Casos como o Von Richthofen e Matsunaga mostram algo que ninguém quer admitir: o problema não são só os criminosos, mas sim quem os julga e os pune.
Se você esteve em uma caverna nos últimos 25 anos e não conhece essa história, esse caso foi um crime que aconteceu em uma mansão da família Richthofen, no Brooklin, na cidade de São Paulo. A filha, Suzane, que na época tinha dezoito anos, planejou e mandou seu então namorado, Daniel Cravinhos, juntamente com o irmão dele, assassinar seus pais. A motivação foi o relacionamento entre seus pais e o namorado, pois o casal Richthofen, especialmente a mãe, não aprovava o namoro. Diante disso, Suzane resolveu se livrar dos pais para que pudesse viver com Daniel e dividir a herança entre os três. O crime ocorreu na madrugada do dia 31 de outubro de 2002.
A polícia, porém, desconfiou da versão apresentada e, desde o início, passou a investigar pessoas próximas da família. Durante a investigação, descobriu-se o ambiente hostil em que Suzane vivia com os pais. Um fato suspeito também chamou a atenção dos investigadores: dias após o assassinato, Christian Cravinhos, irmão de Daniel, comprou uma moto nova. A Justiça decidiu, então, mantê-lo preso preventivamente. Foi no dia 8 de novembro do mesmo ano que os três decidiram confessar o crime.
Um assassinato por si só já é algo assustador, mas este caso ganhou proporções gigantescas por ter sido planejado pela própria filha do casal. Homicídios infelizmente acontecem todos os dias no Brasil, mas a imprensa estava alvoroçada, cobrindo todos os desdobramentos, e qualquer fato novo virava manchete nas primeiras páginas. Anos se passaram, e as pessoas continuam interessadas no caso, querendo saber como ficou a vida de Suzane dentro e fora da prisão.
Casos extremados como este e também os em contextos de violência tendem a marcar a vida das pessoas. Lembremos do assassinato de Daniella Perez aos 22 anos por Guilherme de Pádua. Daniella era uma moça muito bonita e com uma carreira em ascenção que acabou morrendo por conta de pessoas insanas. Também podemos lembrar da morte da pequena Isabella Nardoni assassinada pelo próprio pai e a madrasta em 2008 quando tinha apenas 5 anos. Poucos anos depois assistimos nos noticiários o sumiço e depois comprovada morte de Eliza Samúdio no caso do goleiro Bruno em 2010. Bruno, após uma relação extraconjugal com ela, acabou engravidando-a e não quis assumir a criança.
Em 2012, outro caso voltou a chocar o país: o assassinato de Marcos Kitano Matsunaga pela esposa, Elize Matsunaga. Ela o matou e esquartejou. A motivação foram as humilhações sofridas por Elize e a sua iminente substituição pelo marido. Antes de se casar, Elize foi garota de programa e conheceu Marcos nesse contexto. Logo tornou-se amante dele — que já era casado — e, posteriormente, ele se separou e casou-se com ela.
Outros casos aconteceram, mas o mais recente foi agora, em 2024. A polícia foi acionada diante da contaminação alimentar de várias pessoas de uma mesma família, algumas vindo a óbito. Nas análises, descobriu-se a presença do elemento químico arsênio nos corpos das vítimas. Assim, desvendou-se o caso, constatando a contaminação da farinha utilizada no preparo do bolo ingerido pela família. A família envenenada era a do marido da acusada, Deise Moura dos Anjos. Ela teve desentendimentos com a sogra e uma prima do marido, guardando mágoas dessas relações. Mas esse envenenamento não foi o único cometido por Deise: suspeita-se que ela tenha matado o próprio pai, já que, após a exumação do corpo, a substância foi encontrada no cadáver.
Os casos analisados têm em comum a relação próxima entre vítimas e assassinos, sejam familiares ou colegas de trabalho. A incapacidade de lidar com conflitos levou os acusados a reações extremas, guiadas por perturbações internas. Embora pudessem ter tido desfechos menos trágicos, a instabilidade emocional impediu isso. O choque social se dá porque a família ainda é vista como um ambiente de proteção e confiança, e sua violação é inaceitável.
A diferença está no desfecho. Todos os réus foram condenados, exceto Deise, que se suicidou na prisão antes da sentença, negando os crimes até o fim. Já os demais cumpriram suas penas sem reincidência e apresentaram comportamento exemplar, o que surpreendeu a opinião pública. Isso levanta dúvidas: foram crimes ocasionais, frutos de uma perturbação momentânea, ou há uma tentativa de manipulação? A tendência de julgar rapidamente faz com que assassinos cruéis sejam vistos como monstros, mas nem sempre se encaixam no perfil de psicopatas reincidentes.
