Quando adultos recorrem a chupetas para lidar com a ansiedade, algo maior está acontecendo: uma sociedade que perdeu a capacidade de formar indivíduos resilientes e autossuficientes
A internet mais uma vez nos presenteia com uma de suas pérolas culturais mais perturbadoras: jovens adultos usando chupetas como "acessório de alívio ao estresse". O que começou na China e se popularizou no TikTok, agora chega ao Brasil como mais uma "tendência revolucionária" para combater a ansiedade moderna. Sim, você escutou corretamente. Ao invés de estarmos formando adultos responsáveis e resilientes, estamos celebrando a volta literal aos objetos de conforto da primeira infância.
De acordo com o South China Morning Post, as chupetas são vendidas sob a premissa de melhorar a qualidade do sono, aliviar o estresse diário e, até mesmo, auxiliar no processo de abstinência do fumo. Chega a ser cômico: uma geração que se vangloria de ser "desconstruída" e "evoluída" está literalmente regredindo para os primeiros meses de vida para lidar com as pressões da realidade adulta.
Mas antes de descartar isso como mais uma excentricidade passageira das redes sociais, precisamos reconhecer o que essa tendência revela sobre nossa sociedade contemporânea. Porque por trás dessa aparente inocuidade está operando algo muito mais sombrio: a infantilização deliberada de uma geração inteira.
Segundo a matéria publicada no Metrópoles, os jovens — especialmente da geração Z — diante de um cenário marcado por instabilidade econômica, polarização política e crescente preocupação com as mudanças climáticas, buscam formas de conforto emocional e alívio da ansiedade utilizando a chupeta. Que conveniente culpar "mudanças climáticas" e "polarização" por uma incapacidade básica de lidar com as responsabilidades da vida adulta!
Nós estamos testemunhando os frutos podres de décadas de superproteção parental, educação emocional distorcida e uma cultura que trata adultos como crianças eternas que precisam ser constantemente consoladas e validadas. Um em cada quatro participantes da pesquisa, pertencentes à Geração Z, ou seja, 25% dos jovens, declara sentir-se estressado emocionalmente, quase o dobro dos níveis relatados pelos participantes da Geração X e Millennials (13% cada).
Não é coincidência que a mesma geração que exige "espaços seguros" em universidades, que cancela pessoas por piadas consideradas ofensivas e que trata opiniões contrárias como "violência", agora esteja literalmente usando chupetas para lidar com o estresse. É a consequência lógica de uma educação que priorizou autoestima artificial sobre resiliência real, que substituiu o desenvolvimento do caráter pela gestão constante das emoções.
Há quem diga que a popularidade do item pode ser analisada na psicologia por meio de fenômeno conhecido como regressão. "Regressão" — uma palavra elegante para descrever adultos funcionalmente incapazes de processar ansiedade sem uma chupeta na boca!
Mas não se engane: por trás dessa tendência "fofa" e "inofensiva" está operando uma indústria bilionária que lucra com a perpetuação da fragilidade emocional. A reportagem chinesa alerta para a ascensão das chupetas adultas como reflexo de um mundo em crise emocional. Ainda segundo a reportagem do Metrópoles, com o aumento de casos de ansiedade e burnout, especialmente entre jovens, cresce também a busca por formas alternativas, e muitas vezes simbólicas, de conforto.
"Simbólicas" — que eufemismo interessante para descrever a comercialização da infantilidade. Porque é exatamente isso que está acontecendo: empresas descobriram que existe um mercado lucrativo em vender regressão psicológica embalada como "bem-estar" e "autocuidado".
É a mesma lógica que transformou universidades em creches de luxo, que criou uma epidemia de "ansiedade" diagnosticada em pessoas que simplesmente nunca aprenderam a lidar com o desconforto normal da vida, que medicalizou a tristeza e transformou cada desafio existencial em transtorno mental. A fragilidade virou produto, e que produto rentável!
E aqui chegamos ao cerne da questão: o estado assistencialista moderno não apenas permitiu essa infantilização — ele a financiou, incentivou e institucionalizou. Quando o governo assume o papel de provedor universal, quando elimina as consequências naturais das escolhas individuais através de programas sociais intermináveis, quando transforma cidadãos em dependentes permanentes, o resultado inevitável é uma população psicologicamente infantil.
