A famosa série sul-coreana Round 6 desenhou uma anatomia do estado moderno. Nós agora a explicaremos, detalhe por detalhe.
Round 6 é uma série sul-coreana produzida pela Netflix, dirigida por Hwang Dong-hyuk e Kim Ji-yeon, lançada em 2021, e que teve sua terceira — e provavelmente última — temporada recentemente publicada.
Se você se preocupa com spoilers, fique tranquilo! A análise que traçaremos neste vídeo se concentra na mensagem subjacente ao enredo. Os desavisados talvez não percebam a crítica que a série faz ao Estado moderno e à democracia — e talvez seja justamente por isso que a Netflix a tenha lançado. Sorte a nossa termos tido acesso a essa obra-prima da genialidade humana.
Grosso modo, o enredo acompanha a história de Gi-hun, uma pessoa comum — um “coreano médio” — que aceita participar de uma série de jogos mortais que pagam recompensas bilionárias aos vencedores.
O público-alvo dos jogos são aqueles tipos de losers, ou seja, pessoas com baixa autoestima, extremamente endividadas e com baixíssimo senso moral. Essa gente que já perdeu tudo — até a fé em si mesma — é a vítima ideal para apostar a própria vida em um jogo no qual a única regra é manter-se vivo, mesmo que seja à custa de vidas alheias. E nisso, a terceira temporada é brutal, mesmo para quem já está acostumado com a série.
Ao longo dos episódios, a série vai mostrando o desenrolar de vários desses jogos mortais, e vemos como o pior e o melhor do ser humano emergem nessas situações-limite. Tramas e intrigas, pactos que são logo quebrados sob a desculpa de conveniências — e lembre-se: é a própria vida que está em jogo!
O enredo é simplesmente genial e, mesmo para quem não busca um olhar mais aprofundado, a série entrega um excelente entretenimento. Mas na realidade ela é muito mais do que isso. Round 6 é um desnudamento da psique humana, uma abordagem vasta das relações sociais e o escancaramento do aparato estatal centralizador e despótico sob o qual vivemos.
A primeira coisa que nos chama a atenção — e que gostaríamos de deixar às claras — versa sobre os níveis de percepção da realidade. O sistema que vemos em Round 6 funciona como a nossa sociedade e suas instituições com várias hierarquias de poder e importância, desde os trabalhadores simples aos burocratas e políticos poderosos e os grandes lobistas. Aproveitaremos essa alusão, na qual há, em sua base, o pessoal operacional — aqueles que estão no chão de fábrica e que são supervisionados por encarregados. Em um nível superior, há equipes de controle, que, por sua vez, são subordinadas ao pessoal do planejamento estratégico. No fundo, todos esses níveis ainda estão ligados à parte executiva da empresa, que responde aos acionistas — estes, sim, fora da estrutura executiva.
Nessa configuração, o pessoal que está no chão de fábrica tem a percepção de que quem os oprime são os outros operários, além de seus próprios encarregados. Esse grupo representa o povão, o cidadão médio - estamos falando do pagador de impostos que trabalha honestamente. Os encarregados são as forças de repressão estatal, como a polícia e as forças armadas. Esses capangas armados forçam a população a seguir as regras definidas pelo sistema.
Quem está nesse nível mais baixo mal conhece quem opera no nível acima e simplesmente não tem acesso às decisões que lá são tomadas. É exatamente o que acontece conosco, ou você conhece alguém lá em Brasília que consegue coisas para você e seus amiguinhos?
Mas é pior que isso, já que todo o sistema está desenhado para insuflar ódio entre as pessoas do chão de fábrica, entre elas e seus encarregados, ocultando assim a verdadeira face do monstro e desviando o foco do Leviatã.
Os operadores que seguem ordens cegamente, executando comandos e aplicando punições, trabalham para manter a ordem do sistema de opressão, e isso é parecido com o arranjo do estado moderno. Os que usam máscaras de círculos são como soldados rasos, comparáveis a policial, fiscais ou agentes públicos de execução. Os que usam máscaras de triângulos são como chefes de setor ou inspetores. Os que usam máscaras de quadrado são como chefes de departamentos, juízes ou secretários, comparando com nossa sociedade. No fim, eles não tomam decisões próprias, sendo meros cumpridores de ordens e atuam sempre para manter o sistema operando com eficiência impessoal, mesmo que isso leva inocentes à morte. Esses agentes que usam o quadrado estão sempre reportando tudo ao Líde,r o Front-man. Essa gente, que ocupa altos cargos na hierarquia, ainda está visível na estrutura de poder, e de alguma maneira são operadores que trabalham para a verdadeira elite poderosa, que permanece oculta. E essa elite intocável que está acima de todos, são os VIPs, que podem ser vistos como uma oligarquia mundial que manipula os sistemas nacionais em benefício próprio, sem sujar as mãos. Fazendo uma compração dos VIPs com os indivíduos mais poderosos de nosso mundo, eles são como aqueles agentes por trás de grandes bancos e corporações poderosas - donos de verdadeiros impérios financeiros - e que fazem lobby nos parlamentos, sempre pensando em seus benefícios pessoais.
Analistas de geopolítica têm falado sobre a atuação desses entes, como o Professor De Leon Petta e o Professor Vale, que inclusive os denomina de "dominadores globais". Não queremos aqui insuflar nenhuma teoria da conspiração, apenas estamos narrando o que a série nos apresenta de maneira figurada e que analistas sérios e capacitados têm nos explicado dentro da complexa teia de atores globais.
Mas na Temporada 2, a série nos apresenta a revolta de um membro do povão, nosso querido Gi-hun, contra o pessoal do planejamento, que seria algo como um "ataque às instituições democráticas" em linguagem tupiniquim.
