Mais um choro da ESQUERDA EUROPEIA pela "SOBERANIA TECNOLÓGICA"

A nova histeria da "soberania tecnológica europeia" não passa de mais um capítulo do velho protecionismo digital: quando a esquerda não consegue inovar, culpa o sucesso alheio e chama de ameaça aquilo que é só concorrência

A Europa parece ter desenvolvido um talento peculiar para transformar toda questão tecnológica em um drama geopolítico ideológico. A cada avanço tecnológico no mundo, especialmente nos Estados Unidos, surge em Bruxelas uma nova torrente de discursos inflamados sobre “soberania digital”, “proteção da democracia”, “segurança dos dados dos cidadãos” e “resistência à dominação estrangeira”. É como se a elite aristocrática socialista europeia — essa casta política que vive deslocada da realidade produtiva — precisasse sempre fabricar um novo inimigo para justificar sua própria existência. A inovação, de fato, não é prioridade; o que importa é manter o teatro regulatório funcionando, sempre com um tom moralista, paternalista e, principalmente, arrogante.

O artigo publicado no The Guardian, intitulado “A UE permitiu que as gigantes tecnológicas americanas agissem sem controle. Diluir nossa legislação sobre dados só fortalecerá o poder delas”, é mais um sintoma dessa mentalidade. Seus autores, Johnny Ryan e Georg Riekeles, ecoam o discurso segundo o qual flexibilizar o GDPR — a famosa lei europeia de proteção de dados — equivaleria a entregar a Europa a um “vassalagem digital” dos Estados Unidos. A escolha das palavras não é casual: a narrativa pretende gerar medo, indignação e sensação de urgência. Para isso, recorrem ao vocabulário dramático: “vassalagem”, “dominação estrangeira”, “oligarquia digital”, “abuso das grandes empresas americanas”. Mas, por trás da retórica, existe o quê? Algo muito simples: a elite política europeia usa a linguagem da proteção do cidadão para ocultar o fato de que, quando o assunto é inovação tecnológica, a Europa se tornou irrelevante.

Essa elite, que se considera herdeira ilustrada do racionalismo dos séculos passados, hoje vive enclausurada no mundo dos comitês, relatórios e eventos políticos sobre “o futuro digital europeu”. Passa mais tempo regulando do que produzindo. Enquanto o Vale do Silício cria empresas que transformam o mundo, Bruxelas cria documentos em PDF. Quando os Estados Unidos criam um framework para estimular startups, a Europa cria um processo de avaliação de impacto regulatório. Quando os americanos lançam uma nova tecnologia, a burocracia europeia lança uma nova preocupação moral: “o que essa tecnologia poderá fazer de mal para o cidadão?”. A elite aristocrática socialista europeia tem horror à espontaneidade da inovação, porque inovação implica risco, liberdade e competição — três palavras que essa casta tenta banir do léxico político europeu.

O artigo do The Guardian diz que enfraquecer o GDPR seria ceder ao imperialismo tecnológico americano. Isso é uma inversão completa da realidade. O que realmente enfraquece a Europa é justamente o uso do GDPR como ferramenta para sufocar o ecossistema de startups, bloqueando o surgimento de qualquer concorrente europeu relevante. A lei é vendida como um escudo contra as big techs, quando na prática funciona como uma muralha contra pequenos empreendedores. Uma Google da vida pode contratar dezenas de advogados para navegar pelo mar de burocracias do GDPR. Já uma startup nascente não tem esse luxo. Para ela, cumprir as exigências legais consome um volume de tempo e dinheiro que poderia estar sendo usado para inovar. O resultado final é irônico: a “lei para limitar o poder das big techs” se tornou justamente a arma que assegura que nenhuma empresa europeia nunca chegará perto de competir com elas.

