O boxeador que lutou em Auschwitz: A luta pela sobrevivência

O filme O Lutador de Auschwitz nos revela uma história real de luta pela vida e perseverança de um boxeador polonês durante a Segunda Guerra Mundial, que precisou usar suas habilidades de boxe para sobreviver ao momento mais sombrio do século XX.

Tadeusz Pietrzykowski era apenas um adolescente quando começou a treinar boxe e chegou a ser reconhecido em seu país como o melhor boxeador peso galo de Varsóvia, após se tornar o campeão de Varsóvia. Quando a Alemanha invadiu a Polônia em 1939, Tadeusz participou da defesa polonesa. Mas depois da vitória alemã, ele tentou fugir para a França para se juntar à resistência contra o exército nazista. Para o seu azar, o polonês foi pego na fronteira entre a Hungria e a Iugoslávia e enviado para um dos piores lugares possíveis: o campo de Auschwitz. Ele chegou nesse campo quando o local ainda estava em processo de construção e recepção dos novos prisioneiros, antes de se tornar uma grande máquina da morte.


Sua história inspiradora se tornou um filme lançado em 2020 chamado 'O Lutador de Auschwitz', dirigido por Maciej Barczewski. E é sobre esse filme que iremos falar, portanto, se prepare para spoilers sobre a trama.


Lançaremos dois vídeos aqui no canal sobre este filme, que conseguiu retratar muito bem a história desse lutador polonês e o drama no campo de concentração mais terrível da Polônia e de todo o holocausto. Fica o convite a todos para assistirem ao filme e pesquisarem sobre a história de Tadeusz, conhecendo a vida desse sobrevivente.


A trama começa com nosso protagonista chegando no campo de concentração de Auschwitz, se lembrando de quando treinava luta com um saco de pancadas em seu quintal. Enquanto ele lembra do passado, os oficiais alemães anotam seus nomes e profissões e nomeiam ele e outros poloneses por números, com Tadeusz recebendo o número 77. Vemos aqui a desumanização dos prisioneiros, algo típico de um regime totalitário tão cruel que tinha por base a anulação dos direitos individuais e das individualidades humanas. Esse processo de desumanização tem método: fazer até mesmo o prisioneiro acreditar que ele está nessa condição por algum motivo aceitável, e permitir a banalização do mal entre os guardas que fazem parte dessa engrenagem criminosa.


Todos esses prisioneiros são considerados inimigos do Terceiro Reich e serão todos exterminados em 3 meses; os judeus serão eliminados primeiro, depois os sacerdotes e os demais em seguida. Mesmo sendo apenas pessoas pacíficas, o estado as condenou por sua raça, classe ou posição política, independente da índole e do histórico desses indivíduos. O guarda até anuncia sem piedade: "não há outra saída senão pelas chaminés do crematório", dando a entender que não há esperança ou escapatória.


A ideologia coletivista do nacional-socialismo defende que o estado é o responsável por prover direitos às pessoas, que devem atender ao bem da nação. Mas se o estado decide se o ser humano tem direito ou não, esse direito, na verdade, não passa de uma concessão. Assim, essa instituição e seus déspotas podem ditar o destino daqueles considerados como indesejados e inimigos do governo alemão - tudo isso propiciou os crimes em larga escala.


O lutador se encontra numa situação insalubre e terrível, deitado no chão de um alojamento sujo, mas não consegue dormir devido às tosses dos seus companheiros. Pela manhã, todos são levados para o trabalho braçal, sendo condenados a quebrar pedras com picaretas para sustentar o estado alemão através do trabalho escravo.

Tadeusz vê o cadáver de um homem embrulhado num jornal, e resolve pegar os jornais do cadáver e coloca dentro de suas roupas para amenizar o frio. No almoço, os prisioneiros recebem somente uma sopa rala que não podia nutri-los adequadamente. Um dos prisioneiros era um jovem chamado Yaneki, o qual teve sua comida roubada por um homem violento, mostrando a situação brutal de escassez que eles se encontram naquele ambiente hostil. A ideia de que todos os prisioneiros são unidos e se ajudam mutualmente na luta pela sobrevivência cai por terra nesse momento - é cada um por si lutando por mais um dia de vida. Logo depois, os oficiais nazistas colocam os prisioneiros para construírem novos alojamentos e colocar o arame farpado para evitar possíveis fugas.


