O jogo ANOTHER CRAB'S TREASURE traz o LIBERTARIANISMO dentro do mar

Um krill atrás da sua concha perdida, lutando contra a poluição e a máfia estatal. Um jogo com ideias libertárias no fundo do mar.

Another Crab’s Treasure, incorpora o estilo soulslike, mas em um mundo de fantasia. Na trama, Kril, o pacífico caranguejo-eremita, vive tranquilamente sua vida com sua concha em uma piscina de maré. Entretanto, uma estranha figura aparece diante do protagonista, dizendo de forma inusitada que o Ducado de Baixa-mar tomou posse do lugar e que agora, todo mundo precisa pagar por "proteção". Kril, precisa quitar a suposta dívida acumulada que tem de marés passadas, ou pode perder seu único bem, a concha que serve de abrigo e proteção. Como ele se recusa a pagar, perde sua casa, e precisa se aventurar na imensidão do oceano para recuperá-la.

O gênero chamado soulslike incorpora diversos elementos desafiadores como combates incrivelmente difíceis e uma narrativa ambiental profunda. Isso faz com que os jogadores mergulhem profundamente na trama, evitando passar as cutscenes para entenderem toda a história do jogo. O game se destaca por ser de mundo aberto, semelhante ao famoso Skyrim, mas com similaridades ao "Dark Souls" tanto na estrutura como no design. Contudo, o game permite que o jogador explore o mapa, descubra segredos e enfrente desafios no seu próprio ritmo.

Para aqueles que não são muito familiarizados com jogos, o gênero soulslike foi criado por Hidetaka Miyazaki. Seu foco está em altos níveis de dificuldade e ênfase na narrativa ambiental do jogo. O gênero começou com o jogo Demon's Souls, lançado em 2009, apenas para o console Playstation 3. Sua recepção foi mediana, mas gradualmente foi virando uma febre devido a sua jogabilidade desafiadora. Com o sucesso da trama, foi desenvolvido outro jogo com as mesmas características, chamado de Dark Souls, consolidando assim este gênero. Com sua atmosfera sombria e combates dificílimos, a sua fanbase só aumentou, criando assim uma demanda por este estilo. Durante muito tempo, o gênero soulslike ficou restrito a um pequeno grupo de pessoas que adoram desafios intensos. Contudo, conforme mais jogos com estas características foram sendo criados, ele foi se tornando popular. Bloodborne e Sekiro: Shadows Die Twice, foram dois lançamentos que trouxeram o soulslike para a popularidade, chegando a receber prêmios e aclamação dos críticos. Agora, o que o consolidou foi o Elden Ring, que recebeu notas altíssimas e numerosos prêmios, além de atingir vendas impressionantes.

Mas voltando ao jogo. A trama simples, porém envolvente faz deste game uma excelente porta de entrada para quem quer iniciar neste gênero desafiador. A simplificação não tirou nem um pouco da alma do gênero, apenas suavizou a complexidade de alguns aspectos-chave da experiência. O jogo faz uma crítica ferrenha às taxações das propriedades, vilanizando logo no começo o cabeça de tubarão, o capanga do estado que vem extorquir Kril, tomando seu casco a força por não pagar a propina para a máfia que se fez presente do nada. O nosso protagonista fica a ver navios, nu e totalmente indefeso. Contudo, como fica inconformado com a situação, decide lutar contra aqueles que tomaram à força seu lar.

Na introdução em live action, é falado sobre a resiliência das criaturas marinhas e de como elas sobrevivem ante a uma situação dramática e perigosa, assim como os humanos. Posteriormente, nos é apresentado o cabeça de tubarão, que vem cobrar os impostos. Semelhante a um fiscal da Receita Federal, confisca o caso do nosso herói. Este comportamento da autoridade coercitiva taxando e confiscando bens, e como se liga ao lixo que começa a encher o oceano servem como pilares da narrativa, que se desenvolve continuamente ao longo do jogo. Eventualmente, tudo chega a um clímax e a uma resolução surpreendentemente agridoce. O gráfico infantil, as dificuldades e o tema sombrio atraem jogadores de todas as idades.