Mas, em vez de reconhecer o fracasso desse modelo, o artigo do The Guardian insiste que o problema não é o GDPR, e sim sua falta de aplicação. Segundo os autores, bastaria fazer cumprir a lei com mais rigor para “desmantelar” as gigantes americanas. Essa lógica revela uma mentalidade profundamente estatista: o estado não tem que criar as condições para que as empresas europeias inovem; ele deve simplesmente punir as empresas que inovam mais que as europeias. Para essa elite, competição não é algo a ser estimulado, mas algo a ser neutralizado. E se a Europa não consegue competir com os Estados Unidos, a solução não é melhorar o ambiente de negócios, atrair talentos ou facilitar o financiamento de pesquisas. A solução é sufocar o outro lado na marra.

Esse pensamento — infantil em essência — é típico da aristocracia socialista europeia: a crença de que o mundo seria mais justo se todos fossem igualmente pobres, ou igualmente ineficientes. Inovação é vista como uma ameaça, e não como uma oportunidade.

O ponto mais surreal do artigo é quando ele elogia a China como exemplo de como é possível ter inovação sob forte regulamentação estatal. É um gesto revelador. Quando a esquerda aristocrática europeia precisa justificar seu modelo intervencionista, recorre ao modelo chinês para defender suas ideias — um regime autoritário, controlador, que usa dados pessoais para monitorar a população, punir dissidentes e restringir liberdades civis. Além do mais, a ascensão de empresas tecnológicas chinesas não se deu por causa da regulação, mas apesar dela. O que moveu a inovação chinesa foi o investimento agressivo em pesquisa, o foco em educação nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática e a mobilização de recursos estatais para desenvolvimento de hardware avançado. Comparar isso com o modelo europeu — um sistema onde cada esboço de startup já nasce com medo de ser sufocado por comissões regulatórias — é uma farsa intelectual. 

É importante deixar claro que, quando dizemos que a China investiu recursos estatais em educação e pesquisa, não estamos dizendo que apoiamos qualquer investimento estatal em qualquer área. O chamado recurso público, nada mais é do que dinheiro roubado da população, e nem que seja direcionado para algo bom, como a educação, ainda é ilegítimo por ter sido tirado à força das pessoas. O ponto aqui é apenas comparar a regulação extrema da Europa com o caminho tomado pela China, que apesar de ter certo sucesso, não é ético.

A elite aristocrática socialista europeia adora falar em “soberania tecnológica”, mas não movimenta um dedo para criar condições que tornem a Europa tecnicamente soberana. Em vez disso, produz montanhas de regulamentação que atrasam tudo e criam obstáculos para qualquer tentativa de inovação doméstica. A Europa quer ter empresas poderosas, sem permitir que elas cresçam. Quer ser protagonista na economia digital, mas sem aceitar que o mercado siga sua lógica de competição e risco. Quer inovação com segurança total, liberdade condicionada, sucesso garantido. Esse modelo não existe — e nunca existirá.

O ponto alto da hipocrisia é observar que as gigantes americanas — as supostas vilãs — dominam o mercado europeu porque oferecem produtos que as pessoas realmente querem usar. Não há colonização digital quando há escolha livre do consumidor. Não existe “vassalagem tecnológica” quando o cidadão, diante de alternativas, opta espontaneamente por Google, Apple, YouTube ou Microsoft. A verdade é que não existe equivalente europeu para esses produtos porque a Europa não criou um ambiente onde essas ideias possam surgir.

Essa elite não aceita a realidade de que a razão pela qual a Europa não tem um Google, uma Amazon ou uma OpenAI não é a invasão americana. É a fuga de cérebros europeus para os Estados Unidos. Jovens engenheiros, pesquisadores e cientistas europeus deixam o continente porque sabem que nos Estados Unidos há liberdade para experimentar e falhar. Lá, o fracasso é um degrau para o sucesso. Na Europa, fracassar é um crime, uma desgraça pessoal e uma vergonha pública. É o reflexo de uma cultura que jamais compreendeu que a inovação depende do erro — e que o erro é essencial. O destino tecnológico da Europa já está traçado: tornar-se irrelevante.

