Como diz o George Orwell, autor da Revolta dos Bichos: Se liberdade significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir.
Ano passado, a Suprema Corte americana decidiu de maioria conservadora, revogou a histórica decisão de 1973, que era a favor do aborto. Desde então, a mudança levou a um aumento da polarização nos Estados Unidos, culminando em diversos eventos contra e a favor da decisão, assim como interrupções de várias palestras pelo lado oposto. O último caso aconteceu na Universidade de Tufts, uma instituição privada de pesquisa, localizada na cidade de Medford, Massachusetts, região metropolitana de capital do estado, Boston.
Segundo The Tufts Daily, o jornal da universidade, o campus da faculdade foi palco de um painel chamado “O aborto é moralmente justificado na América?”, que discutia as questões morais presentes no ato. Entretanto, um grupo de manifestantes organizados pela Ação de Geração de Paternidade Planejada da própria faculdade, que é a favor de cessar a vida do bebê, se organizaram visando interromper a discussão. O painel contava com a participação de um professor de filosofia da Boston College, e de um jurista americano que atua como professor de direito em Harvard.
O protesto foi bem padrão. Os manifestantes pró-aborto ocuparam a primeira fila do auditório, e começaram a fazer barulho visando evitar que os ouvintes conseguissem entender os palestrantes. Um dos baderneiros usou um gerador de ruído que tocava sons de buzina, latidos de cachorro, uivo de lobos e vaias de multidões. Felizmente, nas faculdades dos Estados Unidos, eles não possuem as baterias das atléticas aqui do Brasil, que normalmente são cheias de esquerdistas prontos para fazer farra e acabar com a paciência dos outros.
O jornal da faculdade disse que o protestante chegou a desligar ao gerador de ruído, mas isso não impediu que o tumulto continuasse. Um policial pediu para que os manifestantes se retirassem, mas foi tudo em vão. Outro policial chegou depois de 20 minutos, para enfim, conseguirem dispersar os esquerdistas. Os policiais ficaram no lugar até o fim do evento para garantir o seu término de maneira cordial.
Uma das manifestantes, que também é estudante do segundo ano da própria faculdade, disse que se juntou a manifestação, pois o painel era racista, já que, em suas palavras, “os homens brancos não deveriam ter voz nas decisões relacionadas aos direitos reprodutivos”. Ela ainda acrescentou o seguinte: “o direito ao aborto não é algo que esteja em debate, ou não seja algo que deva ser falado como se fosse um advogado do diabo”.
Como podemos observar, o aborto não é uma questão envolvendo vida de bebês, mas racial. E eu achando que aborto era sobre cessar uma vida, e não um culto anti KKK. Mas, enfim, divago. Voltando ao assunto. Os demais manifestantes tinham quase que a mesma ideia da estudante, dizendo que ou você apoia o aborto e tem voz para falar sobre isso, ou então, deve permanecer em silêncio. Este é mais um exemplo de como a liberdade de expressão só é permitida se você for a favor da esquerda. Se for contra as ideias progressistas, daí neste caso, você não pode dizer absolutamente nada, porque é o mal encarnado, comedor de criancinhas - que mesmo que se fosse verdade, iria morrer de fome, afinal, os abortistas não iriam deixar você ter o seu banquete. Mas, divago novamente. Tentarei manter o foco!
Apesar do extremismo dos estudantes, não é uma novidade, tanto para os americanos, quanto para nós, brasileiros, esse modus operandi dos manifestantes. Agora, seria uma novidade se a faculdade lá dos Estados Unidos ou qualquer uma das brasileiras fizesse algo a respeito com os baderneiros. A Universidade de Tufts ficou na posição 183 de um total de 247 universidades quando avaliadas a sua liberdade de expressão. Porém, no próprio site da faculdade ela se diz respeitadora e adepta a liberdade das pessoas de se expressarem. Segue o texto na íntegra, traduzido para o Português, de forma livre:
“A liberdade de expressão e investigação são fundamentais para o empreendimento acadêmico. Sem liberdade de expressão, os membros da comunidade não podem partilhar plenamente os seus conhecimentos ou testar ideias no debate crítico, livre e aberto. Sem liberdade de investigação, os membros da comunidade não podem procurar novos conhecimentos ou desafiar a sabedoria convencional”.
