Conversas vazadas mostram que Mauro Cid foi coagido a acusar Bolsonaro para agradar o STF. Revoltado, Moraes mandou prender Cid de madrugada — mas recuou. Se a delação cair, cai também a farsa. E agora, Xandão?
O que era para ser a prova incontestável do “golpe bolsonarista” acabou virando um fiasco completo. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, se encontra em uma posição cada vez mais desconfortável. Após anos conduzindo investigações polêmicas com base em delações premiadas, narrativas frágeis e decisões monocráticas, ele agora se vê diante do colapso de uma de suas principais apostas: a delação de Mauro Cid.
Para quem não se lembra, o tenente-coronel Mauro Cid tornou-se notícia quando saiu da caserna de ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro para virar delator. Cid serviu a Bolsonaro desde a transição de 2018, cumprindo tarefas de secretário-executivo e ajudando a executar agendas presidenciais. Ou seja, ele tinha poder apenas para lidar com telefonemas, documentos e convidados – nada de decisões estratégicas. Porém, seu nome hoje está em debate público, não por algum exagero de poder, mas justamente por ter sido obrigado a acusar Bolsonaro de um golpe que nunca existiu.
Trechos de conversas pessoais de Mauro Cid vieram a público recentemente, expondo uma grande armação judicial. Em áudios vazados pela revista Veja, Cid afirmou ter sido “coagido em depoimento a falar coisas que não sabia, e que não aconteceram”. Nos áudios, ele diz em voz alta que estava enclausurado e pressionado pela polícia para inventar delitos contra Bolsonaro. Para quem conhece a realidade do jogo político, não é surpresa ver o estado brasileiro usando a força bruta para arrancar confissões forjadas. Como Cid relatou às autoridades — e os vazamentos confirmam —, ele foi submetido a condições degradantes em busca de uma delação premiada que servisse de base para denunciar o ex-presidente.
O juiz Alexandre de Moraes participou ativamente deste processo. Foi ele quem autorizou a divulgação pública da delação de Cid e coordenou ações da Polícia Federal contra ele. Num movimento que chocou pela truculência, Moraes chegou a ordenar que Mauro Cid fosse preso antes mesmo do sol nascer. Numa decisão emitida de madrugada, por volta da uma da manhã, Moraes mandou a PF ir às ruas prender Cid e o ex-ministro Gilson Machado por suspeita de preparativos de fuga. Cid seria detido sumariamente como medida inicial – algo próximo de um sequestro jurídico. Pouco depois, porém, o próprio Moraes recuou da ordem: em vez de prisão, determinou apenas que Cid comparecesse à Polícia Federal para prestar esclarecimentos, autorizando buscas em sua casa e a apreensão de seu celular.
Esse balé judicial revela um desespero explícito. Na cabeça de Moraes, a detenção de madrugada poderia ter sido o “primeiro passo de uma medida mais gravosa, como rescisão da delação” de Cid. Em outras palavras, Moraes usou a ameaça de revogar o acordo de colaboração como moeda de chantagem. Mas quando percebeu que um escândalo ainda maior poderia eclodir (pois cancelar a delação iria acabar com o próprio processo, que não tem mais praticamente nenhuma outra prova), ele mudou de ideia. Só deu oportunidade para um depoimento, recolheu o celular de Cid e deu um passo para trás. Para quem observa com atenção, esse retorno abrupto não se trata de um lapso de consciência da cabeça lustrosa de Xandão, mas sim de um sinal do nervosismo: a ideia de destruir a delação premiada agora corria o risco de sepultar toda a acusação contra Bolsonaro.
A perplexidade maior vem do fato de que esse processo todo se baseia em acusações que soam cada vez mais sem pé nem cabeça. Afinal, qual foi exatamente o golpe armado por Bolsonaro? Ele deixou o poder pacífica e legalmente quando entregou a faixa, mesmo que não pessoalmente, a Lula em 1º de janeiro de 2023. Foi até aos Estados Unidos antes da posse e monitorou tudo de lá – a transição ocorreu sob as vistas do mundo inteiro, sem tropas marchando, sem protestos armados da sua parte. Como destacou o vice-presidente Hamilton Mourão, “tudo vai ficar tranquilo e calmo no país até a posse do presidente Lula”. E assim foi: nada de intervenção militar, nenhum complô efetivado. Logo, acusar Bolsonaro de golpe depois de sua saída tranquila do poder é algo que beira o ridículo.
