O governo de Emmanuel Macron percebeu o óbvio: se as coisas continuarem como estão, a França vai passar por um colapso populacional em pouco tempo.
Há algum tempo, uma frase bastante curiosa, proferida pelo querido Paulo Kogos, chamou muito a atenção. Naquela ocasião, Kogos afirmou que, para se reerguer enquanto civilização, o Ocidente precisava de mais “cruzadas” - tanto no sentido bélico, quanto no sentido reprodutivo. Por mais cômica que a frase possa parecer, num primeiro momento, a verdade é que, ao que tudo indica, o presidente francês, Emmanuel Macron, concorda com Paulo Kogos. Pelo menos, em relação ao segundo ponto.
Poucos dias atrás, Macron fez um pronunciamento, em uma coletiva de imprensa, afirmando que seu governo irá implantar medidas com vistas a enfrentar o declínio na taxa de natalidade do país. Nas palavras do presidente francês, seu governo vai instaurar um “grande plano”, cujo objetivo é combater o “flagelo da infertilidade”. Esse plano, que ainda não foi detalhado em sua totalidade, foi chamado por Macron de “rearmamento demográfico”. Especula-se que, dentre as medidas a serem propostas, está a concessão de uma licença parental remunerada (para ambos os pais) de seis meses.
Nas palavras do presidente Macron: “A França também será mais forte se aumentar sua taxa de natalidade. Até pouco tempo atrás, éramos um país onde essa era a nossa força (...) quando nos comparávamos com nossos vizinhos”.
Por conta do anúncio dessas medidas, o presidente francês foi criticado por sua base de apoio, tipicamente esquerdista e progressista. Vários políticos da esquerda francesa afirmaram que Macron estava passando por uma “aparente mudança em seu equilíbrio político”. Outros afirmaram que o presidente já estava apresentando, há algum tempo, fortes inclinações para as pautas de direita. Curiosamente, nós já levantamos essa hipótese, no vídeo: “Governo da FRANÇA aprova leis de IMIGRAÇÃO mais rígidas: MACRON virou de DIREITA?” - link na descrição.
A verdade, contudo, é que as medidas propostas por Macron, embora possam sim ser oportunistas, não representam uma mudança em sua mentalidade. Elas são, apenas, uma consequência do estado atual da composição etária francesa - bem como de grande parte do Ocidente. A verdade é que a França está envelhecendo - e morrendo. Em 2023, o país registrou 678 mil nascimentos - o menor número desde 1946, quando a França tinha 25 milhões de habitantes a menos do que hoje. Esse cenário demonstra que o país europeu caminha, inevitavelmente, para um colapso demográfico.
A população francesa ainda cresce, porque o número de óbitos é um pouco mais baixo do que o de nascimentos - foram 631 mil mortes no país, em 2023. Só que, ainda assim, esse cenário é insustentável, porque a taxa de natalidade na França tem caído, ano após ano - e os números não deixam dúvidas quanto a isso. Atualmente, essa taxa está em 1,68 filhos por mulher. Para que uma população seja sustentável, no longo prazo, essa taxa precisa ser superior a 2,1. E acredite ou não, o índice francês, embora seja quase desesperador, é um dos maiores da Europa - um continente que está envelhecendo a olhos vistos.
Porém, se a França tem uma taxa de natalidade maior que a de seus pares europeus, isso não se deve ao francês típico - aquele com boina, uma camisa listrada e um cigarro na boca. O fato é que a França possui uma população islâmica que apresenta uma taxa de natalidade consideravelmente maior que a do restante da França. Estima-se que, em 2019, 1 entre cada 5 franceses recém-nascidos recebeu um nome islâmico (sendo que muçulmanos representam apenas 10% da população do país). No fim dos anos 1960, essa taxa era de apenas 2%. Ou seja: se a França ainda não colapsou, isso não se deve ao europeu típico.
É curioso ver políticos progressistas defendendo uma pauta que, até pouco tempo atrás, eles criticavam - o aumento da população. Certamente, você se lembra de ter ouvido esse tipo de discurso, não é mesmo? De que o mundo está cheio demais, o ser humano é um gafanhoto que consome todos os recursos da natureza, a população mundial precisa ser reduzida… As infames Pedras da Geórgia, destruídas pouco tempo atrás, tinham como seu primeiro “mandamento” a manutenção da população humana na faixa dos 500 milhões de indivíduos. Pois bem, parece que o jogo virou - e até os progressistas precisam assumir isso.
Em várias partes do mundo, a população está simplesmente colapsando. Isso não se restringe apenas à Europa - onde o problema é evidente há mais tempo. Veja que a população do Japão, por exemplo, está encolhendo ano após ano: o número de mortes já é superior ao de nascimentos. O país teve menos recém-nascidos em 2022 do que em 1899, quando os nascimentos passaram a ser contabilizados, e quando a população do país era muito menor do que hoje. E, de forma geral, o povo japonês está envelhecendo muito rápido - o que sempre representa um grande problema demográfico, num cenário de poucos nascimentos.
