Qual o motivo de tantas ditaduras, mesmo as mais falidas economicamente, estarem sempre falando sobre e buscando conflitos bélicos?
Atualmente estamos vendo um movimento que pode se tornar o início da Terceira Guerra Mundial, que começou com a invasão da Rússia ao território da Ucrânia em fevereiro de 2022. A guerra no Oriente Médio também tem aumentado com influências de países como o Irã. Mas, não é a primeira vez que uma guerra mundial se desenrola por causa de uma ditadura. Na época de Hitler e Stalin, também foi assim. A China continuamente ameaça Taiwan, e tantos outros casos, mundo afora, mostram que: ditaduras frequentemente entram em guerra com democracias. Mas porque é assim?
Você pode pensar que é porque a ideologia é diferente, mas vai muito além disso. Vários países têm filosofias e valores diferentes mas não se atacam, e as guerras entre democracias e ditaduras costumam ser provocadas, geralmente, pelas ditaduras. Que o estado é opressor em qualquer forma você já sabe, mas deve existir uma razão para ditaduras em particular serem assim. E há.
Uma ditadura tem os poderes concentrados nas mãos dos políticos ainda mais do que numa democracia. Fascismo, comunismo, monarquia, chame do que quiser: o fato é que esses líderes se tornam soberanos ditando tudo o que acontece dentro do país. Liberdade do indivíduo? Nem pensar. Tudo passa pelo planejamento central, tudo é feito debaixo da vontade estatal.
Mas, mesmo o melhor e mais competente político comete erros, e mesmo se não cometesse, coisas ruins acontecem durante o seu governo. Pode ser um terremoto, uma doença nova chinesa, uma ponte que caiu, um escândalo de corrupção, enfim. Coisas ruins acontecem. Sempre.
Numa democracia a solução é óbvia: culpar o político e trocá-lo. O político se torna um bode expiatório para as falhas de toda a estrutura estatal. Assim, como tudo de bom é, supostamente, graças a ele, tudo de mau também. E se ele der azar e muitas coisas ruins acontecerem durante sua administração, ele sai, através de algum mecanismo político, que funciona como uma válvula de escape na panela de pressão que é a democracia. O sistema não está quebrado, dizem, o problema é só o presidente.
A crise que vemos, hoje, no Brasil é exatamente, em parte, porque muitos perceberam que não era só trocar o presidente, que o sistema em si, e em particular o judiciário, estava atrasando a nação.
O fato é que em ditaduras não existe esse mecanismo. Se alguém disser que coisas ruins acontecem debaixo do governo de Putin ou Xi Ji Pin pode crescer a ideia de que talvez outra pessoa pudesse administrar a situação melhor. E ditadores não querem isso. Por isso a liberdade de expressão nas ditaduras sempre vai pro beleléu rápido, e quem espalha a verdade que o resfriado chines veio da China espalha desinformação. Ousar propor democracia só pode ser interpretado de uma forma: propaganda de inimigos da nação.
É assim que, rapidamente, as nações alheias, democracias livres onde as pessoas resolvem os problemas da ditadura de outra forma, se tornam rapidamente o símbolo de uma ameaça à segurança nacional. Não pode haver democracias bem sucedidas no mundo porque se houver as pessoas na ditadura pensariam que deveriam ter uma democracia lá também. A democracia, especialmente na vizinhança, é o lugar para onde o rival político, que ousa falar contra o soberano, foge. Democracia não pode ser tolerada pelos ditadores.
Daí surgem mil discursos conspiracionistas contra a nação e um senso de paranóia em massa. Todas as democracias são "o estrangeiro", tudo é uma ameaça globalista, e somente o nosso país está certo. Não é atoa que a China não deixa as pessoas usarem internet de verdade. A China e a Coréia do Norte são verdadeiras bombas relógio de xenofobia, um povo preparado para odiar o ocidente, e odiar o ocidente é necessário para não querer ser como ele.