Do ponto de vista libertário, a única forma ética e também eficiente de se atingir um alto desenvolvimento tecnológico e um alto nível de inovação em uma região, é derrubando toda e qualquer regulamentação e impostos, e abrindo as portas para quem quer inovar. Isso fará com que aquela região seja desejada e disputada pelas melhores empresas, criará um ambiente de universidades locais focadas em fazer pesquisas e prepara profissionais para as empresas da região, e ainda criará uma população de alta renda e, por consequência, uma economia próspera e viva. Esse é o ambiente ideal para o progresso tecnológico.

A verdadeira soberania tecnológica da Europa não surgirá de mais regulamentação, mais comissões e mais discursos inflamados sobre proteção do cidadão. Surgirá quando a Europa abandonar a mentalidade aristocrática de controle e abraçar uma cultura de risco, ousadia e liberdade. Enquanto a elite socialista continuar acreditando que a solução para a falta de inovação é sufocar quem inova, a Europa continuará sendo espectadora — não protagonista — da revolução tecnológica.

Soberania tecnológica não se conquista com burocracia. Se conquista criando algo que o mundo queira usar. E a elite aristocrática europeia ainda não entendeu — talvez nunca entenda — que inovação não nasce de comitês.
Nasce da liberdade.

Referências:

European Commission — EU Startup and Scaleup Strategy
https://research-and-innovation.ec.europa.eu/strategy/strategy-research-and-innovation/jobs-and-economy/eu-startup-and-scaleup-strategy_en

Research and innovation

Documento oficial que apresenta a estratégia da UE para tornar a Europa um lugar “melhor” para lançar e escalar startups e scale-ups.
Fornece suporte para afirmações sobre iniciativas europeias, mas também sobre os desafios e reconhecimento de que há necessidade de melhorar o ecossistema.

OECD — OECD Science, Technology and Innovation Outlook 2025
https://www.oecd.org/en/publications/oecd-science-technology-and-innovation-outlook-2025_5fe57b90-en/full-report/an-ecosystems-approach-to-industrial-policy_a9c00ad7.html

OECD

Um relatório que analisa como ciência, tecnologia e inovação (STI) podem apoiar mudança transformativa. Embasa a ideia de que ecossistemas de inovação exigem mais que regulação — exigem investimento, difusão, coordenação.

— European Startups and Generative AI: Overcoming Big Tech’s dominance
https://www.ifri.org/sites/default/files/2025-05/ifri_le_picard_european_startups_genai_2025.pdf

Ifri

Estudo que discute como startups europeias enfrentam a dominância das big techs na IA. Útil para sustentar a crítica de que haver regulação ou dominância externamente não basta para gerar competitividade.

— Start-up driven innovation and growth (OECD)
https://www.oecd.org/en/topics/sub-issues/start-up-driven-innovation-and-growth.html

OECD

Página da OECD destacando que os polos de inovação — startups, scale-ups — exigem ambientes regulatórios e de suporte adaptativos, financeiros e culturais. Apoia a ideia de que regulação pesada pode inibir.

— Technology and Innovation in the EU: Challenges, Gaps and Strategic Opportunities
https://europeanrelations.com/technology-and-innovation-in-the-eu-challenges-gaps-and-strategic-opportunities/

europeanrelations.com

Uma análise crítica dos “gaps” europeus em tecnologia e inovação. Auxilia a fundamentar que a Europa está atrás e que o discurso dominante encontra brechas práticas.

— EU Startup Ecosystem: Gaps, Improvement Trends and Economic Impact
https://www.researchgate.net/publication/394275127_European_Startup_Ecosystem_Gaps_Improvement_Trends_and_Economic_Impact

ResearchGate

Estudo que examina lacunas no ecossistema europeu de startups — útil para reforçar a tese de que a Europa enfrenta obstáculos mesmo antes da regulação ou dos gigantes americanos.

— The Need for European Big Tech
https://www.naspers.com/~/media/Files/N/Naspers-Corp-V2/investor/the-need-for-big-tech-champions-in-europe.pdf

naspers.com

Documento que argumenta pela necessidade de “campeões tecnológicos europeus” e sugere que “regular apenas não basta” — embasa a crítica de que a Europa não tem suficientes empresas tecnológicas de escala global.