Sabemos que o estado não ajuda ninguém, mas o fato de um jovem sem dinheiro ter feito mais do que seu governo ainda consegue surpreender os socialistas.
Vocês conhecem o país pequeno chamado Malawi? Nenhuma imagem conhecida vem a tua mente? Pois é, nem precisa responder, já que foi uma pergunta retórica para mostrar o quão ruim é a situação de um cidadão mediano desse país, pois já parte do fato de que regiões pobres e abandonadas são esquecidas. Com uma população inferior a 20 milhões de pessoas, das quais, muitas já nascem lutando para sobreviver a cada dia, resistir a esse ambiente inóspito e pobre não é para qualquer um. Infelizmente, este é o resumo da vida de uma pessoa comum nos países subdesenvolvidos em vários cantos do mundo.
E é nesse cenário que o filme "O Menino que Descobriu o Vento” toma palco. Sendo lançado em 2019 para o mundo ocidental, em menos de duas horas de filme, a direção da obra cinematográfica mostrou em detalhes a vida sofrida do protagonista, um jovem estudante africano. Mesmo tendo uma produção mais simples, entrou na cultura de alguns cinéfilos. Já falando mais sobre o contexto do filme, ele é baseado na vida real de um homem chamado William Kamkwamba em seu pequeno país africano, assolado, como boa parte do continente, pela pobreza, corrupção e crises na produção agrícola.
É importante olharmos para o contexto macro que o próprio filme mantém como pano de fundo. Somente um olhar mais atento pode extrair o assunto que explica os problemas apresentados no filme. É o governo do país que mal consegue sustentar o próprio funcionalismo público, devido a uma arrecadação de impostos predatória, a qual sufoca tanto o pequeno agricultor quanto o empresário que tenta empreender por conta própria.
Logo, não faz sentido querer depender daquele estado sanguessuga falido, já que não é possível depender para sempre das migalhas do governo, e é isso que o jovem William aprendeu desde cedo. Na nação com recursos básicos escassos, a descrença na existência de um futuro melhor cresce. O protagonista vivia com a família em uma pequena aldeia, com pouco tempo para estudar, batalhando todos os dias na labuta da agricultura. Mas ele tinha algo que poucos tinham: curiosidade, resiliência e perseverança que lhe ajudariam a superar os desafios daquele local.
Naquele país esquecido, os políticos não ajudam os moradores, na verdade, nunca fingiram tentar, e é por isso que a trama começa no momento da virada de chave na vida do garoto. No decorrer da história, começa uma seca não vista em anos, causando uma destruição em massa das plantações, deixando todos da aldeia à beira da inanição. A consequência direta dessa seca é a redução da produção de alimentos e a falta de água potável. Além disso, esse tipo de crise estimula os conflitos entre as comunidades que passam a brigar pelos poucos recursos a que tem acesso, sem mencionar a propagação de doenças.
Afinal, como os próprios sociólogos e economistas definem, o país do sudeste africano é um país pobre, sem estrutura e com enormes problemas sociais. Afinal, a causa disso tudo seria o capitalismo ou o imperialismo dos governantes europeus, como pensa a esquerda? Não, aqui está ela: protecionismo econômico, impostos, políticas socialistas extremas e a interferência de governos com interesses nos recursos naturais do país são os mais fáceis de ver no filme. Em outras palavras, é a ausência de liberdade econômica, segurança jurídica e respeito à propriedade privada que impede dezenas de países africanos de encontrarem o sucesso econômico e resolverem seus problemas internos.
Podemos ver o espírito de esperança da população no próprio nome da nação, já que Malawi significa “sol nascente”. Mas, apesar disso, os altos índices de pobreza e autoritarismo são algo que os civis tristemente se acostumaram, como quem se acostuma com um destino cruel e certeiro. Principalmente porque o acesso à informação, tanto em tecnologia quanto em educação é precarizado, por isso, o jovem protagonista querendo sair desse ciclo de miséria sem fim, precisou ser curioso e determinado.
Ele enfrentou a inicial descrença de seus pais para trazer o melhor, a liberdade desenvolver a sua comunidade, o poder de decidir e melhorar a própria vida. Mais uma vez o indivíduo fazendo mais do que o estado. Esse cenário é tão incomum na mente de algumas pessoas com parafusos soltos que acham que o governo cria riqueza e é o responsável pelas boas coisas que temos acesso. Mas isso é tão verdade que, assim como o protagonista que tinha dificuldade de pagar pelas mensalidades escolares, conseguiu avançar na vida; tudo apesar do estado que em momento algum ajudou sua família. Já aqui no Brasil, nossos empreendedores precisam ter o espírito de resiliência e se virar nos 30 para sobreviver. Podemos perceber que, em cada país, suas respectivas populações enfrentam desafios semelhantes ou até mesmo piores.
Fica claro que William, desde o começo, buscava meios alternativos e geralmente não estatais para conseguir o conhecimento que o estado nunca proveu para seu povo. É então que a informação não centralizada, que ele conseguiu num livro de uma pequena biblioteca, mudou sua vida e a de quem vivia ao seu redor. Lá, ele descobriu um livro de física que continha informações sobre turbinas eólicas. Inspirado por essa descoberta, William decidiu construir sua própria turbina eólica para gerar eletricidade para sua casa e comunidade.