O fato é que essa rebelião, ainda que sustentada com rios de dinheiro, naufraga miseravelmente. Em uma cena digna de "tropa de elite", um alto membro do planejamento esfrega na cara de Gi-hun que mesmo que ele seja morto, outro o substituirá e o esquema continuará funcionando da mesma forma - ou seja, o sistema usa peões para funcionar e os substitui a medida da necessidade. Então, esse sistema acaba se assemelhando a um organismo vivo que luta para sobreviver, alimentando-se de pessoas e as descartando quando necessário. Algo que também vimos na famosa trilogia de Matrix.
O problema é que o sistema político vigente não foi estabelecido como se fosse uma verdade lógica, pois não é fruto do jusnaturalismo ou de uma ética universal, mas decorre de incentivos perversos que levam as pessoas a se perderem e a desperdiçar a própria vida — seja numa corrida de ratos pela sobrevivência, seja na adoração ao deus Estado. Inclusive, a série nos sugere que o sistema atual está desenhado para influenciar comportamentos e moldar ações, mesmo que sejam os piores possíveis.
E o sistema político vigente do qual estamos falando, e que é denunciado pela série, se trata da democracia. Sim, o Deus que falhou, como evidenciado por Hans Hermann Hoppe em sua famosa obra. Aliás, a democracia falhou desde Platão, há mais de 2.400 anos.
Então, se traçarmos uma série histórica, veremos que, segundo Platão, a democracia falhou por questões morais e civilizacionais, já que leva a sociedade à demagogia, à perversão e à tirania da maioria. Que falhou devido a questões transcendentais conforme dizia Santo Agostinho, pois leva a sociedade a crer num paraíso terreno. E falhou também por questões econômicas, segundo o economista Hans Hoppe, já que perverte os incentivos das relações humanas.
Noutro aspecto, os autores de Round 6, sabendo que as eleições são uma das bases da democracia moderna, a atacaram de maneira genial! Ao longo da trama se percebe como as eleições apresentam basicamente duas características:
Primeiro: a falácia da escolha. A matéria a ser votada não é decidida por quem vai votar. Então o sistema permite que o pessoal do chão de fábrica faça escolhas em um paradigma já escolhido, que no final das contas não muda absolutamente nada dentro do panorama geral da organização.
Segundo: a isenção de responsabilidade. De tão viciados que estão nesse sistema de eleições, os próprios participantes resolvem votar temas entre si para decidir alguma questão sobre a qual não há consenso. Nesse aspecto, o resultado da eleição justifica qualquer decisão, por mais absurda que seja e causa um efeito de isentar o indivíduo da responsabilidade de suas más escolhas.
E como efeito da isenção de responsabilidade, a votação democrática é o sistema perfeito para avalizar comportamentos antiéticos e permitir o avanço de psicopatas no poder. E aí chegamos na conclusão do liberal e economista austríaco Friedrich Hayek, quando ele escreve, em seu livro “O Caminho da Servidão”, que os piores sempre chegam ao poder.
Apesar de toda a saga vivida por Gi-hun — todo o esforço, o tempo, os recursos e as vidas perdidas —, tudo isso, ao final, se mostra infrutífero. Nada muda: o sistema continua de pé, aproveitando-se de pessoas moral, intelectual, espiritual e financeiramente frágeis.
Então, a série também nos entrega essa triste realidade: a de que parece ser inglório lutar contra o sistema. Essa percepção dos autores é sentida na pele por todo aquele que já entendeu o quão injusto é a democracia moderna.
Nós, colaboradores do Visão Libertária, já cansamos de dar murro em ponta de faca. Não condenaremos ninguém que queira mudar o sistema por dentro — na verdade, admiramos e incentivamos quem decide travar essa batalha que parece estar perdida. Apesar de ser possível mudar muita coisa positivamente quando bons libertários e conservadores estão em posição de poder, sabemos que toda a estrutura estatal continua aparelhada por pessoas horríveis, que só pensam em interesses pessoais e em aumentar o poder do Leviatã estatal.
Por isso, para nós, parece mais conveniente procurar estabelecer uma nova realidade focada no empoderamento do indivíduo.
E essa realidade se chama sociedade de leis privadas. Não é o paraíso na Terra, não vai resolver todos os seus problemas, tampouco deixará de haver injustiças — mas, com certeza, será um sistema que não terá incentivos para o cometimento de crimes e erros. Nessa organização social livre, é possível alinhar incentivos, pactuar contratos, viver e deixar os outros em paz.
A sociedade de leis privadas é uma forma de organização muito mais orgânica, descentralizada e próxima da natureza humana do que o monstro centralizador do Leviatã. As pessoas continuarão a levar suas vidas, acordar cedo e tomar café, mas terão que se responsabilizar por seus atos, colherão os frutos de seus louros e pagarão a dívida de seus equívocos.
Nessa sociedade não há espaço para a coerção — mas também não há lugar para safados e bandidos.
E o melhor: não vai ter vereador nem deputado para você implorar para asfaltar sua rua!
Em outras palavras: o que você quiser fazer, vai ter que combinar com outras pessoas. Por outro lado, também não vai precisar bancar as lagostas de Brasília. Você será o dono exclusivo do seu dinheiro, mas não haverá boquinhas no governo para dar aquela parasitada.
E para conhecer outros aspectos antiéticos amplamente permitidos e até incentivados pela democracia, veja agora o vídeo: "Korwin, o EX-COMUNISTA Polonês que VIRALIZOU nas REDES", o link segue na descrição.
Korwin, o EX-COMUNISTA Polonês que VIRALIZOU nas REDES
https://www.youtube.com/watch?v=FZHnq3fhoy0
https://www.youtube.com/@GeopolíticaMundial
www.youtube.com/@luizantonio-xeque-mate-global