Um dos prisioneiros mais velhos diz que tem um plano para fugir de lá, mas acaba sendo ouvido por um dos guardas, sendo morto com um golpe de pá pelo seu carrasco. O resto dos prisioneiros apenas voltam a trabalhar após a tragédia, como se nada tivesse acontecido, pois qualquer sinal de empatia era perigoso naquele local. O mais triste de tudo é que o guarda que matou o prisioneiro mais velho também era um prisioneiro do campo, porém, com um cargo mais elevado e melhor tratamento dentro do campo, conhecidos como Politsei. É como se fosse o cão de guarda treinado para cumprir ordens da mesma forma que os oficiais e soldados alemães - essas pessoas já perderam qualquer empatia ou dignidade própria.


Muitos daqueles que colaboravam com o regime nazista o fizeram por uma vida melhor. Infelizmente, era comum entre os próprios prisioneiros se tornarem colaboradores dos trabalhos nos campos, pois a alternativa era a miséria e o risco de sucumbir mais cedo. Vários poloneses eram os guardas de seus alojamentos, recebendo um tratamento melhor do que os demais e, em troca, maltratando o resto dos prisioneiros, como todo bom funcionário a serviço do estado faz. Para curiosidade, nem os judeus escaparam disso, com a polícia judaica da época colaborando com as ordens do Terceiro Reich com a perseguição de judeus, acreditando que se entregassem alguns, os alemães poupariam o resto. Que pensamento inocente, não? Isso apenas nos revela um lado sombrio do instinto humano de sobrevivência: quando você está em apuros e totalmente indefeso, apenas lutando pela vida, ações irracionais e brutais são feitas sem base em parâmetros morais. Pelo menos, esse é o caminho escolhido por muitos, apesar das exceções.


Mas, voltando ao filme, numa conversa, Yaneki fala para Tadeusz que assistia a suas lutas de boxe na TV no campeonato polonês. Na ocasião, o lutador havia perdido por poucos pontos e o garoto fala que achou isso injusto, mas Tadeusz apenas o responde dizendo que é melhor somente esquecer o passado.


Pouco depois, Tadeusz é convocado para auxiliar na casa do chefe do campo, um oficial alemão que podemos especular ser Rudolf Hoss. Sob a liderança de Hoss ocorreram atrocidades em massa em Auschwitz, incluindo as execuções em câmaras de gás, experimentos médicos desumanos e condições de vida brutais para os prisioneiros. Ele não tinha piedade de nenhum indivíduo naquele local, sendo temido por todos e colaborado no planejamento da Solução Final.


Nosso protagonista entra na bela mansão luxuosa do chefe do campo e vê o filho do mais alto oficial alemão, todo bem cuidado e inocente, descendo as escadas junto de sua mãe. Ao alto escalão do governo alemão todo o luxo; aos inimigos do regime a indiferença mais cruel. Isso nos faz pensar como essa indiferença com a vida alheia reinava naquele período obscuro e acabou permitindo que todo o sistema funcionasse. Uma família que poderia aparentar ser normal aos olhos de muitos, vivia em meio ao mais cruel genocídio como se fosse apenas mais um acontecimento trivial da vida.


Tadeusz vendo a fartura de alimentos na casa, rouba algumas maçãs sem ser notado e divide com o Yaneki, até que outros oficiais chegam na oficina e anunciam que ficaram sabendo do roubo. Eles chamam um grupo de prisioneiros para serem fuzilados.


Os três primeiros homens são mortos no paredão sem aviso prévio, mas quando os outros três (Tadeusz, Yaneki e um senhor de idade) são colocados no paredão, o oficial pede que o velho coloque uma maçã em sua cabeça para ele mirar. Atirando na cabeça do homem sem nem mirar direito, o oficial alemão pede para que Tadeusz faça o mesmo.


O lutador polonês então come a maçã na frente do oficial, pois assim poderia, ao menos, desfrutar de seus últimos momentos de vida. É então que Yaneki recita um trecho de um conto alemão do autor Guilherme Tell, sobre um homem que precisava atirar uma flecha na cabeça de seu filho. Mudando de decisão, o oficial acaba deixando os dois prisioneiros ainda vivos, mas com a punição de 50 chicotadas. Outro prisioneiro aleatório foi morto no lugar do lutador para cumprir a cota.


No dia seguinte, os prisioneiros são levados para a pedreira onde estão exaustos, e são tratados como animais. Um cruel guarda, também prisioneiro, joga um pão na pedreira e assiste os outros brigando por ele. Ele continua fazendo os outros prisioneiros brigarem por comida, até que ele coloca Tadeusz para uma competição de tapas. O lutador desvia de todos os golpes, até mesmo quando um dos guardas tenta acertá-lo e cai no chão, ficando furioso e fazendo os alemães rirem.


