O governo cria o "Cupido do GovBr" e promete unir casais que compartilham afinidades políticas como defesa da justiça tributária, taxação dos super-ricos e a soberania nacional
O governo federal lançou no último domingo o "Cupido do GovBr", uma campanha nas redes sociais que se apresenta como o cumprimento da promessa de Lula, feita durante a campanha de 2022, de criar um "Ministério do Namoro". A iniciativa, que mistura humor e propaganda ideológica, propõe juntar casais com base em afinidades políticas — desde que sejam as afinidades certas, é claro.
A publicação oficial sugere que brasileiros que defendem "justiça tributária", "soberania nacional" e "taxação dos super-ricos" agora podem contar com ajuda federal para encontrar romance. Em outras palavras, se você concorda que "quem tem mais tem que pagar mais" e que "o Brasil não pode abaixar a cabeça pra ninguém", o governo quer facilitar seu encontro amoroso. Mas se você discorda dessas premissas estatistas, bem... aparentemente seu destino é permanecer solteiro, sem a benção do Palácio do Planalto.
À primeira vista, pode parecer apenas uma brincadeira inofensiva — e o próprio governo admite que "não é muito sério". Mas quando se examina o contexto em que essa campanha foi lançada, a coisa deixa de ter graça e passa a revelar algo profundamente perturbador sobre as prioridades do atual governo.
Os gastos do governo Lula com propaganda na internet mais que dobraram em 2025, atingindo R$ 69 milhões desde janeiro — um aumento de 110% em relação ao mesmo período de 2024. Considerando ministérios, bancos e estatais, os gastos totais com publicidade podem chegar a R$ 3,5 bilhões em 2025, superando em R$ 1 bilhão o que foi gasto no final da gestão Bolsonaro.
Enquanto isso, o déficit nas contas públicas chegará a R$ 30,2 bilhões em 2025. Inflação alta, desemprego estrutural, dívida pública crescente. Mas a prioridade é gastar milhões em "match ideológico" e influenciadores digitais.
O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) resumiu: "Brasil caminhando para fechar o ano com um rombo fiscal de R$ 30 bilhões e o PT está preocupado em brincar de cupido. Só otário defende esse governo".
(Sugestão de Pausa)
Sob o comando de Sidônio Palmeira, que assumiu a Secretaria de Comunicação em janeiro de 2025, a fatia do orçamento dedicada à comunicação digital subiu de 13,76% para 25%. A estratégia prioriza influenciadores de médio alcance, com cachês médios de R$ 20 mil por campanha, buscando alcançar públicos fora da base petista tradicional.
Mas não nos enganemos: essa não é uma simples estratégia de comunicação pública. É uma operação de compra de narrativa. O governo não está apenas "informando" a população sobre políticas públicas — está tentando moldar opiniões, criar consenso artificial e, claro, preparar terreno eleitoral para 2026.
O "Ministério do Namoro", nesse contexto, é mais uma peça dessa engrenagem. Ao vincular relacionamentos amorosos a posições políticas específicas — e sempre favoráveis ao governo —, a campanha não está apenas "brincando". Está normalizando a ideia de que até a vida privada, até os afetos mais íntimos, devem ser filtrados pelo crivo ideológico do estado.
Em "1984", de George Orwell, o Partido não se contenta em controlar apenas as ações dos cidadãos — precisa controlar seus pensamentos. O momento mais emblemático do romance ocorre quando Winston Smith, após meses de tortura psicológica, é finalmente convencido de que 2 + 2 = 5. Não porque acredite de verdade, mas porque o Partido precisa demonstrar que pode fazer você acreditar em qualquer coisa, mesmo no absurdo mais evidente.
O paralelo com a atual estratégia de propaganda governamental é perturbador. Bilhões de reais em comunicação não são gastos apenas para "informar" — são investidos para criar uma realidade alternativa onde aumentar impostos se torna sinônimo de "justiça", onde taxar "super-ricos" resolve todos os problemas e onde quem discorda dessas premissas é automaticamente classificado como inimigo do povo.
A campanha do "Cupido do GovBr" é sintomática dessa engenharia de consenso. Ao condicionar até mesmo relacionamentos amorosos à aceitação de que "quem tem mais tem que pagar mais", o governo está tentando transformar posições políticas discutíveis em verdades incontestáveis. Está tentando fazer você acreditar que tributação confiscatória é amor, que intervencionismo estatal é cuidado e que quem defende liberdade econômica é, na verdade, cúmplice da desigualdade.
A estratégia é sofisticada. Ao invés de impor uma narrativa de cima para baixo, o governo investe em "influenciadores de médio alcance" que se apresentam como vozes independentes. Cria campanhas que parecem descontraídas, engraçadas, "descoladas". Usa memes, hashtags e linguagem jovem. Tudo para que a mensagem ideológica pareça orgânica, espontânea, quase uma verdade autoevidente.
É a propaganda do século XXI: mais sutil, mais capilarizada, mais difícil de detectar. Mas não menos perigosa.
(Sugestão de Pausa)
O objetivo final é claro: fazer com que a população internalize, quase inconscientemente, que o estado tem direito de tomar cada vez mais do que você produz. Que "justiça tributária" significa penalizar quem gera riqueza. Que "soberania nacional" justifica protecionismo e controles que sufocam a economia. E que questionar essas premissas é sinal de egoísmo, insensibilidade ou, pior, de ser "entreguista".
