Depois de provar o melhor e o pior do estado, o melhor mesmo é viver à parte dele!
Ben Hur: a tale of the Christ, ou em português Ben-Hur: uma história dos tempos de Cristo, é um livro escrito por Lew Wallace no ano de 1880. A obra fez sucesso rapidamente, tornando-se best seller já em seu lançamento.
O livro é um romance que conta a história de um personagem fictício chamado Judá Ben-Hur e seu irmão adotivo Messala, em meio à ocupação Romana na Galileia, em meados do ano 26 até o ano 38. Foi justamente no período histórico em que Jesus Cristo andava e pregava pela região junto com seus discípulos. Acontece que Judá Ben-Hur é um judeu rico que participa da nobreza de Jerusalém, enquanto Messala é um cidadão romano, no entanto, destituído de posses ou riqueza.
Desse livro foram feitas adaptações ao cinema para o filme homônimo de 1925 e da grandiosíssima produção de 1959, que ganhou 11 Oscars de suas 12 indicações. Tendo sido o filme mais caro produzido até então e para o qual foram construídos os maiores cenários.
Outra adaptação, também grandiosa, foi o filme homônimo de 2016, mas que infelizmente não se compara com o clássico de 1959. Claro, tudo o que se refere à tecnologia, como os efeitos especiais, foram aprimorados na obra cinematográfica mais atual.
Vamos tratar dessa história e, portanto, será impossível não apresentar spoilers de quaisquer um dos filmes. Então, caso ache melhor veja-os primeiro e depois volte aqui para conhecer nossa famosa visão libertária sobre o tema.
Desde o início, se nota uma certa tensão entre Judá e Messala. Por terem crescido juntos, desenvolvem uma relação de cooperação, mas por outro lado também de disputa entre si. Já na idade adulta, Judá herda os títulos e as posses de sua família, enquanto Messala herda apenas sua cidadania Romana, o que obviamente não era pouco. Era como ter um passaporte global com um monte de regalias hoje em dia. Então, enquanto Judá deseja apenas manter a posição de sua família dentro da Galileia ocupada, Messala tem que encontrar seu lugar no mundo.
E, para um romano, só há uma maneira de enriquecer rapidamente ou morrer de maneira honrosa, é tornando-se um soldado do temível exército romano e partindo para conquistas de territórios cada vez mais longínquos. Enquanto Judá permanece administrando os bens de sua família, Messala parte em uma jornada de busca por sua individualidade, no intuito de encontrar um sentido para sua vida e ao mesmo tempo adquirir riquezas, status e patrimônio.
Bem, estamos apenas contando o filme, certo? Não é nosso objetivo primordial fazer aqui um juízo da situação. Mas o fato é que realmente havia no Império Romano esse ímpeto por entrar no exército e partir em lutas para a “glória de Roma”.
Obviamente, a iniciação de conflitos e guerras vai contra a ética libertária e essa prática do Império Romano é detestável aos nossos olhos. No entanto, naquela época e naquele lugar, era uma honra entrar para o exército e derrotar inimigos bárbaros. Por isso, na cabeça de Messala, o que ele estava fazendo era de grande valor para a sociedade romana e seu êxito o afirmaria dentro da hierarquia do Império.
Traduzindo para os dias de hoje, seria como se você conseguir uma licitação fraudulenta bilionária com ares de legalidade, e com isso ficasse amiguinho da turma do alto escalão do governo. É totalmente antiético, mas a turma do amor adora!
Voltando ao filme. O fato é que o desejo de Messala por galgar postos na hierarquia infame do Império Romano foi, ao longo do tempo, transformando-o em um ser bestializado, fazendo-o se afastar de sua natureza humana.
Nesse aspecto, podemos traçar um paralelo com os funcionários públicos da atualidade, pois ao submergirem na burocracia do Leviatã, acabam perdendo a capacidade de julgamento e também se afastando de sua natureza humana.
Quando Messala regressa em desfile orgulhoso de suas campanhas bélicas, cheio medalhas e condecorações, e agora ocupando um alto cargo na hierarquia militar Romana, não demora para ele praticar a injustiça típica dos estatistas. Ele decide acusar e condenar Judá por um crime de atentado contra o estado democrático de direito, quer dizer, contra o imperador de Roma, que na época se chamava Xandonius, e devia ser um careca de toga. Brincadeiras à parte, o fato é que Judá que sempre levou uma vida confortável em sua terra natal, agora vai experimentar a dureza do Império Romano. Ele acaba sendo encarregado de servir como escravo nas Galés de guerra ou barcos trirreme, como eram chamados na época. Inclusive, essas cenas do filme de 1959 são muito mais chocantes que as do de 2016.