Outro guarda chamado Walter quer testar suas habilidades e convida o polonês a lutar com ele, mas com a posição familiar do ringue. Tadeusz tem medo de revidar, mas quando o faz, acerta em cheio o nariz do homem. Walter, no entanto, impede que os outros guardas batam no lutador e após perguntar sobre a origem de Tadeusz, descobrindo que os dois já se conheceram há muito tempo em Hamburgo.


Depois de sua bela atuação como boxeador, nosso protagonista volta com um pão enorme e divide com os outros que finalmente recebem algo de novo para comer. Yaneki, muito feliz, contou a todos o feito do boxeador polonês e os prisioneiros tratam o homem como um herói, por ter coragem de dar um golpe contra seus agressores.


Dias depois, o jovem Yaneki começa a apresentar tosses e Tadeusz fica preocupado com ele, indo falar com Walter para pedir por remédios. Em troca, ele faria tudo que o guarda queria. Walter então leva Tadeusz aos comandantes do campo e conta sobre suas habilidades. Os oficiais veem o homem magro e duvidam, mas acham uma boa oportunidade para entreter os soldados que perdiam muito tempo com bebidas alcoólicas, e aceitam o alimentar para a luta.


Pouco depois, Tadeusz participa dessa luta em um ringue de verdade, mas lutando desta vez contra um boxeador alemão. Os soldados do campo torcem para o alemão junto de vários insultos ao polonês que esquiva dos golpes. Apenas um pequeno garoto, o filho do chefe do campo, torce por Tadeusz.


Mas, sem força e com ferimentos, ele quase não chega ao segundo round. O oponente continua atacando, mas o "rei da esquiva" como era chamado em seu tempo na Polônia, resiste a eles e consegue contra-atacar dando vários socos no oponente, conseguindo alguns pães pela sua primeira vitória.


Com essa boa atuação, Tadeusz passa a trabalhar no estábulo, num ambiente mais salubre e menos exigente, e consegue ir à enfermaria pegar os remédios. Nesse momento ele vê uma jovem prisioneira chamada Hetia, que havia perdido os pais, trabalhando junto com a enfermeira.


Yaneki nesse momento continua com sua saúde piorando, e é dito a Tadeusz que o jovem só sobreviveria caso fosse posto na enfermaria dos alemães. O homem não quer correr riscos, mas ele precisa fazer algo para salvar seu amigo.


Enquanto isso, Tadeusz retorna ao alojamento e dá os remédios para Yaneki, que quer aprender sobre boxe com o profissional. Então, o lutador polonês coloca o garoto para dormir, lhe contando sobre a lenda grega sobre as origens das Olimpíadas, em que os jogadores deveriam estar todos no mesmo nível físico e respeitar a si e seu oponente na hora da disputa.


Tadeusz, com o tempo, vai colecionando vitória atrás de vitória e conseguindo comida para todos seus companheiros, os quais vão lentamente morrendo nas câmaras de gás, pois o campo de Auschwitz passa a ser um campo de extermínio. Os sobreviventes, ao menos, continuam a se alegrar quando veem o polonês nocautear um alemão.


Isso irrita um dos superiores, que vai até o estábulo e lembra o lutador polonês que ele só está ali para entreter os alemães, e quando eles quiserem que ele perca, ele terá de perder. Segundo o alemão, "a derrota está no sangue de todos os poloneses".


Não demora para os alemães trazerem um lutador peso-pesado de outro campo para lutar com o nosso protagonista. Mas, contrariando o superior, Tadeusz acaba cansando o homem e vencendo a luta, enquanto seus companheiros gritam seu apelido "Teddy".


Iremos continuar com a história do lutador de Auschwitz numa segunda parte. Se quiser saber o final dessa história, continue nos acompanhando. Mas se quiser ver outros vídeos sobre heróis em tempos de holocausto, deixamos como recomendação os vídeos: “A polonesa que SALVOU 2500 CRIANÇAS do HOLOCAUSTO” e “O ANJO de BUDAPESTE que SALVOU MILHARES de pessoas”. Os links estão na descrição.
Terminaremos este vídeo com uma mensagem do historiador inglês, Ian Kershaw:
“A estrada para Auschwitz foi construída pelo ódio, mas pavimentada com a indiferença”.

Referências:

https://www.primevideo.com/-/pt/detail/O-Lutador-de-Auschwitz/0P6CK7N3XTCPQ11QJF19IG9KWL

Visão Libertária - O ANJO de BUDAPESTE que SALVOU MILHARES de pessoas:
https://youtu.be/2PYx6vdZNZo

Visão Libertária - A polonesa que SALVOU 2500 CRIANÇAS do HOLOCAUSTO:
https://youtu.be/ht3n6tylEgU