Quando até o riso é considerado crime, não é a piada que está em julgamento, mas a própria liberdade.
Em setembro de 2025, o comediante e roteirista irlandês Graham Linehan, criador de séries cultuadas como Father Ted e The IT Crowd, foi detido em Heathrow por tweets considerados "ofensivos". O episódio, amplamente noticiado, expôs uma verdade incômoda: a comédia se tornou alvo direto da vigilância estatal. Não se trata mais apenas de cancelamento social nas redes, mas de polícia, algemas e tribunais. O Online Safety Act, vendido ao público como uma lei para "proteger crianças na internet" e "coibir discursos de ódio" — assim como os projetos de lei que tramitam na Câmara após o vídeo viral do influencer Felca sobre adultização — não passam de um instrumento jurídico que confunde liberdade de expressão com crime, transformando piadas em potenciais delitos. O caso Linehan não é um caso isolado, mas prova cabal de que, sob a retórica da "segurança", o que realmente está em jogo é a criminalização do humor e a intimidação de qualquer voz dissonante.
O conflito de Graham Linehan com a massa de manobra woke não começou agora. Ainda em 2013, ele passou a ser alvo de ataques depois que esquerdistas cronicamente online resgataram um episódio de The IT Crowd, exibido originalmente em 2008, no qual um personagem masculino entra em uma luta física com sua namorada após descobrir que ela é trans e isso é tratado em tom de comédia. O episódio, que à época foi ao ar sem maiores repercussões, passou a ser reinterpretado sob a ótica da cultura do cancelamento e usado como prova de sua "transfobia", e desde então Linehan passou a ser demonizado por parte da militância identitária. Mas foi em 2018 que ele rompeu de vez com o establishment cultural britânico: intensificou suas críticas à ideologia de gênero, sobretudo ao abuso hormonal de menores e às políticas que permitem a autodeclaração irrestrita de gênero em escolas e espaços públicos. Nesse período, ele passou a se declarar abertamente um aliado das chamadas TERFs (feministas radicais críticas do transgenerismo), movimento que denuncia o apagamento das mulheres em nome da "inclusão" trans. Desde então, Linehan tem sido sistematicamente banido de plataformas digitais, cancelado por produtores e atacado pelos grandes veículos de imprensa, ao mesmo tempo em que manteve sua postura firme e sem concessões diante do que considera uma ideologia insana e autoritária.
Linehan, em um post no Substack, descreve o absurdo a que foi submetido. Até então estabelecido no Arizona, e prestes a embarcar em um avião com destino ao Reino Unido, foi informado por um funcionário de que ele não tinha um assento e teria que ser transferido para outro voo, o que julgou no momento como mera complicação técnica típica de aeroportos. Ao desembarcar no aeroporto de Heathrow, em Londres, o comediante, fora de forma e beirando os 60 anos de idade, foi abordado por cinco policiais armados e teve voz de prisão declarada por três tweets, sob a alegação de ter cometido crimes de "discurso de ódio" e "incitação à violência". Com tais acusações, é de se imaginar que ele tenha dito algo pavoroso, do calibre do que disse o conselheiro do Labour Party, Ricky Jones, que clamou abertamente em um protesto pró-imigração para que seus opositores fossem degolados — fala pela qual não sofreu nenhuma consequência jurídica. A realidade? Linehan fez um tweet em que usa da comédia para fazer um ponto sério, e que qualquer pessoa dotada de bom senso reconheceria como constatação do óbvio: "Se um homem que se identifica como trans estiver em um espaço exclusivo para mulheres, ele estará cometendo um ato violento e abusivo. Faça um escândalo, chame a polícia e, se nada mais funcionar, dê um soco nas bolas dele". Os outros dois tweets "criminosos" são ainda mais inócuos, consistindo de uma foto de um protesto LGBT com a legenda "Uma foto que dá pra sentir o cheiro", e logo na sequência "Eu odeio eles. Misóginos e homofóbicos. Que se fodam".
Em um país onde mulheres e crianças constantemente são vítimas de imigrantes ilegais, com o establishment os banhando com toda sorte de benefícios e até mesmo os oferecendo moradia gratuita (isto é, financiada com dinheiro público) em hotéis de luxo enquanto negligencia a própria população, um comediante é jogado numa cela feito um terrorista simplesmente por expressar opiniões consideradas inaceitáveis. Não bastasse esse sequestro injustificável por críticas à narrativa progressista vigente, teve como condição para soltura a exclusão de sua conta do Twitter, constituindo um caso cristalino de censura prévia, que pode ser observado também aqui no Brasil com as ordens ilegais contra nomes como Allan dos Santos, Oswaldo Eustáquio e Paulo Figueiredo. Além disso, o incidente naturalmente resultou em grande estresse para o comediante, cuja pressão arterial chegou a níveis que facilmente poderiam resultar em um derrame — mesmo tendo sido posteriormente atendido e ficado em condição estável, não deixa de adicionar à gravidade da situação. O episódio com Graham Linehan não é um ponto fora da curva, mas parte de um padrão mais amplo que já vem se consolidando até mesmo nos palcos de comédia do Reino Unido. O Fringe Festival de Edimburgo, que nasceu como espaço de experimentação artística irreverente e de resistência à ortodoxia cultural, ousando se descrever como um "lar para a comédia de pensamento livre", hoje se rendeu ao policiamento ideológico e ao patrulhamento moral das redes sociais. O próprio Linehan, em 2023, teve um show de stand up no festival cancelado por conta de reclamações contra suas visões politicamente incorretas, com os organizadores do evento tendo feito uma declaração oficial nas redes, destacando o compromisso que têm com a falsa inclusão, "não permitindo que tais visões violem nosso espaço", abandonando sem hesitação o ideal de liberdade artística que diziam defender.
