Rio em GUERRA, STF em cena: MORAES INTERVÉM na MAIOR OPERAÇÃO policial da história do estado

A megaoperação que deixou mais de 60 mortos e transformou o Rio em zona de guerra virou palco de disputa entre governo, STF e ONU. No centro da tragédia, Alexandre de Moraes assume o caso e mostra que o estado não quer resolver o caos que ele próprio crio

O dia 28 de outubro de 2025 ficará marcado como um dos episódios mais dramáticos e contraditórios da segurança pública carioca: uma megaoperação conjunta, apontada pelo próprio governo do estado como a maior da história do Rio, mobilizou milhares de agentes, blindados e helicópteros nos Complexos do Alemão e da Penha — e terminou o dia com dezenas de mortos, prisões em massa, rotas bloqueadas e uma cidade praticamente transformada em zona de guerra. As consequências, entretanto, não foram apenas locais: em poucas horas o caso virou palco de conflito entre Executivo estadual, federal, Procuradoria, STF e até organismos internacionais.

Segundo os relatos oficiais e as coberturas jornalísticas, a ação — chamada nas reportagens de “Operação Contenção” — foi deflagrada com objetivo de conter avanço territorial do Comando Vermelho e prender lideranças que, conforme apurou a inteligência, vinham comandando crimes mesmo estando custodiadas em unidades prisionais. Foram mobilizados cerca de 2.500 policiais civis e militares, com apoio de unidades especiais e aeronaves. As forças do estado afirmam ter cumprido mandados de prisão estratégicos, citando também a apreensão de grande quantidade de armamento e drogas.

Os números são chocantes: até o momento da redação deste artigo, foram contabilizadas 64 pessoas mortas durante a operação — quatro delas policiais — e cerca de 81 presos. Além disso, as autoridades informaram apreensões em larga escala: mais de 90 fuzis e mais de meia tonelada de entorpecentes foram citados em relatos iniciais. Houve também registro de uso de bloqueios viários, ônibus queimados e impacto no transporte público, o que isolou bairros e prejudicou trabalhadores e serviços essenciais.

A Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP) e outros órgãos que atuam no sistema prisional também participaram ou intensificaram operações paralelas: apreensões de celulares, vistoria de celas e transferências de presos foram imediatamente comunicadas, na tentativa óbvia de cortar o fluxo de comunicação e comando que as facções mantêm entre unidades prisionais e o território. Ao mesmo tempo, o governo estadual confirmou o pedido de vagas em presídios federais para isolar lideranças, sinalizando que a crise tem dimensão interestadual e sistêmica.

As consequências práticas da operação foram sentidas em toda a cidade: dezenas de linhas de ônibus foram impactadas, veículos foram usados como barricadas, corredores do sistema de transporte (BRT) sofreram atrito e algumas escolas foram fechadas ou tiveram atividades suspensas por questões de segurança. Hospitais, segundo comunicados oficiais, mantiveram atendimento, mas a rotina foi perturbada por superlotação e pela chegada de vítimas. O Centro de Operações Rio e outras instâncias da Prefeitura passaram o dia correndo atrás de medidas emergenciais para proteger deslocamentos e serviços. Esse impacto logístico e humano, repetido a cada grande intervenção, mostra que operações de alto risco não são ocorrências triviais, mas que inevitavelmente se revertem em crise social imediata para a população, que acaba ficando sem alternativas.

Esses números são os apontados nas primeiras horas; em crises como essa há sempre revisões, levantamentos e, por vezes, divergências entre as versões oficiais, órgãos de imprensa e relatórios de direitos humanos. Neste caso específico, a operação é de uma escala sem precedentes. Mesmo assim, a dimensão do episódio já coloca o evento entre os mais significativos e traumáticos da história recente do estado.

Já nos desdobramentos da noite, surgiram relatos de que o governo estadual teria pedido auxílio das Forças Armadas em diferentes frentes — desde apoio logístico, guerra eletrônica para neutralizar drones e comunicações, até vagas em unidades federais — e que o Executivo federal teria restringido ou negado alguns tipos de auxílio às fases iniciais da operação. Houve divergências sobre quem pediu o quê, elevando a crise à esfera política. O Palácio do Planalto precisou convocar reunião de emergência e dar explicações oficiais sobre a coordenação com estados. A versão de que o governo federal negou auxílio em determinadas solicitações foi publicada em veículos que cobriram a crise. Esse desencontro institucional reforça a constatação, recorrente no Rio, de que as respostas do estado são fragmentadas e politizadas.

