Uma ex-miss largou o glamour das passarelas para vestir o hábito e, agora, viraliza vendendo terços em um bar e ajudando pessoas necessitadas. Seria essa história inusitada a prova de que existem pessoas disposta a lutar contra o politicamente correto?
Em meio ao turbilhão constante — e muitas vezes desanimador — de notícias sobre crises políticas, colapsos econômicos e conflitos globais, de tempos em tempos surge uma história que, à primeira vista, pode parecer trivial, mas que revela uma centelha instigante sobre temas mais profundos. Um desses casos é a recente notoriedade alcançada pela jovem conhecida como Irmã Eva, uma freira católica de apenas 21 anos que, em um plot twist digno de roteiro cinematográfico, já foi modelo fotográfica e até mesmo condecorada miss durante sua adolescência.
Sua fama repentina veio após ser filmada, de forma espontânea, exercendo seu apostolado de maneira peculiar: vendendo terços, medalhas e outros artigos religiosos entre as mesas de um bar na movimentada cidade de Goiânia. Sim, você leu corretamente: uma freira, trajando o hábito completo, abordando clientes em um ambiente tipicamente associado à boemia, ao lazer mundano e, para alguns, ao pecado. A cena, capturada pelo celular de um cliente surpreso e rapidamente lançada na internet, gerou um turbilhão de reações: surpresa, admiração pela ousadia, curiosidade sobre suas motivações e, como não poderia deixar de ser no tribunal da opinião pública digital, julgamentos apressados e comentários polarizados.
Mas o que essa história, aparentemente pitoresca, tem a ver com uma análise sob a perspectiva libertária? Ela nos oferece uma oportunidade valiosa para refletir sobre a autonomia fundamental do indivíduo para traçar seu próprio destino, para definir seus próprios valores e buscar sua própria felicidade. Muitas vezes o caminho escolhido acaba desafiando frontalmente as expectativas sociais, as convenções culturais ou as normas estabelecidas. Irmã Eva, cujo nome de batismo é Kamila Cardoso, tomou uma decisão radical e profundamente pessoal aos 18 anos: abandonar uma carreira potencialmente promissora no mundo da moda, das passarelas e dos concursos de beleza para ingressar na vida religiosa consagrada, dedicando-se a vida religiosa.
(Sugestão de Pausa)
Do ponto de vista libertário, a essência mais pura e relevante dessa história reside na afirmação prática dos princípios da autopropriedade e da liberdade de escolha. A Irmã Eva, é a única e legítima proprietária de sua própria vida, de seu corpo e de sua mente. Como tal, ela possui o direito inalienável e intransferível de decidir qual caminho seguir, quais valores priorizar, quais objetivos perseguir. Só cabe a ela decidir entre o glamour efêmero e da fama superficial oferecidos pelo mundo da moda, ou a renúncia ascética e da fé profunda buscados na vida conventual. Ninguém – nem sua família, nem a sociedade em geral, nem muito menos o aparato coercitivo do estado – possui qualquer direito legítimo de ditar qual profissão ela deve ou não seguir. Ela decidiu deixar os holofotes e os aplausos. Escolheu a aparente obscuridade e a disciplina da vida religiosa. Para muitos, essa decisão pode parecer incomum, surpreendente ou até mesmo incompreensível. Ainda assim, trata-se de um exercício legítimo e soberano de sua liberdade individual. É um ato de autodeterminação que merece respeito — concordemos ou não com a escolha.
É particularmente interessante observar como a sociedade contemporânea, muitas vezes tão obcecada com a diversidade superficial e a tolerância politicamente correta, reage com tanto estranhamento e até mesmo desconfiança a escolhas que fogem radicalmente do padrão esperado. Uma jovem considerada bonita pelos padrões estéticos vigentes, com um potencial claro para alcançar sucesso e reconhecimento no mundo da moda e da beleza, decide seguir uma vida religiosa. Esse tipo de decisão, feio por uma moça tão jovem, causa um curto-circuito nas expectativas sociais. Por que essa reação? Talvez porque vivemos imersos em uma cultura que supervaloriza de forma quase idolátrica a aparência física, o sucesso material medido em bens e dinheiro, a visibilidade midiática a qualquer custo e a busca incessante por prazeres imediatos. A ideia de alguém renunciar conscientemente a esses "bens" tão cobiçados em favor de uma vida dedicada à espiritualidade, ao serviço ao próximo (mesmo que dentro da estrutura de uma instituição religiosa específica) e à busca por um sentido transcendente parece contraintuitiva. Isso soa como um desperdício de "potencial" aos olhos de uma mentalidade predominantemente materialista e hedonista. Mas a liberdade individual, em sua essência, inclui precisamente o direito de buscar a felicidade, a realização pessoal e o sentido da vida de formas diversas. E claro, numa sociedade verdadeiramente livre, as pessoas não devem viver com medo e se dobrar aos ditames da maioria, muito menos serem escravas do politicamente correto e de padrões impostos.