Pense na lógica perversa: jovens que nunca precisaram assumir responsabilidade financeira real, pois vivem no porão dos pais até os 30, que têm acesso a ensino superior subsidiado pelo estado, onde podem "estudar" teorias inúteis por décadas, que contam com renda básica universal para "artistas" e "ativistas", que têm acesso gratuito a terapia psicológica, financiada por aqueles que trabalham, para tratar sua "ansiedade" autodiagnosticada. É claro que essa geração precisa de chupetas! O estado já funciona como uma chupeta gigante há anos!
O uso de acessórios como a chupeta pode até trazer um alívio momentâneo para algumas pessoas, mas não substitui intervenções adequadas que promovam o equilíbrio emocional a longo prazo. Mas quem se importa com soluções de longo prazo quando você pode vender alívio instantâneo e viciante?
O estado assistencialista descobriu há décadas que cidadãos dependentes são cidadãos controláveis. Uma população que precisa do governo para resolver cada problema, que espera auxílios e subsídios para cada dificuldade, que corre para programas sociais a cada momento de desconforto, é uma população que nunca questionará o poder crescente desse mesmo estado.
As chupetas adultas são apenas a manifestação física de um processo muito mais amplo: a transformação deliberada de cidadãos em dependentes emocionais e econômicos. É a mesma mentalidade que exige "trigger warnings" em livros universitários, que demanda "espaços seguros" para adultos que não conseguem ouvir opiniões contrárias, que transforma cada desafio da vida em uma questão de "saúde mental" que precisa ser resolvida com recursos públicos.
Agora, em uma perspectiva puramente libertária, cada indivíduo tem o direito inalienável de fazer escolhas sobre sua própria vida, mesmo que essas escolhas sejam objetivamente patéticas. Se um adulto de 25 anos quer usar uma chupeta em público, essa é uma decisão que diz respeito exclusivamente a ele. O estado não tem — e nem deveria ter — qualquer autoridade para proibir ou regulamentar essa prática.
A liberdade individual inclui, necessariamente, a liberdade de ser ridículo, de fazer escolhas que outros considerem inadequadas ou mesmo degradantes. Em uma sociedade verdadeiramente livre, não cabe ao governo determinar quais métodos de alívio de estresse são "apropriados" para adultos.
Mas — e aqui está o ponto crucial — liberdade individual não significa ausência de consequências sociais ou julgamento moral. Uma sociedade funcional depende de normas culturais que incentivem comportamentos construtivos e desencorajem comportamentos destrutivos. E transformar a regressão infantil em tendência "cool" é, inquestionavelmente, destrutivo para o tecido social.
Os especialistas, cuja especialidade é falar asneiras, dizem que isso se deve ao fato de que, em suas curtas vidas, essas duas gerações suportaram "convulsões políticas e ondas de violência".
Mas que convulsões políticas? Que ondas de violência? Estamos falando da geração mais protegida, mais próspera, com mais oportunidades e menos conflitos reais da história humana! Nossos bisavós enfrentaram guerras mundiais, depressões econômicas devastadoras, doenças que dizimavam populações inteiras. E eles não precisavam de chupetas para lidar com o estresse — eles construíam civilizações.
A verdade é que criamos uma geração de adultos-crianças que foram sistematicamente privados de experiências que desenvolvem resiliência: responsabilidade real, consequências genuínas, a necessidade de resolver problemas sem supervisão constante, o direito de falhar e aprender com os erros.
Mas apesar dessa geração ter sim sua parcela de culpa, a verdade é que esse comportamento é mais o produto de uma ação deliberada do estado, do que da própria mudança geracional. Quando o governo promete ser a solução para todos os problemas — desemprego, falta de moradia, custos de saúde, mensalidades universitárias, até mesmo "ansiedade climática" — ele necessariamente precisa manter as pessoas em estado de dependência perpétua. Um cidadão verdadeiramente adulto e autossuficiente é uma ameaça ao poder estatal. Um adulto que resolve seus próprios problemas, que assume responsabilidade por suas escolhas, que constrói riqueza independente, não precisa de políticos prometendo cuidar dele "do berço ao túmulo".
