O projeto mais ambicioso do Banco Central para "modernizar" o sistema financeiro brasileiro acaba de sofrer um golpe, ou pelo menos um atraso. Mas o que realmente aconteceu nos bastidores?
Nos últimos dias, ganhou destaque a notícia de que o Banco Central do Brasil decidiu suspender permanentemente a plataforma usada nas fases 1 e 2 do projeto DREX, a moeda digital de banco central brasileira. A justificativa oficial foi a existência de problemas de privacidade detectados na infraestrutura tecnológica baseada em Hyperledger Besu. Fontes ligadas ao processo afirmam que o modelo empregado não atingiu os critérios exigidos para preservar a confidencialidade das transações.
De acordo com reportagem publicada pela InfoMoney, o Banco Central confirmou que a plataforma da fase 2 será desligada após uma reunião com os consórcios participantes, e que a fase 3 só começará em 2026, com uma nova tecnologia. Enquanto isso, analistas e especialistas divergem sobre o significado do episódio: para uns, trata-se de um simples atraso técnico; para outros, o fato revela que o modelo de controle embutido na CBDC brasileira pode estar encontrando resistência.
O DREX é, em termos oficiais, a emissão digital do real, o chamado “Real Digital”. O projeto vem sendo desenvolvido há anos, com diretrizes publicadas em 2021. O plano é que ele conviva com o real físico e com outras formas de moeda bancária, intermediado por instituições financeiras autorizadas. Tecnicamente, utiliza infraestrutura de Distributed Ledger Technology (DLT), tendo sido testado sobre o Hyperledger Besu, uma rede de controle permissionado, ou seja, apenas acessível a participantes previamente aprovados. A justificativa formal é promover inclusão financeira, eficiência nos pagamentos, liquidação de ativos tokenizados e utilização de contratos inteligentes.
No papel, é vendido como um avanço tecnológico. Na prática, abre uma caixa preta com implicações graves para a privacidade e a autonomia dos indivíduos. A estrutura em que poucos nós da rede são controlados por bancos e cooperativas significa que o cidadão comum dependerá inteiramente de intermediários. Isso dá à autoridade monetária, e aos seus parceiros, uma visibilidade completa sobre as transações. A Gazeta do Povo relatou que desenvolvedores que testaram o sistema descobriram que o modelo permitiria que a autoridade do sistema realizasse transferências para outras contas, descontasse impostos automaticamente, impusesse prazos de validade ao dinheiro digital ou simplesmente congelasse o patrimônio de um usuário.
Mas o que está realmente em jogo aqui não é apenas uma falha de software ou um problema de arquitetura digital. O que está em jogo é o poder. A disputa entre liberdade e controle. O DREX é apresentado como uma inovação tecnológica, mas na prática representa um instrumento de vigilância e de gestão centralizada da economia pessoal de cada cidadão.
Como era de se esperar, o estado nega tais riscos, afirmando que o DREX não substituirá o dinheiro físico e que respeitará as leis de sigilo bancário e de proteção de dados. Você acredita no estado? O problema não é apenas jurídico, mas estrutural. O simples fato do estado possuir a tecnologia para rastrear, limitar ou censurar transações, já representa, em si, uma ameaça à liberdade financeira. A história mostra que toda tecnologia de controle criada para fins supostamente benignos hoje, pode e vai ser usada de forma abusiva amanhã.
O Brasil é hoje um dos países mais avançados do mundo em sistemas de pagamento digital. O Pix revolucionou o mercado e se tornou onipresente: rápido, prático e gratuito. Mas cada transação eletrônica gera rastros. Cada pagamento é um dado que pode ser cruzado com bancos de informações fiscais, tributárias ou de segurança. A infraestrutura que torna o Pix eficiente é a mesma que o torna uma poderosa ferramenta de vigilância financeira.
