A galinha pintadinha, e o galo carijó, a galinha é comunista e o galo é do PSOL
Pois é. Chegamos ao ponto em que até a Galinha Pintadinha resolveu acordar — ou, para usar o jargão em inglês, “ficar woke”. O bicho mais inofensivo do galinheiro, a mascote que embalou o sono de milhões de crianças brasileiras com canções sobre pintinhos, pintadinhas e galos carijós, agora resolveu dar lição de moral nas redes sociais. A empresa por trás do fenômeno infantil publicou recentemente mensagens de apoio a pautas identitárias e de “diversidade”, aquelas mesmas que transformaram boa parte da produção cultural contemporânea num sermão moralista disfarçado de inclusão. A notícia, divulgada pelo site Brasil Paralelo, apesar de não causar grande espanto em pessoas que já entenderam como a esquerda aplica o Gramscismo em qualquer produção cultural, caiu como uma bomba para muitos pais que ainda acreditavam que desenhos animados eram apenas… desenhos animados. Ingenuidade. No século XXI, tudo é político. Até a galinha pintadinha e sua turma são militantes de esquerda que defendem abertamente o comunismo.
Em uma postagem, a dona aranha, conhecida por subir pela parede e ser derrubada pela chuva forte, fala sobre “privilégios históricos” e questiona a ideia de meritocracia: “Sinais de que você está se tornando a Dona Aranha: Teimosa, desobediente, nunca está contente e se questiona diariamente se o de cima sempre sobe e o de baixo sempre desce, será que falamos de mérito ou de um mecanismo que reforça privilégios históricos”. Uau, lacrou!
Já em outro post, a Borboletinha confeiteira, responsável pelo diabetes de sua madrinha, parece ter cansado de fazer chocolate e agora acusa a madrinha de exploração: “Minhas asas carregam o peso de um sistema que lucra com cada movimento meu, até o chocolate que eu produzo me lembra que adoçamos a vida com migalhas”. Que lindo…
Mas o post que realmente viralizou e colocou esse lado psolista da galinha mais famosa do Brasil em pauta, motivando inclusive a publicação deste artigo, foi o vídeo de uma pessoa vestida como pintinho amarelinho, comparando a música da Galinha Pintadinha com o hino da União Soviética.
Esse ativismo político escrachado colocou o tema “Galinha Pintadinha” em rodas de debate muito distantes das quais ela tradicionalmente estava inserida. Essa polêmica fez com que Leonardo Zago, responsável pelos perfis da Galinha Pintadinha nas redes sociais, viesse a público dizer que “a Galinha Pintadinha sempre foi woke”. Ele afirmou que “A Galinha já surgiu preocupada com a valorização da diversidade e da arte popular. A gente trabalha para manter vivas as cantigas populares que são fruto do sincretismo cultural”. Para exemplificar, ele citou a música “Loja do Mestre André" que mostra uma figura vestida como o Zé Pilintra, entidade cultuada na Umbanda.
Mas a verdade é que o problema não é exatamente a Galinha Pintadinha em si. O problema é o ambiente cultural em que ela está inserida — um universo em que praticamente nada mais escapa da filtragem ideológica. Filmes, séries, jogos, músicas, novelas, propagandas, e agora até o conteúdo infantil: tudo serve a uma agenda. A “pauta woke” — esse pacote difuso de causas que mistura ideologia de gênero, revisionismo histórico, racialismo e o culto da sensibilidade — se espalhou como mofo em parede úmida. E quando você percebe, já é tarde: o quarto está tomado, e o ar, irrespirável.
A Galinha Pintadinha não é a primeira e não será a última. Antes dela, outros personagens queridos já haviam se rendido à militância. Recentemente, o tradicional programa infantil Cocoricó — que marcou a infância de quem cresceu nos anos 1990 e 2000 — resolveu defender a ideia de que meninos e meninas podem compartilhar o mesmo banheiro. Isso não apareceu em um episódio de Cocoricó, pois o programa acabou já faz um tempo, mas sim em um vídeo nas redes sociais do personagem Júlio, que estão ativas atualmente . Para alguns, um detalhe. Para outros, mais um sintoma claro da doença woke.
O curioso é que essas produções se vendem como “educativas”. E de fato são — só depende de o que se quer educar. Durante décadas, o estado e a indústria cultural formaram uma parceria simbiótica: um produz a ideologia, o outro a espalha. O estado, que se autoproclamou guardião das crianças, impôs-se como tutor moral de toda uma geração. E os pais — despojados, pela força da lei e da propaganda, da noção de responsabilidade sobre a formação dos próprios filhos — acabaram aceitando de bom grado o papel de meros coadjuvantes. O estado educa, a escola cuida, o governo protege. E assim, aos poucos, os pais foram terceirizando o que há de mais sagrado: o dever de transmitir valores.
Numa sociedade em que a inflação corrói o poder de compra e a carga tributária devora os rendimentos, ambos os pais são empurrados para o mercado de trabalho e, enquanto isso, o estado toma conta dos filhos. O homem e a mulher trabalham o dia inteiro, pagam metade do que ganham em impostos, e ainda precisam lidar com a culpa de não estarem presentes o suficiente na vida dos filhos. Quando voltam para casa, exaustos, fazem o que podem: colocam o celular na mão da criança e respiram por alguns minutos. E lá está, no YouTube, a Galinha Pintadinha, com suas músicas fofinhas e seu discurso “progressista”, pronta para preencher o vazio que o estado e a economia criaram. Um ciclo perfeito: o governo empobrece, o sistema educacional doutrina e o entretenimento completa o serviço.