Em meio aos relatos e às cenas das operações, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos declarou estar “horrorizado” com os números e pediu investigação independentes sobre as mortes. A manifestação internacional acendeu ainda mais o debate: defensores de direitos humanos enfatizam a necessidade de apuração rigorosa sobre eventual excesso; autoridades de segurança aplaudem o desmantelamento de estruturas do crime. O contraste entre a reação internacional e a percepção popular dentro do Rio revela o nó: o debate entre eficiência policial e garantias humanitárias é muito mais do que técnico — é político e moral.

Poucas horas depois do início da operação, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) enviou uma petição ao Supremo Tribunal Federal alegando que a ação violou preceitos da chamada “ADPF das Favelas”. Esse processo, movido em 2020, é uma das marcas do ativismo judicial do STF: um caso em que a Corte assumiu o papel de tutelar como a polícia pode agir nas comunidades.

E adivinha quem apareceu para “resolver” o problema? Ele mesmo: Alexandre de Moraes. O ministro, que atualmente concentra poder sobre quase todos os temas do país, de fake news a prisões políticas, agora também resolveu “assumir” o controle da segurança pública no Rio de Janeiro. Assim que o caso chegou à sua mesa, Moraes deu 24 horas para a Procuradoria-Geral da República se manifestar sobre os “eventuais abusos” da operação. Em bom português: mandou parar tudo e prestar contas.

Moraes ocupa posição central numa Corte que, ao longo dos últimos anos, expandiu seu poder decisório sobre temas estruturais do país. A intervenção no caso do Rio é mais um capítulo dessa trajetória: um ministro que, com um despacho, marca o ritmo institucional do caso, exige respostas rápidas e molda a narrativa pública. O recado é claro — e o problema é grave. Moraes, que já se vê como tutor da democracia, agora também quer ser tutor da polícia. Ele não participou da operação, não vive no Rio, não conhece as comunidades, mas se sente no direito de ditar como, quando e se a polícia pode agir.

Enquanto o Supremo discute “proporcionalidade” e “preceitos fundamentais”, os cariocas convivem com a barbárie. Em apenas um dia, 71 ônibus foram queimados, 204 linhas de transporte impactadas, dezenas de escolas e unidades de saúde fecharam as portas, e a cidade ficou paralisada. Os trabalhadores ficaram presos em casa, sem transporte, com medo de sair. E é exatamente essa população — a que não tem segurança particular nem apartamento em Brasília — que sofre com a paralisia do estado e com a interferência de quem vive longe do problema.

A reação é previsível: de um lado, juristas e ativistas aplaudem o zelo pelo respeito aos direitos; do outro, policiais e setores conservadores veem no gesto uma penalização antecipada da ação operativa. Para a população do Rio, entretanto, a disputa entre toga e farda pouco importa quando a vida está em risco.

A verdade é que o STF criou um monstro quando transformou a ADPF das Favelas em instrumento político. A decisão original, ainda em 2020, proibia operações policiais nas comunidades durante a pandemia, com exceção de casos “absolutamente excepcionais”. Na prática, deu um salvo-conduto para o crime organizado se expandir. Facções ocuparam territórios abandonados pela polícia, consolidaram rotas de tráfico, reforçaram arsenais e voltaram mais fortes.

Mas a pergunta libertária que fica é: desde quando o estado tem capacidade real de resolver a violência? E, mais importante ainda, será que ele quer resolver?

A realidade nua e crua é que o estado — em seus vários níveis — não tem histórico de resolver problemas complexos de segurança, sempre agindo com demora, sem eficiência e levando a consequências perversas, de curto e longo prazo. O monopólio da violência estatal, sustentado por burocracia e política, frequentemente produz resultados nefastos e contraditórios: o governo cria o problema (abandono institucional, corrupção, presídios permissivos), depois intervém de maneira ineficiente, é cobrado por seus abusos e, por isso, passa a sufocar as suas próprias ferramentas de solução. Isso gera o ciclo que vemos no Rio: operação massiva, repercussão internacional, interferência judicial e, depois, o retorno da criminalidade, porque a ação não atacou as raízes.

O Rio de Janeiro é o retrato perfeito do fracasso estatal. Décadas de políticas públicas ineficazes, polícia sucateada, corrupção institucionalizada e uma elite política que vive de administrar o caos. Os mesmos governantes que hoje posam de “duros contra o crime” são os que, há anos, negociam com milícias, trocam favores com traficantes e loteiam cargos para sustentar seus feudos eleitorais. O crime é parte do sistema. O morro e o palácio são dois lados da mesma moeda.

Enquanto isso, o cidadão comum — o motorista de aplicativo, o comerciante, o trabalhador que pega ônibus às seis da manhã — é quem paga a conta. Ele paga impostos extorsivos para sustentar uma estrutura que não o protege, e ainda é tratado como suspeito se ousar se defender. No Brasil, o monopólio da violência está nas mãos do estado — mas quem morre na guerra entre criminosos e agentes públicos é o povo.