Esta mudança tem gerado consequências negativas para a saúde mental da Geração Z, como evidencia o aumento alarmante de casos relatados de depressão, ansiedade e automutilação. Mas ao invés de questionarmos o sistema que produziu essa fragilidade, preferimos medicar, acomodar e, agora, infantilizar ainda mais.
O círculo vicioso está completo: o estado cria dependência através de políticas assistencialistas. A dependência gera ansiedade e imaturidade psicológica. A ansiedade é diagnosticada como "problema de saúde mental". O estado oferece mais programas e recursos para "resolver" o problema que ele mesmo criou. Mais dependência é gerada.
E no final, temos adultos usando chupetas porque literalmente nunca aprenderam a se acalmar sozinhos. Por que aprenderiam? Sempre houve um programa governamental, um subsídio, uma rede de segurança, um "especialista" pago com dinheiro público para resolver seus problemas para eles.
"A ansiedade é decorrência da insegurança quanto ao futuro", afirma Dani Plesnik, diretora da Deloitte Brasil. Mas essa insegurança não vem de um futuro objetivamente mais perigoso — vem de uma geração que nunca desenvolveu as ferramentas psicológicas básicas para navegar nas incertezas normais da existência humana.
Nossos ancestrais não tinham garantias sobre o futuro. Eles não tinham redes de segurança social, não tinham terapeutas validando cada sentimento, não tinham uma sociedade inteira organizando-se ao redor de seu conforto emocional. E ainda assim, eles construíram famílias, edificaram comunidades, criaram arte, avançaram a ciência, expandiram os horizontes humanos.
O que eles tinham que nós perdemos? Propósito. A compreensão de que a vida tem significado além do próprio bem-estar emocional. A aceitação de que o desconforto é parte integral do crescimento. A responsabilidade de deixar o mundo melhor para as próximas gerações. Mas principalmente: eles tinham que contar apenas consigo mesmos.
Essa necessidade de autossuficiência forçava o desenvolvimento de músculos psicológicos que hoje estão atrofiados. Quando você sabe que precisa resolver seus próprios problemas, você desenvolve a capacidade de resolvê-los.
Se continuarmos nessa trajetória — celebrando a regressão, comercializando a fragilidade, tratando adultos como crianças eternas — o resultado será uma sociedade incapaz de enfrentar qualquer desafio real. E desafios reais sempre chegam, goste você ou não.
Pandemias, crises econômicas, conflitos geopolíticos, mudanças tecnológicas disruptivas — o futuro exigirá pessoas capazes de tomar decisões difíceis, de sacrificar conforto imediato por benefícios de longo prazo, de liderar quando outros precisam ser liderados.
Uma geração que precisa de chupetas para lidar com ansiedade cotidiana não está preparada para liderar coisa alguma. Está preparada apenas para ser liderada — e não necessariamente por pessoas que têm os melhores interesses em mente.
No final das contas, a tendência das chupetas adultas não é sobre liberdade individual versus controle social. É sobre uma escolha civilizacional fundamental: queremos uma sociedade de adultos ou uma sociedade de crianças eternas?
A resposta que dermos — não apenas em palavras, mas em ações, em escolhas educacionais, em normas culturais — determinará se as próximas décadas serão marcadas pelo crescimento humano ou pela regressão permanente.
E se escolhermos errado, não haverá chupeta grande o suficiente para nos consolar quando descobrirmos as consequências dessa decisão.
Porque no final, a vida adulta não é sobre encontrar maneiras cada vez mais criativas de evitar desconforto. É sobre desenvolver a capacidade de enfrentar esse desconforto, de crescer através dele, de transformá-lo em sabedoria e força.
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/geracoes-y-e-z-tem-niveis-mais-altos-de-ansiedade-diz-psicologa/
https://www.eusemfronteiras.com.br/os-perigos-da-infantilizacao-e-os-transtornos-psicologicos-da-geracao-z-na-era-da-internet/
https://www.scmp.com/news/people-culture/trending-china/article/3320266/adult-pacifiers-trending-china-stress-relief-and-sleep-doctors-warn-health-risks
https://portalmanaos.com.br/2025/08/16/adultos-usando-chupetas-vira-nova-tendencia-mas-especialistas-alertam-para-riscos/