Nas regras da instituição, existe uma cláusula que especifica muito bem a proibição de qualquer esforço contra a liberdade de expressão dos indivíduos, salientando a impossibilidade de alunos, professores ou colaboradores de se envolver em formas específicas de assédio, para ameaçar ou obstruir um orador que apresente ideias vistas como indesejáveis. Contudo, a faculdade deixou claro que os alunos impedirem alguém de falar, é uma forma de liberdade de expressão. Os membros docentes, também foram a favor, dizendo que era justo o silenciamento de outras pessoas. A ex-reitora, até insistiu que interromper um discurso sobre liberdade de expressão é um ato de liberdade de expressão. Mas, isso também não é nenhuma novidade, já que uma pesquisa realizada pela faculdade de Princeton sobre o tema, mostrou que 75% dos estudantes acham correto calar um determinado orador.
Mas, não se engane. Esses alunos não tiveram essas opiniões de maneira espontânea. Eles são o produto de anos e anos ouvindo que a liberdade de se expressar é algo perigoso e prejudicial. Quantas vezes você não ouviu que a liberdade para falar, seja fisicamente, seja na rede de computadores, deve ser limitada, pois palavras podem ferir e até mesmo matar? Quantas vezes não vemos proto-ditadores querendo regulamentar a livre expressão, como se a própria regulação já não fosse automaticamente incoerente? Do ensino básico até a universidade, os indivíduos são bombardeados com essas ideias de limitar o que e como as pessoas podem falar.
Alguém pode estar se perguntando: “Mas, e se a palestra fosse pró-aborto? Eles deveriam permitir?”. E a reposta é óbvia: Claro. A liberdade de expressão deve acontecer indiferente do espectro político, religioso ou cultural. Ela deve acontecer para que as pessoas possam discutir todo tipo de ideia. Sem a discussão aberta e livre, com todos os lados colocando seus argumentos e contra-argumentos, fundamentando-os e explicando-os, nós criamos ressentimento, que culminam em posições extremas, chegando na utilização da violência para tentar impor a sua ideia através da força.
Mas o que o libertarianismo fala sobre a liberdade de expressão? Bem, poderíamos ficar aqui discutindo sobre isso durante horas, mas para aprimorar nosso tempo, deixarei o link de um vídeo do Ancapsu Classic, intitulado “Qual é o limite da liberdade de expressão?”, no qual podemos ver uma dissertação sobre o tema pela ótica libertária. Mas, de maneira geral, todo mundo tem o direito de poder se expressar, contudo, ninguém tem a obrigação de te ouvir ou aceitar que você fale dentro de sua propriedade privada. A faculdade, então, teria o direito de não aceitar a palestra? Sim, mas o problema foi ela aceitar, ter regras sobre liberdade de expressão e, mesmo assim, ser a favor dos indivíduos calarem os palestrantes. Isso, em uma sociedade libertária seria motivo de entrar com um processo em um tribunal privado, afinal, a entidade disponibilizou as regras, elas foram aceitas, e depois, foram totalmente ignoradas.
Enfim, a sociedade atual está muito politizada e polarizada, não apenas dentro das faculdades, mas também fora dela. Até mesmo a sociedade americana está preferindo a violência ante a democracia, como bem falamos no vídeo, “Pesquisa mostra que americanos rejeitam a Constituição e preferem a violência”. Portanto, não ficamos surpresos quando isso acontece. Mas, não podemos normalizar essa postura, afinal, a janela de Overton tende para a esquerda quando passamos pano para isso. Se quiser saber mais sobre esse tema, recomendamos o vídeo: ”Como os governos usam o conceito da JANELA DE OVERTON para manipular o debate público”. Os links para todos os vídeos, e as referências das informações do texto, estão aqui embaixo na descrição.
ATENÇÃO ADICIONAR OS LINKS DOS ARTIGOS "Pesquisa mostra que americanos rejeitam a Constituição e preferem a violência" E "Como os governos usam o conceito da JANELA DE OVERTON para manipular o debate público" QUE ESTÃO SENDO PRODUZIDOS AINDA.
https://www.youtube.com/watch?v=v_d6qGD0sLQ
https://www.dw.com/pt-br/o-que-mudou-após-fim-do-direito-ao-aborto-nos-eua/a-66016372
https://www.tuftsdaily.com/article/2023/10/abortion-discussion-organized-by-federalist-society-attracts-pro-choice-protesters
https://www.thefire.org/research-learn/2024-college-free-speech-rankings
https://trustees.tufts.edu/policies/expression/
https://www.insidehighered.com/news/2018/04/16/guest-lecture-free-speech-cuny-law-school-heckled
https://infogram.com/princetons-free-speech-campus-culture-1h7g6k0dyry7o2o?live