Muita gente paga de altruísta, para se mostrar moralmente superior aos outros. Grupos ideológicos induzem seus adeptos a fazerem isso o tempo todo. Mas quem verdadeiramente pensa no bem alheio, os individualistas esses supostos altruístas?
Geralmente quando alguém é chamado de individualista, é com conotação negativa. Individualismo é considerado xingamento, pois se trata dos que só pensam em si. Mas seria realmente o individualismo o vilão? Ao longo da história houve várias ideologias baseadas no exato oposto: o altruísmo. Esse suposto altruísmo era algo totalmente forçado que pregava a superioridade das necessidades coletivas em detrimento do indivíduo, de seus desejos e objetivos. Mas esses regimes coletivistas terminaram gerando enormes males, apesar da suposta boa intenção. Essas ideologias nefastas, como o comunismo, pregavam que em vez de cada um seguir os seus interesses, era preciso colocar o interesse dos outros acima dos seus.
Este termo, altruísmo, foi cunhado por Auguste Comte, o fundador do positivismo. Ele acreditava que as pessoas deveriam agir sempre pelo bem-estar geral ou pela humanidade. O positivismo influenciou fortemente os militares que proclamaram a república no Brasil, tanto que a frase adotada para a bandeira brasileira, "ordem e progresso", é um lema positivista. Esta ideologia acreditava que uma elite intelectual de cientistas e técnicos deveria administrar a sociedade. Não é preciso ir muito longe para perceber o quão elitista é o positivismo. Afinal, é necessário ser muito soberbo para achar que um grupo pequeno de burocratas, políticos e especialistas tem conhecimento para ditar a vida de milhões de pessoas. Mas foi isso que nos fizeram acreditar desde sempre. Consequentemente, as décadas que seguiram a proclamação da república foram de grande retrocesso às liberdades individuais. O motivo de ditadores gostarem de ideologias coletivistas é que isso lhes dá uma boa desculpa para menosprezar e anular os direitos e planos individuais, e assim impor seus planos e políticas sobre toda a sociedade.
O século XX foi recheado de ideologias coletivistas. O fascismo enfatizava a subordinação do indivíduo ao Estado. O comunismo enfatizava a importância de servir à comunidade, em vez de perseguir o sucesso individual ou o lucro. Naturalmente, as duas ideologias criticavam fortemente o liberalismo por ser supostamente uma corrente que pregava, como eles gostam de dizer, o egoísmo exacerbado. Vejam a ironia da história. Enquanto o liberalismo baseado no individualismo trouxe o bem-estar geral em todos os lugares que foi aplicado, o fascismo e o comunismo, supostamente altruístas, trouxeram catástrofe generalizada nos lugares que passaram. Para quem olha de forma ingênua, parece um paradoxo que logo o individualismo seja aquele que traz o bem-estar geral.
Então, vamos analisar mais a fundo como o coletivismo se comporta. Quando a vontade dos indivíduos é subordinada à vontade do coletivo, é preciso assumir a equivocada premissa de que existe vontade do coletivo. Pense no Brasil, qual é a vontade do brasileiro? Gostar de carnaval? Tem vários brasileiros que não gostam de carnaval. Assistir filmes nacionais? Tem vários brasileiros que preferem os filmes estrangeiros. Será que existe uma vontade única do brasileiro como algum gosto por prato típico da nossa culinária, comportamento, religião ou esportes? É claro que não.
Após assumir que existe uma vontade única, é preciso escolher os representantes dessa vontade. Será que tem alguém que pode responder pelo povo? Talvez o Xandão, será? Deixamos vocês responderem isso nos comentários. O que acontece na prática é que uma pequena elite domina a população se dizendo representante do povo. Não é à toa que a revista Forbes avaliou a fortuna de Fidel Castro em 900 milhões de dólares em 2006, com grande parte da população cubana vivendo na pobreza. Tudo em nome da igualdade e dos interesses coletivos do povo cubano.
