DREX, uma catástrofe nível Sarney.

O drex vai nos aprisionar em uma distopia orwelliana, nos jogar numa espiral inflacionária, ou encurralar a sociedade de tal forma que ela vai finalmente revidar?

O projeto do Real digital faz parte do grupo de ideias singulares que só um funcionário público de carreira trabalhando dentro de uma autarquia é capaz de ter. É apenas mais um dos inúmeros exemplos de mudanças que partem da casta burocrática e não das espontâneas demandas da sociedade. Pode-se argumentar, inclusive, que MEC, IBAMA, BACEN e demais entidades dessa natureza — fáceis de criar, mas impossíveis de modificar — são os maiores inimigos do livre comércio e da propriedade privada no país. Essas instituições nos mantém na prisão do controle estatal ano após ano, e se quisermos alcançar a liberdade, precisamos lutar contra esses poderes centralizados.
Segundo o site do Banco Central, o Drex vai "democratizar o acesso aos benefícios da economia digital, trazendo mais eficiência e segurança para as transações financeiras." Outros benefícios incluem contratos inteligentes e transações financeiras seguras para ativos digitais. Mas essa historinha de trazer eficiência e segurança não passa de uma grande desculpa para o governo obter mais poder sobre nossa vida. Logo o estado, a instituição mais incompetente da história, e que falha miseravelmente em nos fornecer segurança real contra simples bandidos.
O primeiro grande escândalo envolvendo o projeto aconteceu quando Eric Altafim, funcionário do Itaú, disse que o Drex pode resolver a questão do dinheiro programável. Em suas próprias palavras: "Se a gente tivesse o Drex na pandemia, você só podia comprar num raio de 5 quilômetros da sua casa, então você tem programabilidade desse dinheiro, traz inteligência para esse dinheiro." E continua: "Quem vai estar comprando naquela lojinha que só aceita dinheiro e provavelmente está fazendo evasão fiscal vai ter que aceitar o Drex, então você trabalha na evasão fiscal também." Vejam o nível da mentalidade comunista desse cara! Ao ouvir isso, um Vladimir Lenin iria assustar com o nível de autoritarismo do sujeito.
Depois dessa fala e, pior ainda, da naturalidade com que foi dita, várias personalidades do mercado, dos políticos e até jornalistas se mostraram preocupados com as possíveis implicações desse novo sistema. Algumas personalidades que já expressaram seu ceticismo com os benefícios do projeto são: Fernando Ulrich, mestre em economia pela Universidade Rey Juan Carlos; Raul Sena, da escola de investimentos AUVP; Jair Bolsonaro, ex-presidente da República; e os deputados, Luiz Philippe de Orleans e Bragança e Júlia Zanatta, ambos do PL.
O próprio Banco Central tem tentado desmentir em suas redes sociais que o Drex seja uma espécie de dinheiro programável. Mas é muito estranho que uma das pessoas que teve acesso ao projeto-piloto tenha interpretado suas funcionalidades de forma tão diferente da projetada. Além disso, já foi confirmado pelo BC no ano passado que o sistema tem a capacidade de congelar e alterar valores, além de inabilitar contas. Isso, sim, será a ferramenta perfeita para criar uma engenharia social nunca vista na história da humanidade - será, de fato, o sonho molhado de um certo ministro careca que coloca o terror no Brasil. Não dá para negar que essa tecnologia poderá obliterar qualquer dissidência contra a elite estabelecida no poder. Afinal, nem mesmo os soviéticos tiveram tanto controle como querem ter hoje por meio do Drex.
Mas quais são as reais implicações da implementação do Drex se de fato for adiante? É sabido que a ação humana é imprevisível e as consequências de uma mudança tão drástica no sistema financeiro são difíceis de prever, especialmente num país assombrado pelo confisco. O Brasil caminha para se tornar definitivamente uma distopia ou os agentes econômicos vão encontrar maneiras de driblar o BACEN?
A verdade é que essa nova moeda digital do governo pode ser uma catástrofe para a moeda brasileira e gerar uma grande depreciação do Real. É bastante claro que quanto mais "programável" uma moeda, maior o potencial de desvalorização em relação a outras unidades de conta, bens e serviços na economia. Se tudo mais for constante, não existe razão para se escolher um dinheiro cujo emissor tem o poder de remover ou limitar o seu uso. Observe o exemplo dos vales-alimentação e transporte, apesar da ilegalidade, é prática comum vendê-los a terceiros. Venda essa que geralmente ocorre com grandes descontos. Afinal, não faz nenhum sentido pagar o preço cheio por um dinheiro de segunda categoria que tem seu uso limitado a apenas alguns tipos de bens. Mesmo que o comprador planeje usar todo o saldo com aquilo que o vale lhe permite, a impossibilidade de mudar de ideia no futuro já é o bastante para justificar a desvalorização.
