Por incrível que pareça, esse bizarro caso pode nos ensinar uma ótima lição sobre o funcionamento do estado.
Esse fato bizarro aconteceu mais uma vez. Poderia ter sido em Copenhague, na Dinamarca; ou então, em Zurique, na Suíça; ou mesmo em Estocolmo, na Suécia. Mas essa bizarrice alimentícia teve lugar no Maranhão - estado brasileiro que já possui uma verdadeira tradição, no que se refere à destruição de bolos comemorativos. Diga-se de passagem, o Maranhão não foi apenas, durante décadas, o feudo da Família Sarney; ele é também o estado de origem do agora supremo ministro comunista Flávio Dino, possuindo - que coincidência! - o pior IDH do Brasil.
A mais nova destruição de um bolo de grande comprimento aconteceu no município de São Mateus do Maranhão - por ocasião dos festejos dos 62 anos de fundação da cidade. Para abrilhantar a festa, o prefeito teve a criativa ideia de fazer um bolo de 62 metros de comprimento para ser degustado por toda a população local. E, como as imagens que circularam pela internet logo na sequência do evento demonstram, a coisa não saiu muito bem como o planejado.
Basicamente, as pessoas avançaram descontroladamente sobre o bolo, enfiando a mão e arrancando pedaços, de qualquer jeito, enfiando-os, na sequência, dentro de sacolas plásticas. Graças a essa bagunça toda, o métrico bolo ficou destruído em questão de segundos, enquanto todos os que participaram da farra - desde crianças até pessoas de idade - ficaram cobertos de restos de bolo e chantilly. No fim da “partilha” - ou seria melhor dizer: “esquartejamento” - do bolo, os presentes iniciaram uma guerra de comida com os restos mortais daquele alimento. Em resumo: foi uma imagem vergonhosa e lamentável.
A atitude dos presentes nesse lastimável evento não faz sequer sentido. Afinal de contas, quem é que vai comer um bolo que foi enfiado de qualquer jeito, numa sacola plástica? Provavelmente, ninguém conseguiu comer o bolo naquele dia - pelo menos não degustá-lo de forma adequada, como certamente era o objetivo da prefeitura da cidade. Isso implica dizer, portanto, que uma expressiva quantidade de comida foi desperdiçada naquela comemoração. Ou seja: recursos escassos foram gastos, sem que isso representasse benefício para ninguém.
Em tempos de internet e redes sociais, é claro que zoeiras de todo o tipo surgiram. Entre elas, algumas que mostram outros primatas comendo bolo de uma forma comportada, até mesmo o fato de os munícipes de São Mateus terem votado em peso no Lula. A verdade é que - acredite ou não - outra cidade do Maranhão já teve uma tradição do tipo. No caso, trata-se da cidade de Imperatriz. Tanto que, nos últimos anos, o bolo de dezenas de metros foi reduzido para um bolo de centímetros, para impedir que a destruição pública do bolo virasse meme de novo.
A verdade, porém, é que vários podem ser os motivos que explicam esse tipo de comportamento inadequado, por parte dos cidadãos das referidas cidades. Tanto com seres humanos, como com outros primatas, vale a questão das respostas dadas aos incentivos. Maus incentivos reforçarão comportamentos reprováveis - e isso é verdade tanto no mundo animal, quanto na sociedade humana. Muito provavelmente, foi isso o que motivou a bizarrice que teve lugar em São Mateus do Maranhão.
A outra piada, a da política, também é boa, mas ela precisa ser tirada do caminho: esse comportamento reprovável não se deve aos interesses eleitorais dos moradores da cidade. Embora o povo de São Mateus tenha votado em peso no Lula, a verdade é que os moradores de Imperatriz - a outra cidade conhecida por destruir bolos compridos - votaram majoritariamente no Bolsonaro. Ou seja, não se trata de uma questão que reflete as tendências políticas dos moradores locais.
A explicação também não reside no tamanho do bolo. Afinal de contas, certamente você já viu bolos enormes sendo partilhados, sem que isso terminasse em guerra de comida. Na verdade, ainda em 2023, outro bolo de 62 metros, confeccionado para comemorar o aniversário de 62 anos de emancipação de uma cidade, foi partilhado entre os moradores, sem qualquer tipo de confusão. Trata-se do município de Sapucaia do Sul, no Rio Grande do Sul, onde o bolo foi bem dividido e comido por todos. Por sinal, essa cidade deu vitória ao Lula, nas eleições passadas. No fim das contas, pode ser mesmo que a estratégia de fatiar o bolo, e distribuí-lo entre as pessoas, seja mais eficiente do que deixar o povo avançar sobre a comida.