Do ponto de vista libertário, é importante fazer uma distinção que a mentalidade estatista não compreende: não há problema moral em uma empresa privada como a Galinha Pintadinha defender ideias de esquerda. Ela é livre para isso. Da mesma forma, os pais são livres para boicotar e impedir seus filhos de assistir ao conteúdo. A liberdade é bilateral. Em uma sociedade verdadeiramente livre, cada indivíduo responde pelas próprias escolhas. Se uma produtora quer usar seu desenho para pregar pautas ideológicas, ótimo: que arque com as consequências no mercado. Se um pai não quer expor seus filhos a isso, excelente: que procure alternativas. O problema é quando o estado se infiltra e tenta ditar o que é “aceitável”, “inclusivo” ou “educativo”. A partir daí, já não há mais cultura — há propaganda.
E há algo ainda mais perverso: o estado criou um ambiente de dependência psicológica. Muitos pais, mesmo sem perceber, já terceirizaram a consciência. Acham que “a escola sabe o que é melhor”, que “os especialistas entendem mais de criança” e que “os órgãos públicos garantem a segurança moral dos pequenos”. E, assim, a autoridade moral da família vai sendo corroída, substituída por normas, cartilhas e burocracias. O resultado é que hoje, no Brasil e em boa parte do Ocidente, a infância pertence mais ao estado do que aos próprios pais.
Numa sociedade libertária, o cenário seria outro. Sem um estado paternalista drenando recursos e ditando o que é “correto”, as famílias seriam naturalmente mais responsáveis por suas escolhas. Pais e mães teriam mais tempo e mais condições de cuidar dos filhos — porque não seriam obrigados a trabalhar o dobro para sustentar o Leviatã tributário. Imagine um mundo em que 40% do seu salário não vai para Brasília; em que a moeda é estável e o governo não imprime dinheiro para financiar suas aventuras políticas; em que o custo de vida é baixo e a competição entre empresas cria abundância. Nesse contexto, não haveria necessidade de terceirizar a infância. O pai estaria presente. A mãe também. E a Galinha Pintadinha seria apenas um desenho animado, não um agente de engenharia social.
Além disso, em uma sociedade livre, o mercado de ideias floresceria. Se hoje há uma avalanche de conteúdos infantis com viés progressista, é porque o ambiente de negócios é sufocado por regulações, incentivos seletivos e subsídios estatais que favorecem determinadas agendas culturais. Em um ambiente libertário, qualquer grupo teria maior facilidade em produzir desenhos, livros e músicas com os mais variados enfoques ideológicos — inclusive libertários, conservadores ou simplesmente neutros.
Nesse sentido, já existem exemplos tímidos de resistência. Um deles é a série Tuttle Twins, um desenho libertário que ensina conceitos como economia de mercado, propriedade privada, livre associação e até temas mais sofisticados como bitcoin, inflação e comunismo — tudo de forma lúdica e acessível às crianças. O programa, baseado em livros de mesmo nome, mostra que é possível ensinar liberdade desde cedo sem recorrer à doutrinação estatal. E o melhor: está disponível em português, de graça, no YouTube. Enquanto a Galinha Pintadinha canta sobre empatia supervisionada por militantes de Twitter, os Tuttle Twins falam de responsabilidade, de trocas voluntárias, de causa e consequência.
Mas talvez o maior aprendizado desse episódio não esteja na Galinha Pintadinha, nem no Cocoricó, nem nas hashtags progressistas que infestam o entretenimento infantil. O verdadeiro ponto é outro: a cultura reflete o estado moral da sociedade. Quando um povo entrega ao estado a função de educar seus filhos, o resultado é inevitável. O governo, por natureza, não educa — ele molda. Ele não ensina — ele condiciona. E quando o estado se torna o árbitro do que é moralmente aceitável, a cultura vira só uma extensão da política. A infância vira campo de doutrinação.
O libertarianismo parte de uma premissa simples: ninguém tem mais autoridade sobre a criança do que seus próprios pais. Isso não significa defender negligência, mas sim responsabilidade. Significa que o cuidado e a educação não podem ser impostos pelo estado. A moral não nasce da caneta do político; nasce do convívio, do exemplo, da escolha individual. E, justamente por isso, a liberdade é o único solo fértil onde a virtude pode florescer. O resto é adestramento.
A Galinha Pintadinha pode ser apenas um símbolo. Mas símbolos importam. Eles revelam para onde a sociedade está olhando — e o que está disposta a tolerar. Quando até os desenhos infantis se transformam em instrumentos de pregação ideológica, é sinal de que o inimigo já está dentro de casa, dançando com o pintinho amarelinho.
Portanto, a solução definitiva não é “cancelar” a Galinha Pintadinha, nem pedir que o governo “regule” os desenhos infantis — como inevitavelmente farão alguns, incapazes de pensar fora da lógica estatista. A solução é retomar o controle da própria vida. É entender que a liberdade é um fardo, mas também uma bênção. E que ser pai ou mãe é, acima de tudo, um ato de soberania. Se você não quer que seu filho aprenda sobre ideologia de gênero com um desenho animado, ótimo: desligue o desenho. Mostre outra coisa. Leia um livro. Ensine-o você mesmo. Nenhum ministério pode fazer isso por você.
A Galinha Pintadinha acordou — mas talvez quem precise acordar de verdade sejamos nós.
E, se for para as crianças aprenderem sobre o mundo, que aprendam com os Tuttle Twins: sobre o valor da liberdade, o peso da responsabilidade e a virtude de pensar por conta própria. E não com uma galinha azul que, tal qual certos influenciadores, se apresenta colorida e fazendo dancinhas pras crianças no Youtube, mas nas outras redes sociais demoniza os valores dos pais destas mesmas crianças.
https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/galinha-pintadinha-apoia-pautas-woke-nas-redes-sociais
https://revistaoeste.com/brasil/cocorico-se-rende-a-tirania-da-lacracao/