A história do Holodomor ucraniano

O Holodomor foi um dos piores crimes contra a humanidade que ainda é negado e omitido por adeptos da esquerda, sobretudo os marxistas, ideologia essa responsável por dezenas de milhões de mortos e presos nos últimos 100 anos.

A Ucrânia sempre teve um grande potencial produtivo agrícola devido a seus solos férteis, sendo chamada de celeiro da Europa. Esse país também foi um local de guerreiros bravos que sempre lutaram pela independência, e esse espírito guerreiro foi formando grupos nacionalistas ucranianos que eram contra qualquer tipo de domínio estrangeiro. Mas foi durante a Primeira Guerra Mundial, em 1917, após o Czar Nicolau II ser forçado a abandonar seu trono devido aos golpes internos na Rússia, que a Ucrânia iria ter uma oportunidade de adquirir independência. Essa independência iria durar pouco tempo, pois os comunistas liderados por Vladimir Lênin viam o território ucraniano como parte pertencente à grande Rússia, que agora iria se tornar um grande regime socialista. E foi através de uma brutal Guerra Civil, com a vitória dos Bolcheviques que eles iriam incorporar novamente a Ucrânia para o domínio russo, agora incorporada na grande União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.


Os comunistas iriam adotar uma forma de controle severa sobre os ucranianos banindo aspectos da sua cultura e língua, além de assassinar seus líderes separatistas e nacionalistas, e os intelectuais por trás desses movimentos. O modelo de política econômica dos soviéticos, como sempre, foi de planificação econômica, controle de preços e abolição da livre iniciativa. Isso fez com que a escassez de produtos, sobretudo alimentos, fosse algo recorrente na União Soviética. Assim, a Ucrânia, com toda sua fertilidade agrícola, era uma peça essencial para sustentar o grande império soviético e uma possível independência da Ucrânia iria abalar as lideranças comunistas.


Apesar do famoso slogan dos Bolcheviques declarar 'paz, terra e pão ao povo', tudo isso estava longe da realidade e nem seria alcançável com políticas anticapitalistas que violavam as propriedades dos camponeses e suas riquezas. A propaganda de que seriam distribuídas as terras dos aristocratas aos pobres não passou de uma grande mentira, pois o intuito sempre foi o de estatizar todas as propriedades agrícolas e passá-las para as mãos do governo soviético.


À medida que muitos camponeses iriam se opor às políticas socialistas dos bolcheviques, seria criada uma nova política de dividir para controlar. Dessa forma, os tiranos vermelhos iriam usar o termo “Kulak” para denominar todos aqueles camponeses considerados ricos aos olhos do regime, para criar a narrativa de que esses Kulaks exploravam os outros camponeses. Essa tática de se criar inimigos em comum, transformados em bodes expiatórios, sempre foi usada por tiranos para unir a população ao regime no poder e distraí-la dos verdadeiros problemas. Isso aconteceria em todo o território sob controle dos soviéticos. Inclusive, uma boa porcentagem dos presos dos Gulags, os campos de concentração soviéticos, seria composta por camponeses inocentes que apenas resistiram às políticas de expropriação dos comunistas durante o período stalinista.


Muito antes da fome provocada por Stalin na Ucrânia, o que conhecemos como Holodomor, já no início da década de 20, ainda no governo de Lênin, entre 2 a 5 milhões de pessoas teriam morrido de fome. Desse número, estima-se que entre 250 a 500 mil ucranianos teriam sido vitimados. A verdade é que o terror e o desastre das políticas comunistas num país que já era pobre e atrasado, como a Rússia, só conseguiram piorar o cenário de um povo que tentava se recuperar da Primeira Guerra Mundial. Até nesse momento de total carência que assolava o recém criado Império Soviético, foi a economia capitalista americana que iria ajudar muitos necessitados em toda a União Soviética através dos indivíduos que faziam caridade. E foi reconhecendo o fracasso das políticas econômicas socialistas que Lênin iria permitir em algum grau a propriedade privada e o mercado livre ao implementar seu novo plano, a NEP (Nova Política Econômica).


A NEP de Lênin não iria durar muito, felizmente, o ditador e líder do partido bolchevique iria ver sua saúde se deteriorar até sua morte em 1924. Por trás dos panos, crescendo de poder e influência na burocracia soviética, surgia um tirano pouco conhecido, mas que era completamente insensível ao sofrimento do povo russo: Josef Stalin. Stalin iria se posicionar contra as políticas que permitiram uma abertura econômica para o capitalismo e logo iria condenar a NEP já na década de 30. O tirano de bigodudo acreditava que tudo podia ser resolvido na base da força bruta e via que todo problema econômico exigia medidas duras e autoritárias. Seria assim que o ditador governaria durante décadas a União Soviética, expandindo os Gulags e as prisões, condenando milhões ao degredo em terras longínquas e condenando muitos camponeses à morte. É nesse contexto que podemos entender como se deu o ataque de Stalin aos ucranianos durante a década de 30 e como foi criada a maior crise de fome da história recente do país.