Usando materiais reciclados e conhecimentos autodidatas, o jovem estudante construiu uma turbina improvisada. Ele montou lâminas de plástico, um motor de bicicleta e outras peças de sucata para criar um gerador de energia movido pelo vento. Sua inovação foi um sucesso, proporcionando eletricidade para sua casa e demonstrando a viabilidade da energia eólica em uma escala pequena. Nem em décadas os políticos e todo o aparato estatal, com seus funcionários públicos, foram competentes para criar o que um garoto com muita curiosidade, e vontade de melhorar sua vida, conseguiu fazer.
Essa é a diferença da pesquisa descentralizada, que respondeu à intensa necessidade do jovem - essa é a grande questão que o filme ressalta. Logo mais, William convence sua comunidade com o moinho de vento que conseguiu fazer bombear água e gerar energia. Entretanto, mesmo com a melhoria da qualidade de vida na comunidade, as pessoas não ficam satisfeitas imediatamente; no entanto, com o tempo, o coração delas cede, e elas voltam a acreditar em um futuro melhor.
O Indivíduo teve êxito em melhorar a qualidade de vida da comunidade deixada ao descaso pelas autoridades, e isso representa todo o poder da criatividade humana e de como nossa força de vontade muda tudo. Essa solução fez os outros moradores deixarem de esperar ajuda externa e passarem a buscar soluções criativas para seus desafios. Ou seja, enquanto milhares de pessoas desamparadas pelo governo morriam de fome, o garoto superou os problemas ambientais, indo para a escola escondido e fazendo o que precisava ser feito. Sem perder tempo apenas reclamando da vida e criticando a elite corrupta, ele percebeu que era preciso colocar a mão na massa.
No final, essa história real não trata apenas de um garoto e sua comunidade, mas de aprender a superar condições adversas sem contar com apoio estatal para ajudar quem realmente precisa. A mensagem é comovedora, pois demonstra que mesmo sofrendo, ainda assim é possível sair dos problemas com o uso correto do conhecimento. Essa é a arma mais importante de um homem livre contra quem quer trancafiar e relativizar sua liberdade.
Além disso, o destaque internacional do filme trouxe mais iluminação a essa história, a esses temas e a esse espírito empreendedor, de pesquisar, de sonhar, que de outro jeito seria esquecida. Por isso, é tão importante ressaltar que com uma simples pesquisa na internet, é possível encontrar várias informações dessa obra cinematográfica - essa é a beleza da tecnologia descentralizada. Hoje, felizmente, o estado não pode impedir você de descobrir relatos inspiradores como este, ou de registrar sua própria história em um texto ou vídeo e divulgar ao mundo. Temos voz, e podemos alcançar dezenas de milhares de pessoas com ela. Isso claro, enquanto ainda temos alguma liberdade aqui na internet e precisamos sempre lutar para defendê-la.
É de premissas similares a essas que emanam a criação da tecnologia mais revolucionária da atualidade, o Bitcoin, de Satoshi Nakamoto para o mundo. Essa busca de conhecer e inventar, de resolver problemas e melhorar a vida alheia à revelia do Estado e à margem do poder governamental e suas leis restritivas. É a liberdade de criar suas próprias soluções, aquela vontade do coração em busca da sonhada libertação, é cuidar do dinheiro do jeito que o governo nunca vai cuidar e, por fim, conquistar sua independência. Por isso que o economista brasileiro, Fernando Ulrich, nos alerta que: “Bitcoin não é tirar o seu dinheiro do Brasil, é tirar o governo brasileiro do seu dinheiro”.
E, mesmo assim, essa mensagem edificante fica deixada de lado pelos olhos desatentos do espectador de primeira viagem, de que o futuro promissor só pode ser criado por nós mesmos. Essas obras que retratam uma pessoa à margem do controle estatal nos mostram que existem caminhos para resistir à agressividade do poder que tenta nos aprisionar diariamente. O jovem William estava numa situação muito pior do que todos nós porque nem internet ou celular ele tinha, e ele teve que fazer tudo com poucos recursos e praticamente sem investimento. É isso que torna esse filme tão tocante, é sobre sentir que pessoas simples e sem apoio fizeram coisas incríveis para melhorar a vida de uma comunidade. Todos esses inventores, muitas vezes solitários e sem apoio financeiro, enfrentam batalhas diárias e não se curvaram perante uma vida de dificuldades e falta de esperança.
Em síntese, é preciso que nunca esqueçamos que o mínimo ético libertário também significa buscar nossa própria independência, vencer nossa luta e nos prepararmos para o novo ano que sempre vem. Lembremos que todos os dias o Sol nascente sempre reaparece.
https://www.blogs.unicamp.br/energiaeambiente/2019/05/16/o-menino-que-descobriu-o-vento-como-fonte-de-energia-e-venceu-a-seca/