O DREX eleva isso a um novo patamar. Ele é projetado para rastrear cada transação - quem comprou, de quem, por quanto, onde e quando. Isso elimina o anonimato, e com ele a autonomia. Permite que intermediários ou o próprio regulador limitem ou programem o uso do dinheiro, impondo restrições, congelamentos ou prazos de validade. Essas funcionalidades já existem nos protótipos, e não são meras hipóteses teóricas: são capacidades reais sendo testadas. Enquanto o Pix é apenas um sistema de transferências instantâneas, a moeda digital de banco central seria, literalmente, o próprio dinheiro transformado em código. Isso significa que cada real digital poderia carregar regras de uso, restrições, validade e histórico. Em outras palavras, o dinheiro deixaria de ser um meio neutro de troca e passaria a ser um instrumento programável. E o controle sobre o dinheiro é, em última análise, o controle sobre as pessoas.
Se o estado ou seus intermediários financeiros conseguirem observar saldos, padrões de consumo, frequência e destino das transações, então a soberania individual estará seriamente comprometida. Nesta situação, o dinheiro que “é seu” passaria a existir apenas dentro de um sistema que pode ser desligado, bloqueado ou modificado sem o seu consentimento. O direito à propriedade perde seu significado quando o acesso a ela depende da permissão de terceiros.
Essa ideia é vendida ao público como modernização e segurança, mas não passa de mais controle. O cidadão acostuma-se à ideia de que todas as suas movimentações devem ser visíveis para o estado, e o estado, por sua vez, passa a assumir o papel de administrador da vida econômica dos indivíduos.
O Banco Central insiste que o DREX não substituirá o dinheiro físico e que não servirá para monitorar a população. Mas o modus operandi do estado é previsível: o que pode ser feito contra a população, será feito. A digitalização da moeda inevitavelmente reduz o espaço para o anonimato. E quando o dinheiro vivo desaparecer — seja por desuso, seja por proibição disfarçada — a última bolha de liberdade financeira terá sido rompida.
Do ponto de vista libertário, a liberdade financeira é uma extensão direta da liberdade civil. Quando um sistema de pagamentos permite que uma autoridade central determine como, quando e onde o dinheiro pode ser usado, estamos diante de uma violação do princípio básico da dignidade humana. O controle financeiro é uma forma silenciosa de submissão. E o DREX representa, nesse sentido, uma perigosa tentativa de expansão do poder estatal sobre o indivíduo.
O discurso institucional é de que o DREX democratizará o acesso aos benefícios da economia digital. Mas há uma diferença entre ter acesso e ser controlado. Se o cidadão precisa de permissão para converter seu dinheiro em versão digital e só pode fazê-lo por meio de instituições autorizadas, a chamada “inclusão financeira” se torna, na prática, uma nova forma de dependência.
Por isso, o desligamento da plataforma da fase 2 não deve ser lido apenas como um problema técnico, mas como um sinal de que há tensão entre a ambição estatal de controle monetário e a necessidade de preservar a soberania individual. Essa tensão não é apenas teórica. Ela toca diretamente a liberdade de cada pessoa que vive, trabalha e transaciona dentro de um sistema financeiro supervisionado.
Diante desse cenário, surge uma alternativa concreta — e já em funcionamento — para quem valoriza autonomia: o Bitcoin. Desde sua criação, o Bitcoin representa a tentativa de retirar o controle do dinheiro das mãos de autoridades centrais e devolvê-lo aos indivíduos. É um sistema monetário descentralizado, sem um emissor soberano, sem fronteiras, sem necessidade de pedir permissão a terceiros.
No Bitcoin, ninguém pode alterar saldos, congelar carteiras ou impor condições arbitrárias. O poder de decisão está distribuído entre os usuários. Essa é a verdadeira descentralização — e o que a torna tão incompatível com os projetos de CBDC. Enquanto a moeda digital estatal depende da confiança no governo, o Bitcoin se baseia em um código transparente e verificável. A confiança é substituída pela matemática.