Não é só entre libertários ou conservadores que isso soa absurdo. No relatório final da CPI distrital dos Atos Antidemocráticos (em Brasília) ficou claro que não há provas concretas de golpe em janeiro de 2023. O documento afirma categoricamente: “não foram produzidas… evidências sólidas ou informações concretas que apoiem a alegação de que o ex-presidente… tenha planejado ou executado… um golpe de estado no Brasil”. O relator da CPI recomendou, aliás, que qualquer debate sobre conspirações fosse tratado com “ceticismo” e baseado em dados verificáveis, evitando teorias infundadas. Em outras palavras: até investigadores do Congresso do DF concluíram que a narrativa conspiratória contra Bolsonaro não conta com nenhuma prova. O ex-presidente contestou as eleições à sua maneira, duvidou do resultado, como é normal fazerem os candidatos derrotados em praticamente toda eleição, expressou sua desconfiança em relação à urna eletrônica, mas nada disso configura uma tentativa de golpe. Questionar os resultados das eleições e fazer críticas ao sistema eleitoral é perfeitamente lícito.
Do lado de fora do país, esses choques políticos brasileiros também não parecem normais. O próprio governo dos Estados Unidos sinalizou que Moraes está agindo totalmente fora dos ritos esperados no direito. Em maio de 2025, o secretário de Estado Marco Rubio disse que o Departamento de Estado americano avalia seriamente impor sanções a Moraes sob a Lei Magnitsky (que pune violações de direitos humanos). O senador Rubio afirmou que há “grande possibilidade” de Moraes sofrer algum tipo de punição americana, isso depois de membros do Congresso Republicano apontarem um “alarmante declínio dos direitos humanos no Brasil” e citarem “censura generalizada” e “perseguição política” promovidas por Moraes. Segundo o membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Cory Mills, trata-se de perseguição “contra toda a oposição, incluindo jornalistas e cidadãos comuns”.
A empresa Trump Media (de propriedade do presidente americano) e a plataforma Rumble moveram uma ação conjunta nos EUA contra Alexandre de Moraes. As duas alegam que o ministro violou a 1ª Emenda dos EUA ao emitir “ordens secretas de censura extraterritorial” contra usuários e empresas americanas. Na petição, acusam Moraes de ter extrapolado sua autoridade e de agir além do escopo de sua autoridade legal ao aplicar leis brasileiras de liberdade de expressão em solo norte-americano. Essa acusação aponta para um flagrante autoritarismo: o juiz brasileiro seria tão preso em sua convicção de ter razão que teria tentado impor suas ordens lá fora. Não contente em censurar críticos e opositores no Brasil, quis fazer o mesmo nos Estados Unidos, acreditando que tinha autoridade para emitir suas ordens arbitrárias no mundo todo.
Enquanto isso, no Brasil, Moraes tem usado a estrutura de inquéritos do STF para perseguir adversários políticos. O próprio processo que envolve Mauro Cid deriva do infame “inquérito das fake news”, que se tornou instrumento para monitorar e punir críticos do governo. A petição americana anexa justamente acusa Moraes de usar esse inquérito para perseguir “críticos e adversários” de Lula. Trata-se de um inquérito que investigava até mesmo quem apenas defendia pontos de vista diferentes, como se fosse "fake news".
Todos estes fatos e acontecimentos deixam claro: Moraes não está apenas julgando casos, ele age como se fosse um xerife moral, impondo sua vontade sobre opiniões e informações. No lugar de defender a Constituição, papel que a legislação brasileira atribui ao STF, o Supremo sob Moraes virou instrumento de censura. Ele bloqueou o acesso de milhões de brasileiros à plataforma americana X (antigo Twitter), instaurou multas e sanções contra redes sociais que não colaborarem totalmente com seu inquérito, e ainda requisitou dados de militantes e políticos sem nenhuma justificativa plausível. Essas medidas autoritárias foram criticadas até por juízes brasileiros: parte do próprio STF considerou que Moraes extrapolou ao suspender X. E agora parece que, finalmente, seu castelo de cartas começa a cair.
