasil. Ao contrário do que os institutos argentinos previram, Milei teve 30% dos votos nas prévias, desbancando vários “medalhões” da política argentina. Seu recém-fundado partido Libertad Avanza (“Liberdade Avança”) superou os kirchneristas (de esquerda) e os macristas (de centro-direita). Ao que tudo indica, o povo argentino quer mesmo a liberdade!
Na verdade, a coisa está tão feia para a esquerda, que o atual presidente, Alberto Fernandez, mesmo podendo se reeleger, não vai disputar o pleito. O candidato de seu partido será o citado Sérgio Massa, atual ministro da economia do país. Sim, ele é o criminoso intelectual responsável por uma inflação que ultrapassa os 3 dígitos e uma desvalorização cambial poucas vezes vista na história do país. De qualquer forma, ainda falta algum tempo para as eleições, que vão ocorrer no dia 22 de outubro. O que esperar, até lá? Não dá pra sentenciar um resultado; ainda tem muita água pra rolar debaixo da ponte.
Porém, uma certeza nós podemos ter: algo mudou de forma definitiva na política argentina. Esse já é um caminho sem volta. E isso explica muito bem o atual comportamento da mídia - tanto na Argentina, quanto em outros países, como o Brasil. Javier Milei tem sido classificado pela extrema-imprensa, de forma pejorativa, como sendo de “extrema-direita”, “ultra-direita”, “hiper-master-plus-direita”, e coisas do tipo.
Aliás, a brasileira Carta Capital o classifica como “ultralibertário”. Diabos, mas o que isso significa? Não existe algo como um “ultralibertário”; isso é como dizer que uma mulher está “ultragrávida”. Libertário é algo que você pode ser ou não, é 8 ou 80. Não é como uma escala de cinza, em que um indivíduo pode ser mais ou menos adepto de determinada ideologia. Logo se vê que essa gente não faz ideia do que critica!
Mas Javier Milei é, de fato, um libertário, um anarcocapitalista - e ele mesmo se classifica dessa forma. Porém, dizer que Milei é de direita já é um pouco de exagero. Afinal de contas, ele já se posicionou a favor da liberdade de gênero e da legalização das drogas, além de não ser um crítico do Papa Francisco. Esse tipo de posicionamento não combina com a direita conservadora que nós conhecemos; mas é bastante condizente com o libertarianismo. No fim das contas, o que Javier Milei realmente defende é a diminuição do estado. E isso é sempre muito bom!
Dentre as propostas do candidato libertário, a mais chamativa é, sem dúvidas, a promessa de “dinamitar o Banco Central” do país. Obviamente, não se trata de uma destruição literal; trata-se de acabar com o falido sistema monetário do país, abrindo espaço para que moedas mais fortes possam circular pela economia. Além disso, ele também propõe a privatização de estatais e a redução do número de ministérios para apenas 8. Você consegue imaginar algo parecido com isso sendo implantado aqui no Brasil, com seu atual governo? Pois é, parece que os argentinos têm uma oportunidade de ouro em suas mãos; e os números eleitorais nos dão a entender que eles têm plena consciência desse fato.
Isso demonstra, de forma inequívoca, que o povo argentino está farto dos sucessivos governos que vêm destruindo o país, repetindo erro após erro, ano após ano. Os argentinos não aguentam mais o peronismo e o kirchnerismo, modelos políticos que arruinaram uma das economias mais ricas do mundo, e que lançaram milhões de cidadãos na mais profunda miséria. O povo argentino não quer mais do mesmo: eles querem algo diferente, não apenas na aparência - coisa que Javier Milei definitivamente é, - mas principalmente nas ideias. E, conforme esperamos e torcemos, diferente também na prática.
O que vemos, nesse caso, é o começo de um movimento muito claro na Argentina: a descrença do povo em relação ao estado. Em algum momento, isso tende a acontecer; e quanto maior é o estado, e mais nítida é sua ineficiência, mais cedo a população se dá conta de que ele não é a solução, mas sim o problema. A mídia afirma, de forma canalha, que Javier Milei está se aproveitando da confusão da sociedade argentina para enganá-la. A verdade, porém, é que os argentinos simplesmente não aguentam mais o seu governo; eles querem alguém que tenha o compromisso de diminuir o estado, custe o que custar.
Que há um movimento em curso na Argentina, disso não temos dúvidas. Porém, as consequências desse movimento ainda são imprevisíveis. Será que isso tem volta? Bem, eu acredito que não. Afinal de contas, não estamos falando apenas de eleições e de política. Estamos falando de uma mudança de cultura e de mentalidade. Pense, por exemplo, que o número de argentinos que passaram a usar bitcoin nos últimos anos simplesmente disparou. Aliás, a Argentina é, atualmente, o país que mais paga salários em bitcoin, em todo o mundo! Esse tipo de coisa é, definitivamente, o reflexo de um movimento que não tem mais volta.
E é por isso que a esquerda anda tão desesperada. Seu braço midiático está trabalhando, a todo vapor, para desmoralizar Javier Milei, atirando, contra ele, calúnias de todos os tipos. A ideia é enfraquecer o candidato libertário por meio da forçação de barra - até porque, no campo das ideias, a esquerda sabe que não tem chance. Essa é uma estratégia vil e cretina, mas nós sabemos que é assim que as coisas funcionam. O que nos anima, porém, é perceber que os argentinos já não ligam tanto assim para essas calúnias.
De qualquer forma, o movimento pela liberdade é inevitável. Se não for com Javier Milei, este ano, será com outro, em algum momento. Ou, melhor ainda, será com as próprias pessoas, que passarão a adotar meios agoristas para fugir das desastradas políticas econômicas do estado. O caminho para a liberdade está sendo trilhado por cada vez mais gente. E, conforme o tempo passa, sua adesão apenas aumenta. O resultado prático disso é um enfraquecimento do estado, e de toda a cultura que o acompanha. A grande mídia, por óbvio, está nesse balaio; e isso explica o seu grande temor.
A vitória de Javier Milei, embora seja bastante desejável, não está garantida. Pesquisas eleitorais, como bem sabemos, não significam absolutamente nada; e as eleições sempre são uma caixinha de surpresas. Nesse tipo de situação, há sempre muita coisa para acontecer, antes do fim do pleito. Por enquanto, vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos, tendo a consciência de que Javier Milei, com sua aparência de certa forma caricata, mudou para sempre o debate político. A coisa é tão séria que, nesse sentido, as eleições argentinas podem, inclusive, impactar as eleições brasileiras em 2024 e, principalmente, em 2026. Portanto, sempre que você vir algum veículo da mídia tradicional brasileira chamando Javier Milei de extremista ou de qualquer coisa do tipo, saiba que, acima de tudo, eles estão morrendo de medo da vitória definitiva da liberdade.
https://pt.globalvoices.org/2023/08/26/uma-perspectiva-argentina-por-que-as-pessoas-votam-no-anarcocapitalista-javier-milei/