Quando a briga envolve dois camaradas que fizeram o L com gosto nas eleições de 2022, nós sempre torcemos pra briga.
Imitador de foca versus ex-presidente do Banco Central que apoiou um pinguço corrupto nas eleições de 2022 - pra quem seria a sua torcida? Bem, para ajudar na sua decisão, vamos dar algum contexto a essa história.
Começando do começo: toda essa polêmica surgiu quando, algumas semanas atrás, Armínio Fraga emitiu uma opinião correta, mas nada popular, a respeito do salário mínimo. Basicamente, o economista e ex-presidente do Banco Central afirmou que o mínimo deveria ser congelado, para que o Brasil saísse do buraco fiscal em que atualmente se encontra. E, não obstante toda a polêmica que tal declaração causou, num primeiro momento, Armínio Fraga bateu o pé e reafirmou essa sua percepção, em recente entrevista para o jornal O Globo.
É claro que as manchetes dos noticiários promovem, no mínimo, algum grau de desinformação. Acontece que o tal “congelamento” do salário mínimo, proposto pelo economista, não significa mantê-lo, indefinidamente, no atual patamar - R$ 1.518. O que ele defende, na verdade, é o reajuste apenas pelo índice oficial de inflação - exatamente como aconteceu nos tempos do Michel Temer e do Bolsonaro. Se bem me lembro, ninguém morreu por causa disso, naquela época - o que demonstra, empiricamente, que toda a celeuma causada ao redor da declaração do Armínio não faz o menor sentido.
Na verdade, sua defesa do fim do ganho real do salário mínimo - que é o que ele realmente quer - tem razões práticas relacionadas ao problema fiscal do Brasil, e nada tem a ver com a iniciativa privada. Acontece que, no atual padrão de reajuste, todos os gastos relacionados ao mínimo sobem exponencialmente. Estamos falando de aposentadorias, pensões, abono salarial, seguro-desemprego, seguro-defeso, dentre outros. Não é por outro motivo, inclusive, que o próprio governo Lula já assumiu que as contas públicas entrarão em colapso, no máximo, em 2027. Foi por isso que o Armínio defendeu o reajuste do salário mínimo apenas pela inflação, por pelo menos seis anos.
É claro, contudo, que a esquerda acéfala iria reagir. Afinal de contas, como bem sabemos, essa turma não dispõe de pensamento lógico, e suas reações se resumem a esperneios típicos de uma gente que nunca deu um murro numa massa, nem nunca bateu um martelo num prego. E, dentre os expoentes máximos da mentalidade esquerdista tupiniquim, o Menino Foca, Felipe Neto, não poderia ficar de fora.
Em sua conta no X, o youtuber fez um desafio bastante inusitado ao renomado economista. Basicamente, Felipe Neto propôs algo como um reality show, do qual participariam ele próprio, o Armínio Fraga e um operário qualquer. Os 3 seriam desafiados a morar em uma cidade do interior, recebendo apenas 1 salário mínimo por mês, tendo que pagar o aluguel de uma kitnet de R$ 400, dispondo apenas de roupas - nada além. O primeiro que saísse do reality teria que pagar metade de seu patrimônio total para o que sobrevivesse por último ao desafio.
Felipe Neto ainda afirmou que, caso Armínio Fraga topasse esse desafio, o próprio youtuber bancaria o experimento social todo - com direito a câmeras e produção de alto nível. Bem típico do imitador de focas, não é mesmo?
É claro que tal ideia inusitada não passa de mera estratégia retórica - nem mesmo o Felipe Neto espera que o economista aceite um desafio tão besta assim. Mas será que a provocação feita pelo influencer faz sentido? Bem, certamente você imagina que não - afinal de contas, estamos falando do Felipe Neto. Mas, para o bem do argumento, vamos analisar toda essa questão por partes - primeiro, do ponto de vista econômico e, depois, pelas lentes da ética libertária.
Pra começo de conversa: que diabos de experimento social é esse? Veja que o Felipe Neto parte de um pressuposto mais do que furado: o de que muita gente, no Brasil, trabalha em troca de 1 salário mínimo. A verdade, contudo, é que a coisa não funciona bem assim. É certo que empregos de entrada costumam pagar pouco; porém, conforme o indivíduo acumula experiência e aumenta sua produtividade, seu salário naturalmente sobe - especialmente ao longo dos anos. O salário mínimo, hoje, é mais a exceção, do que a regra.
Em segundo lugar: os 3 participantes desse desafio teriam direito a buscar um aumento de sua renda? Porque, convenhamos, eles certamente conseguiriam - especialmente o Armínio Fraga, que possui capacidades intelectuais mais do que suficientes para lhe garantir um salário maior que o mínimo, em quaisquer circunstâncias. A vida do economista nesse experimento, portanto, seria relativamente fácil. Agora, se isso for contra as regras do jogo, então o desafio do Felipe Neto pressupõe que os brasileiros são escravos de um salário mínimo e que não há nenhum tipo de mobilidade social no Brasil - o que é obviamente falso.
