Quando se dissipa a fumaça que paira sobre Manaus, o que aparece é ainda mais trágico.
É típico da mídia tradicional e sensacionalista reduzir problemas complexos a análises simplistas que objetivam mexer com as emoções do público. Essa tática tem dois objetivos: Primeiro de não informar a verdadeira natureza dos fenômenos envolvidos; e segundo, de manter o espectador cativo sob uma aura de risco iminente, fazendo com que a pessoa continue consumindo a informação dada pela mídia. O incrível é que depois de se perceber o modus operandi dessa máquina, fica claro o quão podre é esse sistema, que no fundo quer te fazer de trouxa.
Então, a fim de combater o sofismo da mídia tradicional vamos aos dados! Desde já, reconhecemos que é praticamente impossível analisar todos os parâmetros que influem sobre o fenômeno das queimadas, mas vamos analisar dados de desmatamento, queimadas, precipitação, ventos e nível dos rios.
Analisando o monitoramento de queimadas no Estado do Amazonas pelo portal Terra Brasilis do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), observa-se que no ano de 2020 constatou-se o maior número de focos de incêndio para o mês de julho. No ano seguinte, em 2021, constatou-se o maior número de focos para o mês de agosto. E em 2022, constatou-se o maior número de focos para o mês de setembro, sendo que o ano de 2022 foi o recorde desses focos no estado do Amazonas, considerando a série histórica que vem desde 1998.
Nesses três anos, de 2020 a 2022, também foram medidas altas taxas de desmatamento no estado do Amazonas. Sendo 2022, o ano em que se constatou a maior área desmatada da série histórica, que analisa dados de satélites desde 1988. Os dados também se encontram no portal do Terra Brasilis do INPE, cujo link segue na descrição. Os dados para 2023 ainda não estão fechados, mas a previsão é que esteja em 2° ou 3° lugar na série histórica.
No entanto, esses três anos de altas taxas de queimadas e desmatamento no Estado do Amazonas, não se associam a baixas precipitações ou baixas vazões dos rios da região.
Baixas precipitações que geraram baixas vazões durante o período de estiagem nesse estado ocorreram também em 2005 e 2010, mas que não produziram dados alarmantes de focos de incêndio e desmatamento.
Então, analisando apenas dados do estado do Amazonas, pode-se concluir que não há uma relação direta entre estiagem e desmatamento, ou focos de queimada. Por outro lado, é possível observar uma correlação entre queimadas e desmatamento.
Como já se sabe, o uso do fogo é um método muito utilizado por pequenos produtores, que aproveitam o período de estiagem para limpar áreas e queimar o excedente vegetal removido. Essa prática é tão antiga quanto a própria ocupação da Amazônia. Estima-se que há dez mil anos os índios faziam queimadas para limpar a mata e plantar roças de macaxeira, processo que se conhece como coivara.
No entanto, hoje em dia, o fruto dessas queimadas é realmente a abertura da floresta no estado do Amazonas e que parece não ter relação com períodos de estiagem mais prolongada. Então, o que está acontecendo?
Pois bem, o que se pode afirmar é: facções criminosas ligadas ao narcotráfico, juntamente com políticos locais e usando da população carente da região como bucha de canhão, tem "grilado" terras e assumido frentes de desmatamento em vários lugares diferentes da floresta. Para quem não sabe, a grilagem é a ocupação irregular de terras públicas para apropriação privada. O termo surgiu por conta de uma prática para dar aspectos de envelhecimento a falsos documentos, inserindo-os em uma caixa com grilos, que os deixava amarelados e com buracos, dando uma aparência “forçada ” de que os documentos seriam antigos. Essa é uma prática comum no Brasil há décadas. O que temos observado aqui está muito além de atribuir culpa a Bolsonaro ou Lula. Sob uma verdadeira cortina de fumaça, se desenrola todo um processo de ocupação e transformação do território por estados paralelos, que atuam no Brasil em conjunto com outros países da América Latina. E claro, o tráfico de drogas é a fonte de renda desses grupos.
Desde muito tempo, a força política nacional não tem mais poder para combater o avanço do narcotráfico e em muitos casos tem-se aliado a esse poder paralelo. Às vezes servindo-se dele, ora servindo-o, para seus próprios interesses de tomada e manutenção do poder.