Durante seu reinado de terror, Stalin seria conhecido por suas paranoias em relação a novos inimigos e traidores, ele acreditava a cada dia que certos grupos estavam tramando um golpe contra ele. Foi nessa onda de paranoia que ele iria condenar milhares de militares do Exército Vermelho à prisão ou à morte, prenderia seus antigos aliados do partido Bolchevique e iria atacar todos aqueles que pudessem ameaçar seu poder. Entre os principais grupos de inimigos do estado soviético, na visão de Stalin, estavam artistas, escritores, poetas, cientistas, professores, padres e bispos, camponeses e militares – nenhuma dissidência era permitida. Assim, ele veria em certos grupos e líderes ucranianos uma ameaça direta ao seu domínio sobre aquele produtivo território que contribuía bastante com a economia soviética. Entre suas crenças, estava a de que os nacionalistas da Polônia e de outros países hostis à influência soviética estavam fomentando rebeliões e resistência na Ucrânia em relação ao ideal soviético.


Stalin, como todo comunista, não entendia os incentivos que os empreendedores têm no mercado. Ao ver vários camponeses estocando grãos para vender no momento oportuno, que fosse mais favorável economicamente, ele pensou que isso se tratava de um plano para sabotar a economia soviética. O ditador soviético queria criar grandes fazendas estatais, nas quais os camponeses seriam obrigados a produzir para o estado e, em troca, receberiam sua cota de produção. Esse igualitarismo proposto por Stalin para nivelar todos os produtores agrícolas com certeza foi um dos motivos para uma queda na produção. Aqueles camponeses mais produtivos receberiam o mesmo dos camponeses menos produtivos. Por isso, a ideia de coletivização da produção agrícola estava entre as piores ideias dos ditadores comunistas, sendo responsáveis por enormes crises na produção e escassez. Esse tipo de política causaria, décadas depois, na China de Mao Tsé-Tung, uma tragédia de proporções gigantescas causando a fome de milhões de pessoas.


Um dos objetivos de Stalin com a completa estatização da produção agrícola era criar uma grande identidade universal soviética, em detrimento de qualquer identidade nacional que poderia existir nas repúblicas soviéticas. É comum ver em vários regimes autoritários políticas nacionais que visam homogeneizar o povo, seja na sua cultura ou modo de pensar. Além disso, como o ditador tinha a pretensão de criar uma grande política de industrialização acelerada, ele precisou vender muitos grãos a outros países em troca de máquinas. Esses alimentos que seriam essenciais para alimentar o próprio povo sob o jugo do regime soviético agora iam para outros países. Se olharmos em termos de recursos naturais e potencial produtivo, o grande império soviético que englobava inúmeros povos e países estava bem abastecido de riquezas. Não fazia sentido haver escassez naquele país de forma alguma. Mas são exatamente os planos centralizados dos socialistas de destruir o incentivo de mercado que fazem os produtivos produzirem menos, o que acaba prejudicando qualquer possibilidade de desenvolvimento econômico.


No ano de 1932, Stalin iria exigir cotas de produção agrícola cada vez mais irreais e inalcançáveis por parte dos ucranianos. Como sabemos, qualquer político ou burocrata que contestasse essa decisão sem sentido correria risco de vida, poderia perder seu emprego e enfrentar a brutalidade do regime, talvez até indo parar em um Gulag. Essa nova ordem fez com que os homens de Stalin, os membros da NKVD (a polícia política) fossem confiscar todos os excedentes de grãos nas casas dos ucranianos, deixando aquele povo cada vez mais miserável. Isso gerou uma situação insustentável no país, desespero, conflitos e canibalismo se tornaram frequentes. As pessoas foram abandonadas e humilhadas pelas lideranças de Moscou. Elas passaram a se alimentar de todos os tipos de animais a que tinham acesso, como cães, gatos, cavalos e insetos. Para piorar, o ditador soviético era tão cruel que rejeitou todas as ajudas externas de pessoas que ficavam sabendo da crise de fome na Ucrânia e queriam doar algo. Ele isolou totalmente o povo ucraniano fechando as fronteiras, e aqueles cidadãos que tentassem fugir do país poderiam ser presos ou até mortos.