E, em terceiro lugar, o Felipe Neto sabe muito bem que o Armínio Fraga tem razão nessa história. Aliás, nesse joguinho, o que não falta é hipocrisia - de ambos os lados. Estamos, de fato, diante de duas verdades inegáveis: a primeira, que o Armínio sabia que o Brasil ia para o buraco com o Lula; e a segunda, que o Felipe Neto sabe muito bem quem é esse mesmo Lula. O passado de ambos os condena. Por isso, é aquela história: se tem dois esquerdistas fazedores de L brigando, nossa torcida é para a briga.
Mas vamos ao que interessa, agora do ponto de vista libertário: como devemos encarar o salário mínimo, e seu possível congelamento? A coisa é bastante simples de entender: a imposição de um salário mínimo é uma violência contra pessoas pacíficas. Esse tema já foi abordado, de forma bastante técnica, no canal AncapSu Classic, no vídeo: “Salário mínimo ajuda o trabalhador?” - link na descrição.
Em resumo, podemos dizer que, ao impor um salário mínimo, o estado proíbe os indivíduos de aceitar trabalhar por um valor menor do que o estabelecido nas leis estatais. Ao mesmo tempo, o estado também impede as empresas de contratar funcionários por um salário menor do que o determinado na legislação. Ou seja: o estado acaba com o voluntarismo, impedindo que indivíduos pactuem, livremente, seu contrato de trabalho - especialmente no que se refere à remuneração. Basicamente, estamos diante do estado interferindo, mais uma vez, em relações que, de outra sorte, seriam plenamente livres.
Pior ainda: a estipulação de um salário mínimo prejudica os trabalhadores menos qualificados - tipicamente, pessoas sem instrução, ou jovens sem experiência. Acontece que o salário real é determinado pelo valor que um trabalhador pode gerar para seu empregador. Assim, se uma pessoa não consegue gerar mais do que ela custa para a empresa, ela simplesmente não será contratada. Por isso, é comum dizermos, com razão, que o salário mínimo quebra os primeiros degraus da escada econômica.
E, conforme já mencionamos, a alta progressiva do salário mínimo vai levar a um colapso fiscal em 2027 - no máximo. Em resposta a esse colapso, o governo vai precisar imprimir dinheiro - principalmente para cobrir os benefícios atrelados ao salário mínimo. Já as empresas, também por causa dessa alta, precisarão aumentar os preços, a fim de acomodar as novas despesas. Como resultado, teremos mais inflação, deixando todo mundo mais pobre - em troca de um salário nominalmente maior. Ou seja: essa história toda não passa de pura ilusão estatista.
Afinal de contas, se as coisas são tão simples assim, e se tudo depende da vontade de políticos e do bom coração dos empresários malvadões, por que não aumentar logo o salário mínimo para R$ 10 mil? Ou, melhor ainda: por que não estipular um salário de R$ 1 milhão para todos os brasileiros, transformando todos em milionários quase que instantaneamente?
É muito fácil desejar a imposição de um salário mínimo, com todas as implicações negativas que isso possa causar, do alto de sua fortuna provável de R$ 200 milhões - como é o caso do Felipe Neto. Também é fácil fazer o L e depois reclamar dos problemas econômicos, quando se está acostumado a gerir bilhões de dólares em ativos - como é o caso do Armínio Fraga. O que é difícil, para essa gente esquerdista, é deixar o trabalhador e o empreendedor em paz, e parar de defender a agressão estatal contra indivíduos pacíficos.
Nós sabemos bem o que o Felipe Neto quer, com essa bagunça toda: engajamento. E sim, nós estamos promovendo isso. Porém, nosso ponto é justamente expor toda a desinformação econômica que o Menino Foca promove, com seus argumentos rasos, pueris e piegas a respeito do salário mínimo. Infelizmente, o brasileiro médio ainda não é capaz de compreender verdades econômicas básicas, e acredita nesse tipo de canto da sereia. Na terra do Tigrinho, qualquer influencer que finja se importar com os pobres é visto como uma verdadeira deidade.
Felipe Neto não acredita no que ele escreve nem nos desafios que promove - acredite ou não, ele é consideravelmente inteligente. O mesmo pode se dizer de seu novo desafeto, o Armínio Fraga - que entende o suficiente de economia para saber, desde o começo, que o governo Lula seria um desastre econômico. Em ambos os casos, não se trata de ausência de conhecimento ou de instrução - talvez, seja apenas ausência de princípios mesmo. Por isso, além de torcer para que os trabalhadores e os empregadores tenham cada vez mais liberdade para pactuar seus contratos como bem entenderem, também torço para que o Armínio aceite esse desafio. Afinal de contas, seria muito bom ver esses 2 fazedores de L participando de um reality show, para que eles aprendam, na prática, os malefícios do salário mínimo.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/05/08/aumento-do-salario-minimo-neste-momento-e-inviavel-diz-arminio-fraga.ghtml
https://x.com/felipeneto/status/1921635653290238115
https://x.com/felipeneto/status/1921638232564879415
https://veja.abril.com.br/economia/projecoes-do-governo-apontam-vai-acabar-o-dinheiro-para-servicos-basicos-ja-em-2027/
Salário mínimo ajuda o trabalhador?
https://www.youtube.com/watch?v=7CHyJMuhsTI