Outra característica nefasta comumente encontrada no coletivismo é o ódio a outros grupos. Nem todos estão incluídos no suposto bem geral. Pense que os coletivistas não pensam em indivíduos, mas em grupos. Então uma pessoa de outro grupo pode ser considerada inimiga simplesmente por fazer parte de outro grupo.
O filme “Nada De Novo No Front” tem uma cena que ilustra muito bem isso. O protagonista, um soldado alemão nas trincheiras da 1ª Guerra Mundial, luta até a morte com um soldado francês. No final, após tirar a vida do inimigo, pega seus documentos e chora, ao perceber que ele não matou um ser abstrato do exército rival, mas sim um indivíduo, com um nome e uma história única.
Até hoje ainda tem gente que defende punições coletivas. Nos EUA existe um comportamento doentio adotado por certos indivíduos malucos, chamado White Guilt. Pessoas brancas pedem desculpas, se humilham e tentam pagar pelo que os brancos fizeram com negros e nativos na história. Como se uma pessoa de hoje respondesse pelos erros que outras pessoas fizeram no passado, só por terem a mesma cor de pele.
Uma palavra que resume bem o coletivismo é: sacrifício. Todos deveriam colocar seus interesses de lado e se sacrificar por algo maior. Seja a nação, o proletariado ou a humanidade. O homem virtuoso seria aquele que renuncia a si próprio. A questão é que sempre um pequeno grupo se coloca como representante máximo, e todos se sacrificam por ele. Por isso, o coletivismo sempre se corrompe ou falha. Indivíduos se corrompem, em geral, quando alcançam o poder, e eles sempre irão abandonar os interesses coletivos para pensar em seus próprios ganhos pessoais. Por isso, todo ditadorzinho comunista fica extremamente rico em questão de poucos anos; tão logo chegam no poder, todas os seus desejos pessoais precisam ser satisfeitos às custas do trabalho do resto da sociedade.
Há grupos que tentam aplicar o coletivismo em pequena escala. Por exemplo, os kibutzim em Israel, eram pequenas sociedades socialistas agrícolas. Nela, as principais decisões eram feitas em assembleia. Dessa forma, se reduziria a necessidade de representantes, e o interesse do grupo seria perfeitamente contemplado. O problema é que essas reuniões também tem suas falhas. Os mais eloquentes se sobressaem em discussões, mesmo que não tenham o melhor argumento. Pessoas tomam posições com vieses pessoais, defendem os amigos ou parentes em disputas, mesmo que eles não tenham a razão. Discussões racionais acabam descambando para ofensas pessoais. Nesse momento, a melhor coisa é parar com o idealismo barato e assumir que todos agem com interesses pessoais - afinal, é a natureza humana e não tem como negar isso.
Para alguns, pode ser decepcionante assumir que humanos sempre agem pelo interesse próprio. Mas, se olharmos com mais profundidade, veremos que não há nada de errado nisso. Aliás, do ponto de vista econômico, moral e até espiritual, tudo está tão conectado, portanto, não há como diferenciar o bem ao próximo e o bem a si mesmo. Vamos nos aprofundar nesses pontos.
Adam Smith criou a metáfora da mão invisível, e conseguiu explicar didaticamente como a economia se autorregula. Se muita gente está desempregada e disposta a receber baixos salários por empregos, isso irá atrair novas empresas, o que volta a aumentar os salários. Se tem muita demanda de algo, os preços sobem e geram lucro, atraindo novos investidores, o que gera concorrência e os preços voltam a baixar. Desta forma, quando alguém tenta enriquecer, precisa primeiro produzir, o que naturalmente gera valor para os consumidores e emprego para trabalhadores. A riqueza gerada, por sua vez, será usada para consumir e movimentar a economia, ou ser poupada para futuros investimentos, alimentando o ciclo positivo. Do ponto de vista econômico, deixar que as pessoas sigam seus interesses e busquem o lucro é exatamente o motor da produção. Tentar regular a economia na força bruta, impor regras em nome do povo ou do coletivo, quebra o ciclo positivo de prosperidade.