Então, caro telespectador, vê se para de ficar politizando o assunto de maneira superficial, porque tem coisa rolando embaixo do seu nariz e você não está vendo! Mas a coisa é orquestrada para que a gente não veja mesmo!
Bem, quanto à seca do Rio Negro, essa se deve a baixas precipitações na área da sua bacia, que compõem o Oeste do Estado do Amazonas, o sudeste da Colômbia e o Sul da Venezuela. Diferente dos rios Solimões e Madeira, o Rio Negro não possui montanhas nevadas em suas cabeceiras, portanto, sua vazão se dá totalmente por precipitação de chuva. E sim, chove muito nas cabeceiras do Rio Negro!
Há regiões em que a precipitação excede os 3200 milímetros por ano, mais do dobro do que chove em média no estado de São Paulo. Mas as precipitações também obedecem a regimes cíclicos, já que estão condicionadas por uma série de fatores climáticos extremamente complexos e intrincados. De maneira geral, uma explicação plausível é o efeito El Niño, que provoca mudanças na temperatura do Oceano Pacífico e muda toda a dinâmica em alta atmosfera. Mudando a formação de nuvens e o regime de chuvas.
Segundo os dados da série histórica, o nível do Rio Negro medido em Manaus é o menor da série desde que começou em 1902, portanto, há 121 anos atrás. Não sei se para você parece muito tempo, mas para o planeta Terra isso não é absolutamente nada. A conformação da bacia amazônica, como a conhecemos hoje, provavelmente data do período quaternário, há 2,8 milhões de anos atrás. Também encontraram gravuras e amoladores em rochas feitas por índios há cerca de 1.000 anos atrás e que estão expostas agora, com a baixa do Rio Negro. Então, há apenas 1.000 anos atrás essa parte do rio era permanentemente exposta, porque ninguém iria usar um afloramento que desaparecia no inverno para amolar suas ferramentas, certo? Ou o Rio Negro era substancialmente menor ou ele passava por outro lugar. O que mostra a magnitude dos processos que estamos assistindo no momento. É um desafio gigantesco para o ser humano sequer compreendê-los.
Apesar de chover muito nas cabeceiras do Rio Negro, o Rio Solimões tem uma bacia muito maior e que inclusive conta com contribuições de degelo nas suas cabeceiras. O que o torna, em termos de vazão, muito maior que o Rio Negro. Dessa maneira, o nível do Rio Negro também depende do nível do Rio Solimões, especialmente quando eles se encontram em Manaus no famoso encontro das águas. O fato é que o rio Solimões também está com baixas vazões, assim como também o Rio Madeira, mas apesar de baixas, estão longe das mínimas históricas.
Inclusive, no Rio Madeira, que é um dos rios que carrega mais sedimentos no mundo, aconteceu neste ano um efeito esplêndido que se repete a cada quatro ou cinco anos. Dado a baixa precipitação nas suas cabeceiras especialmente no Peru, e como ainda não começou o degelo com o aumento das temperaturas de fim de ano, a água barrenta do Rio Madeira ficou verde por alguns dias.
Falando em vazão e altura de rios, também chama a atenção a forma com que a mídia e as agências do governo - preocupados em garantir salários de alto escalão - comunicam esses dados. Em vários pontos dos grandes rios brasileiros, estão instaladas réguas que medem a altura desses rios diariamente. O caso é que essas réguas apresentam medidas de altura relativa dos rios. Esse negócio de que o rio chegou à cota de 1,93 metros é um dado ruim por natureza. Não é possível comparar esse dado com nenhum outro. Em última análise, esse dado não serve para nada. A altura dos rios deveria ser medida em cotas absolutas, como em altitude em relação ao nível do mar. Assim seria possível analisar cotas absolutas de inundação e vazante ao longo da bacia, e em relação às ocupações humanas.
Com um sistema que mostre cotas máximas e mínimas em relação ao nível do mar, qualquer pessoa com um GPS razoável pode observar até onde um rio já chegou. Mas pra quê facilitar, certo? O negócio é complicar mesmo e te deixar refém de informações sem sentido, no que só resta apelar ao sensacionalismo.
