Deputado do PT troca socos na rua e termina com o nariz quebrado, alegando racismo — mas vídeos mostram que ele próprio diz “deixa comigo” antes do confronto. O caso gerou novas denúncias por decoro e reacendeu o debate sobre seu histórico de violência.
Na manhã de 19 de novembro de 2025, o deputado estadual paranaense Renato Freitas (PT) protagonizou uma cena surpreendente em uma rua do centro de Curitiba: filmado trocando socos e chutes com um homem não identificado, o deputado acabou com o nariz sangrando — e posteriormente afirmou ter reagido a uma agressão motivada por racismo.
O parlamentar apresentou uma versão de legítima defesa, afirmando ter sido alvo de ofensas racistas e agressão. “O motivo foi o mesmo que me fez brigar na rua desde que eu era criança… racismo, humilhação, injúria, violência, agressão”, afirmou. Ele diz que estava atravessando a rua com uma amiga — também negra — quando o homem teria dirigido seu carro para cima deles, insultado o deputado ao baixar o vidro e depois descido para discutir. Contudo, há em vídeo um trecho em que, logo antes da briga, ele se vira e diz ao seu segurança: “deixa comigo”, e durante o conflito, ao acertar dois chutes na perna do homem, bradava e comemorava seus golpes – indicando entusiasmo, não necessidade defensiva.
Mais tarde, no mesmo dia, Freitas publicou em suas redes sociais que reagiu à “injusta agressão”, defendendo sua ação com palavras carregadas de emoção: “Se eu tivesse o discernimento, o amor e a graça de Deus, eu daria a outra face, mas eu sou humano… tanto como cidadão, quanto como deputado.” A declaração, embora dramática, não justifica o gesto de buscar o confronto — o que desconfigura totalmente qualquer tese de legítima defesa.
A versão de Freitas ganhou apoio do PT-PR, que emitiu nota dizendo que o episódio se insere em um “contexto estrutural de racismo” direcionado a lideranças negras. Ao mesmo tempo, a Assembleia Legislativa do Paraná recebeu ao menos quatro representações por quebra de decoro parlamentar, que devem ser avaliadas pelo Conselho de Ética. Até o momento da redação deste artigo, nenhuma consequência foi imposta.
O episódio recente não é isolado no histórico de Renato Freitas. Em 2016, ele foi preso após desobedecer a Guarda Municipal em uma ocorrência de perturbação de sossego. Em 2017, foi novamente detido após afrontar policiais. Em 2018, durante campanha, entrou em confronto com guardas e precisou ser contido com munição não letal — tudo isso enquanto fazia uma live dentro da viatura. Em 2020, foi flagrado pichando um supermercado, sendo denunciado por vandalismo. Em 2021, foi detido duas vezes: uma por obstruir uma abordagem da PM, outra durante uma manifestação. Trata-se, claramente, de um padrão de comportamento, e não de um episódio isolado.
Em 2022, o caso mais emblemático: Freitas invadiu a Igreja Nossa Senhora do Rosário, interrompendo uma missa. Teve o mandato cassado na Câmara de Curitiba por quebra de decoro, mas foi salvo por uma decisão liminar do ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Em 2023, ameaçou um parlamentar, Ricardo Arruda, dentro do plenário. No mesmo ano, foi retirado de um voo pela Polícia Federal por se recusar a passar pela revista obrigatória. Em 2024, facilitou a invasão da Assembleia Legislativa durante um “protesto” de professores que terminou em quebra-quebra. Neste mesmo ano, respondeu a processo por pichar uma unidade do supermercado Carrefour com a palavra “racistas”, e foi condenado a três meses de detenção (substituídos por prestação de serviços à comunidade). Já no de 2025, invadiu um supermercado para “protestar”, gritando palavras de ordem, perturbando clientes, funcionários e atrapalhando o funcionamento normal do estabelecimento. É difícil encontrar outro legislador com um acervo tão robusto de incidentes envolvendo desrespeito à lei, vandalismo e confronto.
Tudo isso conduz à conclusão de que Renato Freitas, embora teoricamente um representante do povo, de acordo com seu cargo atual de deputado, tem se envolvido em ações violentas e entrado em conflito com a lei e as autoridades públicas já há bastante tempo. E agora, ao dizer que queria uma “briga justa porque é da favela”, o deputado produz mais uma contradição: ele, que se apresenta como símbolo da luta contra a violência, entra em confronto físico acompanhado de seguranças — seguranças que, aliás, interferiram na briga. O adversário estava sozinho. “Briga justa”, ao que tudo indica, só vale quando é conveniente à narrativa.