Após naufragada a embarcação onde Judá estava acorrentado, ele acaba se encontrando provavelmente no Norte da África, onde conhece uma tribo árabe local, cujo chefe, o Sheik Ilderim, conhecido como o generoso, provia cavalos para Roma.
Já de cara se percebe que a organização social nessa tribo é muito mais próxima de um ancapistão do que toda a organização social judia ou Romana. O agrupamento claramente é baseado em voluntarismo e no reconhecimento do sheik como uma liderança local. O sheik hospeda visitantes e viajantes sem se importar com sua religião, descendência ou procedência. Seu negócio parece ser manter uma boa convivência entre as pessoas que vivem ali e direcionar os esforços para criar bons cavalos, que serão comercializados com Roma. O tempo todo ele parece evitar conflitos e guiar as pessoas para um objetivo em comum, alinhando os incentivos, situação na qual todos saem ganhando.
Então com o patrocínio do Sheik Ilderim, Judá parte para a capital do império Romano a fim de participar de uma corrida de bigas, com o intuito principal de desafiar e derrotar Messala, humilhando-o dentro de sua própria terra.
Bem, a cena da corrida de bigas é uma das mais épicas da história do cinema! É majestosa, grandiosa, brutal e imperdível. Biga é o famoso carro de guerra romano e especificamente nessa corrida, se dava com bigas tracionadas por quatro cavalos. Agora imagina o que é uma pequena estrutura de madeira sobre rodas puxada por 4 dos melhores cavalos de cada região do mundo conhecido? Seria como colocar um motor de Ferrari numa carcaça de Uno quadrado! Simplesmente não tem como controlar.
Dessa corrida maluca Messala sai gravemente ferido e Judá sagra-se vencedor. Pra encurtar a conversa, no final das contas, Judá e Messala retomam a amizade e voltam a viver em família.
Mas é na produção de 2016 que chama atenção a última cena do filme. Vemos Judá, Messala e toda a família deixando a civilização Romana e partindo com o Sheik Ilberim de volta para sua terra.
O diretor então sugere que após ambos irmãos de criação terem tido contato com o melhor e com o pior das civilizações romana e hebraica, e depois dos dois terem experimentado a glória e o fracasso em ambos os mundos, concluem que nenhum deles é capaz de abarcar o espírito humano e dar sentido à vida. Na verdade, observamos que nenhum deles está voltado para o indivíduo!
É verdade que nessas civilizações, como em todas, as situações em que o indivíduo é colocado podem levá-lo a um desenvolvimento pessoal. Mas esse não é o objetivo! Para os romanos é a gloria de Roma que vale! Pouco importa se o soldado morre numa guerra sem sentido. Para Judá era manter a posição social de sua família e evitar conflitos com os romanos, o que também não deu certo.
Poderíamos atualizar esses ensinamentos considerando a natureza juspositivista do estado moderno, no qual são desconsideradas as leis universais e a natureza humana. De que adianta cumprir as leis estatais se elas são estúpidas, contraditórias e mudam o tempo todo? Isso não vai te trazer nenhum tipo de sentido para a vida. Há que se buscar o que é eterno e imutável, como nos ensinava o professor Milton Santos, o último filósofo da USP e que obviamente não era do departamento de filosofia.
No caso do romance, ambas civilizações - do Império Romano e Jerusalém - dão prevalência para uma visão coletivista, na qual o indivíduo é tratado apenas como uma peça numa engrenagem. O indivíduo é suprimido dentro de uma hierarquia anti-humana e que leva a valores contrários à sua natureza, causando dor, sofrimento e morte.
A saída que Judá, Messala e sua família encontraram foi abandonar todo esse sistema pervertido e buscar uma organização social que se aproximasse do ser humano enquanto indivíduo, que o respeitasse e valorizasse.
Assim, o diretor da produção de 2016 antecipa o que ocorreria na idade média com o desmantelamento do Império Romano. Pequenas comunidades foram naturalmente se formando em torno de lideranças locais. Nessas comunidades havia descentralização, subsidiariedade, vínculo entre as pessoas, identificação mútua e paz.
Também não estamos dizendo que a Idade Média foi um mar de rosas. Mas se quiser saber mais, assista agora o vídeo “A SOCIEDADE CYBER medieval”, o link segue na descrição.
A SOCIEDADE CYBER medieval
https://www.youtube.com/watch?v=6G8q9wcvA1o
Ben Hur (1959) - Película Completa en Español
https://www.youtube.com/watch?v=JSNOVq_sBDo