O monitoramento da altura dos rios pela CPRM (Serviço Geológico Brasileiro) pode ser observado no sistema SACE, cujo link segue na descrição.
Inclusive, um ponto turístico belíssimo, que pouca gente conhece, é a marcação da altura do Rio Negro com placas de bronze no porto de cargas em Manaus. Ali, se vê um belo registro da altura máxima que o Rio Negro alcançou ao longo da história. Nada de réguas fluviométricas com dados pseudo científicos, ali no porto a realidade está ao alcance de todos.
Bem, agora que já compreendemos minimamente o mecanismo de funcionamento e a relação entre o nível de rios, queimadas e desmatamento, vamos ao caso da fumaça.
O fato é que Manaus está sob pesada fumaça há várias semanas, tendo ocorrido eventos anômalos em que o ar ficou irrespirável.
Realmente, a situação espanta porque Manaus está mais ou menos no centro geométrico da bacia do Rio Amazonas em território nacional, e apesar de ser uma metrópole gigantesca, é ladeada por mata praticamente virgem. Então, de onde estaria vindo toda essa fumaça que assola a região?
Políticos e burocratas já se adiantaram para colocar a culpa no vizinho. Segundo os mafiosos da cidade de Manaus, a culpa seria dos paraenses que estão colocando fogo demais na mata.
Mas observando dados de vento e temperatura da iniciativa ventusky, cujo link segue na descrição, observa-se que realmente o vento predominante a uma altitude de 1000 m, que é a altitude média de nuvens baixas, sopra no sentido oeste. Ou seja, do Pará para Manaus, passando por Parintins e Itacoatiara. De fato, também há relatos de forte fumaça nessas duas cidades. Mas colocar toda a culpa no pobre dos paraenses seria injusto, já que as distâncias são gigantes e a fumaça não é tão espessa assim.
Na realidade, há inúmeros focos de incêndio desde pequenos até grandes queimadas que se alastram devido ao tempo seco. A combinação entre alta radiação solar, alta temperatura e baixa umidade, faz com que até um caco de vidro concentre raios solares e inicie um foco de incêndio. Isso é algo que rapidamente se torna incontrolável dado o acúmulo de matéria orgânica seca.
Então, um fenômeno que a princípio é natural, mas que obviamente está potencializado pela ocupação humana, acaba sendo politizado e incompreendido quando na mão de parasitas estatais. É óbvio que essa gente não deseja compreender o fenômeno, porque não é do seu interesse resolver nada. Seu único desejo é aumentar seu poder.
Agora, o que experimentam os manauaras neste momento, é o que há décadas experimentam todos os que vivem na parte Sul da Bacia Amazônica ao longo dos estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará e Tocantins. Onde o avanço da ocupação humana produz muitas queimadas, especialmente nessa época de estiagem, tornando o ar irrespirável ano após ano.
Potencializa esse efeito o fato de que durante o dia, corre um vento razoável na região, mas ao fim do dia e início da noite, esse vento cessa, junto com um aumento da pressão atmosférica. O resultado é a concentração de toda a fumaça, o que piora a situação.
Mas não se preocupem! Já estão chegando as chuvas de finados como as conhecemos aqui! Tradicionalmente, o pessoal já sabe que perto do dia de finados ocorre uma grande chuva que inaugura o período de inverno amazônico e que vai apagar as queimadas e fazer baixar a fumaça.
Políticos e seus asseclas sempre vão se aproveitar dessas situações para fazer alarde e aumentar seus poderes sobre nós. Por isso, é importante compreender a natureza dos fenômenos a que estamos expostos para concluir, de uma vez por todas, que políticos não têm nenhum poder sobre natureza, mas querem ter sobre você!
Sobre esse tema sensacionalista, assista agora ao vídeo "Profetas do Apocalipse", o link também segue na descrição.
Profetas do Apocalipse - Visão Libertária
https://www.youtube.com/watch?v=A4vvVrgBSmE
Queimadas
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/queimadas/situacao-atual/estatisticas/estatisticas_estados/
Desflorestamento
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates
Ventos
https://www.ventusky.com/?p=-5.2;-60.4;4&l=temperature-900hpa&t=20231107/0000
Nível dos Rios
https://www.sgb.gov.br/sace/index_bacias_monitoradas.php#