Calma, isso ainda não aconteceu no Brasil. Mas não estamos tão longe assim desse cenário.
O escritor e ativista iraniano Hossein Shanbehzadeh, de 35 anos, conhecido por ser um grande crítico do governo dos aiatolás, foi recentemente sentenciado a 12 anos de prisão. Seu crime? Responder a uma postagem no perfil oficial do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, no X (antigo Twitter). Ok, mas o que o ativista escreveu de tão grave assim? Um xingamento, uma ameaça de morte ao supremo líder? Nada disso: ele respondeu à postagem apenas com um ponto final. Sim, um ponto final, e nada além disso.
Antes de nos aprofundarmos nesse caso, vamos tirar do caminho algo em que você certamente está pensando neste momento. Afinal de contas, o X é ou não é proibido no Irã? Sim, o país dos aiatolás pertence ao seleto grupo de nações que baniu a rede social do Elon Musk de seu território - grupinho ao qual se juntou, nos últimos dias, o Brasil. Porém, assim como acontece em terras tupiniquins, ninguém dá a mínima para essa proibição, no Irã.
Muita gente tem usado VPN para burlar a ditadura iraniana - e eles estão agindo de forma correta, sem dúvidas. O mais curioso, contudo, é saber que o próprio aiatolá tem um perfil oficial no X desde 2009 - o exato mesmo ano em que essa rede social foi banida do Irã. É hipocrisia que se chama? Vai ver, o Khamenei pede para que algum amigo seu que mora no exterior faça suas postagens oficiais - vai saber!
Voltando ao caso Hossein: apenas dois dias após publicar esse comentário ultra subversivo - só que não, - o escritor foi preso em sua própria casa. É fácil entender essa revolta toda, por parte do regime iraniano: o comentário feito por Hossein teve mais curtidas e interações que a postagem original do aiatolá - que mostrava o supremo líder do Irã ao lado da seleção nacional de vôlei. Como é que essas pessoas ousam gostar mais de um ativista do que do representante de Alá na Terra?
De forma geral, as acusações feitas pelo governo iraniano contra Hossein são bastante obscuras. O que se sabe, até o momento, é que sua pena de 12 anos é composta por 5 anos de prisão pelo crime de supostamente ser um ativista pró-Israel; 4 anos por insultar as santidades islâmicas; 2 anos por espalhar fake news e mais 1 ano por propaganda contra o regime dos aiatolás.
Eu sei, tudo isso soa bastante vago e sem fundamento. Mas fala sério: você acha impossível que condenações semelhantes, talvez com exceção do fator religioso, sejam aplicadas no Brasil do Lula e do Xandão, em algum momento no futuro? Mas vamos com calma: nós já vamos chegar nesse ponto.
Segundo a família de Hossein, o escritor foi preso sem que acusações formais fossem feitas - e isso me lembra certo país governado por um cachaceiro e tutelado por um cosplay de Lex Luthor; mas deixa isso pra lá. As acusações contra o ativista iraniano só foram apresentadas 24 horas depois de sua prisão. Contudo, ainda assim, ele não teve acesso imediato ao seu advogado. Devido processo legal para quê, não é mesmo?
A verdade é que o regime ditatorial iraniano tem apertado cada vez mais o cerco contra seus críticos - que se tornam cada vez mais numerosos. Nós já falamos sobre casos de perseguição do governo iraniano contra pessoas inocentes em outros vídeos aqui do canal. Deixamos, como recomendação, o vídeo: "Ditadura islâmica do IRÃ foi responsável por TIRAR A VIDA de ADOLESCENTE de apenas 16 ANOS" - link na descrição.
Nos últimos meses, diversos indivíduos têm sido brutalmente perseguidos pelo governo dos aiatolás. O cineasta Mohamad Rasoulof fugiu do Irã, no mês de maio, após receber uma pena de oito anos de prisão, que envolvia também castigos físicos e confisco de bens. No mês seguinte, a cartunista iraniana Atena Farghadani foi condenada a seis anos de prisão por simplesmente tentar fixar um cartaz criticando o governo em local público.
No fim de abril, o rapper Toomaj Salehi, grande crítico do regime iraniano, foi condenado à morte pelo Tribunal Revolucionário Islâmico por "travar guerra contra Deus" e por "espalhar a corrupção sobre a Terra". Essa sentença, que poderia levar ao enforcamento do rapper, foi anulada em junho. Salehi, agora, aguarda novo julgamento - mas sem muita esperança de receber justiça de verdade.
Em muitos aspectos, o Irã parece ser um outro mundo - um país onde pessoas são açoitadas por consumir bebida alcoólica, e são condenadas à morte por manterem relações sexuais com pessoas do mesmo sexo ou deixarem de acreditar em Alá. A verdade, porém, é que não são poucos os governos localizados no Ocidente que se relacionam com, e até admiram, o governo dos aiatolás. Isso se aplica, é claro, ao governo Lula - que mantém contatos amigáveis com a teocracia do Irã desde seus primeiros mandatos. E toda essa admiração, obviamente, se reflete nas ações tomadas pelo Molusco aqui, no Brasil.