Mas o que isso tudo tem a ver com o funcionamento do estado? O que isso pode nos dizer, do ponto de vista libertário? Acredite ou não, a destruição do bolo público, gratuito e de qualidade em São Mateus é um exemplo claro da tragédia dos comuns, aplicada a bens públicos. E isso, por sua vez, nos ensina muito bem sobre como funciona o estado, e como são os incentivos que ele fornece à população.
De forma mais específica, esse caso demonstra bem o funcionamento da tragédia dos comuns. Essa expressão se refere ao uso indiscriminado de um bem tido como de uso público e que, portanto, termina por ser depredado por todos. Imagine, por exemplo, um lago público, onde todos os pescadores profissionais possam pescar, sem regras, nem restrições. O melhor uso desse recurso seria todos pescando de uma forma controlada, para manter a quantidade de peixes sempre estável. Nesse cenário, não faltaria peixe para ninguém.
Porém, em algum momento, um dos pescadores vai olhar para o seu vizinho e pensar: “Eu acho que esse sujeito vai começar a pescar demais, para ter mais lucro. Se ele fizer isso, todo mundo vai ter menos peixe, mas ele vai ganhar mais dinheiro. Então, é melhor eu sair na frente e começar a capturar mais peixes, para evitar ficar de mãos abanando quando aquele sujeito começar a pescar de forma predatória”. Infelizmente, a tendência é que mais pessoas pensem dessa forma, consumindo todos os recursos disponíveis, antes que outras pessoas o façam. Quando isso acontece, os recursos se esgotam rapidamente - e temos, portanto, a tragédia dos comuns.
Esse tipo de problema, contudo, tende a ser mitigado com a propriedade privada. Se o lago em questão fosse privatizado, a tendência seria a de que o seu uso fosse muito mais inteligente, de forma a não depredar completamente o bioma local. Afinal de contas, se os peixes simplesmente acabassem, o dono do lago ficaria sem faturamento. Por isso, ele tentará evitar, ao máximo, esse trágico cenário.
Acontece que a tragédia dos comuns não se aplica apenas aos recursos naturais - ela também se estende a tudo o que o estado oferece ao povo, de forma supostamente gratuita. A coisa já começa errada justamente por conta do preço, e de sua relação com a demanda. Se determinado produto ou serviço aparenta ter um preço zero, então sua demanda tenderá ao infinito. Se a fatia do bolo custasse, digamos, R$ 5, então automaticamente haveria ordem na divisão. Em primeiro lugar, porque a demanda pelo bolo seria menor, do que se ele fosse gratuito. Em segundo lugar, a ordem viria porque ninguém quer correr o risco de pagar por um pedaço de bolo e ficar sem esse pedaço depois.
Porém, com um preço aparente de zero, a tragédia dos comuns tomou conta de São Mateus. Cada pessoa naquele local sabia que, atrás de si, tinha alguém com ainda mais vontade de comer bolo, e que avançaria sobre ele de forma impetuosa. O que cada indivíduo pensou, ainda que de forma instintiva? “Se eu não correr também, vou ficar sem o bolo”. Portanto, todos avançaram para evitar ficar sem comer ao menos um pedaço. No fim das contas, tudo foi destruído, sem que qualquer um deles pudesse saborear o tal do bolo. Ou seja, seu uso foi o pior possível.
Acontece que esse fenômeno não se aplica apenas à comida - ele também vale para escolas, hospitais, benefícios estatais, e coisas do tipo. A tendência é que as pessoas usem essas benesses à exaustão, fazendo com que sua qualidade seja drasticamente reduzida, e elevando, artificialmente, sua demanda. É por isso que, em se tratando de bens oferecidos pelo estado, a depredação é quase uma regra. Todos querem usar o máximo possível - é de graça mesmo! Por conta desse uso indiscriminado, tudo custa muito caro aos cofres públicos, mas a qualidade é deplorável.
Para todos esses casos, a privatização é e sempre será a solução - até mesmo em se tratando de bolos comemorativos. Um bolo de 62 metros, feito pela iniciativa privada, ainda que seja distribuído gratuitamente aos participantes, terá regras mais bem estabelecidas, que vão fazer com que a coisa toda fique organizada, sem descambar para a barbárie. Tudo por conta dos corretos incentivos dos quais apenas a iniciativa privada dispõe. No fim das contas, não existe mesmo nada grátis. Nem almoço, nem bolo de 62 metros.
https://www.youtube.com/watch?v=aAjTrIktEt4
https://www.poder360.com.br/eleicoes2022/apuracao/2turno/?cargo=0001&turno=545&uf=MA&mun=08036&zona=0&partido=null
https://berlinda.com.br/2023/08/21/62-anos-aniversario-de-sapucaia-do-sul-reune-milhares-de-pessoas/
https://twitter.com/palestrinasih/status/1413529755719278595/video/1
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