Um misto de lacração, mal planejamento e má recepção nas redes sociais transformou o filme “As Marvels” no maior fracasso da história desse universo cinematográfico.
Todo mundo já sabia que isso iria acontecer. Mas, agora, temos números detalhados que demonstram o tamanho do buraco em que a toda-poderosa Disney se meteu. O filme “As Marvels”, novo componente do colossal Universo Cinematográfico Marvel, flopou miseravelmente nas bilheterias em seu final de semana de estreia. Foram apenas US$ 47 milhões em território norte-americano - um resultado ainda pior que o filme solo do Hulk, de 2008, que detinha, até então, o posto de pior bilheteria de estreia da Marvel. Fora dos Estados Unidos, a arrecadação total foi de US$ 63 milhões.
Todos já sabiam que o filme seria um grande fracasso - até mesmo a própria Marvel. Restava apenas saber o tamanho do buraco. As expectativas para o final de semana de estreia do filme foram corrigidas de US$ 80 milhões para US$ 60 milhões - e, depois, para menos de 50. E olha que a Disney até tentou reverter o tamanho do estrago. A empresa gastou muito dinheiro na promoção do filme para tentar levantar um hype que não estava acontecendo -afinal de contas, e justiça seja feita, ninguém estava nem aí para esse filme!
A verdade é que o filme “As Marvels” estava condenado desde o seu primeiro teaser. Quando o pequeno vídeo foi divulgado aqui no YouTube, ele se tornou recordista de dislikes dentre todos os teasers da Marvel até então. Ali, já dava pra saber que a mistura de lacração com tom cômico de Sessão da Tarde não iria dar muito certo nos cinemas. Agora já temos a confirmação desse fracasso. Posto que o filme custou US$ 250 milhões de dólares para ser produzido, e que precisaria fazer US$ 750 milhões para ser lucrativo, dá pra termos uma dimensão do tamanho desse buraco. “As Marvels”, agora, se junta ao fatídico clube dos filmes de heróis fracassados de 2023 - junto com Homem Formiga, The Flash e outros.
Mas quais são os motivos que levaram esse filme a fracassar miseravelmente nas bilheterias? As explicações são várias; mas, em primeiro lugar, podemos citar o efeito lacração. A ideia por trás desse filme era colocar em destaque 3 protagonistas empoderadas, independentes e donas de sua própria vida - ou algo assim. Faltou apenas desenvolver essas personagens para que elas se tornassem mais interessantes para o grande público. A coisa toda foi feita de uma forma tão apressada que os fãs da Marvel acabaram não comprando este barato.
Além disso, as pessoas estão ficando cada vez mais espertas para captar tentativas forçadas de lacração. Mesmo em um teaser ou em um trailer, os possíveis espectadores já podem ter uma ideia de qual será o teor do filme. E, como temos visto com cada vez mais frequência, esse tipo de criação lacradora tem tido uma rejeição crescente entre o público geral. O resultado prático é que, ao menor sinal de lacração, o fracasso nas bilheterias está garantido.
Mas os problemas não param por aí. A verdade é que o universo Marvel se tornou tão grande e ambicioso que é praticamente impossível acompanhar tudo o que está acontecendo por lá. Veja, por exemplo, o caso do filme em questão. Os grandes fãs da Marvel certamente já conhecem a Capitã Marvel dos filmes anteriores da saga. Porém, para conhecer a outra protagonista, Monica Rambeau, é necessário primeiro assistir à série WandaVision.
E, para conhecer a terceira protagonista, a Miss Marvel, que tem como principal característica ser adolescente, paquistanesa e muçulmana - e eu não estou brincando! - você tem que assistir à sua série própria, no Disney +. Me diga se vale a pena todo esse investimento de tempo para acompanhar um filme ruim, com personagens tão desinteressantes?
O fato é que algo de errado não está certo com o Universo Cinematográfico da Marvel. Já há algum tempo, a sua fórmula tem mostrado sinais de desgaste. E os seus fracassos recentes em bilheteria se tornam ainda mais marcantes quando comparados com o sucesso de outras obras - muitas das quais lançamentos independentes. Nós já tratamos sobre alguns casos do tipo, aqui no canal - como o bem-sucedido “His Only Son”, que retrata o personagem bíblico Abraão, e o fenomenal “Som da Liberdade”, que dispensa comentários. Os links para esses vídeos estão na descrição.
Se por um lado grandes filmes estão fracassando miseravelmente nas bilheterias, obras menores, com investimento mais modesto, têm dado grandes resultados nas telonas. O que explica essa discrepância nos retornos? O próprio fator econômico tem o seu peso nessa história. Investimentos mais altos demandam um retorno mais expressivo para serem viáveis. Já obras pequenas e independentes, como os dois filmes citados, se pagam com um pequeno valor de retorno. No fim das contas, estas acabam sendo um negócio muito mais lucrativo.