Na Rússia também é assim. O discurso antiamericano é fundamental para normalizar o presidente eterno, Putin. "Estamos na merda, mas pelo menos não somos como os americanos", é o que o russo médio tem de pensar para o regime não cair. A Ucrânia, um país democrático bem sucedido do lado da ‘Mãe Rússia’, com um povo que fala uma língua similar e tem origem ligada a do povo russo, fazendo parte do mundo livre? Isso é intolerável pois prova que a vida pode ser melhor. Não que essa seja a única razão, podemos citar outras como o fato de que a Ucrânia estava para se tornar uma competidora no setor de gás natural, por exemplos. Mas o fato é: A Ucrânia lembra uma Rússia livre, onde presidentes podem de fato ser eleitos e que opositores não desaparecem, sejam presos ou misteriosamente caiam de prédios ou helicópteros.
Na Venezuela os Estados Unidos é o culpado por tudo. Tem de ser assim. É preciso que alguém de fora seja o culpado, para justificar porque o país com mais petróleo no mundo, com o menor custo de extração, estar falido. E, obviamente, não pode ser o Maduro, o ser iluminado que conduz a nação. O povo não está mais acreditando que os americanos são os culpados? Então, é hora de arranjar um novo inimigo. A Guiana, ali do lado, que também tem petróleo, serve. É o pretexto perfeito para o aumento da segurança nacional, concentração de poderes, e perseguição a qualquer dissidente como ‘inimigo da nação’. Ter um vilão ajuda a parecer um herói. A crise e a guerra são os pretextos usados para anular todo resquício de bom senso jurídico e, simplesmente, mandar todos os seus opositores para a cadeia. O estado cresce muito com guerras, e às vezes é o poder extra que o ditador quer ou até mesmo precisa para se manter no controle. E daí que pessoas estão morrendo na Ucrânia aos montes? Agora qualquer político preso por Putin pode, simplesmente, ser rotulado como amigo da CIA e pronto. Fim das justificativas.
A população da Coréia do Norte tem de pensar que a Coréia do Sul é horrível, ela não pode ser boa sob nenhuma hipótese ou o povo pode fugir para lá. Eles dizem que os Estados Unidos é um país miserável e que lá passam fome, o que é, no mínimo, irônico. Mas pensemos: tem de ser assim. O que eles iam dizer, a verdade? De que o comunismo não funciona, que são um país falido, que o país símbolo do capitalismo é o mais rico, que lá as pessoas morrem mais por ser obesas do que de subnutrição? É claro que não. O controle da verdade tem de ser intenso. E ai das religiões e seu hábito de dizer que até o líder do pais é um pecador e precisa de redenção como todos os demais. O cristianismo e algumas outras religiões fertilizam a ideia da falha humana, e ditadores não podem ser falhos. Não à toa as ditaduras perseguem as religiões também. Qualquer senso de identidade nacional que não seja associado a aprovar o ditador é um inimigo do estado.
É preciso se construir um muro antifascista em berlim para não deixar os heróis comunistas interagirem com o capitalismo. Isso teve de acontecer porque as pessoas iam para o lado capitalista para trabalhar e ganhar dinheiro. E, na cabeça de todo comunista, dinheiro é mau e sujo. A boa convivência entre democracia e liberdade foi tentada na Alemanha e não pôde ser tolerada, pelo lado comuna. Não é viável, para ditadores, no longo prazo, deixar as pessoas escolherem entre liberdade e ditadura. A ditadura tem de se tornar uma ilha prisão.
Falando em ilha prisão, Cuba não pode deixar os cubanos viajarem, e por isso eles têm de ser pobres. Até mesmo a pobreza se torna uma necessidade ditatorial: o povo precisa ser mantido fraco, não armado, e ignorante sobre o mundo externo. Uma verdadeira bolha. A internet ruim não é só por incompetência estatal e ganância, ela ajuda a manter o sistema sob controle. Novamente, o Tio Sam tem de ser o vilão, porque Miami não pode ser tão boa assim, ou improvisar o bote e passar dias à deriva em alto mar se tornará, cada vez mais, vantajoso. Em todas essas ditaduras, o ódio é a cola que mantém a casa de cartas em pé.
Porque se não odiarmos a liberdade, iremos querer ser livres.
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