O artigo “Bitcoin vs CBDC: Last Call for Freedom”, de Cayetana Santaolalla Montoya, resume bem essa dicotomia: o Bitcoin representa a liberdade financeira do indivíduo; as CBDCs representam a centralização, a vigilância e a perda de privacidade. Uma é a ferramenta da soberania pessoal; a outra, do controle sistêmico.
É claro que o Bitcoin tem riscos: volatilidade, curva de aprendizagem dos usuários e o dever de responsabilidade pessoal. Mas o ponto é outro. Ele oferece algo que nenhuma instituição pode oferecer: a capacidade de realmente ser dono do seu dinheiro. A soberania financeira que o Bitcoin proporciona é o alicerce da liberdade individual em um mundo cada vez mais digitalizado e monitorado.
A quem deseja autonomia e estabilidade, o Bitcoin não deve ser visto como aposta, mas como ferramenta estratégica. Uma reserva de valor fora do alcance de bancos e governos. Uma fortaleza digital que protege o fruto do trabalho contra as incertezas de sistemas centralizados.
O anarcocapitalismo enxerga o Bitcoin não apenas como ativo financeiro, mas como um instrumento moral. Ele reafirma o princípio de que cada indivíduo é dono de si e de sua propriedade. A descentralização é, portanto, uma forma de resistência ética contra a captura da vida econômica pelo estado.
A suspensão da plataforma do DREX é um lembrete de que o projeto de controle financeiro digital avança, mesmo que disfarçado de modernização. Se a população permanecer apática, aceitando cada nova camada de rastreamento em nome da conveniência, cedo ou tarde a liberdade será perdida. Mas se as pessoas compreenderem o que está em jogo — o direito de possuir e movimentar seu dinheiro sem serem observadas e controladas — poderão reagir a tempo.
Reagir, neste contexto, significa se educar financeiramente, entender como funcionam as carteiras digitais, as chaves privadas, os sistemas descentralizados. Significa também diversificar o patrimônio com consciência, mantendo parte fora das estruturas de controle. Significa adotar a privacidade como princípio de vida, reduzindo o rastro de dados e escolhendo tecnologias que respeitem a autonomia.
Liberdade exige responsabilidade. Requer autodisciplina, estudo, vigilância e coerência. Não há soberania possível para quem entrega seu poder de decisão em troca de conveniência.
O desligamento da plataforma do DREX, por mais técnico, ou até otimista, que pareça, é apenas uma fresta. Um momento para repensar o rumo. Porque a liberdade, uma vez perdida, raramente é devolvida.
E este é o verdadeiro sentido do Bitcoin — não uma aposta financeira, mas um ato de desobediência pacífica. Uma recusa silenciosa à tirania dos sistemas centralizados. Um lembrete de que o controle estatal sobre o dinheiro é o controle sobre a alma da sociedade.
Enquanto o DREX promete eficiência, o Bitcoin entrega liberdade. E entre eficiência e liberdade, agora você já sabe qual escolher.
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/banco-central-encerra-projeto-do-drex-o-real-digital
https://www.gazetadopovo.com.br/economia/drex-o-que-e-o-real-digital-e-por-que-a-direita-esta-em-campanha-contra-ele/
https://www.publicacoes.uniceub.br/RBPP/article/view/4935
https://www.bcb.gov.br/en/financialstability/digital_brazilian_real
https://www.bcb.gov.br/content/estabilidadefinanceira/real_digital_docs/drex_referencias_basicas_nov2023.pdf
https://finsidersbrasil.com.br/pagamentos/drex-e-as-cbdcs-globais-o-que-torna-o-modelo-brasileiro-unico/
https://www.sitecontabil.com.br/noticias_empresariais/ler/pix--criptomoedas-e-doacoes--o-que-a-receita-federal-esta-monitorando-e-como-isso-afeta-voce
https://www.gov.br/secom/pt-br/fatos/brasil-contra-fake/noticias/2025/01/drex-nao-substituira-dinheiro-em-especie-e-nem-servira-para-monitorar-populacao
https://academic.oup.com/cmlj/article/19/2/103/7615983
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1057521923005471
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=4778949