Felipe Neto se torna garoto-propaganda do BIS e LACTA sofre boicote

O boicote contra o chocolate Bis, da Lacta, foi o grande assunto da internet nos outros dias. Mas, afinal de contas, será que esse tipo de ação faz sentido, dentro da ética libertária?

No final de setembro, o eterno menino-foca, Felipe Neto, afirmou que se afastaria do YouTube por tempo indeterminado. Muitos trataram a coisa toda como uma jogada de marketing; outros se solidarizaram com as “perseguições” sofridas pelo influencer. O fato, porém, é que, poucos dias depois, a grande notícia veio à tona. Felipe Neto foi ao PodPah, famoso podcast brasileiro, e aproveitou a oportunidade para anunciar que seria o novo garoto-propaganda do chocolate Bis, da marca Lacta. E, a partir daí, a internet caiu matando.

Rapidamente, se espalhou pelo Twitter um pedido de boicote ao Bis, e até mesmo a todos os demais produtos da Lacta. Em poucas horas, a hashtag #BisNuncaMais passou a ocupar os trending topics, e cada vez mais pessoas passaram a afirmar que se juntariam ao boicote. A coisa foi mesmo instantânea, e pareceu fugir do controle de qualquer equipe de marketing que estivesse por trás dessa campanha.

A repercussão foi tão rápida - e tão negativa - que a própria Mondelez, a empresa controladora da marca Lacta e de seus produtos precisou dar explicações sobre o ocorrido. Segundo nota publicada pela própria empresa, “como líder no mercado de snacks no Brasil e no mundo, a Mondelez reafirma seu absoluto respeito à diversidade de opiniões”. Além disso, a multinacional afirmou que sua campanha de marketing era direcionada apenas ao público específico do evento geek CCXP, “sem qualquer vínculo ou apoio político de qualquer natureza”.

É óbvio que a internet não engoliu essa história muito bem; e logo após essa publicação, começou a circular a informação que o CEO da Mondelez no Brasil, Liel Miranda, faz parte do chamado “Conselhão” do governo Lula. Fica difícil afirmar que não existe nenhum interesse político nessa história, com um chefe executivo claramente posicionado a favor do atual governo, não é mesmo?

Porém, as retratações não se restringiram apenas à Mondelez. O próprio Felipe Neto precisou se manifestar - de uma forma bastante hipócrita, é claro; afinal de contas, ele é um sujeito conhecido por passar os últimos anos crucificando publicamente diversas pessoas. O menino-foca agradeceu os seus apoiadores, publicando em seu Twitter coisas como: “Não sei nem o que dizer… O ódio sempre será derrotado!” e: “A nossa história segue sendo escrita com o nosso suor e a lágrima dos extremistas. Venceremos sempre”.

Porém, nada disso adiantou, e a coisa ultrapassou os limites da bolha da internet. De fato, políticos de esquerda tomaram partido nessa história, defendendo o Bis do ataque dos “bolsonaristas”. Os senadores Randolfe Rodrigues e Humberto Costa gravaram e publicaram um vídeo comendo o citado chocolate. Randolfe ainda escreveu a esse respeito, no seu Twitter: “Vindo daqueles que consumiam cloroquina, o boicote a um chocolate tão gostoso é elogio”.

Obviamente, duas coisas no comentário do senador são bastante questionáveis. O primeiro ponto é de que todos os que passaram a boicotar o Bis são “consumidores de cloroquina”. O segundo ponto é a afirmação de que o Bis, um waffle bastante meia-boca, com uma casquinha de chocolate ainda mais meia-boca, é “um chocolate tão gostoso”.

Porém, e independentemente do seu gosto, existem alguns pontos bastante interessantes que podem ser discutidos a partir dessa curiosa história. O primeiro é o erro cometido pela grande mídia, e pelos dois senadores citados, de tratar o boicote ao Bis como sendo obra de “bolsonaristas”. Sim, muitos políticos - até o próprio Bolsonaro, inclusive - entraram nessa história. Mas o boicote surgiu, como geralmente acontece nesses casos, de forma totalmente espontânea na internet.

Não foi uma iniciativa política: foi, essencialmente, um movimento descentralizado que cresceu rapidamente, e que passou a contar com o apoio orgânico de cada vez mais pessoas. E esses indivíduos não são “bolsominions”, como diria o Randolfe Rodrigues: eles apenas não gostaram da associação das marcas Bis e Lacta com o Felipe Neto. Não foi uma questão de apoio político; foi a rejeição à imagem pública de um sujeito que, convenhamos, tem usado a polêmica para se promover há um bom tempo.

