O primeiro turno das eleições argentinas serviu para reforçar ainda mais a divisão entre os que querem mudanças, e os que se agarram com todas as forças ao atual estado de coisas.
De certa forma, podemos dizer que as eleições argentinas foram decepcionantes - pelo menos para nós, libertários. É claro que nós não tratamos a democracia como a vaca sagrada que os isentões veneram; e também não confiamos 100% nesse sistema. O fato, porém, é que, com base nas prévias realizadas em agosto e em quase todas as pesquisas eleitorais posteriores, Javier Milei, o ultralibertário de extrema-direita, como diz a imprensa tupiniquim, tinha grandes chances de ficar em primeiro lugar.
As prévias haviam deixado o candidato governista Sergio Massa, o atual superministro da economia da Argentina, apenas no 3º lugar - atrás de Javier Milei e de Patricia Bullrich, a candidata macrista. De lá para cá, as pesquisas consolidaram a primeira posição do candidato libertário, embora mostrassem também um crescimento de Sergio Massa. Algumas consultas, inclusive, apontavam para uma vitória de Milei ainda no primeiro turno! Infelizmente, o candidato governista acabou ficando em primeiro lugar, com uma vantagem considerável em relação ao libertário.
Pelas regras argentinas, para que um candidato vença o pleito presidencial no primeiro turno, ele precisa atender a pelo menos uma de duas regras. Ele deve possuir um total de votos válidos superior a 45%; ou, então, ele precisa ter pelo menos 40% dos votos, desde que com uma vantagem superior a 10% em relação ao segundo colocado. Sergio Massa não conseguiu nenhum desses números.
Com a quase totalidade das urnas apuradas, o candidato governista somava 36% dos votos, enquanto que Milei atingiu a marca dos 30%, e Patricia Bullrich chegou aos 23% dos votos. Outros dois candidatos menos relevantes - que chamaremos de Ciro e Marina, - tiveram uma votação pouco expressiva. Portanto, teremos um segundo turno para as eleições presidenciais, em 10 de dezembro.
Chamou bastante a atenção o índice de abstenção no pleito argentino: apenas 74% dos 35 milhões de eleitores aptos a votar compareceram às urnas. Esse é o pior índice em 40 anos de democracia - muito superior ao índice de abstenção das últimas eleições presidenciais, em 2019, quando 80% dos eleitores votaram no turno único da disputa. A ausência de tantos eleitores pode ser explicada, em partes, pelas fortes chuvas que caíram na Argentina no dia da votação. Ou, então, pode ser que o povo argentino já esteja mesmo perdendo a fé na democracia.
De qualquer maneira, o que nós vimos, após as prévias de agosto, foi um governo argentino jogando cada vez mais sujo para conseguir pelo menos um segundo turno contra Javier Milei. Houve de tudo: desde promessas irrealistas e manipulação do câmbio do peso, até mesmo sorteio de eletrodomésticos. Nós, inclusive, falamos sobre esse assunto aqui no canal, no vídeo: “O DESESPERO do governo ARGENTINO para tentar IMPEDIR a ELEIÇÃO de JAVIER MILEI”- link na descrição.
Rolou até mesmo um empréstimo camarada por parte do governo Lula, que ainda cedeu alguns marketeiros para a campanha eleitoral de Sergio Massa. Aliás, até mesmo alguns “observadores” brasileiros, como a suprema ministra Carmen Lucia, foram para a Argentina para acompanhar as votações. Hum…
Sejamos sinceros: todos nós esperávamos, pelo menos, ver o Javier Milei em primeiro lugar nas eleições, ou talvez até sendo eleito no primeiro turno. Tudo indicava isso: as prévias, as pesquisas, o desespero da grande mídia… De fato, o fenômeno libertário Milei era o assunto do momento, tanto na Argentina, quanto em vários países vizinhos - como o próprio Brasil. Nós também tratamos desse tema aqui no canal, no vídeo: “O que EXPLICA o FENÔMENO argentino chamado JAVIER MILEI” - link na descrição.
Porém, a máquina estatal realmente joga pesado. Basta lembrar que o governo argentino até tentou tornar o cara inelegível, dias antes das eleições! A coisa foi mais ou menos parecida com o caso do Bolsonaro nas eleições do ano passado, aqui no Brasil. Tal como aconteceu com o capitão, todos se uniram contra Javier Milei: os políticos da velha guarda, a extrema-imprensa e também os isentões. Até mesmo o Papa Francisco jogou contra o libertário!