Do ponto de vista libertário, a violência só é moralmente aceitável em legítima defesa. Isso exige três critérios básicos: a agressão deve ser iniciada pelo outro, deve ser iminente e a resposta deve ser proporcional. Nada disso parece se encaixar no caso em questão. O “deixa comigo” antes da briga, somado ao comportamento de comemoração durante os golpes, destrói completamente a alegação de defesa passiva.
O que vemos é um padrão de alguém que, habituado ao confronto físico e ao uso da violência como ferramenta política, se coloca repetidamente em situações de conflito. A retórica identitária usada por Freitas — “foi racismo”, “querem silenciar lideranças negras”, “é o sistema contra mim” — pode até gerar simpatia entre setores da militância, mas não explica nem justifica um comportamento recorrente de buscar o embate.
A narrativa de opressão não pode servir como licença para agredir terceiros ou para violar propriedade. O libertarianismo rejeita a ideia de “violência simbólica” ou “violência estrutural” como justificativas para agressão concreta. Para libertários, violência é um ato objetivo: alguém bateu, alguém invadiu, alguém atacou. E esse ato só é moralmente justificável quando há ameaça real e imediata iniciada pelo outro lado — não quando há uma interpretação subjetiva sobre uma provocação ou sobre um “contexto histórico”.
Outro ponto é o uso político desses episódios. Renato Freitas frequentemente transforma cada conflito em conteúdo, narrativa, live, discurso e autopromoção. Para libertários, isso é ainda mais grave: trata-se de usar o aparato institucional — ou seja, o salário estatal, a visibilidade estatal, os privilégios estatais — para consolidar uma persona de militante combativo que, na prática, serve como um agente de coerção e de tensão social.
Vale lembrar que a própria posição de deputado lhe confere imunidades e proteções que um cidadão comum não possui. Assim, quando Freitas entra em uma briga, ele não entra como “Renato da favela”, mas como “Renato, autoridade investida pelo estado”. A violência cometida por um político tem peso ampliado porque vem de alguém que possui poder coercitivo formal. É um uso indevido do poder estatal em sua forma mais primitiva: o próprio punho.
Um político violento é uma ameaça dupla: primeiro, porque viola direitos individuais ao exercer e expandir o controle governamental sobre a vida privada, segundo, porque agora ataca diretamente os cidadãos. O curioso é que os defensores do estado como única entidade capaz de “regular conflitos” vão provavelmente argumentar que precisamos de mais polícia, regras e fiscalização para evitar brigas. O comportamento de Freitas, contudo, contradiz a narrativa de que sem o estado tudo vira barbárie, pois mostra que, na verdade, é o próprio estado que está ampliando a barbárie, até mesmo por meio de seus agentes mais visíveis.
A situação também revela outro ponto crítico: o aparato estatal não tem interesse em punir seus próprios membros. Freitas foi salvo por decisões judiciais, teve cassação revertida, foi protegido por interpretações benevolentes, e agora, novamente, tenta justificar seu comportamento com discursos emotivos e ideológicos. Por muito menos, um cidadão comum estaria mofando na cadeia. Por pintar uma estátua com batom, Débora foi condenada a 17 anos e cumpre pena até hoje. O sistema político cria seus próprios intocáveis — e isso destrói a confiança na "justiça" estatal.
Ao mesmo tempo, há o problema da seletividade. Enquanto parlamentares de direita foram presos, cassados ou afastados por atos de menor gravidade — em alguns casos, até mesmo por discursos duros ou manifestações — Renato coleciona incidentes graves sem enfrentar consequências proporcionais. Essa assimetria reforça a percepção, já conhecida entre libertários, de que o estado não é neutro e nunca será: ele opera politicamente, favorece grupos específicos e pune adversários com critérios subjetivos. É a "democracia" em que um lado pode agredir, e o outro, não pode sequer se expressar.
Ainda outro aspecto crucial é a recusa de Freitas em assumir responsabilidade pessoal por seus atos. Em todos os seus conflitos, há sempre um “outro” culpado: a polícia, a igreja, o supermercado, a estrutura racista, os agentes da PF, os guardas municipais, o sistema eleitoral, os detratores, a sociedade branca, o fascismo, o capitalismo. Para libertários, isso é a antítese da ética individualista, e símbolo do coletivismo: ninguém em particular é culpado, são sempre coletivos abstratos os responsáveis pelas mazelas do mundo e pelo comportamento criminoso dos "militantes".