O que deve ser considerado é que a sociedade vive sob leis que regulam a conduta das pessoas. Diante da lei, essas pessoas, ao fim de suas penas, estarão aptas a serem libertadas e ressocializadas. Mas será que a sociedade está preparada para recebê-las? Como será o relacionamento com elas após o conhecimento de seus crimes? Até onde vai o respeito da sociedade para com esses ex-detentos?
A justiça pode absolvê-los, mas a opinião popular não. Eles são estigmatizados e perdem o direito de viver em sociedade como antes. Todos que tentaram reconstruir suas vidas e famílias foram massacrados e tiveram suas intimidades expostas na mídia. Ou seja, o cumprimento da pena não apaga o passado. Talvez Deise Moura soubesse disso e tenha preferido não viver o resto de seus dias sob julgamento público.
A mídia tem um papel fundamental nessa exposição, pois são os veículos de imprensa que divulgam as notícias. Para alimentar o desejo popular por informação, a imprensa não se importa com a privacidade de quem quer que seja. Estão atrás das manchetes, cobrindo todos os fatos, mesmo que isso fira as individualidades das pessoas. A Globo foi alvo desse debate quando, em 2018, foi condenada a pagar R$ 10 mil de indenização por divulgar um documento psicológico sigiloso de Suzane von Richthofen.
Dada a complexidade dos casos e a comoção que geraram, é normal que as pessoas se interessem. Afinal, há uma preocupação latente: esses assassinos voltariam a cometer crimes semelhantes ou outros delitos? Será que realmente mudaram? O fato é que esses ex-detentos estarão marcados para sempre e jamais terão suas vidas de volta como antes. Sempre serão reconhecidos, julgados e terão de se acostumar com a nova realidade. A "fama" adquirida os acompanhará, assim como a privacidade negada.
O Estado tem demonstrado repetidamente que seu sistema penal é ineficaz e falho, seja pela incapacidade de prevenir crimes, pela seletividade na aplicação da justiça ou pela ineficiência na ressocialização de criminosos. Casos como o de Suzane von Richthofen, que obteve progressões de pena e hoje vive em liberdade, contrastam com outros como o de Rafael Braga, preso por portar uma garrafa de Pinho Sol em meio a protestos. Enquanto criminosos perigosos encontram brechas na legislação para reduzir suas penas, indivíduos sem histórico violento enfrentam condenações desproporcionais. Além disso, a superlotação carcerária e a violência dentro das prisões evidenciam que o sistema não só falha em punir de forma justa, como também coloca em risco os próprios detentos, tornando as cadeias verdadeiras escolas do crime.
Em uma sociedade libertária, a justiça não dependeria de um monopólio estatal ineficiente, mas sim de um sistema de arbitragem privada baseado no princípio da não agressão (PNA). Em vez de juízes e promotores burocráticos, disputas e crimes seriam julgados por cortes independentes, financiadas por indivíduos e empresas interessadas em um sistema de resolução eficaz. Essas cortes competiriam entre si pela reputação, garantindo que apenas aquelas que entregam justiça de forma confiável permaneceriam ativas. Diferente do Estado, que se mantém pelo confisco tributário e pela coerção, empresas privadas de arbitragem teriam incentivos econômicos para julgar com imparcialidade e eficiência, já que sua credibilidade dependeria diretamente da satisfação de seus clientes.
Além disso, acordos privados e seguros contra crimes poderiam substituir o atual sistema de punição estatal. Por meio de contratos voluntários, as pessoas poderiam aderir a redes de proteção jurídica e de segurança, garantindo que crimes fossem prevenidos e, quando ocorressem, devidamente reparados. Em vez de um criminoso simplesmente "pagar sua dívida com o Estado" ao cumprir pena em uma cela, ele teria que compensar financeiramente sua vítima, restituindo danos de forma concreta. Isso tornaria a justiça mais ágil e evitaria que o dinheiro dos cidadãos fosse desperdiçado sustentando um sistema penitenciário que pouco ou nada faz para reparar os prejuízos das vítimas.
Enquanto o Estado mantiver o monopólio da justiça e da segurança, o sistema penal continuará ineficaz, oneroso e moralmente questionável. Sem concorrência, não há incentivos para que o sistema melhore sua eficiência, garantindo apenas um ciclo vicioso de criminalidade e impunidade. Somente a descentralização e a abertura para soluções privadas podem transformar a justiça em algo realmente funcional, onde crimes são tratados com a seriedade que merecem e onde as vítimas são devidamente compensadas, em vez de servirem apenas como estatísticas em um modelo falido.
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