Conforme Kril navega por um oceano repleto de lixo humano, enfrenta inimigos desafiadores e chefes memoráveis. Cada um deles representa um obstáculo não apenas físico, mas moral. O lixo no oceano, simbolizando a poluição que afeta tanto o ambiente quanto os habitantes, serve como pano de fundo, no qual cada vitória e cada derrota têm um peso significativo. Ao longo de sua aventura, nosso herói encontra diversos personagens que o ajudam a refletir sobre suas ações e consequências. Desde interações que revelam a futilidade aparente de suas batalhas até momentos de introspecção profunda. O jogo apresenta uma narrativa que pode ser interpretada sob uma perspectiva libertária, destacando os efeitos de autoridade mafiosa e a importância da livre iniciativa. A história de Kril, que começa com a cobrança de um imposto arbitrário, reflete o impacto negativo de práticas estatais que se aproveitam dos vulneráveis.

No entanto, o jogo também oferece uma gama de NPC's com assuntos engraçados, e outros pertinentes a toda aquela situação. Eles mostram que a própria poluição, apesar das adversidades, geram uma sociedade que usa toda a escória descartada da humanidade como recursos escassos. É como dizem: o lixo de uns é o tesouro de outros. A sucata como moeda de troca, mostra como até mesmo o lixo pode ser muito melhor que qualquer dinheiro fiduciário. Indo contra as ideias dos ambientalistas, os canudos que matam tartarugas, no jogo, podem servir de moradia, decoração, proteção e, até mesmo, arma. Isso fornece uma vantagem para os animais que antes eram presas fáceis terem capacidade de se organizar e resistir a investidas de predadores. Com o tempo, a construção da história passa a inclinar para um ímpeto mais heroico, porque afinal, isso é um jogo feito para um público que quer se divertir.

Sob uma ótica libertária, o "Another Crab’s Treasure" pode ser visto como uma alegoria sobre a resistência ao controle estatal e ao corporativismo, e até a capacidade dos seres vivos de se adaptarem às adversidades sem interferência do estado. A luta de Kril contra o lixo que polui o oceano e os antagonistas que representam sistemas corruptos pode ser interpretada como uma metáfora para a luta contra a interferência governamental excessiva e as práticas monopolísticas que sufocam a inovação e a liberdade individual. O anarcocapitalismo, ideia que defende a ausência de um estado coercitivo e a livre iniciativa, e que defendemos aqui no canal, promove os caminhos para uma sociedade próspera. No jogo, Kril atua como um agente livre, tomando suas próprias decisões e enfrentando os desafios impostos por este sistema. Sua jornada simboliza a capacidade do indivíduo de superar adversidades através da determinação e da busca por soluções criativas, sem depender de uma autoridade centralizada.


O jogo foi lançado em abril deste ano, mas só agora que as pessoas estão tomando conhecimento dele. Segundo o site "howlongtobeat”, a trama dura entre 13 e 22 horas de jogo. Está disponível na Steam, Xbox Series e Nintendo Switch por R$88,00. No Playstation 5, o jogo sai por R$159,90 e é gratuito para quem tem o Xbox Gamepass. A média das avaliações no Metacritic e no Opencritic é de 78, ótima por sinal.

Enfim, o jogo de um caranguejo que perde a sua casa para um grupo mafioso, mostra como o estado realmente funciona. Pessoas simples vivendo a vida delas são abordadas pelos entes governamentais que chegam do nada exigindo que a propina seja paga para continuarem vivas. Caso não seja feito, perderão seus bens e sofrerão com a violência. Um excelente exemplo de como funciona o bandido estacionário atualmente. O fato de usarem sucata ao invés de um dinheiro qualquer no jogo, também reforça a ideia de que dinheiro lastreado em honestidade de político vale menos do que um papel higiênico usado. Talvez os desenvolvedores quisessem apenas mostrar a realidade, e não transformar o jogo em um ambiente libertário. Mas é exatamente isso que acontece quando mostramos a realidade. O absurdo da coerção estatal é tão grande, que qualquer coisa que mostre a vida nua e crua, prova o quanto o estado é ineficiente, corrupto e incapaz de ajudar as pessoas.

Referências:

https://www.nintendoblast.com.br/2024/06/analise-review-another-crabs-treasure-switch.html
https://www.metacritic.com/
https://opencritic.com/
https://howlongtobeat.com/
https://store.steampowered.com/
https://www.xbox.com/pt-BR/microsoft-store
https://www.playstation.com/pt-br/
https://www.nintendo.com/pt-br/