Foi nessa situação absurda, no início dos anos 30, que o famoso jornalista galês Gareth Jones iria investigar a grande crise na Ucrânia para saber o que estava acontecendo. Inicialmente sendo enganado pela propaganda comunista de que a União Soviética estava vivendo num mar de prosperidade, ele viajou ao local para investigar o que estava por trás desse sucesso econômico. Mas ao se deparar com o horror que se alastrou pela Ucrânia e as inúmeras mortes, ele teve a coragem de denunciar ao mundo os crimes de Stalin. Ao contrário da elite intelectual e jornalística de vários países ocidentais, que compactuavam com o governo comunista de Moscou, Gareth Jones escreveu um livro relatando o que viu e fez esforços para desmascarar a propaganda soviética. Seu livro foi traduzido para o português e foi intitulado como: “Fome na Ucrânia - Os relatos do front do Holodomor”.

Um operário ucraniano teria dito a Gareth Jones durante a crise de fome na Ucrânia: “Não como carne há um ano. Os ovos custavam apenas um copeque antes da guerra, mas agora são um grande luxo. Consigo um pouco de sopa, mas não dá para viver”.

Sobre esse jornalista que não se dobrou às mentiras e manipulações comunistas, foi lançado um filme intitulado 'A Sombra de Stalin', que revela sua experiência investigativa em território ucraniano. A diretora do filme, Agnieszka Holland, revelou na sua rede social que decidiu trabalhar nesse filme ao perceber, em suas palavras que “os crimes nazistas foram reconhecidos como crimes contra a humanidade, mas os de Stálin acabaram esquecidos e perdoados”.


Esse crime contra a humanidade só começou a ser discutido como um fato histórico pela comunidade internacional na década de 90, e entre 2006 a 2008 vários países ocidentais reconhecerem o Holodomor como um genocídio. O Tribunal de Recurso de Kiev publicou uma estimativa sobre as vítimas desse genocídio em 2010, na qual chega-se ao número de 3,9 milhões de pessoas mortas pela fome entre 1932 a 1933. Além desse número, cerca de 6,1 milhões teriam morrido por motivos decorrentes dessa grande fome, sendo a maioria crianças. Outros dados apontam números que variam entre 7 a 10 milhões de mortos.


O Holodomor com certeza está entre os piores crimes contra a humanidade, pois além de ter sido organizado e sistematizado pelos criminosos comunistas, sua proporção foi gigantesca e nem as crianças e bebês foram poupados. Em pleno século XX, imaginar que se tornou comum atos de canibalismo na Europa, num país conhecido por ter uma terra fértil e produtiva, beira a insanidade, mas é exatamente a consequência do comunismo. Esse episódio, com certeza, tem sido omitido em cursos e aulas de história por professores desonestos que ousam defender o marxismo e as ideologias socialistas apesar de todo o estrago que elas causaram em inúmeros países. Até hoje, alguns marxistas negam esse genocídio ou, quando o reconhecem, culpam os “Kulaks” e até o próprio povo ucraniano por esse infeliz episódio – dizendo que nunca foi um problema do comunismo e seus incentivos perversos.


Enfim, o que podemos aprender aqui é que essa triste história não pode ser esquecida, para que nunca deixemos que ela se repita. Ditadores sempre irão inventar desculpas de que seus planos são benevolentes e que irão melhorar o mundo, sempre prometendo utopias na Terra. Eles usam de poderosas propagandas e manipulação psicológica para enganar as massas. Foi assim que Stalin e seus aliados conseguiram convencer até mesmo algumas lideranças ucranianas e seus próprios soldados de que expropriar a comida do povo ucraniano era necessário. A promessa era de que um futuro melhor os esperava e que aquilo fazia parte de um plano econômico promissor para todo o povo soviético.


Portanto, nunca se esqueça: o governo nunca sabe o que é melhor para você e, mesmo se soubesse, não seria este seu principal objetivo. O que podemos fazer é nos proteger dessa ameaça constante, ensinar nossos amigos e parentes sobre os males do estado das ideologias socialistas, e que nossos direitos individuais nos separam da barbaridade.

Referências:

The Holodomor: Ukraine's Soviet Terror-Famine:
https://youtu.be/3cN0hQ2eJYA
https://wp.ufpel.edu.br/empauta/contar-para-nao-esquecer-resenha-do-filme-a-sombra-de-stalin/
https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/dennis-prager-males-do-comunismo/
https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/o-mundo-deveria-se-lembrar-das-vitimas-do-holodomor/?ref=busca
https://www.estudosnacionais.com/38352/gareth-jones-o-primeiro-jornalista-a-denunciar-a-fome-ucraniana/