Essas regulações, na prática, apenas criam restrições à livre iniciativa e concorrência nos mais diversos setores da economia em que essas políticas regulatórias incidem. Isso pode beneficiar apenas grandes empresas estabelecidas que conseguem lidar com os novos encargos e restrições - são os famosos empresários corporativistas que fazem lobby no congresso. A consequência disso será uma diminuição na oferta de bens e serviços, já que muitos potenciais investidores serão impedidos de entrar em mercados altamente regulados. O consumidor será penalizado com aumento de preços devido a uma oferta limitada, o que prejudica a todos.
Ao ver uma sociedade prosperando economicamente, alguém poderia se preocupar dela se tornar consumista ou materialista demais. Mas a tendência é oposta. Em sociedades pobres a questão material é muito mais decisiva na vida das pessoas. Com a fartura de bens materiais, a tendência é que estes tenham cada vez menor importância, enquanto as relações humanas cada vez mais importância. Tanto é que é comum ver aqueles empresários ricos falando que o que eles mais valorizam é tempo e a presença com a família, já que eles não têm nenhuma carência material.
Além do mais, independente da economia, o ser humano por natureza tem características sociais. Pessoas colaboram em nome de criar relações sociais, ou poder pertencer a grupos. Pessoas buscam formar famílias e ter sucesso em conjunto. Pessoas também buscam realizações não materiais. Não é por acaso que existe trabalho voluntário e caridade. O economista e pai do anarcocapitalismo, Murray Rothbard, pertinentemente explicou que o ser humano age em busca do maior lucro psíquico, o que acredita ser o melhor para si. Isso, muitas vezes, acaba divergindo do maior lucro material possível.
O ponto de vista moral vai na mesma linha do econômico. Fazer o bem a si mesmo contribui muito ao bem alheio. Pessoas com saúde são capazes de ajudar pessoas doentes. Pessoas produtivas contribuem para a renda familiar. Pessoas com inteligência emocional formam relações saudáveis e benéficas para todos. Como dizia o chorão: quem está em paz não quer guerra com ninguém.
Algumas pessoas têm medo do individualismo levar à degradação moral. Mas o exato oposto ocorre, pois a premissa da evolução moral é o livre arbítrio. O coletivismo tenta impor a sua moral às pessoas, mas naturalmente falha, porque a moralidade não pode ser imposta, já que se tornaria falsa. É preciso deixar as pessoas tentarem, falharem e evoluírem.
Ayn Rand, grande escritora e filósofa, foi uma proeminente defensora do individualismo. Numa entrevista, o jornalista a questionou sobre o amor: Se todos forem individualistas, ninguém amará ninguém? E de forma perspicaz ela retrucou: imagine um homem que diz a uma mulher que a ama só para suprir uma necessidade dela. Que mulher gostaria de ouvir isso? Amar o outro deve ser para a própria felicidade, esse é o maior presente que se pode dar a alguém.
O amor mais elevado não quer nada em troca. É claro, quem ama já recebeu o que queria: a satisfação de ver o outro feliz. Quem ama faz o bem ao outro porque é como se o outro fizesse parte de si mesmo. Fazer o bem ao outro não é diferente de fazer o bem a si. Desta forma, o amor não é altruísta, mas individualista. Não há sacrifícios. Até o pai e mãe de um bebê, numa rotina cansativa de privação de sono, podem se sentir cansados e até sacrificados. Mas ao verem o bebê se desenvolvendo e feliz, se sentem preenchidos, e percebem que não fizeram nenhum sacrifício. Por mais que tenha sido difícil, ver o bem do filho ou da filha é ver o bem de si mesmos.
Então simplesmente ame a si mesmo, ao próximo e, se você acredita, a Deus. Não caia na falácia coletivista de achar que você precisa se sacrificar por alguém, ou os outros precisam se sacrificar por você. Quem diria que o individualismo pensa mais nos outros do que o altruísmo
https://veja.abril.com.br/mundo/fortuna-de-fidel-castro-pode-ter-alcancado-900-milhoes-de-dolares
https://en.wikipedia.org/wiki/White_guilt
https://fee.org/articles/what-ayn-rand-understood-about-romantic-love-that-so-many-fail-to-grasp/