Mas temos que levar em conta também a temática das obras citadas. O filme As Marvels se banca totalmente pela questão da lacração. Conforme mencionado, a ideia por trás da obra é retratar 3 mulheres poderosas, de diferentes etnias e condições sociais, mas que têm um poder muito acima da média dos personagens masculinos. E sim, elas são realmente poderosas! Basta se lembrar que o filme solo da Capitã Marvel só existiu porque, na trama, ela ainda estava sem controle pleno de seus poderes. Quem já assistiu ao novo filme, inclusive, afirma que os poderes dela foram reduzidos nesta nova obra. Afinal de contas, estamos falando de uma personagem que levou uma cabeçada do Thanos, e nem se mexeu!
A ideia por trás do filme, portanto, não é criar personagens interessantes e que cativem o público - algo que a Marvel fez muito bem no passado. Essa é uma tarefa que demanda tempo, paciência e um trabalho bem feito. Sem personagens cativantes, não há o que fazer: o público não vai comprar essa ideia. Foram necessários 5 anos para que todos os Vingadores fossem apresentados ao público, desenvolvidos em seus próprios filmes, e enfim lançados como uma equipe. Criar um novo time de supermulheres lacradoras, de forma apressada, não vai surtir o mesmo efeito - definitivamente.
Este caso, porém, também nos chama atenção para o poder da informação descentralizada e distribuída. Conforme dito anteriormente, o filme já estava condenado quando do lançamento de seu primeiro teaser. Acontece que a internet não perdoou o tom lacrador da obra e, tão logo essa percepção se espalhou pelas redes sociais, o destino da obra ficou inevitavelmente selado. Ou seja, nem todo o dinheiro do mundo foi capaz de reverter o marketing negativo causado por um fenômeno essencialmente descentralizado: o das redes sociais.
Aliás, a própria Marvel e suas distribuidoras parecem ter percebido esse fenômeno. Se você acompanha críticas cinematográficas na internet, provavelmente você reparou que, de umas semanas para cá, vários influencers da área começaram a divulgar o filme. Foram feitos vídeos com sinopses e resumos do enredo, ou então, dando o contexto geral das suas 3 personagens. Alguns collabs inesperados foram realizados, e a impressão geral era a de que muita gente levou dinheiro nessa história, para falar bem de um filme que não estava levantando o hype da galera. Certas críticas, inclusive, se assemelham mais a materiais publicitários.
Não é possível bater o martelo a esse respeito, mas é bem provável que as distribuidoras colocaram dinheiro para que os influencers divulgassem o filme. Afinal de contas, é fácil entender essa lógica: os críticos do YouTube têm muita relevância, quando o assunto é qual filme o espectador vai assistir nos cinemas. Contudo, nem mesmo esse esforço foi capaz de impedir o fracasso do filme As Marvels.
Isso nos demonstra que, no fim das contas, a internet é muito mais descentralizada que os influenciadores digitais. Nem mesmo um suposto movimento coordenado entre os críticos do YouTube foi capaz de reverter um cenário negativo que já havia se disseminado por meio das redes sociais. Mais uma vez, o poder da descentralização se mostra muito maior e muito mais efetivo que o dos grandes conglomerados da indústria cinematográfica de Hollywood.
A mídia lacradora até que tenta salvar o filme. Aqui no Brasil, inclusive, já vemos sites esquerdistas publicando coisas como: “As Marvels é tão bom que vai fazer muito machista se render e comprar o ingresso” - uma crítica que diz, inclusive, que esse filme “merece ir bem nas bilheterias”. A verdade é que, em se tratando de livre mercado, não existe essa conversa de um suposto "merecimento". Só vai ter resultado, só vai ter lucro, quem atender às demandas dos consumidores. E, nesse quesito, o filme As Marvels parece ter fracassado com gosto.
Ainda é cedo para dimensionar o tamanho de mais esse flop cinematográfico da outrora toda-poderosa Marvel. Estamos na primeira semana de exibição, e os números consolidados vão demorar algum tempo para aparecer. Eventualmente, o filme pode até se recuperar, como aconteceu em outros casos recentes. A verdade, porém, é que algo já mudou de forma definitiva nessa indústria. E se a Marvel não se ligar de vez nessa situação, pode ser que ela acabe perdendo totalmente a sua relevância. No fim das contas, estamos vivendo mesmo na era da informação descentralizada e distribuída, quando filmes pequenos e de pouco orçamento são capazes de bater de frente com grandes blockbusters da indústria de Hollywood.
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https://www.terra.com.br/nos/opiniao/lua-andrade/as-marvels-e-tao-bom-que-vai-fazer-muito-machista-se-render-e-comprar-o-ingresso,b4ac18421a14597780f4e592632aaf0503m4y91p.html