Num plano mais amplo, a contínua instrumentalização de identidades para justificar violência abre espaço para a normalização da agressão como ferramenta política. Se hoje é um deputado dando chutes na rua, o que impede de, seguindo o exemplo, amanhã serem apoiadores, manifestantes e grupos organizados? A fronteira entre manifestação e agressão se torna nebulosa. E o discurso “tenho razão, então posso bater” é uma porta aberta para autoritarismos de todos os tipos.
Uma sociedade livre pressupõe indivíduos capazes de dialogar e resolver suas diferenças por meio da razão, e não no punho. Se líderes políticos utilizam a violência física como resposta a provocações, perdemos não apenas em civilidade, mas em coerência com a promessa de um estado restrito — não bastava o governo agredir a população por meio de suas leis, decretos e forças armadas, agora os deputados estão pessoalmente distribuindo pontapés nos cidadãos pelas ruas!
Para o libertarianismo, a resposta correta seria clara: responsabilidade total pelos próprios atos e zero privilégios estatais. Se Renato tivesse que responder pelos seus danos como qualquer cidadão comum — sem foro, sem imunidade, sem advogados públicos, sem amparo partidário — sua disposição para conflitos provavelmente seria bem menor. O estado cria homens que se sentem invencíveis porque estão protegidos por estruturas hierárquicas que os blindam da responsabilização.
Por fim, há um ponto moral. Um parlamentar que se considera vítima eterna perde a capacidade de liderar. Liderança exige compostura, racionalidade e autocontrole. Ninguém espera que políticos sejam santos, mas espera-se que, no mínimo, não iniciem brigas físicas no meio da rua enquanto comemoram chutes aplicados em um cidadão.
A briga física de Renato Freitas é mais do que um incidente isolado: é parte de um padrão de comportamento que mistura militância, confronto e política institucional. Quando a figura pública que diz representar “resistência” adota a violência como método preferido de "manifestação" e "protesto", acaba por minar qualquer pretensão de legitimidade moral e política. A repetição desses episódios revela uma dissonância profunda entre a retórica da “periferia marginalizada” e a prática cotidiana de conflito aberto.
Se Freitas queria uma “briga justa”, como ele mesmo disse, então deveria buscá-la no campo das ideias, no parlamento, nas urnas — não no asfalto. E se realmente aspira representatividade para os marginalizados, que mostre que a transformação começa não pela mão erguida para socar, mas pela construção de pontes, pelo convencimento racional e pelo respeito à vida. Nesse sentido, a violência parlamentar, repetida, deslegitima não apenas sua figura, mas também a causa que afirma representar.
Enquanto isso não acontecer, continuará sendo apenas mais um exemplo do velho problema: quando o estado dá poder demais a uma pessoa, essa pessoa frequentemente passa a acreditar que tem o direito de usar os próprios punhos para impor sua vontade.
https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2025-11-20/renato-freitas-diz-que-trocou-socos-com-homem-para-se-defender---sou-humano-.html
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/deputado-do-pt-que-trocou-socos-em-curitiba-diz-que-foi-alvo-de-racismo/
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/11/7296329-video-deputado-do-pt-troca-socos-com-homem-no-centro-de-curitiba.html
https://www.assembleia.pr.leg.br/comunicacao/noticias/relatorio-para-suspencao-de-prerrogativas-do-deputado-renato-freitas-pt-recebe-pedido-de
https://cbncuritiba.com.br/materias/justica-mantem-condenacao-de-renato-freitas-pt-por-desacato-a-guardas-municipais/
https://www.unicanews.com.br/parana/deputado-do-pt-e-condenado-por-pichar-a-palavra-racistas-em-toldo-de-supermercado/112799
https://soucuritiba.com.br/noticia/3668/deputado-estadual-do-pt-renato-freitas-pichou-mercado-e-foi-condenado-a-regime-aberto.html
https://www.assembleia.pr.leg.br/comunicacao/noticias/conselho-de-etica-decide-pela-suspensao-das-prerrogativas-parlamentares-do-deputado-renato
https://www.reddit.com/r/brasilnoticias/comments/13eh6al/deputado_do_pt_%C3%A9_retirado_de_voo_para_inspe%C3%A7%C3%A3o_e/
https://cgn.inf.br/noticia/1593986/deputado-petista-justica-condena-renato-freitas-por-pichacao
https://www.curitiba.pr.leg.br/vereadores/vereadores-18a-legislatura/renato-freitas