Mas esse problema também tem castigado a gigante China - que, até meados do ano passado, era detentora da maior população do mundo, perdendo esse posto para a ainda crescente Índia. A população chinesa também diminuiu, e o governo de Xi Jinping tenta, a todo custo, reverter esse cenário. Contudo, a política do filho único, levada a cabo por décadas a fio, agora cobra o seu preço; e é difícil imaginar que, no curto prazo, esse cenário possa ser revertido por lá.
O encolhimento da população, com seu consequente envelhecimento, e com a redução de sua fatia economicamente ativa, gera uma série de problemas que, agora, estão sendo considerados com seriedade - até mesmo por políticos progressistas, como Macron. Em primeiro lugar, a redução no número de nascimentos significa que, nas próximas décadas, o número de ingressantes no mercado de trabalho será menor. Isso representa, na prática, menos gente produzindo riqueza, pagando impostos e contribuindo para a previdência. E aí, fica a grande questão: quem vai garantir a aposentadoria dos velhinhos, quando seu número superar o de jovens trabalhadores? Quem vai produzir seus remédios, e vai custear seus tratamentos médicos?
Tem-se, aí, o segundo problema: o déficit produtivo que a redução da população pode representar. É certo que as novas tecnologias vão substituir, em grande parte, a mão-de-obra humana; mas isso não significa que as empresas não vão precisar de gente de verdade trabalhando em suas fileiras. A redução da população economicamente ativa, ao longo dos próximos anos, pode levar, num cenário pessimista, ao colapso da cadeia produtiva mundial, com danos que não podem ser mensurados.
Surge, então, mais um problema a ser colocado na conta da redução da população: o problema do desenvolvimento tecnológico. Se duas cabeças pensam melhor do que uma, bilhões de cérebros pensam muito melhor do que as 500 milhões de cabeças, profetizadas pelas Pedras da Geórgia. O aumento da população humana levou a avanços tecnológicos, pelo simples fato de termos mais gente procurando soluções para os problemas. Se a população humana (principalmente sua fatia produtiva) começar a diminuir, a tendência é o padrão de desenvolvimento tecnológico também sofrer reduções.
E temos, ainda, o risco cada vez mais real de um conflito em larga escala, entre os grandes players mundiais - ou pelo menos conflitos locais, envolvendo forças de outros países. Chefes militares do Reino Unido e da Alemanha já deixaram essa possibilidade bastante clara; e com a França, a coisa não seria diferente. Conflitos duradouros cobram um alto preço em vidas - como nos mostra a Guerra da Ucrânia, ainda em curso. E, para alimentar essa máquina da morte, é preciso ter uma grande quantidade de jovens a serem enviados para a linha de frente - coisa de que a França, ao que tudo indica, dispõe cada vez menos.
Contudo, embora os políticos já tenham começado a perceber o tamanho do problema, não podemos deixar de reconhecer, absolutamente, que o estado é, em grande parte, o promotor dessa situação. Por décadas a fio, programas estatais levaram à redução das famílias, com base em teorias malthusianas completamente furadas. A mídia ligada ao estado também difundiu as ideias do controle de natalidade, aliado a uma percepção de que ter filhos é uma praga a ser evitada.
Além disso, o aumento da máquina estatal, com um consequente aumento de impostos e seu impacto no custo de vida, tiraram o incentivo para que as famílias continuassem crescendo. Se, no passado, um único homem trabalhando era capaz de sustentar sua esposa e vários filhos, em uma casa digna e com um carro na garagem, hoje isso se tornou uma tarefa quase hercúlea.
Agora, os políticos perceberam esse cenário e querem resolvê-lo - também na base da canetada. Mas a pergunta é: será que essa situação é reversível? E, bem, a resposta é complexa, porque estamos falando de um problema composto, também, por questões culturais que se arraigaram no imaginário popular, ao longo de décadas de doutrinação. Se levarmos em conta apenas a sociedade produtiva, os números são ainda mais desanimadores. Pense que no Brasil, por exemplo, a população está efetivamente crescendo apenas em regiões desestruturadas - onde a renda familiar depende mais do assistencialismo estatal, do que do trabalho.
É por conta desse tipo de situação que a França, o berço do progressismo, o país revolucionário por natureza, está adotando medidas tidas como “conservadoras” e “de direita”. É que o delírio estatal progressista de controlar a humanidade - inclusive a quantidade de seres humanos que têm direito de viver - não resiste à prova do tempo e da realidade. Contudo, resta saber se ainda é possível corrigir esse problema. A única certeza que temos é que, caso o colapso populacional seja revertido, esse resultado será mérito exclusivo dos indivíduos, e não do estado - o verdadeiro causador do problema.
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2024/01/16/macron-anuncia-plano-para-relancar-a-natalidade-na-franca.htm
https://pt.theglobaleconomy.com/France/Birth_rate/
https://www.bol.uol.com.br/noticias/2024/01/16/franca-registra-menor-numero-de-nascimentos-desde-1946.htm
https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/franca-isla-avanca-enquanto-cristianismo-decai/
“Governo da FRANÇA aprova leis de IMIGRAÇÃO mais rígidas: MACRON virou de DIREITA?”
https://www.youtube.com/watch?v=MeGnYXmDRBw&pp=ygUZdmlzw6NvIGxpYmVydMOhcmlhIG1hY3Jvbg%3D%3D