(Sugestão de Pausa)
O caso da Irmã Eva viralizar por vender terços em um bar traz um elemento curioso e levanta debates sobre os limites da fé em espaços públicos e privados. Alguns podem considerar sua atitude inadequada, uma mistura imprópria ou até desrespeitosa entre o sagrado e o profano, uma invasão do espaço de lazer alheio com proselitismo religioso. Outros, por outro lado, podem admirar sua coragem, sua criatividade missionária e sua disposição em levar sua mensagem ou seus produtos a um ambiente inesperado, onde talvez residam pessoas necessitadas de apoio espiritual ou simplesmente curiosas. Para um libertário consequente, a questão principal não reside em emitir um julgamento moral sobre a adequação do local ou a eficácia da estratégia missionária. O foco deve estar na defesa intransigente do direito dela de estar ali, exercendo sua atividade (seja ela primariamente missionária, comercial, ou uma combinação de ambas) de forma pacífica, voluntária e respeitosa. O ponto crucial é: o dono do estabelecimento permitiu sua presença? Os clientes foram abordados de forma não coercitiva e tiveram a plena liberdade de interagir, comprar, conversar ou simplesmente ignorar? Se as respostas a essas perguntas forem afirmativas, então não há, sob a ótica da liberdade individual e dos direitos de propriedade, nada intrinsecamente errado ou que justifique qualquer tipo de proibição, censura ou intervenção externa, seja ela estatal ou social.
Essa situação de interação voluntária em um ambiente inusitado contrasta de forma gritante com as inúmeras e crescentes formas pelas quais o Estado moderno interfere arbitrariamente nas escolhas individuais e nas interações pacíficas entre as pessoas. Pensemos: quantas profissões, hoje, exigem licenças caras, burocráticas e, muitas vezes, desnecessárias para serem exercidas, criando barreiras de entrada e protegendo corporações estabelecidas? Quantas atividades comerciais legítimas são proibidas ou severamente restringidas em determinados locais, ou horários, por decretos municipais ou estaduais arbitrários, baseados em pretextos de "ordem pública" ou "moralidade"? Quantas vezes o leviatã estatal, por meio de suas leis e regulamentações, tenta impor uma moralidade específica à população, proibindo comportamentos consensuais entre adultos (como o consumo de certas substâncias, jogos de azar ou determinadas práticas sexuais) ou mesmo trocas voluntárias que não prejudicam diretamente terceiros?
(Sugestão de Pausa)
É claro que uma análise completa não pode ignorar as questões sobre a própria estrutura hierárquica e dogmática da Igreja Católica e das ordens religiosas. São instituições milenares, com suas próprias regras internas, doutrinas e códigos de conduta, que podem, em muitos aspectos, restringir significativamente a liberdade individual de seus membros em comparação com a vida secular. A decisão de ingressar em uma ordem religiosa implica, necessariamente, aceitar voluntariamente um conjunto de votos (pobreza, castidade, obediência) e disciplinas que moldam a vida cotidiana. No entanto, a diferença fundamental e crucial em relação à natureza do estado é que a adesão a uma ordem religiosa é, ou ao menos deveria ser em princípio, um ato voluntário. Ninguém é coagido pela força a se tornar freira, padre ou monge. A pessoa escolhe livremente se submeter àquela disciplina específica em busca de um objetivo espiritual que considera superior ou mais valioso do que as alternativas seculares. E, crucialmente, se em algum momento essa pessoa decidir que aquele caminho não é mais para si, ela tem (ou deveria ter, segundo os princípios da liberdade) o direito de sair da instituição, de renunciar aos seus votos, sem sofrer sanções legais ou coerção física. A base da relação, idealmente, é o consentimento e a escolha individual, ao contrário da relação com o estado, que se fundamenta, em última instância, na coerção. O que todo governo sempre faz é impor leis e tributos independentemente do consentimento individual, usando a ameaça do uso da força contra aqueles que desobedecem.
(Sugestão de Pausa)
No fim das contas, além do inusitado e do burburinho momentâneo, a história da bela freira que deixou a carreira de miss para vender terços e ajudar pessoas necessitadas serve como um lembrete poderoso. Lembra-nos que a vida humana é, em essência, uma tapeçaria feita de escolhas individuais.
A verdadeira liberdade está na capacidade de fazer essas escolhas — sobre carreira, estilo de vida, crenças e valores — e de arcar com as consequências naturais, sem coerção de terceiros, especialmente do governo e seus agentes.
Seja qual for a motivação mais profunda de Irmã Eva — fé genuína, busca por sentido, estratégia missionária criativa ou até mesmo uma forma singular de empreendedorismo religioso —, sua trajetória ilustra com clareza um direito humano fundamental: o de buscar a própria felicidade de forma autêntica e significativa.
O fato de sua história ter capturado a atenção de tantas pessoas talvez revele algo mais profundo. Mostra um anseio latente por autenticidade, coragem individual e por narrativas que escapem do roteiro previsível e raso imposto pela cultura de massa, pelas pressões sociais e pela tirania do politicamente correto.
Que possamos, então, não apenas observar com curiosidade, mas também defender ativamente a liberdade dela — e de todos os indivíduos — de escolherem seus próprios caminhos, por mais surpreendentes, não convencionais ou desafiadores que possam parecer aos olhos alheios.
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2025/06/01/freira-que-viralizou-apos-vender-tercos-em-bar-de-goiania-ja-foi-modelo-e-miss-veja-antes-e-depois.ghtml
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2025/05/31/freira-que-viralizou-nas-midias-sociais-por-sua-beleza-vendia-tercos-em-bar-de-goiania.ghtml
https://jornalmassa.com.br/cidades/ex-miss-que-virou-freira-viraliza-ao-vender-tercos-em-bar-1297372
https://www.metropoles.com/brasil/saiba-quem-e-a-freira-que-chamou-atencao-pela-beleza-em-goiania-video