Porém, e independentemente do resultado do primeiro turno das eleições, o fato é que a Argentina precisa do Javier Milei, ele é sua única esperança dentro do meio político. Insistir no mesmo erro kirchnerista, buscando resultados diferentes, é mais do que burrice: é loucura. Sergio Massa, como representante do kirchnerismo que, com exceção de um breve período, está no poder na Argentina há 20 anos, é o culpado pela atual situação do país. Graças a essa mentalidade política, o país sofre, hoje, com uma inflação oficial de mais de 130% - e subindo! Por lá, 1 dólar compra 1000 pesos, e a taxa básica de juros está em constante ascensão.
Agora, se os argentinos vão perceber isso em tempo, não dá pra saber. O que nós, libertários, sabemos, é que a democracia é mesmo um grande engodo. Uma vez que não há equilíbrio entre as forças em disputa, e posto que todo o establishment se posicionou contra um único candidato, é óbvio que não estamos falando de uma disputa justa. Ainda assim, é interessante ver como um candidato declaradamente libertário conseguiu ir tão longe, mesmo tendo ideias tão disruptivas.
Javier Milei prega coisas como o fim do Banco Central da Argentina, a dolarização total da economia e a extinção de diversos ministérios. Isso parece até mesmo um sonho, não? Podemos perceber, portanto, que grande parte do eleitorado argentino realmente não aguenta a atual situação, confiando mais na mudança que o novo, o totalmente diferente, pode fazer na economia do país.
Mas, afinal de contas, o que ele conseguiria fazer, caso fosse eleito? Até porque essa possibilidade ainda existe, apesar do balde de água fria que foi o resultado das eleições. Se os votos da Patricia Bullrich forem realmente votos anti-kirchnerismo, pode ser que eles migrem para Javier Milei, colocando-o à frente de Sergio Massa. Caso isso realmente ocorra, então pode ser que sim, a liberdade avance na Argentina, como inclusive sugere o nome do partido de Milei. Porém, há muito, muito a ser feito por lá.
Nós, brasileiros, sabemos bem como a coisa funciona, pois vimos como a máquina estatal trabalha, e como o sistema é resiliente, tendo uma grande resistência a mudanças fundamentais. Por aqui, Bolsonaro foi prejudicado por todas as forças estatais; até mesmo o supremo ministro Gilmar Mendes falou, com todas as letras, que o STF atrapalhou o governo do capitão. Não dá para garantir que, na Argentina, Javier Milei teria uma vida mais fácil do que a do Bolsonaro, aqui no Brasil. Até a mídia da Argentina já está claramente desesperada com uma possível vitória de Milei.
A grande verdade, porém, é que as reais mudanças não vêm do governo - justamente porque o estado possui diversos mecanismos concebidos para manter o status quo. As mudanças fundamentais e definitivas vêm de baixo, do próprio povo - e elas já estão acontecendo, entre os argentinos. Enquanto nossos hermanos vão cada vez menos às urnas para votar de forma política, cada vez mais argentinos estão votando com seus pés e com seu dinheiro.
No caso de uma agora provável vitória de Sergio Massa, não descartamos uma migração em massa do povo argentino. Seria um movimento de pessoas votando contra o kirchnerismo com seus próprios pés, buscando um pedaço de terra com um pouco mais de liberdade econômica. O que não dá pra negar, porém, é que cada vez mais argentinos vão votar com seu dinheiro, rejeitando a moeda estatal do país, em favor de moedas estrangeiras. Ou mesmo em favor de soluções realmente efetivas, como o bitcoin.
A esperança ainda não morreu por completo. Teremos um segundo turno bastante acirrado, e ninguém é agora capaz de prever para onde as coisas vão - e isso se aplica aos institutos de pesquisa, e também a nós, libertários. Tudo pode acontecer, e pode ser que Javier Milei venha a ser, de fato, o primeiro presidente libertário do mundo. A única certeza que temos, contudo, é que independentemente da política e dos resultados maceteados das eleições, o movimento da liberdade segue firme na Argentina. O kirchnerismo pode até vencer nas urnas, mas algo de fundamental mudou, de forma definitiva, entre os argentinos. Não importa quem ocupe a Casa Rosada no próximo ano; na Argentina, La Libertad Avanza!
https://www.youtube.com/watch?v=4I7Nj2GbCL0
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