Portanto, o dinheiro programável funciona como uma terceira variável na matemática financeira. Já é sabido que, tudo mais constante, o dinheiro estatal hoje vale mais do que o dinheiro amanhã, já que a inflação não para. Da mesma forma que o dinheiro certo vale mais do que o dinheiro incerto. Adiciona-se agora que um dinheiro livre de controle central vale mais do que um dinheiro controlável. Entre ter uma nota de 100 reais e 100 reais em Drex, é obviamente mais vantajoso possuir a nota. Se essa percepção se espalhar rapidamente uma vez que o sistema for implementado, é provável que, na prática, exista um descasamento de valores entre o Real digital e o Real físico.
Outro cenário possível é a sociedade usar o Drex apenas como unidade de conta e não como reserva de valor. Esse fenômeno pode ser observado em outras moedas, tal como o Renminbi chinês. O comércio internacional tem crescido em Renminbi desde 2015, mas a quantidade de reservas internacionais dos países nessa moeda cresce a um ritmo muito mais modesto, inclusive, caindo no agregado entre 2021 e 2022. Isso acontece pelo forte controle de capitais que o Partido Comunista Chinês impõe à sua moeda, desincentivando o entesouramento.
Ambos os cenários tendem a desvalorizar o Drex, aumentando a instabilidade do Real. A questão que fica é a velocidade dessa desvalorização e a percepção do estrangeiro sobre esse novo sistema. Uma coisa é obrigar funcionários no regime CLT a aceitar receber parte do seu dinheiro em vales; outra, bem pior, é estimular toda a sociedade, inclusive o investidor estrangeiro, a usar uma moeda suspeita cuja empolgação social é zero. Ninguém terá coragem de investir no Brasil nesse cenário.
Da mesma maneira que não faz diferença para o comprador de um vale-alimentação o uso total daquele saldo na hora da compra, não faz diferença se o governo vai ou não usar de imediato esse novo poder para controlar as finanças da população. Se existe a possibilidade de que um dia pode vir a ser usado, isso já é o bastante para que se rejeite a ideia.
Pode-se argumentar que o Drex terá curso forçado e, por isso, o descasamento entre o real digital e físico não vai existir. Acontece que o curso forçado é bastante frágil na vida real. Nossos vizinhos argentinos já provam que a sociedade rejeita moedas ruins. Talvez os comerciantes brasileiros, inspirados pelos Hermanos, comecem a usar diferentes cotações do Real, ou simplesmente abandone de vez essa moeda.
É difícil acreditar que um monopólio como o Banco Central tenha a melhor das intenções e realmente queira criar uma nova e revolucionária moeda, que vai solucionar todos os problemas do país. Nenhuma solução mágica virá do governo, não tem como acreditar numa instituição que nunca teve interesse em resolver problemas básicos e estruturais como o do saneamento básico. A verdade é que nenhum brasileiro demandou qualquer solução para a questão da moeda; a duras penas conseguimos escapar do ciclo inflacionário e de mudanças nas denominações com uma moeda digital fora do controle governamental.
Os bitcoinheiros já aprenderam há muito tempo que inovações técnicas não são o determinante para a valorização de um ativo - se assim fosse, a Ethereum e demais shitcoins já teriam destronado o Bitcoin como ouro digital. A confiança do público, a descentralização do sistema e a estabilidade das regras são aspectos igualmente relevantes na escolha da unidade de conta, mas que o BACEN parece ignorar em troca de benefícios questionáveis e funcionalidades suspeitas.
Para um dinheiro ser bom na era digital, não basta ter as características clássicas de um bom dinheiro: fungibilidade, divisibilidade, durabilidade. Precisa manter as características que hoje somente o Bitcoin tem: ser irrastreável, inconfiscável e minimamente livre do controle de um árbitro.
O governo, no geral, e as autarquias em particular, devem se inspirar no dito popular sobre jogos de futebol: "O bom juiz é aquele que não aparece". De forma análoga, o bom funcionário público, o menos ruim pelo menos, é aquele que menos influencia nossa vida, cuja existência é menos notável, que menos tenta atrapalhar.
É impossível prever o futuro das finanças no Brasil pós-Drex: pode ser que o nível de controle seja sufocante e a sociedade busque o jeitinho brasileiro, ou que veja benefícios e aceite trocar suas liberdades por um pouquinho mais de conveniência. Para aquele que desconfia com razão das intenções do governo: Bitcoin fixes this!
Por fim, deixamos como recomendação o famoso livro do Renato Amoedo e Alan Schramm: “Bitcoin Red Pill — O Renascimento Moral e Tecnológico”.



Referências:

https://www.youtube.com/shorts/KXxxRNlD3Fg
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/drex
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/drex-o-que-e-o-real-digital-e-por-que-a-direita-esta-em-campanha-contra-ele/
https://www.imf.org/en/Blogs/Articles/2024/06/11/dollar-dominance-in-the-international-reserve-system-an-update
https://www.federalreserve.gov/econres/notes/feds-notes/the-international-role-of-the-u-s-dollar-20211006.html
https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/real-digital-tem-funcoes-que-permitem-congelar-e-alterar-valores-sob-ordem-judicial-diz-bc/