Conta da CÂMARA DOS DEPUTADOS no TWITTER é HACKEADA, sendo usada para atacar LULA e XANDÃO

O perfil da Câmara dos Deputados no X foi invadido pelo ataque de um hacker revoltado contra o Xandão. Mas será que isso, no fim das contas, não passa de uma estratégia política para validar o controle das redes sociais?

Aconteceu mais uma vez. Logo na manhã do dia 10 de fevereiro, em pleno Carnaval, a conta da Câmara dos Deputados no X (o antigo Twitter) foi hackeada. O invasor, ainda não identificado, se utilizou da plataforma para publicar, com o selinho de verificação, uma crítica ao atual estado de coisas na democracia brasileira. O seguinte tweet foi publicado, logo na sequência da invasão: “O ditador Alexandre de Moraes destrói a democracia. Estão planejando um golpe de estado orquestrado pelo Alexandre e por Lula. Serei caçado, mas estou lutando contra”.

Essa situação ocorreu poucos dias após ser deflagrada, pela Polícia Federal, a operação Tempus Veritatis, que tinha como alvo o ex-presidente Bolsonaro e vários de seus aliados - sendo que alguns destes acabaram sendo presos. Como visto nas redes sociais nos últimos dias, é claro que, para uma parte considerável da população brasileira, essa operação é, apenas, um ataque conjunto do Executivo e do STF contra as instituições democráticas. No fim das contas, segundo esse ponto de vista, estaríamos vivendo num cenário de ditadura do Poder Judiciário. E, ao que tudo indica, o hacker em questão concorda com essa opinião.

Contudo, o caso não se estendeu para além disso. De acordo com nota oficial, divulgada pela Câmara dos Deputados, a conta foi recuperada menos de 15 minutos após a invasão. Na sequência, a senha foi alterada e o tweet ofensivo ao Lula e ao Xandão foi apagado. Ainda de acordo com a nota, a própria Câmara vai realizar uma investigação interna, para apurar o caso. Até o momento, portanto, não temos mais informações a respeito do invasor, ou de quais outros prejuízos para a segurança da informação do Congresso Nacional possam ter sido sofridos.

No fim das contas, trata-se apenas de mais um caso de invasão de redes sociais de órgãos estatais e políticos, dentre tantos outros. Como se diz por aí: é raro, mas acontece com frequência. Em dezembro do ano passado, por exemplo, a própria Janja teve sua conta no X hackeada. Os invasores controlaram o perfil da primeira-dama por cerca de 1 hora, período no qual usaram o espaço para proferir uma série de impropérios. Até o Elon Musk entrou no meio dessa história, sendo responsabilizado diretamente pela cuidadora do Lula pelo ocorrido.

Já em janeiro deste ano, foi a vez da norte-americana SEC - que é o equivalente da CVM, aqui do Brasil, - ter seu perfil no Twitter invadido. E, acredite ou não, depois se revelou que a conta oficial da SEC nessa rede sequer utilizava a autenticação em 2 fatores. Me diz aí, se esse caso não chega a ser bizarro, de tão absurdo? O pior é que é essa gentalha gringa que quer controlar o bitcoin.

De forma geral, contudo, esses casos nos revelam muita coisa - por terem vários pontos em comum. Em primeiro lugar, é preciso destacar o total desinteresse dos envolvidos, no que se refere aos cuidados com a segurança. Será que esse povo é tão incompetente assim? Ou será que, na verdade, os responsáveis por essas contas oficiais são mais cuidadosos com suas coisas pessoais, mas tratam de qualquer jeito o que é público? Você sabe como funciona a questão dos incentivos no estado: se algo não é meu de verdade, então, eu não estou nem aí.

Em segundo lugar, precisamos nos questionar: como é que esse tipo de gente, que não consegue controlar suas próprias redes sociais, vai querer legislar sobre segurança na internet? Veja só que o perfil da Câmara dos Deputados - o local onde as leis são criadas - foi hackeado. E, agora, os nobres deputados ainda vão querer cagar regra sobre esse tema!

É como aquele caso, já clássico, do senador Renan Calheiros falando sobre “bitcóio” e “creptomoedas”. Os caras não sabem sequer pronunciar as palavras da forma correta, mas se acham bons o suficiente para legislar sobre temas que, sem dúvidas, eles não dominam. De fato, se a Câmara dos Deputados não consegue sequer proteger sua própria conta no X, como ela acha que tem moral para tratar de temas sobre segurança na internet?

A partir daí, temos, também, um terceiro ponto muito importante: a extrema incapacidade do estado em proteger o que quer que seja. Estamos acostumados com isso, a todo momento; mas a coisa vai muito além da vida real, com o Brasil afundado numa alta taxa de criminalidade e com uma taxa de solução de crimes pífia. Também no meio digital, a quantidade de ataques cibernéticos é assustadora - e isso acontece sem que o estado seja capaz de fazer o que quer que seja. Até mesmo, de se proteger.