Isso nos leva, então, à discussão sobre a questão do boicote, sob o ponto de vista libertário. E a verdade é que essa é uma ferramenta de convencimento não apenas bastante eficiente, como totalmente legítima, de acordo com os princípios do libertarianismo. O boicote não é coercitivo: ele é voluntário, pois só participa do movimento quem quer. Você pode apresentar argumentos para tentar convencer outras pessoas a fazer parte do boicote, mas as pessoas só embarcarão nessa se elas realmente quiserem.

É assim que as coisas funcionam, na ética libertária: a violência nunca é aceitável, mas o convencimento é uma arma legítima para levar as pessoas a tomar atitudes que você aprova e recomenda. Cabe a essas pessoas, em sua plena liberdade, serem convencidas ou não por seus argumentos. Obviamente, o estado não pode estar envolvido nessa história. Se alguém recorre à força estatal para obrigar outros indivíduos a tomarem determinadas atitudes, então estamos falando de violência clara e injustificável.

Colocado o ponto libertário sobre o boicote, também podemos analisar a pertinência da ação de marketing proposta pela Lacta. É fato que, geralmente, se afirma que não existe marketing negativo - a marca sempre será beneficiada com a polêmica ao seu redor. Contudo, isso não é verdade em 100% dos casos. Parece que a estratégia de lançar o Felipe Neto como garoto-propaganda do Bis se encaixa nessa pequena exceção à regra geral.

A verdade é que o Felipe Neto é um sujeito polêmico. Ele escolheu ser assim, e ele sempre se promoveu por conta das polêmicas em que se envolve. Além disso, postagens e publicações anteriores do menino-foca, em que ele critica os chocolates industrializados e o consumo de alimentos ricos em açúcar, depõem contra seu papel de divulgador do Bis. Por esses e outros motivos, essa ação de marketing parece ter sido um grande tiro no pé da Lacta. E o envolvimento de políticos de esquerda nessa história apenas aprofundou o problema.

Produtos como chocolates, e outros como cervejas, refrigerantes e salgadinhos, são extremamente democráticos - tanto o rico quanto o pobre os consomem. Por serem itens de consumo de massa, as empresas não podem se dar ao luxo de perder grande parte de seus clientes, através de boicotes. Por isso, escolher alguém com índice de rejeição tão grande para representar uma marca tão democrática, não parece ser uma estratégia de marketing inteligente. A repercussão negativa do caso demonstra esse fato.

Por outro lado, produtos mais específicos podem se dar ao luxo de ser polêmicos e ter rejeição de parte do mercado consumidor geral. Pense, por exemplo, que um estande de tiros, ou mesmo uma loja de armamentos, podem convidar um sujeito declaradamente de direita para fazer propaganda de seus produtos e serviços. Afinal de contas, provavelmente a maior parte dos consumidores desses bens também são de direita, e se identificam com essas pautas. Já uma empresa que vende comidas veganas, por sua vez, poderia contratar como garoto-propaganda alguém que declaradamente fez o L nas eleições. Provavelmente, seu público-alvo também votou no Molusco no ano passado.

Porém, de maneira geral, o que o caso do Felipe Neto e do Bis nos mostram é o poder da informação descentralizada e distribuída, e de como é a sua atuação na nossa sociedade. Uma má escolha de marketing, feita por uma multinacional do setor alimentício, repercutiu em poucas horas, levando a própria empresa e o garoto-propaganda escolhido a se manifestarem. O estrago, porém, já estava feito: em pouquíssimo tempo, milhares de pessoas já tinham aderido, voluntariamente, ao boicote.

A força da descentralização da informação, que une milhões de indivíduos de diversos lugares, é muito superior à capacidade de executivos e estrategistas de marketing. Nenhum desses profissionais foi capaz de medir o tamanho do estrago que um erro de estratégia poderia causar à sua marca. Se a repercussão que o caso tomou é proporcional, ou se esse boicote específico deveria ser feito ou não, não vem ao caso - o importante é que esse é um movimento voluntário e espontâneo.

Não foram os “bolsonaristas” que promoveram o boicote ao Bis e à Lacta: esse fenômeno surgiu naturalmente. A esquerda sabe como a coisa funciona; afinal de contas, no passado, ela aplaudiu as iniciativas do Sleeping Giants, que funcionavam da mesma forma. O Felipe Neto também entende como os boicotes funcionam; afinal de contas, ele mesmo, no passado, promoveu vários. Esse pessoal da ala progressista da sociedade entende o fenômeno o suficiente para saber que ele surgiu naturalmente. Eles só não querem aceitar que seu modo de ver o mundo não é majoritário no Brasil. Esse boicote fez muito mais do que dar prejuízos para a Lacta: ele também mostrou que a esquerda, no Brasil, não está com nada.

Referências:

https://www.poder360.com.br/governo/senadores-lulistas-comem-bis-em-defesa-a-felipe-neto/