Não são os magistrados de toga que tomam ônibus queimados. Não são os ministros que escolhem entre arriscar operações e esperar ações lentas. Não são os articuladores que negociam vagas em presídios. É o trabalhador que depende do transporte público, a dona de casa que não consegue levar o filho para a escola, o comerciante que vê a clientela sumir e o morador da favela que vive sob dois medos — o do traficante e o do erro policial.

O que o episódio mostra é que, longe de ser o provedor imparcial de segurança que promete ser, o estado frequentemente falha em regular o caos — pretendendo contê-lo, acaba o alimentando. Essa é a essência do modelo estatal: ele cria o problema, impede as soluções e depois posa de mediador.

Para o libertário, esse é o ponto central: o estado não apenas falha em garantir segurança — ele não tem nenhum incentivo para fazer isso. A insegurança, afinal, é o combustível do poder político, e uma importante fonte de justificativa do estado - afinal, se não fosse o governo, quem iria combater o crime organizado? O que a população geral não percebe é que o estado é o próprio crime organizado, a facção mais perigosa, em constante negociação com as demais, que são toleradas na medida que são úteis, mas de vez em quando entram em desacordos sobre o controle do território e outras questões. Quanto mais medo as pessoas têm, mais dependem de “autoridades”, mais aceitam vigilância, censura e controle. O caos no Rio de Janeiro é funcional para o sistema. Ele justifica verbas, cargos, discursos e manchetes.

A solução, portanto, não está em mais leis, tribunais ou operações. Está na liberdade das pessoas se defenderem, se organizarem e escolherem quem protege suas vidas e propriedades. O monopólio estatal da força e da violência é o que nos trouxe até aqui — um país onde o cidadão honesto é impotente e o criminoso é protegido.

A operação de 28 de outubro expôs um cenário que já se desenhava há anos: instituições fragmentadas, sistema prisional ineficaz, judicialização da política e politização das respostas. Alexandre de Moraes, ao “assumir” o caso com despacho e prazo de 24 horas, apenas encenou um capítulo sintomático dessa crise: juízes em Brasília regulando operações em favelas; governadores pedindo apoio e reclamando negativas; organismos internacionais pedindo investigação; e o povo, no meio, sofrendo as consequências.

A pergunta que fica, sombria e insistente, é: até quando aceitaremos que decisões sobre a vida nas ruas sejam tomadas por 11 ministros, gabinetes distantes e trocas políticas, em vez de serem fruto de mecanismos que alinhem proteção, liberdade, responsabilidade e, acima de tudo, a escolha daqueles que vivem no meio dessa guerra?

Referências:

https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/75168/urgente-moraes-assume-acao-sobre-operacao-no-rio-e-imediatamente-da-24h

https://revistaoeste.com/politica/moraes-assume-adpf-das-favelas-e-manda-pgr-se-manifestar-sobre-operacao-no-rio/

https://www.poder360.com.br/poder-justica/moraes-da-24h-para-pgr-dizer-se-houve-abuso-de-direitos-humanos-no-rio/

https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/onu-diz-estar-horrorizada-com-operacao-policial-no-rio-de-janeiro/

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/rj/zona-de-guerra-entenda-como-fica-o-rio-de-janeiro-apos-megaoperacao/

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/rj/rj-megaoperacao-com-mais-de-2-mil-policiais-toma-alemao-e-penha/

https://www.meiahora.com.br/geral/policia/2025/06/7071180-seap-apreende-164-celulares-em-celas-de-traficantes-do-rio.html

https://noticias.stf.jus.br/postsnoticias/adpf-das-favelas-stf-homologa-parcialmente-plano-do-estado-do-rio-de-janeiro-para-reduzir-letalidade-policial/

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/sudeste/rj/operacao-no-rj-dezenas-mortos-retaliacao-do-cv-e-caos-por-todos-os-lados/

https://www.gazetadopovo.com.br/brasil/governador-rio-governo-lula-negou-ajuda-forcas-armadas-acao-contra-trafico/

https://www.gov.br/senappen/pt-br/assuntos/noticias/senappen-participa-de-operacoes-da-ficco-pr-que-apreende-celulares-contrabandeados-e-captura-foragido

https://www.nsctotal.com.br/noticias/moraes-determina-que-pgr-se-manifeste-em-ate-24h-sobre-megaoperacao-no-rj

https://www.rj.gov.br/noticias/governo-do-estado-transfere-liderancas-de-faccao-criminosa-para-presidio-federal-no-parana3582

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2025-10/operacao-no-rio-contra-faccoes-criminosas-registra-64-mortes

https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/bom-dia/rio-operacao-letal-senado-eua-fim-tarifaco/?

https://jovempan.com.br/noticias/brasil/governo-lula-faz-reuniao-de-emergencia-apos-operacao-no-rio-contra-o-cv.html