Afinal de contas, nos últimos meses, já ficou claro, para todos, que os grandes ataques de hackers têm como alvo, justamente, o estado. Temos acompanhado notícias a respeito de casos como um gigantesco vazamento de dados de chaves PIX, por parte do Banco Central; ou, então, da divulgação de informações cadastrais sigilosas mantidas pelo Ministério da Saúde. Houve, ainda, um caso extremamente grave de vazamento de dados referentes aos cadastros do Bolsa Família: nada menos que 4 milhões de beneficiários do programa tiveram seus dados expostos na internet.

Esse último caso foi tão escabroso, que a própria justiça estatal entrou em cena, condenando diversos órgãos públicos ao pagamento de uma multa de R$ 60 bilhões. É certo que essa é uma decisão de primeira instância, que certamente será derrubada em algum momento futuro. O que chama a atenção, contudo, é a lista dos condenados. Figuram, nesse rol dos incompetentes, a União, a Caixa Econômica Federal, o Dataprev e - acredite se quiser, - a Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Pois é, existe uma agência estatal para essa finalidade; e, ao que tudo indica, ela é completamente inútil. Que novidade!

Contudo, há ainda um último ponto, extremamente importante, que nada mais é do que aquela conhecida suspeita, que sempre toma conta de nossa mente, quando algo do tipo acontece. Será que essa onda de invasões, no fim das contas, não é algo orquestrado? Será que esses crimes digitais não são um mero pretexto a serviço daquele mais do que manjado desejo estatal de controlar as redes sociais?

Veja que o maior alvo, dentre as redes sociais, tem sido o X - justamente o espaço em que a esquerda costuma apanhar mais, e onde a manipulação a favor do estado é bem menor. Por que será que os ataques estão concentrados logo nessa rede? Lembre-se que, na sequência da invasão do perfil da Janja no antigo Twitter, ela fez um live com o velho gagá do Lula, em que ambos aproveitaram para pedir por mais regulamentação das redes sociais. Te falo, hein: timing perfeito!

A verdade é que esse tema sempre está indo e voltando, nos meios políticos. Se dependesse dessa corja, as redes sociais já estariam totalmente controladas; porém, a pressão popular tem feito essa regulamentação ser deixada em banho-maria. Mas não jeito: uma hora, a coisa vai acontecer. E, na medida em que casos de ataques cibernéticos vão se amontoando, mais fortes ficam os argumentos dos políticos em favor de mais controle da internet.

De fato, a informação descentralizada e distribuída é a maior inimiga do estado e, por consequência, dessa gentalha política. Porém, longe de ter um autor, ou um financiador, esse fenômeno da informação pulverizada é, apenas, a materialização da liberdade de expressão. E, numa democracia - ou num arremedo de democracia, como temos aqui, no Brasil, - só existe um argumento aceito como válido para cercear a liberdade: a questão da segurança. E essa segurança pode ser física, de saúde, ou mesmo digital. Você se lembra da crise sanitária, e de como ela levou a uma expansão do poder estatal sobre nossas liberdades? Pois é: a coisa sempre caminha por esses rumos.

Portanto, o melhor meio encontrado pelos políticos para acabar de vez com a liberdade de expressão nas redes sociais é usando, justamente, a desculpa da segurança. Afinal de contas, se formos considerar apenas a opinião oficial do estado, a internet é um verdadeiro velho-oeste digital, não é mesmo? É certo que, para mim e para você, isso funciona muito bem, obrigado. Mas esse cenário é um verdadeiro terror para os políticos porque, em meios tão descentralizados de circulação de informação, é impossível criar uma verdade estatal unificada e, obviamente, maquiada.

Enfim: se o Brasil fosse um país sério, de verdade, o ataque à conta do Twitter da Câmara dos Deputados deveria lançar esse órgão estatal na lama do desprestígio. Deveria ser motivo de vergonha para os congressistas, e deveria enterrar, de vez, qualquer chance de os deputados votarem o controle da internet. Mas, como bem sabemos, o Brasil é qualquer coisa, menos um país sério. O que vai acontecer, na sequência desses fatos, é um endurecimento no discurso do controle das redes sociais, e da responsabilização das Big Techs. Tudo isso, obviamente, tem um objetivo muito mais escuso, por trás de si: controlar, ainda mais, as nossas vidas.

Referências:

https://www.poder360.com.br/congresso/camara-dos-deputados-e-hackeada-no-x-e-diz-que-moraes-planeja-golpe/

https://olhardigital.com.br/2024/01/23/seguranca/sec-hackeada-tecnica-de-troca-de-sim-foi-usada-para-invasao-entenda/

https://www.jota.info/tributos-e-empresas/mercado/vazamentos-de-dados-no-brasil-28012022

https://bentomuniz.com.br/justica-condena-orgaos-publicos-por-vazamento-de-dados/