Assim como o Partido de Orwell não podia tolerar que alguém pensasse que 2 + 2 = 4, o governo não pode tolerar que alguém questione se tributação progressiva infinita é "justiça". Não pode aceitar que alguém aponte os dados econômicos mostrando que países com menor carga tributária crescem mais, geram mais empregos e reduzem mais a pobreza.
A genialidade perversa dessa campanha específica está em misturar o pessoal com o político de forma aparentemente inofensiva. Afinal, quem vai reclamar de uma brincadeira sobre namoro? Quem vai se opor a "encontrar alguém com as mesmas ideias"?
Mas a mensagem subliminar é devastadora: suas escolhas mais íntimas devem estar alinhadas com a ideologia aprovada pelo estado. Namore alguém que concorde com a agenda tributária do governo. Relacione-se com quem apoia as mesmas pautas econômicas que o Ministério da Fazenda. E se você discorda dessas visões? Bem, você está no grupo errado. Você não merece um "match" aprovado pelo Cupido estatal.
É o Grande Irmão versão Tinder: vigiando não apenas o que você faz, mas com quem você se relaciona e por quais razões.
Aqui está a verdade que nenhuma campanha de R$ 3,5 bilhões consegue esconder: aumentar impostos sobre os ricos não torna os pobres mais ricos. Nunca tornou. Em nenhum lugar do mundo. Em nenhum momento da história.
O que gera prosperidade é produção, não redistribuição. O que tira pessoas da pobreza é crescimento econômico, não confisco tributário. O que cria empregos e oportunidades é liberdade de empreender, não burocracia e taxação.
Mas admitir isso significaria reconhecer que o modelo defendido pelo governo é falho. Significaria admitir que décadas de intervencionismo, protecionismo e tributação progressiva não resolveram a desigualdade — a agravaram. Significaria reconhecer que o próprio estado, com sua máquina inchada, seus privilégios corporativos e sua ineficiência crônica, é parte central do problema.
(Sugestão de Pausa)
E é exatamente por isso que bilhões são gastos em propaganda: para que você não perceba o óbvio. Para que você não faça as contas. Para que você não compare o discurso com os resultados.
Assim como Winston precisou ser torturado até aceitar que 2 + 2 = 5, a população brasileira é bombardeada diariamente com mensagens dizendo que mais Estado = mais justiça, que mais impostos = mais igualdade, que menos liberdade = mais segurança.
E a cada campanha milionária, a cada influenciador contratado, a cada "brincadeira" como o "Ministério do Namoro", o governo aperta mais um parafuso na tentativa de fazer você acreditar no impossível: que é possível gastar seu caminho para a prosperidade, tributar seu caminho para a riqueza e controlar seu caminho para a liberdade.
Do ponto de vista libertário, essa iniciativa revela um estado que perdeu completamente a noção de seus limites. Um estado que, na falta de soluções reais, ocupa seu tempo com frivolidades ideológicas disfarçadas de humor.
Enquanto o governo gasta bilhões em propaganda e brinca de Tinder ideológico, a realidade das famílias brasileiras segue deteriorando. A carne continua cara. O desemprego segue alto. A inflação corrói salários. A burocracia sufoca empreendedores.
(Sugestão de Pausa)
A verdadeira obscenidade não está na ideia de um aplicativo de namoro. Está no fato de que, em plena crise fiscal, o governo federal acha apropriado gastar milhões em campanhas publicitárias para fingir que cumpre promessas feitas em tom de piada. Está no fato de que essa máquina estatal, incapaz de equilibrar suas próprias contas, se arroga o direito de ditar quais ideias devem ser compartilhadas por pessoas que pretendem se relacionar.
Em uma sociedade livre, as pessoas escolhem com quem namorar sem precisar de intermediação governamental. Não há "app oficial" para relacionamentos porque não há necessidade disso. As plataformas privadas já existem, são eficientes e não condicionam os "matches" a concordância com pautas tributárias do governo.
O libertarianismo enxerga nesse episódio algo além do ridículo: enxerga o reflexo de um estado que não reconhece fronteiras para sua atuação. Um Estado que, quanto mais fracassa em suas funções ditas essenciais, mais se expande para áreas em que jamais deveria estar. Um estado que distribui dinheiro tomado de uns para gastar em propagandas que beneficiam outros, sempre sob o pretexto do "bem comum".
A lição é clara: quando o estado resolve brincar de cupido, você pode ter certeza de que a conta vai chegar — e vai ser alta. Porque no fim, como sempre, quem paga por essas frivolidades não são os marqueteiros contratados, nem os influenciadores bem remunerados, nem os publicitários que elaboram campanhas milionárias.
Quem paga é você. O pagador de impostos. Aquele que trabalha, produz e é forçado a financiar um governo que, em vez de resolver problemas reais, prefere inventar "ministérios" fictícios para fazer propaganda ideológica disfarçada de humor.
https://archive.org/details/orwell-1984_202101/page/n5/mode/2up
https://revistaoeste.com/politica/governo-lula-dobra-gasto-com-propaganda-na-internet/
https://portaldeprefeitura.com.br/bastidores-da-politica/governo-lula-anuncia-criacao-ministerio-namoro/606227/
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/lula-contas-publicas-endividamento-rombo-maior/