Mais recentemente, na edição de 2025 do Edinburgh Fringe Festival, o show Diddy Party, estrelado pelos comediantes Mark O’Keeffe e Richy Sheehy, sofreu uma mudança forçada de nome e cartaz após um vídeo viral no TikTok criticar a ilustração do rapper P. Diddy no pôster, alegando que os comediantes faziam pouco caso de uma situação séria e até que estariam glorificando o criminoso hediondo. Mesmo se tratando claramente de uma sátira, com os perpetradores sendo o alvo de piadas ácidas, a militância online não hesitou em condenar o show como sendo deplorável, sem sequer procurar saber do que realmente se tratava. Os organizadores do festival exigiram que o espetáculo fosse renomeado para #1 Bad Boys Comedy Party, com o cartaz completamente alterado, evidenciando a rapidez com que a pressão digital se transforma em censura efetiva: mesmo um festival renomado, conhecido como lar da comédia irreverente, passa a submeter seus artistas às normas da moralidade imposta por um público cada vez mais radicalizado. A conexão entre esses eventos é clara: seja no ambiente digital, seja no palco, qualquer manifestação de humor ou crítica que desafie os dogmas da ideologia dominante — seja de gênero, de moralidade social ou de reverência a celebridades — pode ser enquadrada como inaceitável ou até criminal. Linehan é preso por tweets inofensivos; O’Keeffe e Sheehy são obrigados a alterar seu material artístico; e o Online Safety Act serve como ferramenta legal que valida esse padrão de intimidação e coerção. O resultado é o mesmo: o humor, que deveria ser um bastião da liberdade de expressão e da sátira, é reduzido a uma atividade monitorada, filtrada e sancionada, transformando o riso em ato de risco e criando um precedente perigoso de controle cultural e legal.
Nós, libertários, somos favoráveis à liberdade de expressão irrestrita, ou seja, qualquer um pode falar o que quiser, desde que faça isso em sua propriedade ou em um espaço que aceite suas falas. Se uma rede social não deseja aceitar certo tipo de discurso dentro de seu espaço on-line, cabe a essa rede social banir tal discurso, e não ao estado.
Pode até parecer uma realidade distante, confinada aos vários países europeus onde a censura tem ganhado embasamento pleno nas cortes, mas o avanço patológico do autoritarismo e da perseguição ideológica se estabelece onde quer que o discurso livre represente uma ameaça às narrativas que o establishment deseja que a população aceite de bom grado, sem questionar e deixando de lado seus próprios valores. Comediantes como Léo Lins e o grupo Gênios Siameses já enfrentaram diversos processos judiciais por piadas que, embora claramente inseridas no contexto de sátira e crítica social, foram interpretadas por tribunais como ofensivas ou potencialmente incitadoras de ódio. No caso de Léo Lins, que recentemente foi condenado a mais de 8 anos de prisão em regime fechado, além de uma multa milionária, por piadas em seu show "Perturbador", que foi também removido do YouTube por decisão judicial. Nenhum desses episódios se trata de um caso isolado, mas da destruição sistemática das liberdades que são o alicerce de qualquer sociedade livre, criminalizando o humor e impondo limites à liberdade de expressão, que tragicamente encontra apoio em círculos que outrora já foram os principais alvos da censura estatal. Para aproveitar as palavras do próprio Léo Lins, "é muito injusto, e até egoísta, a dor opcional de algumas pessoas servir de justificativa pra impedir o sorriso de outras".
https://grahamlinehan.substack.com/p/i-just-got-arrested-again
https://www.deadlinenews.co.uk/2025/08/12/edinburgh-fringe-show-has-name-and-poster-changed-after-online-backlash-over-diddy-party
https://www.edinburghnews.scotsman.com/news/free-fringe-festival-show-pulled-after-controversial-diddy-party-show-5272771
https://en.wikipedia.org/wiki/Graham_Linehan
https://news.stv.tv/east-central/edinburgh-fringe-graham-linehan-stand-up-show-cancelled-by-leith-venue-over-comedians-gender-views
https://www.gbnews.com/politics/politics-latest-starmer-labour-tax-farage-reform-tories
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/sp/leo-lins-e-condenado-a-oito-anos-de-prisao-por-piadas-preconceituosas