O governo do atual presidente Lula, que lembremos, só saiu da cadeia e se elegeu graças à ajuda do STF e de Alexandre de Moraes, vê sua popularidade desabar e tenta desesperadamente evitar que esse clima de autoritarismo político gere reação. Pesquisas recentes mostram Lula num patamar de aprovação típico de crises: apenas 39% aprovam sua gestão, enquanto 56% a desaprovam. Como tudo indica que a direita irá voltar ao poder em 2026, políticos e juízes alinhados à esquerda se apressam em transformar o Judiciário em arma para esmagar qualquer tentativa de oposição e proteger o governo atual. Ao tornarem o principal candidato da direita, Jair Bolsonaro, inelegível, sem quaisquer provas concretas, fica claro a tentativa de manipular as eleições de 2026, antes mesmo de qualquer voto ser lançado. Imagina como vai ser ano que vem, Mesmo com Bolsonaro inelegível, porém, com o desgaste do PT e da esquerda, qualquer nome mais conservador ou liberal parece limpo e atraente, diante da avalanche de escândalos e manipulações do governo corrupto que Lula vem fazendo. Nesse contexto, a estratégia de prender e ameaçar qualquer nome que desponte na direita, possivelmente substituindo Bolsonaro, caracteriza claramente uma tentativa de impedir a volta da direita, que nada tem a ver com questões judiciais legítimas, sendo apenas politicagem.
E de quem é a culpa? A raiz do problema está na própria estrutura do estado. O que se vê é que a "justiça estatal" só tem justiça no nome, mas se trata de guerra política travada pelo monopólio estatal da coerção. Cada episódio recente — a prisão-relâmpago, a delação forjada, a censura a plataformas — é mais um sinal de que o poder concentrado leva ao abuso. O estado, com seus juízes vitalícios e polícias sem freios, não segue nem a lei que ele próprio criou: manda prender e arrebentar, revoga direitos, persegue e silencia opositores.
A solução, portanto, não está em endurecer as leis, que são sempre ignoradas quando convém, ou dar mais poderes a procuradores, que usarão tais poderes contra o cidadão comum e opositores do governo, mas sim em enfraquecer esse monstro institucional.
Em uma sociedade livre, questionar o governo não seria crime, mas no Brasil atual discordar se tornou "ameaça à democracia”. Por isso, clamamos pela liberdade: todo indivíduo deve ter o direito de criticar governos sem medo de aparecer na lista de notáveis do Supremo, sem prisões durante a madrugada e ameaças para que faça delações.
O episódio expõe que: quanto mais o estado tenta se fortalecer pelo autoritarismo, mais enfraquece a ideia de democracia e a fé dos cidadãos na justiça estatal. Moraes age como vítima, juiz e carrasco ao mesmo tempo, e o resultado é um descrédito generalizado do Poder Judiciário.
Por essas e outras, reforçamos nossa crítica firme à máfia estatal e expomos o uso político e arbitrário do STF. Nós, que prezamos pela liberdade, sabemos que a ameaça maior vem de dentro das instituições que dizem nos proteger, mas que usam essa mentira para nos censurar e amordaçar. Conforme o estado brasileiro continua nessa escalada autoritária, só restam dois caminhos: deslegitimar essa força pelo debate aberto e a construção de alternativas fora do sistema estatal.
A crise provocada por Alexandre de Moraes é reflexo de um sistema podre, que se sustenta em chantagem e retaliação. As engrenagens da opressão não descansam: se um delator falha, monta-se outro inquérito. E o povo paga o pato, vivendo sob o medo de que um dia, qualquer um de nós, podemos ser o próximo Cid — coagido, algemado, humilhado, sem chance de defesa.
O castelo de cartas de Moraes está ruindo. Que ele leve junto o mito da justiça estatal. E que das cinzas surja algo novo, mais justo, mais livre, mais humano.
https://veja.abril.com.br/coluna/marcela-rahal/o-motivo-que-pode-levar-moraes-a-nao-rescindir-a-delacao-de-cid/
https://oglobo.globo.com/blogs/renata-agostini/post/2025/06/moraes-mandou-prender-cid-de-madrugada-mas-decidiu-dar-chance-a-ex-ajudante-de-ordens-se-explicar-antes.ghtml
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgq3xnpg0n8o
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/mauro-cid-a-trajetoria-do-ajudante-de-ordens-que-virou-delator/
https://www.cl.df.gov.br/-/relatorio-diz-que-bolsonaro-nao-tentou-golpe-de-estado-mas-influenciou-manifestantes
https://valorinternational.globo.com/foreign-affairs/news/2025/05/22/marco-rubio-says-us-sanctions-against-justice-moraes-a-great-possibility.ghtml
https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/secretario-de-estado-dos-eua-confirma-que-governo-trump-esta-analisando-sancoes-contra-moraes/
https://www.poder360.com.br/poder-internacional/trump-media-aciona-justica-dos-eua-contra-moraes-por-censura/
https://www.cartacapital.com.br/politica/a-popularidade-do-governo-lula-no-inicio-de-junho-segundo-nova-pesquisa/