Poucos dias atrás, Lula afirmou, a respeito de Elon Musk e da decisão tomada pelo Xandão sobre o X, que o bilionário “não pode ficar ofendendo os presidentes, ofendendo os deputados, ofendendo o Senado, ofendendo a Câmara, ofendendo a Suprema Corte”. Mas como assim, Lula? Uma rede social inteira deve ser banida do país apenas porque o dono dessa rede, que nem mora no Brasil, não é baba-ovo de um supremo ministro? Uma declaração como essa, emitida pelo presidente da República, deveria escandalizar a todos; mas o povo brasileiro, infelizmente, parece ter se acostumado a esse tipo de arroubo ditatorial.
Perceba, portanto, como o modus operandi de toda ditadura é muito semelhante - seja ela uma teocracia, ou uma pseudodemocracia. Nesses casos, é comum vermos coisas como perseguição a opositores, em nome da ordem democrática ou da religião vigente - com um crescente desprezo ao devido processo legal. Segue-se, a isso, a supressão de direitos fundamentais, por meio do uso do aparato estatal - levando a coisas como prisões arbitrárias, multas extorsivas e vigilância constante das redes sociais. De forma geral, sempre é observado um claro recrudescimento do controle e do cerceamento das liberdades dos indivíduos.
É certo que o Brasil ainda não chegou ao nível de ditadura e de desprezo pela Justiça que o Irã. Mas será que esse é mesmo um cenário impossível? O fato é que muitas arbitrariedades que estão sendo cometidas agora, no Brasil, seriam impensáveis, poucos anos atrás. Pense, por exemplo, que parlamentares brasileiros foram punidos, embora a lei lhes garanta, de forma explícita, imunidade parlamentar. Certo supremo ministro aplicou penas que ultrapassam a pessoa do apenado, numa flagrante violação de princípios básicos do Direito. E, agora, milhões de brasileiros foram ameaçados com multas, por esse mesmo ministro, sem sequer receber uma notificação judicial!
Curiosamente, se você contar o caso iraniano que é tema deste vídeo para qualquer típico esquerdinha brasileiro, ele vai dizer que tudo isso é um completo absurdo, e que as leis iranianas são injustas. Aí vem a grande questão, para a qual o citado esquerdinha não terá resposta: então, não seria o caso de desobedecer, de impor resistência às leis iranianas? E por que aqui, no Brasil, isso também não poderia ser feito? Mas, convenhamos: não dá para exigir coerência de pessoas que, voluntariamente, assumem uma postura ideológica de esquerda.
De qualquer forma, e apesar de todos os abusos cometidos contra indivíduos inocentes e pacíficos, o que estamos testemunhando é o desespero do governo dos aiatolás, que está enfraquecendo a olhos vistos. Os protestos contra o governo se multiplicam - tanto os mais explícitos e marcantes, quanto os protestos silenciosos. Na sequência da prisão de Hossein, por exemplo, uma infinidade de pessoas respondeu à postagem original do aiatolá Ali Khamenei, e de outros, da mesma forma que o ativista: com um ponto. Essa forma de protesto pode ser sutil; mas ela é, ainda assim, bastante efetiva, por representar um verdadeiro termômetro da popularidade da ditadura iraniana.
Porém, enquanto o governo do Irã segue perseguindo cruelmente seus opositores, o governo brasileiro, com todos os seus tentáculos, parece se inspirar no que há de pior no mundo, para perseguir seus desafetos. Não há o menor traço de legalidade na maior parte das decisões proferidas, nos últimos tempos, pela Suprema Corte brasileira, ou em várias ações tomadas pelo próprio governo Lula. O que difere essa gentalha brasileira dos aiatolás é a questão religiosa e, naturalmente, a intensidade em que as arbitrariedades são cometidas - este último ponto, pelo menos por enquanto.
Em ambos os casos, porém, o que vemos é o desespero dos governantes. O povo não apenas tem perdido cada vez mais a confiança no estado e nos políticos, como tem adotado, de forma definitiva, estratégias agoristas de desobediência civil. Por mais que supremos, presidentes e aiatolás continuem a vociferar e a condenar, pontualmente, alguns indivíduos a penas cruéis e injustas, o movimento da liberdade, que é imparável e irreversível, seguirá esfacelando o poder do estado. O avanço da violência estatal no Irã, bem como no Brasil, não passa de uma desesperada atitude tomada por governantes que, na prática, se tornaram impotentes, face à desobediência de seus governados.
https://www.npr.org/2024/09/02/g-s1-20579/iran-sentenced-12-years-tweet-supreme-leader
https://www.iranintl.com/en/202408311891
Postagem:
https://x.com/IranIntl_En/status/1798200454083473901
Rapper condenado à morte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Toomaj_Salehi
Lula falando sobre Elon Musk:
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/lula-musk-tem-que-respeitar-decisao-do-stf-e-nao-pode-ficar-ofendendo-autoridades/
Ditadura islâmica do IRÃ foi responsável por TIRAR A VIDA de ADOLESCENTE de apenas 16 ANOS:
https://www.youtube.com/watch?v=ARXRD1sZLu0